Um reencontro inesperado

—Como assim não pode engravidar?!

—A senhora lembra que eu fiz exames pré núpciais e exigi que o Kerem também fizesse?

—Lembro!

—Os exames dele estão normais,ele é perfeitamente capaz de engravidar uma mulher,mas o meus...

—O que aconteceu?

—Eu tenho uma má formação nas tubas uterinas, além da anovulação,o que eu já sabia. O médico disse que eu poderia iniciar o tratamento após as núpcias. Irei precisar fazer uma série exames complexos,cirurgias e mesmo assim não é garantido que eu possa engravidar.

—Por Alá...se você não der herdeiros a ele, o Kerem pode pedir a anulação do casamento pela religião e dar entrada no divórcio!

—O que eu faço mamãe?!

— Se mesmo após os tratamentos e cirurgias, você não conseguir engravidar e o Kerem aceitar adotar...

—Como vocês adotaram o Cam?

—O caso do Cam é diferente... - Zohar se levanta e anda pensativa - Você tem o mesmo problema nos ovários que eu,não ovulamos regularmente, mas minhas trompas são perfeitas,por isso consegui engravidar de você...mas com muito custo!

—Eu nunca entendi muito bem essa adoção do Cam.

—Safira...o que eu vou te contar,nem o seu irmão sabe! É um segredo obscuro de família!

—Então conte! É apenas mais um de tantos segredos que envolvem os Aksoy!

—Há 33 anos atrás...

O seu pai e o seu tio Amenon, viajaram para a América do Sul a negócios ,passaram pela Argentina, Uruguai e finalizaram a visita no Brasil, aonde os dois conheceram duas irmãs que trabalhavam em um prédio comercial.

Eles resolveram estender a estadia e a família acabou fazendo vista grossa para essa aventura dos dois. Acontece que o Amenon já era casado.... comigo!

Naquela época, não tinham avanços da medicina e ninguém descobriu exatamente qual era o meu problema de infertilidade, só sei que eu nunca consegui engravidar, não dava um herdeiro ao meu marido, e aquilo já estava me desesperando, pois ele estava à beira de me repudiar.

A cada três meses, Amenon voltava para o Brasil, mas Eymen resolveu ficar e não voltar mais.

Da última vez que Amenon voltou, ele disse que iria me repudiar ,pois a mulher com a qual ele estava se relacionando no Brasil estava prestes a dar a luz a um filho dele. Foi então que a minha família resolveu agir e conversou com o meu sogro, os dois chegaram à conclusão que a criança deveria ser retirada da mãe biológica e ficar com o pai na Turquia.

Amenon não aceitou, então eles ameaçaram matar a mãe e criança. Sem alternativa, ele permitiu,assim eu adotaria o bebê como se fosse meu.

A máfia foi até o Brasil, invadiu a casa da família da mulher e trouxe a criança.

Cam era um bebê muito bonito, eu me afeiçoei demais a ele e por sinal era muito parecido com o pai, eu até mesmo consegui amamentá-lo tamanho o meu amor por ele. Um dia o meu marido sofreu um acidente aéreo indo fazer uma viagem de negócios para a Grécia.

O avião simplesmente sumiu! Amenon foi dado como morto e Eymen tinha que voltar para ficar em seu lugar.

Como para a máfia,a união dele com a brasileira não era reconhecida, ele era solteiro e tinha que voltar para assumir a família do irmão mais velho.

Eymen fugiu por três anos, até que se cansou de se esconder e voltou. Casou comigo, assumiu o Cam como filho e cinco anos após o nosso casamento, eu consegui engravidar e você nasceu.

— O baba deixou algum filho por lá?

—Ele não fala do passado, parece estar protegendo alguém, por isso eu acredito que sim. Eu só sei o nome da mulher que ele ama,pois ele a chamou na primeira noite em que passamos juntos... Nana...

Safira fica intrigada com a história do pai.

—E se eu não conseguir engravidar mesmo com os tratamentos?

—Vamos pensar por etapa. Faça os tratamentos em segredo, na hora certa veremos o que será feito.

