Os dias estavam se desenrolando de maneira estranha para Sofia. Cada momento no escritório parecia carregado de uma tensão silenciosa, e isso só se intensificava quando ela encontrava Lucas. Não era mais apenas o trabalho que a fazia ir ao escritório todos os dias — era a expectativa do encontro inesperado com ele, dos olhares que se cruzavam furtivamente. Ele estava sempre lá, mas ao mesmo tempo, parecia estar em um mundo próprio, distante e inacessível. E, com isso, Sofia sentia o coração disparar, como se uma parte dela quisesse, desesperadamente, se aproximar e, ao mesmo tempo, se afastar para evitar mais vulnerabilidades.
Era uma manhã típica de quinta-feira, com a cafeteria lotada de colegas conversando e tomando café, mas Sofia parecia estar em seu próprio mundo, perdida em seus pensamentos. Ela estava revisando um relatório, mas não conseguia parar de olhar para a porta, esperando ver Lucas passar. Mesmo que ele estivesse tão focado em seu trabalho, ela sentia que, de alguma forma, ele estava sempre atento ao que ela fazia. A sensação de ser observada a deixava desconfortável e excitada ao mesmo tempo.
Foi quando o viu.
Lucas entrou na cafeteria, com seu usual ar de seriedade, mas hoje algo estava diferente. Ele parecia um pouco mais descontraído, talvez porque o ambiente fosse mais informal, talvez porque estivesse sozinho. Quando seus olhos se cruzaram, Sofia sentiu um nó apertar no estômago. Mas, ao invés de desviar o olhar, ela o manteve. Ele sorriu, levemente, como se soubesse exatamente o efeito que causava nela, e isso fez o coração dela bater mais rápido.
— Oi, Sofia — Lucas disse, seu tom suave, mas com um toque de provocação que ela não soubera identificar antes.
Ela abriu a boca, mas nada saiu. Então, com a voz um pouco trêmula, ela conseguiu responder:
— Oi, Lucas. — Ela forçou um sorriso, sentindo suas bochechas queimarem de vergonha.
Era estranho, porque normalmente ela não era uma pessoa tímida. Mas, com ele, as palavras pareciam sempre escapar dela. E, pior, ela tinha medo de parecer estranha ou boba.
Lucas se aproximou um pouco mais, e, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo, se inclinou levemente para a frente, como se fosse contar um segredo.
— Você parece um pouco… distraída hoje — ele observou, com um sorriso travesso nos lábios. — Tudo bem?
Sofia sentiu o calor subir à sua face. Ela riu nervosamente, tentando manter a compostura, mas não conseguiu. Era um tipo de nervosismo inusitado, que ela não conseguia controlar.
— Ah… é só o trabalho, sabe? Muitos relatórios para revisar… e... — Ela pausou, tentando pensar em algo que não a fizesse parecer uma completa idiota.
Lucas deu um sorriso mais largo e, como se não quisesse pressioná-la, mudou de assunto.
— Eu estava pensando em pedir um café. Você quer um também? — Ele perguntou, levantando uma sobrancelha.
Sofia não conseguia acreditar naquilo. Estava tão nervosa que mal conseguia controlar as palavras.
— Ah, claro! Eu… eu também quero. Um cappuccino, por favor. — Ela se corrigiu rapidamente, esperando não ter soado estranha demais.
Lucas, com um sorriso, foi até o balcão fazer o pedido. Sofia o observou se afastar, sentindo um turbilhão de emoções se formando dentro dela. Era apenas um café, algo tão simples, mas ao mesmo tempo parecia ser a coisa mais importante do dia. Quando ele voltou, a bebida nas mãos, ela o olhou de novo, tentando se recompor.
— Aqui está — ele disse, entregando o cappuccino com um sorriso. — E eu pensei que poderia ser bom fazer uma pausa. O trabalho não vai fugir, e a gente se perde na correria, não é?
Sofia assentiu, pegando a xícara com as mãos ligeiramente trêmulas. Ela não sabia o que dizer, então se concentrou no café. O cheiro do cappuccino era reconfortante, mas sua mente estava completamente voltada para ele. Eles se sentaram em uma mesa, e o silêncio entre eles parecia mais confortável dessa vez, apesar da tensão óbvia no ar.
