Cap. 4

Enquanto caminhava na direção de Guilherme, Sofia não conseguiu evitar um sorriso, já imaginando a reação do "doutor bonitão". Guilherme, por sua vez, estava concentrado no prontuário que segurava, sem perceber a aproximação dela.

_ Bom dia... Cumprimentou Sofia, fazendo Guilherme levantar o olhar, encontrando a figura colorida e alegre de Sofia à sua frente. Por um momento, os dois se encararam, e Guilherme, embora surpreso com o olhar dela, manteve a expressão inabalável.

_Olá, doutor! O senhor poderia tirar cinco minutos do seu tempo para se juntar a nós? As crianças vão adorar a sua presença Chamou com entusiasmo.

Guilherme, porém, não demonstrou a menor inclinação para aceitar o convite feito por Sofia.

_Não, obrigado. Tenho outras coisas para fazer. Respondeu com o semblante sério, de forma direta e fria.

_Nossa! Por acaso você é um médico frio e sem coração? Sofia falou em um tom divertido enquanto colocava um adesivo de coração na roupa de Guilherme. _ Um sorriso e uma palavra gentil pode fazer a diferença na vida de qualquer pessoa

Aquele comentário fez algo dentro de Guilherme se agitar. Ele parou o que estava fazendo imediatamente e se virou para ela, visivelmente irritado. Seus olhos, normalmente controlados, estavam mais intensos.

_Frio e sem coração? Repetiu ele, tentando manter a calma, mas a irritação era evidente em seu tom de voz. _Eu sei fazer o meu trabalho. E faço muito bem, por sinal...

_ Às vezes, um sorriso pode curar mais do que qualquer remédio…

O comentário ríspido de Guilherme surpreendeu Sofia. Ela ficou um pouco chateada, e nos seus olhos era possível ver a frustração que a resposta dele causou nela.

O trabalho voluntário na ala infantil era algo muito pessoal para Sofia, um compromisso que ela mantinha com o coração. Sua irmã mais nova havia sido vítima de um tumor maligno no cérebro, e antes de falecer, ela passou bastante tempo no hospital e adorava a presença do grupo de voluntários que visitavam o hospital fantasiados. Desde então, Sofia decidiu se tornar voluntária no mesmo grupo, para levar um pouco de alegria para crianças doentes.

Mas antes que Guilherme pudesse dar mais um passo e se afastar, Sofia rapidamente puxou um pequeno nariz de palhaço do bolso e, rindo, tentou colocá-lo no médico.

_Vamos lá, doutor frio e sem Coração, precisa de um pouquinho de cor pra animar seu dia! Provocou, levantando-se na ponta dos pés para tentar encaixar o nariz de palhaço em Guilherme.

Guilherme se afastou de imediato, pegando-a pelo pulso com delicadeza, mas firme o suficiente para evitar que ela completasse a ação.

_Eu não quero! Disse controlado, mas ainda visivelmente irritado encarando o rosto pintado de Sofia.

Sofia olhou para ele, e seus olhares se encontraram mais uma vez. Ela sentiu uma leve inquietação no peito,  enquanto um calor subia por seu rosto.

_Um nariz de palhaço não vai te fazer mal, até combina com a sua falta de humor. Provocou

_ Estou aqui para salvar vidas, não para brincar. Guilherme soltou o pulso dela. _ Voce deveria usar menos perfume quando vir ao hospital. Disse cansado da interação com Sofia, e voltou a caminhar, deixando ela para trás.

_ Eu não passei perfume hoje... Lembrou Sofia que evitava usar perfume nos dias que visitava o hospital.

Enquanto ele se afastava, sentiu o sangue ainda pulsando mais rápido do que de costume. A provocação de Sofia mexeu  mais com ele do que Guilherme gostaria de admitir. Apesar de sua irritação, algo sobre a forma como ela havia o tratado o incomodava, como se houvesse uma verdade naquelas palavras. Mas ele não podia perder o foco. O trabalho sempre vinha em primeiro lugar, e ele acreditava que sua seriedade era o que realmente importava no fim do dia.

Guilherme soltou um suspiro, ainda irritado com a situação. Ele olhou para Sofia por um instante, vendo que ela ainda olhava na sua direção.

_ Você realmente não tem um pingo de humor, tem? Resmungou Sofia, mais para si mesma do que para ele, enquanto cruzava os braços.

