Bibi Bittencourt
Eu nunca imaginei que teria que passar por aquilo. Dizer a meus pais sobre a gravidez não planejada, a situação que eu mesma não sabia como lidar, foi mais difícil do que qualquer outra coisa que eu já havia enfrentado. Eu sentia que o mundo inteiro estava prestes a desabar sobre mim, e eu estava em pé, sozinha, esperando pela queda.
Sentei-me no canto do sofá na sala de estar, as mãos suadas, a respiração pesada. O relógio na parede parecia aumentar a pressão sobre mim, cada tique ecoando em minha mente. Minha mãe estava na cozinha, preparando algo leve para o almoço, como sempre fazia aos domingos. Meu pai estava no escritório, como de costume, com seus negócios que jamais paravam. Ambos estavam felizes e tranquilos, alheios à tempestade que se aproximava.
Eu sabia que aquele momento chegaria. Não poderia mais adiar. A barriga estava começando a crescer, e não havia mais como esconder. Meu corpo estava se tornando mais do que uma simples lembrança do erro cometido. Ele estava se tornando uma realidade, uma realidade que eu não estava pronta para enfrentar, mas que eu sabia que teria que aceitar.
De repente, a porta da cozinha se abriu, e minha mãe entrou na sala. Ela sorriu para mim, com aquele sorriso maternal, cheio de calor, de quem acreditava que tudo estava bem no mundo. Ela não fazia ideia do que estava prestes a acontecer.
— Bibi, minha querida, está tão quieta hoje. O que foi? — perguntou ela, parando na minha frente com a expressão curiosa, como se tentasse entender o que se passava na minha mente.
Eu me forçei a sorrir. A última coisa que eu queria era deixá-la preocupada, mas eu sabia que a mentira não teria mais força ali. Eu sabia que, ao olhar nos olhos dela, teria que ser honesta. Não poderia continuar com o peso dessa mentira por mais tempo.
Respirei fundo, tentando reunir coragem. Tudo o que eu sabia era que não havia outro caminho. Eu precisava contar a verdade.
— Mãe, eu preciso falar com você e com o pai. É sobre algo importante — minha voz estava baixa, mas firme. Eu sabia que ela notaria a diferença. Ela sempre soubera quando algo estava errado comigo, mesmo quando eu tentava esconder.
Ela franziu a testa, sentando-se ao meu lado no sofá, agora mais séria. O sorriso desapareceu, substituído pela preocupação, aquela preocupação que só uma mãe sabe expressar.
— Claro, filha. O que aconteceu? Está tudo bem? — sua mão gentilmente tocou meu ombro, como se quisesse me transmitir segurança. Mas, dentro de mim, eu sentia que não havia segurança. Apenas incertezas e um turbilhão de sentimentos.
Eu mordi o lábio, lutando contra as lágrimas que ameaçavam sair. Não queria ser fraca, não queria parecer vulnerável diante deles. Eu era a filha forte, a que sempre dava orgulho à família, a que jamais criaria problemas. Mas, naquele momento, eu sabia que as máscaras precisavam cair.
— Mãe… eu… estou grávida — as palavras saíram de mim como um suspiro, mas eu sabia que não havia mais volta. O silêncio tomou conta da sala, uma tensão tão palpável que quase podia ser cortada com uma faca.
Ela me olhou por um momento, como se as palavras não fizessem sentido para ela. Como se ela estivesse tentando processar aquilo. Sua expressão não mudou de imediato, mas eu pude ver o pânico começando a surgir em seus olhos. Ela não falava nada, mas eu podia sentir a pergunta não dita em seu olhar: Quem era o pai?
Eu desviei os olhos. Não podia olhar para ela e dizer o nome de Rafael. Não ainda. Não quando tudo o que ele havia feito para mim parecia tão sujo, tão distante de quem eu pensava que ele fosse. Não queria que ela soubesse de todas as humilhações que eu havia suportado.
— O que… o que você quer dizer com isso, filha? — finalmente, ela perguntou, sua voz tremendo levemente.
Eu olhei para ela, as palavras difíceis de sair, como se eu estivesse lutando contra algo maior do que a própria verdade. Como se eu estivesse tentando me convencer de que tudo aquilo era um pesadelo e não uma realidade.
— Eu estou grávida, mãe. E não sei o que fazer. Rafael não quer que eu tenha o bebê, ele não quer assumir nada. Eu estou sozinha nisso — as palavras saíram atropeladas, e, ao fim delas, um peso imenso parecia cair sobre mim. Eu queria que ela dissesse algo que me confortasse, que me dissesse que tudo ficaria bem, mas ela só olhava para mim com os olhos cheios de dúvida e confusão.
Ela se afastou, como se estivesse tentando dar um passo atrás para processar tudo o que eu dissera. Ela começou a se levantar, então olhou para mim com um olhar que eu nunca tinha visto antes. Eu podia ver a raiva, a decepção e o medo. Ela não me conhecia mais. Eu não era mais a filha que ela tinha criado.
— Como você pôde… como você se deixou chegar a esse ponto, Bibi? — a voz dela estava cortante, mais fria do que eu jamais imaginara. E, naquele momento, eu soube que as palavras que ela disse eram o reflexo do que ela pensava de mim agora: uma falha, uma decepção.
Eu não sabia o que responder. Não sabia como justificar tudo o que havia acontecido. Eu queria que ela soubesse, que ela entendesse que eu nunca imaginei que minha vida tomaria esse rumo. Eu queria poder voltar atrás, fazer tudo de outra forma, mas não havia como.
— Eu não sei o que fazer, mãe. Eu preciso de ajuda. Eu… não sei como lidar com isso — eu disse, tentando manter a voz firme, mas sentindo os tremores em meu corpo. Eu queria que ela me abraçasse, que me dissesse que ficaria tudo bem, mas a distância que se formava entre nós era cada vez maior.
Ela respirou fundo, se afastando de mim.
— Eu não posso te ajudar, Bibi. Eu não posso ser conivente com isso. Você está sozinha. Tem que resolver sozinha. Eu… não sei o que mais dizer. — E, com isso, ela se virou e saiu da sala.
As palavras dela ecoaram em minha mente como um golpe. Sozinha. Era isso o que eu era agora. Ela não queria me ajudar. Meu pai, que sempre havia sido distante, nunca soubera como se conectar comigo de verdade, mas até ele, quando soube da notícia, foi claro: não podia aceitar aquilo. Ele queria que eu resolvesse sozinha.
O peso da rejeição era esmagador. Eu senti como se fosse uma estranha em minha própria casa. Como se minha própria família tivesse me abandonado. Mas eu sabia que não podia desistir. Eu precisava ser forte. Mesmo sem apoio. Mesmo sem saber o que fazer.
E, naquele momento, quando tudo parecia perdido, foi então que a porta do escritório se abriu, e meu pai apareceu. Ele estava calmo, sua expressão era impenetrável, mas seus olhos estavam diferentes. Ele estava furioso, mas ao mesmo tempo, havia uma preocupação estranha, algo que eu não consegui identificar de imediato.
Ele me olhou por um instante antes de falar, sua voz firme e grave.
— Bibi, precisamos conversar. Mas não aqui. Vamos dar uma volta — ele deu um passo em minha direção. Eu hesitei por um momento, mas sabia que, se eu quisesse respostas, tinha que enfrentar o que fosse necessário.
Eu não sabia o que ele diria, mas sabia que, dali em diante, nada seria como antes.
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Atualizado até capítulo 101
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