......................

...2 meses depois...

—Ah Karina, eu não vou ! E você sabe o porquê!

—Ele não vai, avisou ao Yusuf que vir ao Brasil lhe trará más lembranças.

—Eu tenho medo da família dele!

—Você e o Cauã não estão namorando? Ninguém irá desconfiar da paternidade do bebê!Quero muito que vá ao meu casamento, preciso de todo o apoio de todos os amigos nessa hora que está sendo difícil para mim!

— Ainda está em dúvidas ,não é?

— Sim, Yusuf ama a minha tia ,eu tenho certeza disso!

— Então por que você continua por esse relacionamento?

— Não sei ,ele me trata bem, é uma chance de recomeçar minha vida .

—E o italiano com quem você ficou conversando no bar aquele dia?

— Nós passamos uma noite juntos ,inteira... foi maravilhoso!

—Então você traiu o turco?!

— Trai ,e me desculpe dizer ,não me arrependo nem um pouquinho! Um ano que estou com Yusuf e a gente não conseguiu transar! Em uma noite com o Fernando ,ele me fez gozar diversas vezes, fui ao céu e voltei,sem cansar!

—Então é um sinal para você não se casar!

— Agora é tarde ,faltam só dois dias,eu seguirei adiante! E você vai estar lá, não é?

—Prometo pensar,mas não garanto!

Na Turquia, Yusuf tenta convencer o primo em ir até o Brasil para o seu casamento.

—Kerem, é o meu casamento!

—Eu não quero ir para o Brasil, eu vou ficar mal se for pra lá!

—Eu preciso do seu apoio! Você é mais do que o meu primo é meu irmão! Por favor?

—A Bruna estará lá?

—Eu não sei, a Karina não fala dela,acho até que não são mais amigas!

—Prometo pensar!

No dia do casamento de Yusuf e Karina ,que acontecerá na serra de Petrópolis, Bruna se arruma e aguarda por Cauã busca- lá em casa. Assim que ele chega, manda mensagem e ela desce.

Ele pediu para retornar ao Rio e os dois iniciaram um namoro convencional.

—A sua barriga é pequenininha, mas esse vestido acentuou mais ela, dá para ver como que está redondinha. Bento resolveu aparecer!

—Verdade e eu estou começando a ficar cansada,e ainda estou com 6 meses.

—Imagine quando estiver com 9 meses!

—Espero aguentar até lá.

—Falta pouco, amor!

Os dois sobem a serra na companhia de César.

No local da cerimônia, ela anda tensa,olha para todos os rostos com medo de encontrar Kerem.

—Calma ! Estamos aqui ,Bruna!Qualquer coisa,põe essa capa em frente a barriga que disfarça! - diz César

Na mesma cidade, saindo do hotel aonde estão hospedados,Kerem chama pela esposa.

—Vamos, Safira! Estão todos nos aguardando para irmos até o local da cerimônia, só falta você!

—Já estou indo, meu amor!

Ela o dá os braços e os dois seguem até com a família de Kerem. No meio do caminho, Yusuf pede para parar.

—O que foi?

—Eu preciso falar com a Karina

—Agora? Espera para depois da cerimônia!

—Não Kerem, tem que ser agora! Eu não posso me casar com ela!

—Você esperou esse tempo todo pra resolver isso agora?!

—Eu sei...mas...não dá! Eu vou ser infeliz e fazê-la infeliz. Isso não é um casamento de contrato, temos escolha, podemos decidir e eu não quero mais!

—Tá bom, e o que eu faço?

—Segue para o local da cerimônia e aguarda. Avisa aos primos dela que estiverem por lá para enrolaram os convidados até eu chegar e fazer o comunicado pessoalmente.

Enquanto o primo resolve sua vida, Kerem chega com a família vinda da Turquia na casa de campo aonde todos estão reunidos.

—Safira, fique aqui com meus tios, eu vou procurar os Paolli.

