Revelações

Kerem retorna da sua lua de mel de uma semana em Bora Bora, os recém casados vão direto para o apartamento onde irá morar com Safira. Após deixar as malas, e a esposa em casa, ele segue para a sua para empresa.

— Acabamos de chegar e você já vai para o trabalho!

— Quer que eu fique fazendo o quê aqui o dia inteiro? Safira, eu trabalho na empresa e estou retornando para a máfia eu não posso perder tempo!

— Eu vou ficar sozinha?

— Quer que eu fique grudado em você o tempo? Acho que você deveria procurar alguma ocupação, vai estudar, trabalhar, fazer caridade ,sei lá ! Realmente deve ser muito chato ficar o dia todo sem fazer nada em casa.

— Eu não tenho necessidade de trabalhar !

—Seu caso não é por necessidade financeira, é necessidade mental,uma ocupação fará você se sentir útil para não encher o meu saco!

— Você vai demorar a chegar?

—Não,Safira! Chegarei na hora em que tiver que chegar. Qual é a sua?! Você disse que me odeia, porque está tão preocupada se eu estarei ou não na hora certa em casa?

—Não sei, tenho medo de você fugir de novo ir para o Brasil atrás daquela mulherzinha!

Ele a pega pelo queixo.

— Não fala assim da Bruna se você não quiser me ver aborrecido !

Ele a solta e se vai e Safira é consumida pelo ódio.

—Se ele souber ...vai me repudiar e me devolver na mesma hora! E nem a minha família poderá fazer nada!

Na empresa, Kerem volta a ser inteirar dos assuntos com seu primo.

— E aí ,como foi a lua de mel?

— Aproveitei só os dias de praia mesmo. Se você quer saber sobre sexo,eu não toquei nela!

—Como assim, você não transou com a Safira?

— Não consegui...

— E por quê?

— Primeiro porque eu não sinto nada por ela, é um bloqueio tão grande que nem atração consigo sentir e olha que ela é muito bonita. Segundo, como eu vou conseguir dormir com uma mulher se o meu coração e o meu corpo clamam por outra?

— Estou passando um problema parecido com o seu.

— Sério ?

—Eu não consigo transar com a Karina ,todas as vezes que a gente começa, as preliminares vão bem, às vezes eu consigo até penetrá-la e mas eu não consigo finalizar... eu... perco a ereção. Que derrota!

—Pelo mesmo motivo que o meu?

—Sim, outra na mente e no coração.

— Você ainda consegue penetrar, eu não consigo nem beijá-la na boca ainda, é quase como se tivesse um nojo ,sabe? E para não magoa- lá eu prefiro me tocá-la!

— Uma hora esse casamento terá que ser consumado.E até quando isso vai durar Kerem?

— Não faço ideia, só sei que no momento eu não consigo. Eu simplesmente não consigo!

......................

No Brasil, Bruna vive a incerteza na sua vida.

—Agora que o choque passou, o que você vai fazer? Vai seguir adiante com essa gravidez?

—Até pensei em interromper, mas eu lembrei de como as mulheres da minha família foram bravas, passaram por dificuldades terríveis sem abrir mão dos filhos. E como eu, uma mulher com o padrão de vida confortável que tenho, não darei conta? Meu filho vai nascer!

—E vao crescer sem pai?

—Eu cresci sem pai, e olha aonde estou? Minhas primas cresceram sem pais e estão com suas famílias estruturadas e sólidas. Aquele...homem ... não nos fez falta!

—Nunca mais teve notícias dele, né amiga?

—Eu procurei pelo nome que ele usava,não existia. Provavelmente era casado ou fugitivo da polícia e enganou a minha mãe, usou documentos falsos. Não lembro como é o rosto dele! Eu era tão pequena!

—A sua mãe sabe da sua gravidez?

—Não, vou contar hoje. Estou me preparando para ouvir sermão!

—Elas não gostaram do Kerem,né?

—Não é isso, eles não suportavam a ideia dele ser turco. Falaram que homens turcos não prestam! E estavam certas!

Na casa da família, em Jacarepaguá, Bruna senta no quintal da casa da avó no meio de um monte de mulheres tomando café, conversando e rindo, ela olha para os filhos das primas correndo no chão de terra batida que a avó varre todos os dias.

Ela toca em seu ventre e sorri.

💭Em breve será você correndo nesse chão! - pensa

—O que você tem para nos contar Bruna?

—Está bem depois que aquele turco maldito foi embora?

—Eu avisei que não era para se envolver com ele!

As mulheres a bombardeiam de perguntas, até a avó mandar todas se calarem.

—Meu Deus, tantas mulheres juntas só pode dar nisso! Que falatório ensurdecedor! Deixa a menina falar! Diga minha flor...

—Há uma semana atrás eu descobri que eu estou grávida!