Ela se forçou a quebrar o silêncio, querendo se sentir mais à vontade.
— Eu… eu só estava pensando que… bem, eu sou meio desastrada, sabe? Não sou muito boa em, ah, manter uma conversa normal... — Sofia deu uma risada sem graça, olhando para o café e sentindo o calor subir às bochechas.
Lucas a observou por um momento, com uma expressão de leve surpresa, mas logo seus olhos brilharam de um jeito amigável e acolhedor.
— Eu não acho que você seja desastrada, Sofia. — Ele disse suavemente, com um sorriso gentil. — Acho que só está nervosa. E, se for isso, acho que você não está sozinha nisso. Eu também fico um pouco... desconfortável às vezes.
Ela olhou para ele, surpresa com a confissão. Nunca imaginaria que Lucas, tão autossuficiente e tranquilo, pudesse se sentir assim. Mas, ao ouvir suas palavras, uma sensação reconfortante tomou conta dela.
— Sério? Mas você sempre parece tão calmo. Eu sou tipo... um terremoto — Sofia disse, quase rindo de si mesma. Ela se sentiu mais à vontade agora, pela primeira vez. Como se, de alguma forma, ele tivesse aberto um espaço para ela ser sincera, sem medo de parecer ridícula.
Lucas deu um sorriso verdadeiro, e foi a primeira vez que Sofia viu o brilho sincero nos olhos dele.
— Eu aprendi a esconder isso muito bem. Mas, acredite, também sou um pouco como um terremoto por dentro. — Ele fez uma pausa, como se estivesse ponderando as palavras. — É só que a gente tem que aprender a lidar com isso, né?
A conversa fluía com mais facilidade agora. E o tempo parecia parar ao redor deles. Sofia ainda estava nervosa, mas havia algo no jeito de Lucas que a fazia se sentir mais calma, como se ele não estivesse julgando suas palavras desajeitadas, mas apenas ouvindo.
Então, em um momento de total descuido, ela fez algo que jamais imaginou que faria. Sem perceber, ela virou a xícara de cappuccino acidentalmente e derramou um pouco da bebida na mesa e em seu colo. Sofia ficou paralisada por um segundo, olhando para o desastre com os olhos arregalados.
— Oh meu Deus, eu… — Ela se desesperou, tentando limpar a mesa com um guardanapo, mas apenas conseguindo espalhar mais a bagunça.
Lucas, ao ver a situação, não pôde deixar de rir. Era uma risada suave e genuína, que fez Sofia corar ainda mais.
— Bem, agora eu sei que você não é perfeita. — Ele disse, com uma expressão brincalhona, antes de pegar um pano de papel para ajudá-la a limpar. — E quem diria que o terremoto de café viria de você, hein?
Sofia ficou tão envergonhada que não sabia onde enfiar a cabeça. Seu rosto estava completamente vermelho, e ela não sabia se queria desaparecer ou rir da situação.
— Eu sou uma desastrada — murmurou, rindo de si mesma. — Você deve estar pensando que sou a pessoa mais estranha do mundo.
— Não mesmo — respondeu Lucas com um sorriso doce. — Eu acho que isso só te torna mais real. E, para ser sincero, foi meio fofo ver você tão preocupada com isso.
Ela olhou para ele, incrédula. Como ele conseguia ser tão compreensivo, tão... gentil? Era um misto de fofura e sinceridade que a fez se sentir estranhamente confortável, apesar da vergonha que ainda sentia.
— Eu... obrigada, Lucas. Por, ah, não rir de mim — ela disse, um pouco nervosa, mas com um sorriso genuíno.
Ele sorriu de volta, e, pela primeira vez, Sofia sentiu que o desconforto que ela sentia a cada encontro estava começando a desaparecer. Talvez houvesse algo mais ali — algo que ela não sabia exatamente o que era, mas que, de alguma forma, a fazia sorrir sem querer.
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Atualizado até capítulo 48
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