Ele sai em busca dos parentes da noiva, quando reconhece César, bebendo e conversando com uma mulher de vermelho de costas. Ele pensa em ir até o advogado para ter notícias de Bruna, mas quando a mulher se vira para cumprimentar alguém que chegava próximo ele a reconhece.

—É ela!! É a minha princesa!

O coração dele dispara e não se controla de saudades.

—Bruna! - ele grita

César arregala os olhos e Bruna o encara o amigo.

—É ele, não é?!

—Sim, é o Kerem!

Ela coloca a capa na frente da barriga e se vira para ele, o coração também disparou num misto de sentimentos.

—Oi...você está tão.. linda!

—Obrigada...

—Eu vou deixar vocês...conversarem...

César sai a contragosto de Bruna.

—Eu sinto tanto a sua falta, minha princesa! Penso em você todos os dias!

Bruna somente sorri sem graça e nada fala.

Um vento mais forte sopra no local, Bruna vai ajeitar os cabelos e a capa começa a esvoaçar e Kerem nota a barriga dela.

—Você está....grávida?!

—Estou.

—Posso...tocar na sua barriga?

—Pode...

Ele toca exatamente na hora em que o bebê chuta.

—Nossa, é agitado! - ele sorri

—Eu nunca o senti tão forte assim!

O bebê não parava de se mexer ao toque dele e Bruna se emociona.

—Qual é o nome do bebê?

—Bento.

—Diferente, qual o significado?

—Abençoado.

De repente ele pensa melhor.

—Bruna...esse bebê...é meu?

Ela fica em silêncio, viu a emoção nos olhos dele, o jeito que o bebê se mexeu ao sentir o toque do pai, tinha muita vontade de falar a verdade,que vem à boca.

—Kerem!! - Safira grita ao longe ao ver o marido conversando e tocando a barriga de outra mulher.

—Aquela deve ser a sua esposa, não é ?

—Sim... - ele responde cabisbaixo

Bruna lembra da história da tia e desiste de contar a verdade.

—Me responde, esse filho é meu,não é?!

—Não, é meu!

Cauã aparece logo atrás dela e Kerem cerra os punhos.

—Aqui está o seu drink sem álcool, meu amor! Venha se sentar um pouco, está muito tempo em pé.

—Adeus,Kerem!

Ela se despede e sai o deixando parado no mesmo lugar.

—Ele está mentindo...eu a conheço ,Bruna odeia mentiras, no tanto que ela não conseguir me responder!

Safira chega atrás dele.

—Quem era aquela mulher? É a...

—É a Bruna.

—O que você estava conversando com aquela vagabunda!

—Ela não é vagabunda! Dobre essa língua!

—Me respeite, Kerem! Eu sou a sua mulher!

—Não! Você é uma usurpadora,o lugar que está ocupando é dela! Ela é a minha mulher, é ela quem mora no meu coração!

Safira se ressente respira fundo e olha mais uma vez para Bruna.

—Ela está grávida de outro homem! E mesmo assim me diz essas coisas?!

Kerem a deixa sozinha e sai, os pensamentos estavam desordenados.

—Pelo tempo...pode ser meu sim!

Após o anúncio de que não haveria mais casamento,e que os noivos desistiram, alguns convidados se dispersam, mas a maioria fica ainda para aproveitar o buffet ,a música e a bebida a convite da própria família da noiva, porém o noivo e seus familiares se retiram para voltarem à Turquia no dia seguinte. Bruna, Cauã e César, resolvem também voltar para o Rio.

—Você está bem amiga? Esse reencontro com o Kerem mexeu com você, né?

—O bebê não parou de mexer o tempo todo em que ele falava ou tocava na barriga.

— Minha mãe costuma dizer que o sangue clama.

Cauã dirigia em silêncio e respira fundo ao ver o olhar perdido da namorada acariciando o ventre. Ele sabe que nunca vai conseguir entrar no coração dela do jeito que ele gostaria, o que era difícil antes, agora tornou- se quase impossível!

......................

●O fato de Cauã não assumir o bebê, será o ponto de partida para uma nova virada na história.

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