Um silêncio ensurdecedor se fez entre as cinco mulheres ali presentes. A sexta acaba de chegar do trabalho e ouve a frase de Bruna.

—Eu sabia! Eu avisei a você ,Nana! Disse que não era pra permitir a Bruna se envolver com aquele turco desgraçado!

—Ela é maior de idade ,Bete! O que eu poderia fazer?

A avó de Bruna,Francisca, a qual toda a comunidade chama carinhosamente de Chica, ficou viúva com três filhas pequenas. Simone, que tem mais duas filhas, Elizabeth ,que se amargurou após ser iludida e Ana Maria, mãe de Bruna que foi abandonada quando a filha tinha 3 anos.

—Se vocês tivessem contado antes, talvez isso não aconteceria! - diz a avó

—Do que vocês estão falando? O que está rolando aqui?! - pergunta Bruna exaltada

—Calma,minha filha! Você não pode se aborrecer!

—Então me falem!

—Chegou a hora, Bete e Nana, contem logo!

As mulheres da família sentam em círculo com as cadeiras no quintal.

—Anos atrás, a Nana e eu trabalhávamos na limpeza de em um prédio comercial no centro do Rio. Sempre recebíamos muitas cantadas e propostas indecentes de gringos,ainda mais aqueles que eram bem brancos, eles se encantavam com a nossa pele.

—Mas sempre fugimos, sabíamos que eles só queriam uma coisa, diversão!

—Um dia, um grupo de turcos apareceu, eles estavam visitando o prédio constantemente, em uma viagem de negócios. Dois deles eram irmãos e se aproximaram de nós duas,começaram a dar presentes, e serem educados ,galanteadores...e quando vimos...as duas idiotas estavam apaixonadas!

—Achamos mesmo que eles nos levariam para a Turquia e fossemos ter vida de princesas.

—O mais velho se encantou comigo,eu era virgem na época e o mais novo gostou na Nana,que já era bem dada...

—Ei! Foca na história!

—Eles iam e vinham da Turquia,a cada três meses,sempre dizendo que estavam resolvendo um problema para poder nos levar. Nessas idas e vindas eu engravidei, a cada vez que o meu turco vinha, achava a barriga maior e chorava me prometendo buscar nós dois. Até quando fiz nove meses, ele veio pela última vez, me deu uma boa soma em dinheiro e desapareceu.

—E o turco da tia Nana? - pergunta uma primas

—Ele ficou, eu também engravidei na mesma época da Bete. Mas o meu turco não voltou com o irmão. Eles pareciam fugir de algo, eu tinha medo até de perguntar, ele usou documentos falsos para ficar no Brasil.

—Então é por isso eu nunca achava o meu pai, o nome dele não é Walter!

—Não, o seu pai se chamava Eymen.

—Espera aí ! E o bebê da tia Bete? Ele morreu? - pergunta a sobrinha

—Antes fosse...pois eu saberia o que aconteceu com ele...

Bete começa a chorar e as irmãs a abraçam.

—O bebê era um menino,lindo! A cara do pai! - diz dona Chica,emocionada.

—Ele soube que era um menino através do irmão, que teve uma menina, a Bruna. Um dia vieram uns homens aqui,invadiram a casa da mamãe durante a noite e levaram o meu menino. Eles falavam em turco, estavam armados e procuravam pelo Eymen, só que eles não moravam aqui.

—Na época nos tínhamos acabado de nos mudar para a baixada, por isso eles não nos encontraram.

—Depois o Eymen explicou que na cultura deles o filho homem sempre fica com o pai, independe de ser bastardo ou não.

—Bastardo? - pergunta Bruna - Então ele era casado?

—Sim, e não possuía herdeiros, o meu filho era o único filho dele!

—E o que aconteceu com o meu pai? Ele não sumiu simplesmente!

—O irmão dele morreu, o pai do filho da Bete, Eymen tinha que voltar para assumir os negócios e um casamento que estava arranjado. A gente se mudava de cidade em cidade fugindo da família dele. Até que um dia ele cansou, disse que aquilo não era vida,que nós duas não viveríamos em paz por causa dele e foi embora.

Bruna fica atônita, era isso que aconteceria com ela se Kerem ficasse. A história se repetiria mais uma vez!

—E porque ele não me levou?Eu não era filha dele!

—Eu não sei exatamente o porquê ,mas achamos que seja porque você é mulher.- diz Nana

—Bruna, nunca conte que está grávida,não deixe ele saber desse filho! Especialmente se for um menino,eles irão levá-lo, como levaram o meu ! O meu menino!

Bete chora copiosamente, Bruna se levanta atordoada com tantas revelações. Segura forte em sua barriga.

—Você é meu filho e só meu! Ninguém vai tirar você de mim!

......................

●Se segurem que tem mais revelações nos próximos capítulos...dessa vez do lado turco da história!

●Ah...o segredo que Safira guarda é outro,não tem nada relacionado ao passado do pai.

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