_ Será que eu exagerei? Se perguntava Guilherme apertando os lábios. Ele sabia que aquele grupo de pessoas estavam ali com boas intenções, e por mais que não concordasse com sua abordagem, havia uma parte de si que sentia que talvez ela tivesse razão. Mas ele não estava disposto a admitir isso. _ Bom, se ela precisar de um médico, estou à disposição.  Disse, tentando encerrar o assunto.

Sofia sorriu de leve, apesar da decepção ainda evidente.

_Um dia eu te faço sorrir. Sussurrou colocando o nariz de palhaço no próprio rosto. _Não desisto fácil, doutor.

Sofia se virou, voltando para o grupo de crianças, que riam e se divertiam com sua presença, deixando Guilherme para trás, ainda pensativo.

_ Sofia, eu ganhei! Comemorou Beatriz chamando ela

_ Por enquanto! Afirmou Sofia olhando mais uma vez para Guilherme.

No dia a dia, Sofia, que tinha acabado de completar 26 anos, trabalhava no setor contábil de uma multinacional, lidando com números e planilhas, mas sempre guardava um espaço em seu coração para ajudar as crianças.

**************************

No final do dia, depois de visita ao hospital e trabalhar a tarde, Sofia voltou para casa cansada, Indo diretamente tomar um banho relaxante. Após o banho, ela se sentou no sofá, olhando para o celular enquanto esperava a chamada de vídeo conectar. E Quando a tela se iluminou ela viu as faces sorridentes de seus pais, Renata e Pedro, que moravam em Boston nos Estados Unidos. Sofia sorriu, estava com saudades.

_Oi, mãe! Oi, pai! Cumprimentou  animada.

_Oi, querida! Como você está? Perguntou Renata, feliz por vê-la.

_Estou bem, trabalhando bastante. E vocês?

_Estamos ótimos! E claro trabalhando bastante. Só falta você aqui. Respondeu sua mãe, piscando.

Sofia sorriu e balançou a cabeça.

_Mãe, eu já disse que não conseguiria morar em Boston no inverno. Eu amo o calor, e para mim, neve é só para ver de longe, de preferência pela TV.

_Ah, mas você se acostuma, minha filha! Brincou o Pedro arrancando risadas. _ Não precisa tomar banho todos os dias.

_ Não sei não, pai… e cadê a Lívia? Perguntou Sofia que não viu a irmã.

_ Hummm, a sua irmã já está namorando, não pára mais em casa. Contou a mãe. _E você, Sofia, quando vai começar a namorar? Ou já está namorando e não quer nos contar?

Sofia sorriu, mas o tom brincalhão da mãe a fez suspirar, e ela se lembrou de Guilherme, balançando a cabeça negativamente

_ Ah, mãe, eu não sei se ainda quero namorar. Sabe que desde a decepção que tive com o Lucas, eu meio que deixei de acreditar no amor. Ser traída pelo namorado com uma amiga me deixou com o pé atrás.

Sua mãe fez uma careta solidária.

_Ah, meu amor, foi um baque, eu sei. Mas não é por causa de uma decepção que você vai fechar o seu coração.

Sofia sorriu, mas seu olhar estava distante.

_Vamos ver… Oh, e se eu me decepcionar mais uma vez, prometo que vou pensar na possibilidade de me mudar para Boston com vocês, e congelar o meu coração de vez na neve. Mas, por enquanto, acho que vou continuar aqui, no calor. Falou começando a rir.

_ Pode vir agora se quiser, estamos com saudades. Disse Pedro abraçando a esposa.

 _Nas minhas férias, prometo que vou visitar vocês.

_Vou cobrar, hein? Avisou Renata. _E quem sabe o inverno não te conquista!

_ Pouco provável, mãe… nesse caso, é mais fácil um homem frio e sem coração me conquistar. Disse lembrando mais uma vez de Guilherme.

Sofia, 26 anos.

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Comments

Maria Aparecida Nascimento

Maria Aparecida Nascimento

A Sofia vai derreter o coração de gelo do Guilherme

2025-02-17

0

Marcia Santos

Marcia Santos

doutor alegria era bonito mesmo

2024-12-28

0

Jurupeca

Jurupeca

o cheiro dela foi gravado na mente dele

2024-12-20

0

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