Doce Sombra: O Amor Proibido Entre a Vampira Solitária e o Médico

Doce Sombra: O Amor Proibido Entre a Vampira Solitária e o Médico

A Chegada da Sombra

A noite se aproximava lentamente da pequena cidade de Valedourado, e as primeiras estrelas já brilhavam no céu, mas ninguém jamais olharia para cima. Não em Valedourado. Os moradores eram conhecidos por se trancarem cedo em suas casas, selando portas e janelas como se houvesse algo à espreita. Na verdade, havia.

No centro da cidade, afastado de todos, um hospital de fachada antiga e corredores de cheiro estéril permanecia ativo mesmo nas horas mais escuras. Era onde trabalhava o Dr. Victor Rocha, um médico dedicado e solitário, que encontrava na medicina o único alívio para a dor da perda de sua esposa. Seu amor pelo ofício era inegável, mas o vazio que carregava em seu peito era profundo demais para ser preenchido com simples rotinas.

Naquela noite, no entanto, algo estava prestes a mudar. Algo sombrio e misterioso se arrastava pelas ruas silenciosas de Valedourado, em busca de refúgio. A figura se movia com uma elegância sobre-humana, envolta em um manto de veludo negro que parecia ser parte da escuridão que a cercava. Era ela, a criatura que muitos consideravam uma lenda: Lisandra. Uma vampira antiga, amaldiçoada com a eternidade, mas também com a solidão mais avassaladora que uma alma poderia suportar.

Lisandra, apesar de sua natureza predatória, havia abandonado a vida de caçadora há séculos. O gosto do sangue humano ainda a chamava, mas seu espírito ansiava por algo mais profundo, mais significativo. Séculos de solidão haviam endurecido seu coração, mas uma fagulha de esperança ainda residia ali, escondida em algum lugar profundo. Essa fagulha a trouxe para Valedourado, atraída pelo vazio e pela dor que ecoavam nos corredores daquele hospital.

Ao chegar, seu corpo ferido e enfraquecido após uma luta com outros de sua espécie exigia cuidado. Sangrava lentamente, e mesmo que a imortalidade a protegesse, o desgaste físico era claro. Ela sabia que não podia continuar assim por muito tempo. Então, ela decidiu fazer algo que não fazia há séculos: buscar ajuda humana.

Enquanto Lisandra se aproximava da entrada do hospital, a lua cheia iluminava seus olhos de um vermelho profundo, mas que naquele momento, carregavam uma melancolia intensa. Quando ela finalmente cruzou a soleira da porta, um frio gélido percorreu o ambiente. As enfermeiras sentiram, mas não entenderam. O Dr. Victor, no entanto, estava no final de um longo turno e não percebeu a presença até que a viu ali, de pé, na recepção.

"Posso ajudar?", ele perguntou, seus olhos escuros encontrando os dela. Houve um instante de tensão no ar, como se o tempo tivesse parado por completo.

Lisandra, que há muito havia esquecido o que era confiar em outro ser, hesitou. Mas a dor em seu corpo era intensa demais. Ela retirou o capuz, revelando seus cabelos negros que caiam em cascata, e seus olhos fixaram-se nos dele. "Preciso de um médico", disse ela, sua voz baixa, quase como um sussurro, mas carregada de algo profundo, algo que Victor não conseguia identificar imediatamente.

Ele ficou surpreso. Ela parecia estar em uma condição grave, mas algo em sua aparência o fez questionar o que exatamente estava acontecendo. Suas roupas não eram normais, e a palidez de sua pele era alarmante. No entanto, Victor era, acima de tudo, um médico. E um médico não recusava ajuda, não importa o quão estranha fosse a situação.

"Venha comigo", ele disse, conduzindo-a pelo corredor até uma sala de atendimento. Enquanto a luz fria do hospital iluminava seu rosto, Victor percebeu algo ainda mais intrigante. Ela não parecia apenas ferida; parecia... fora deste mundo.

