Capítulo 04

...Romeu…...

Quando Romeu chegou à cozinha, o cheiro das torradas e do café fresco preenchia o ar.

Ana: Chegou, meu filho! Estou terminando de passar o café. Sente-se!

Romeu: O cheiro está maravilhoso, irmã!

Ele se sentou à mesa aguardando.

Padre: A paz do Senhor! Que comodismo é esse?

Ana sorriu enquanto levava as torradas para a mesa.

Ana: A paz do Senhor, padre! padre Augustinho, o irmão do senhor foi tão gentil conosco hoje. Preparei essas torradas e esse cafezinho para ele antes da irmã Maria terminar o almoço.

Romeu olhou para o irmão com um sorriso convencido.

Padre: Está bem irmã Ana! Aqui recebemos bem a todos.

Sem que ninguém esperasse, Catarina entrou cantando na cozinha e se assustou ao ver o padre.

Padre: Músicas mundanas, irmã Catarina?

Romeu riu enquanto Catarina ficou completamente sem graça.

Porém, ela pensou rápido e mudou de assunto imediatamente.

Catarina: Padre Augusto… Que saudade eu estava do senhor!

Ela se aproximou para beijar a mão dele.

Catarina: A bênção, padre!

Romeu: Deus te abençoe, filha. A irmã está se sentindo bem?

Catarina: Sim padre, 100%!

Padre: Louvado seja Deus! Que Ele continue concedendo sua saúde irmã, ficamos preocupados.

Catarina: Amém, padre! Não tem com que se preocupar.

Padre: Estarei na igreja. Até logo e juízo!

Ele tocou no ombro de Catarina e saiu após se despedir de todos.

Ana: Sente-se aí irmã, vou preparar um café para você também!

Catarina sentou-se duas cadeiras depois de Romeu. Ele pegou a bandeja com as torradas e ofereceu a ela.

Romeu: Torrada? Está uma delícia.

Catarina pegou uma e agradeceu.

Romeu: Fique à vontade, irmã.

Ana: Aqui está seu cafezinho, vou me juntar a vocês!

Ela sentou-se de frente para eles.

Ana: Venha irmã Maria! Servi seu café também!

Maria, que estava cozinhando, juntou-se a eles na mesa.

Romeu: Não sei quem é mais calada, a irmã Maria, ou a irmã Catarina.

Ana: Meu filho, a Maria é muda e surda…

Romeu: Agora tá explicado.

Em libras ele diz “olá” para Maria e ela o responde.

Em seguida Romeu vira para Catarina e faz o mesmo, fazendo as irmãs rirem.

💭Cataria: Engraçadinho…

Após comer, Catarina levantou-se e disse que iria para a sala de música limpar os instrumentos, já que receberia as meninas na aula de canto no dia seguinte.

Ana: Está tudo bem mesmo, irmã? Consegue fazer isso?

Catarina: Sim! Estou ótima, não se preocupe tanto comigo. E obrigada pelo café… até mais a todos.

Ana: Certo, irmã.

Romeu: Eu também vou indo. Obrigado, irmã Ana, pelo lanche maravilhoso.

Ana: Por nada, filho.

Ele levantou e seguiu logo depois de Catarina.

Enquanto caminhava em direção à sala de música, Catarina ainda não havia percebido que Romeu a estava seguindo.

Ao entrar na sala, Catarina abriu a janela para deixar o sol entrar e começou a remover os lençóis que cobriam os instrumentos enquanto contava.

Romeu: Você tem uma voz muito bonita.

Catarina se assustou com a voz de Romeu e olhou para ele, que estava encostado na porta.

Catarina: Obrigada…

Romeu: Precisa de ajuda?

Catarina: Não, obrigada.

Romeu: Por favor, me deixe fazer algo. Estou entediado.

Catarina: Muito obrigada, mas não precisa me ajudar com isso.

Ela voltou a organizar as coisas e Romeu entrou na sala. Ela tentou não olhar muito para ele, mas isso foi inevitável quando ele pegou o violão e se sentou na cadeira para tocar.

Romeu: Canta.

Catarina: Não, obrigada…

Ela disse segurando o riso.

Romeu: Vai lá, eu não toco tão mal assim… ou toco?

Catarina: Minhas alunas de sete anos tocam muito melhor.

