Sofia sabia que precisava manter o foco, mas era difícil. Os dias iam se arrastando lentamente, mas cada momento de interação com Lucas parecia deixar um impacto profundo nela. Quando não estavam se cruzando pelos corredores, ela sentia que algo estava faltando. Cada olhar furtivo, cada gesto, cada palavra trocada se tornavam momentos que ficavam gravados em sua mente. E, apesar de tentar ignorar os sentimentos que começavam a surgir, não conseguia evitar pensar nele.
Era o terceiro dia de trabalho e, pela manhã, Sofia se viu mais uma vez ansiosa para chegar ao escritório. Quando entrou no prédio, seus olhos logo procuraram por ele, embora ela tentasse disfarçar. Mas, ao olhar pela primeira vez ao redor, ela percebeu que ele ainda não havia chegado. O que a deixou um pouco aliviada e ao mesmo tempo mais ansiosa. O que isso dizia sobre ela? Por que essa obsessão sutil por ele?
Durante a manhã, ela se concentrou em organizar alguns documentos e preencher relatórios. Ela tentava ignorar a constante sensação de que o dia não seria completo sem mais uma interação com Lucas. Enquanto trabalhava, ouviu a voz dele vindo do corredor e, sem querer, seu coração deu um salto. Ela olhou rapidamente para a porta de vidro e viu Lucas caminhando com um colega, conversando de forma animada sobre algum projeto. Ele usava um terno escuro, como sempre, mas hoje parecia ainda mais sério, mais focado, como se algo o estivesse incomodando. O que, provavelmente, foi o que a fez querer prestar ainda mais atenção nele.
Ela se forçou a desviar o olhar e se concentrar nas planilhas à sua frente. Mas seus pensamentos, ao contrário, insistiam em se voltar para aquele homem. Como ele conseguia ser tão... intrigante? Como sua presença parecia dominar o ambiente, mesmo quando ele não dizia uma palavra?
No horário do almoço, Sofia desceu para a cafeteria. Ela já sabia onde encontrar uma mesa tranquila, longe da agitação dos grupos de colegas. Sentou-se em um canto, tomando uma xícara de café enquanto observava as pessoas ao seu redor. O local estava movimentado, mas, de repente, seus olhos foram atraídos novamente para o canto onde ele costumava sentar.
Para sua surpresa, Lucas estava lá, sozinho, sentado à mesa com um notebook aberto diante dele. Ele parecia absorto em seu trabalho, mas de alguma forma, mesmo com a atenção voltada para a tela, Sofia sentiu que ele estava mais atento ao ambiente do que deixava transparecer. Ela engoliu em seco, tentando fazer o café parecer interessante, enquanto seus olhos não podiam deixar de mirar discretamente naquela figura. Ele estava tão focado, tão imerso em seu próprio mundo, que parecia alheio a tudo ao redor.
E então, como se sentisse sua presença, Lucas levantou os olhos. Seus olhares se encontraram de forma instantânea, e Sofia quase deixou o café escorregar da mão. O sorriso sutil que apareceu nos lábios dele foi como um raio de luz em meio ao silêncio, e, mesmo que fosse um gesto pequeno, tinha uma força imensa.
Por um momento, ela pensou em desviar o olhar, mas, algo a impediu. Era como se um ímã invisível os conectasse naquele instante, como se ele estivesse esperando por aquele contato visual. O silêncio entre os dois parecia carregar um significado maior, e Sofia não sabia o que exatamente aquele olhar dizia, mas sentia uma eletricidade no ar.
Lucas foi o primeiro a quebrar o silêncio, levantando-se da cadeira e caminhando na direção dela. O coração de Sofia disparou.
— Oi, Sofia. — A voz dele foi baixa, mas agradável. Ele parecia tão tranquilo, como se a conversa fosse a coisa mais natural do mundo.
— Oi, Lucas — respondeu ela, tentando manter a calma, mas a tremedeira em suas mãos não passava despercebida.
Ele se sentou à mesa com ela, sem pedir permissão, como se fosse algo normal. Sofia não sabia o que fazer com aquela aproximação inesperada, mas sua mente estava girando. Ela não queria parecer nervosa, mas era difícil disfarçar a ansiedade.
— Como estão as coisas por aqui? — ele perguntou, observando seu prato de comida com um leve sorriso.
— Bem, na verdade. Acho que estou começando a me ajustar. Não é tão fácil quanto parece, mas... estou indo — respondeu Sofia, sentindo-se um pouco mais à vontade conforme a conversa fluía.
— Isso é bom. Eu sempre digo que a adaptação é a parte mais difícil, especialmente quando você está em um lugar novo. Mas logo se acostuma — Lucas disse, os olhos fixos nela. Havia algo no modo como ele a observava, como se estivesse analisando cada palavra que ela dizia.
O silêncio se instalou por um momento, mas não parecia desconfortável. Pelo contrário, havia uma sensação de familiaridade crescente. Sofia, talvez pela primeira vez, se sentiu confortável em sua presença.
— Então... você costuma trabalhar sozinho mesmo no horário de almoço? — Sofia perguntou, tentando puxar mais conversa.
Lucas deu um pequeno sorriso, claramente pensativo.
— Sim, gosto de passar um tempo sozinho. As coisas no trabalho tendem a ser agitadas, então tento aproveitar esses momentos de quietude quando posso. — Ele fez uma pausa, observando o café dela. — Você também parece gostar de um tempo sozinho. Não parece ser do tipo que gosta de se misturar com a multidão.
Sofia sorriu timidamente. Era como se ele a tivesse lido com uma precisão que a surpreendia.
— Acho que sim. Gosto de momentos mais tranquilos para pensar. Às vezes, é difícil encontrar um momento para mim mesma quando todo mundo está tão ocupado, sabe?
Ele a observou com mais atenção, como se estivesse absorvendo cada detalhe.
— Eu entendo. Aqui, é fácil se perder nas obrigações e se esquecer de se reconectar com o próprio espaço — disse ele, com uma sinceridade que a tocou mais do que ela imaginava.
Sofia sentiu um leve calor no rosto. O jeito dele de falar parecia genuíno, como se estivesse se abrindo de uma forma que poucos tinham a chance de ver. Mesmo sendo tão reservada, ele mostrava uma vulnerabilidade rara.
O silêncio que se seguiu foi confortável, quase como se o tempo tivesse desacelerado ao redor deles. Sofia queria perguntar mais sobre ele, mas, de alguma forma, não conseguia. Havia algo em Lucas que a deixava insegura, como se cada palavra sua tivesse peso e ela não quisesse errar ao dizer a coisa errada.
Lucas então se levantou, interrompendo seus pensamentos. Ele fez um leve aceno de cabeça, sorrindo.
— Bom, acho que é melhor voltarmos ao trabalho. Mas, se precisar de algo, sabe onde me encontrar. E não se preocupe, está indo muito bem até agora — disse ele, com um tom tranquilo, mas encorajador.
Sofia ficou sem palavras por um momento, surpresa pela gentileza dele, e acenou com a cabeça, um sorriso tímido se formando em seus lábios.
— Obrigada, Lucas. Até mais.
Ele se afastou, e Sofia o observou ir embora, uma sensação estranha e doce invadindo seu peito. Algo em sua conversa, algo naquele olhar, parecia ter mudado alguma coisa dentro dela. Quando finalmente se virou de volta para o seu café, ela se deu conta de que estava sorrindo sozinha, quase como se tivesse acabado de descobrir um novo lado daquela pessoa tão misteriosa.
E, no fundo, sabia que isso era apenas o começo.
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Atualizado até capítulo 48
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