Lisandra sentou-se na maca e olhou ao redor, seus sentidos apurados sentindo o pulsar das veias ao seu redor. O sangue, a vida, tudo isso ainda era uma tentação para ela, mas ela havia se prometido há muito tempo que não cederia. Não mais. Especialmente agora, diante de alguém como Victor, cuja bondade parecia transparecer mesmo nos pequenos gestos.

"Como isso aconteceu?", ele perguntou, enquanto pegava seus instrumentos, tentando manter o profissionalismo, apesar da estranha sensação que lhe dizia que algo não estava certo.

"Foi um ataque", ela respondeu vagamente, sem entrar em detalhes. "Um animal selvagem."

Victor franziu a testa. A ferida em seu ombro não parecia ser de um animal. Era profunda e irregular, como se tivesse sido feita por algo com garras, mas muito mais afiado e preciso do que qualquer criatura que ele conhecesse. No entanto, ele não fez perguntas. Apenas começou a tratá-la.

Enquanto trabalhava, ele não pôde deixar de notar o quão fria sua pele era, quase como gelo. Seus dedos tremeram ao tocar nela, mas ele manteve o controle. "Isso vai doer um pouco", avisou ele antes de começar a costurar a ferida. Lisandra, porém, não fez um único som de dor.

"O que você é?" A pergunta ecoou na mente de Victor, mas ele não ousou verbalizá-la. Havia algo de profundamente perturbador nela, algo que ele não conseguia identificar, mas ao mesmo tempo, havia algo estranhamente... familiar. Como se ele já a tivesse visto antes, em algum lugar. Talvez em seus sonhos.

Quando terminou o curativo, ele deu um passo para trás, ainda estudando-a. "Você... vai ficar bem?", perguntou, sua voz agora carregada de uma curiosidade que ele não conseguia esconder.

"Sim", ela respondeu, levantando-se com uma agilidade que não correspondia à sua condição. "Obrigada, doutor."

Ele observou-a se mover em direção à porta, mas antes que pudesse deixá-la ir, algo o deteve. "Espere", disse ele, aproximando-se dela novamente. "Você... precisa de mais ajuda do que está dizendo, não é?"

Lisandra parou, suas costas viradas para ele. Ela não estava acostumada com essa compaixão. A maioria dos humanos fugia dela, temendo o que ela era, ou sucumbiam ao desejo que sua presença evocava. Mas Victor... Victor era diferente.

"Você não pode me ajudar, doutor", disse ela finalmente, sem se virar para encará-lo. "Ninguém pode."

Victor sentiu um arrepio. "Talvez eu possa. Mas para isso, preciso saber quem – ou o quê – você realmente é."

Houve um longo silêncio, e então, finalmente, Lisandra se virou, seus olhos agora cravados nos de Victor. "Eu sou uma sombra", ela disse, sua voz carregada de séculos de dor e solidão. "Uma sombra que vive na escuridão, amaldiçoada a vagar entre os vivos, mas sempre distante deles."

Victor não entendeu completamente suas palavras, mas algo dentro dele sabia que ela estava falando a verdade. E pela primeira vez em anos, ele sentiu algo mexer-se em seu coração. Algo que ele pensava estar morto desde que sua esposa falecera.

"Talvez a sombra precise de luz", ele disse suavemente, sem perceber o quanto suas palavras impactariam Lisandra.

Ela o olhou com surpresa. Ninguém jamais havia falado com ela daquela forma. Ninguém a via além da maldição que carregava. Mas ali estava aquele homem, olhando para ela como se ainda houvesse algo humano em seu interior.

"Talvez", ela sussurrou, antes de desaparecer na noite.

Victor ficou ali, parado, olhando para a porta vazia. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas algo lhe dizia que aquela mulher – ou o que quer que ela fosse – mudaria sua vida para sempre. E talvez, apenas talvez, ele pudesse mudar a dela também.

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