Capítulo 2

A manhã seguinte trouxe consigo uma leve neblina que cobria Seaside Hills, tornando o cenário ainda mais calmo e pacífico. No entanto, para Matt Hernandez, a tranquilidade da cidade só servia para aumentar sua ansiedade. Ele nunca fora do tipo que se preocupava com reuniões importantes ou apresentações, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele sentia o peso da responsabilidade em seus ombros.

Ele olhou para si no espelho do banheiro, ajeitando a gravata enquanto a água da torneira ainda pingava. "Eu consigo fazer isso", ele murmurou para si mesmo, algo que não era típico de seu comportamento confiante e despreocupado.

Bateu na porta de Lizzy pouco depois das 8h30. Quando ela abriu, Matt mal pôde esconder sua surpresa. Ela estava impecável em um terno cinza que delineava sua postura forte e decidida. Mesmo sem maquiagem pesada ou acessórios chamativos, Lizzy exalava profissionalismo. Ele sabia que não poderia decepcioná-la.

– Pronta para o show? – ele perguntou, sorrindo, tentando aliviar a tensão.

Lizzy o encarou com uma expressão calma, mas seus olhos mostravam um toque de nervosismo.

– Sempre pronta – ela respondeu, ajustando os últimos detalhes de sua bolsa. – Espero que você também esteja, porque não teremos uma segunda chance de impressioná-los.

Matt assentiu. Desta vez, ele não fez nenhuma piada, nem tentou usar seu charme habitual. Ele sabia que o momento exigia seriedade.

Caminharam juntos até o carro que os levaria ao hotel onde seria a apresentação. O silêncio entre eles era tenso, mas Matt podia sentir a atmosfera carregada com uma energia de expectativa. Ele olhava pela janela, os pensamentos correndo rapidamente. Estava ciente de que essa era uma oportunidade de provar a Lizzy – e talvez a si mesmo – que ele era mais do que um rosto bonito com uma atitude despreocupada.

Ao chegarem ao local, foram recebidos pelo gerente do hotel e conduzidos a uma elegante sala de conferências, onde os investidores já estavam aguardando. Eram cinco, todos homens mais velhos, usando ternos caros e olhares avaliadores. A pressão no ar era palpável.

Lizzy assumiu a liderança, como sempre, caminhando com confiança até o projetor, onde preparou a apresentação enquanto Matt a seguia, tentando se manter no mesmo ritmo. Ela começou a falar, sua voz firme e clara, delineando a estratégia da empresa e os benefícios do projeto que estavam propondo.

– O crescimento do mercado de imóveis de luxo em áreas litorâneas está em plena ascensão – ela explicou, enquanto os gráficos surgiam na tela. – Nosso objetivo é aproveitar essa oportunidade antes que a concorrência avance.

Matt observava os investidores enquanto Lizzy falava. Eles estavam prestando atenção, mas ele sabia que era o seu momento de entrar em cena e vender a parte mais prática e criativa da proposta.

Quando chegou a sua vez, ele se levantou, ajeitou a gravata e foi até a frente da sala. Lizzy olhou para ele por um breve segundo, talvez esperando que ele cometesse algum erro, mas ele a surpreendeu.

– Bom dia, senhores – Matt começou com um sorriso confiante, mas sem o ar despreocupado de sempre. – O que queremos oferecer a vocês é mais do que apenas um investimento. Estamos criando um estilo de vida. Cada detalhe dos empreendimentos que planejamos desenvolver será voltado para um público que valoriza exclusividade, privacidade e luxo. Não estamos vendendo apenas propriedades; estamos vendendo uma experiência única, um refúgio privado que só os melhores terão acesso.

Enquanto ele falava, Lizzy o observava com atenção. Havia algo diferente em Matt naquele momento. Ele estava focado, articulado, sem os maneirismos que ela normalmente esperava dele. E os investidores? Eles estavam absorvendo cada palavra.

Matt continuou, descrevendo o conceito inovador de design e a abordagem única que eles planejavam implementar. Ele não só capturou o interesse dos investidores, como os fez se imaginar dentro do projeto, visualizando o sucesso que ele prometia.

Quando terminou, o silêncio na sala foi quebrado apenas pelo som de um dos investidores pigarreando antes de fazer uma pergunta.

– Senhor Hernandez, sua proposta é bastante ambiciosa. O que o faz acreditar que a nossa empresa seria a parceira ideal para um projeto desse porte? – perguntou um dos homens de cabelo grisalho, com um olhar crítico.

Matt deu um sorriso leve, como se estivesse preparado para aquela pergunta o tempo todo.

– Porque sabemos que a visão de vocês não é apenas financeira, mas estratégica. Vocês já investiram em empreendimentos que mudaram o mercado, e acreditamos que, juntos, podemos não apenas atender à demanda existente, mas definir um novo padrão. Seaside Hills será o modelo para o futuro do luxo.

Houve uma pausa, e os investidores trocaram olhares entre si. A atmosfera era tensa, mas carregada de possibilidade.

Lizzy interveio, reforçando os números e os detalhes técnicos que solidificavam a viabilidade da proposta. Quando terminaram, os investidores agradeceram e saíram, dizendo que discutiriam entre si e entrariam em contato em breve.

Assim que eles se foram, Lizzy soltou um longo suspiro de alívio, sentando-se em uma das cadeiras da sala. Matt fez o mesmo, mas com um sorriso satisfeito no rosto.

– Eu disse que ia dar certo – ele disse, olhando para ela com orgulho.

Lizzy o encarou por um momento, ainda surpresa com o desempenho dele. Ela não esperava que ele fosse tão comprometido, nem tão convincente. Talvez, afinal de contas, Matt Hernandez fosse mais do que ela pensava.

– Eu admito – disse ela, cruzando os braços e relaxando na cadeira – você me surpreendeu. Achei que fosse fazer tudo desmoronar, mas... foi incrível.

– Isso é um elogio? – ele perguntou, com um sorriso divertido.

– Não se acostume – respondeu ela, levantando-se. – Ainda temos muito trabalho a fazer. Mas sim, foi um bom começo.

Enquanto saíam do hotel, Matt sentia uma satisfação crescente. Pela primeira vez em muito tempo, ele havia provado que podia ser mais do que um conquistador. E, de alguma forma, isso o fez perceber que talvez estivesse cansado da vida superficial que levava. Trabalhar com Lizzy, apesar de desafiador, havia despertado algo nele que ele não sabia que existia. E talvez, só talvez, fosse hora de mudar.

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