Ela riu e ele fingiu uma cara de ofendido.

Ele deixou o violão de lado e pegou o espanador que estava na mão dela.

Romeu: Deixa eu te ajudar com isso.

Dessa vez, Catarina não interferiu, e logo Romeu estava tirando a poeira dos instrumentos.

Romeu: Você é a professora de canto?

Catarina: Não diria professora, mas eu treino as alunas para a apresentação de fim de ano na igreja.

Romeu: Entendi. Então você é a professora de canto!

Ela balançou a cabeça rindo.

Catarina: Você é engraçado…

Romeu: Finalmente um elogio da sua parte! Primeiro você me perguntou se estava em um pesadelo por estar me vendo, e depois disse que eu não sei tocar violão.

Catarina: Ora, não foi bem assim…

Romeu sorriu.

Catarina: Obrigada por ter me segurado na hora do desmaio, a irmã Ana me contou.

Romeu: É claro que eu te seguraria. Se você caísse, eu teria mais trabalho!

Catarina abriu a boca em surpresa e ele riu.

Romeu: Brincadeira.

Eles continuaram limpando.

Romeu: Irmã Catarina?

Catarina: Oi, pode falar...

Romeu: Quantos anos você tem?

Catarina: Tenho 24 anos. E você?

Romeu: Eu tenho 30.

Ele hesitou se deveria perguntar o que queria saber ou não, mas decidiu se arriscar.

Romeu: Você é a freira mais nova daqui, pelo jeito.

Catarina: Sim… faz cinco meses que me tornei freira, bem recente.

Romeu: E você sempre foi ligada à vida religiosa?

Catarina: É… bom, minha mãe sempre me levava à igreja e estudei em uma escola religiosa também durante o ensino médio.

Romeu: Foi nessa época que você decidiu seguir esse caminho?

Catarina suspirou e sorriu levemente ao pensar que nunca havia considerado essa possibilidade antes.

Catarina: Na verdade, eu queria ser cantora… mas era apenas uma bobagem de adolescente, no fim das contas, me tornei freira.

Romeu: Entre ser cantora e freira, há uma grande diferença... O que te fez mudar de ideia, Catarina?

Catarina: É uma longa história… mas, não me arrependo.

Romeu: Entendi, que bom. Afinal, não é uma decisão tão simples.

Catarina: É verdade… Bom, acho que já fizemos o bastante por aqui. Não há mais o que fazer. Obrigada, senhor Romeu, mais uma vez.

Romeu: De nada, Catarina… aliás, irmã Catarina.

Catarina: Não tem problema, pode me chamar apenas de Catarina, não me importo com isso.

Romeu: Só se você deixar esse “senhor” de lado e me chamar apenas de Romeu.

Catarina: Pode deixar.

Ele segurou a mão dela e o toque fez Catarina arrepiar. Ele beijou a mão dela e, por sorte, Catarina não desmaiou novamente. Mas quando ela se deu conta, tirou as mãos rapidamente.

Catarina: Romeu, por favor, não faça isso de novo.

Romeu: O que...?

Catarina: Se alguém ver isso, podem interpretar de maneira errada, e também não é muito adequado.

Romeu: Me desculpe, Catarina, eu não sabia que...

Antes que ele terminasse a frase, ela o interrompeu pedindo licença e saiu da sala.

No corredor, Catarina encontrou-se com a madre superiora e a cumprimentou.

Madre: Como está, filha?

Catarina: Estou muito bem, madre. Agora, se me der licença, tenho que ir rezar.

Madre: Claro, minha filha. Fique à vontade.

Catarina seguiu em direção ao altar e, em pouco tempo, ajoelhou-se para sua oração matinal.

Catarina: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Ela fez o sinal da cruz e se levantou.

O dia logo se transformou em noite e Catarina já estava na cama para dormir quando Romeu veio à sua mente.

💭Catarina: Por que não consigo parar de pensar em você?

No quarto dele, deitado na cama, Romeu se preparava para dormir enquanto as lembranças do dia no convento passavam pela sua mente. Ele sorriu ao recordar o rosto de Catarina ao acordar após o desmaio, mas logo ficou sério ao perceber que todos os seus pensamentos estavam voltados para a freira.

Romeu: Que loucura…

Ele suspirou.

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