Aurora Menezes observava as luzes da cidade brilhando pela janela panorâmica do seu quarto. O skyline de São Paulo parecia mais distante do que nunca naquela noite. Tudo ao seu redor era sinônimo de luxo: as cortinas de seda, o carpete macio sob seus pés, os móveis de design exclusivo. Ela tinha tudo que qualquer pessoa poderia desejar — pelo menos era o que sempre diziam. Mas, ao mesmo tempo, havia uma inquietação crescendo dentro dela. Uma sensação de que algo estava faltando, algo que nem todo o dinheiro do mundo poderia preencher.
Ela olhou para o próprio reflexo no espelho do quarto. Seus cabelos loiros estavam impecavelmente arrumados, a maquiagem perfeita e o vestido justo em seu corpo esguio parecia esculpido em sua pele. Aurora Menezes era, sem dúvida, o retrato da perfeição. A garota de ouro, como sua mãe gostava de chamá-la. Mas por trás da imagem impecável, Aurora se sentia presa. Presa em uma vida que nunca havia escolhido, uma vida que a sufocava a cada dia que passava.
A campainha do seu quarto tocou, tirando-a de seus pensamentos. Ela caminhou até a porta e abriu, encontrando Marcela com um sorriso excitado no rosto.
— Está pronta para a festa da noite? — Marcela perguntou, entrando no quarto sem esperar por um convite.
— Pronta? — Aurora suspirou, tentando forçar um sorriso. — Acho que sim.
Marcela revirou os olhos e se jogou na cama de Aurora.
— Você devia estar mais animada! Hoje vai ser incrível! Tem rumores de que a festa vai estar cheia de gente interessante, e, claro, os melhores da cidade estarão lá.
Aurora apenas assentiu, tentando ignorar o vazio que sentia. Era sempre a mesma coisa. Festas, glamour, pessoas "interessantes". Mas nada daquilo parecia verdadeiro para ela. Era tudo uma fachada, uma máscara que todos vestiam para esconder suas próprias frustrações.
— Vai ser uma noite divertida, prometo! — Marcela insistiu, animada. — E quem sabe você não conhece alguém novo? Está na hora de sair dessa bolha, Aurora. Viver um pouco de perigo.
Aurora soltou uma risada curta. Marcela sempre dizia essas coisas, como se perigo fosse algo glamoroso, uma aventura à espera de ser descoberta. Mas Aurora sabia que o mundo real era bem mais cruel do que as fantasias que sua amiga gostava de alimentar.
No entanto, algo dentro dela, algo que ela nem sabia nomear, a fez pensar nas palavras de Marcela. Talvez estivesse na hora de experimentar algo diferente, de verdade. Ela estava cansada de ser a garota que fazia tudo certo, que seguia as regras impostas pela sociedade elitista que a cercava. Talvez aquela noite fosse o começo de algo novo.
O clube estava lotado. O som da música alta reverberava pelas paredes de vidro enquanto pessoas se misturavam no salão. Homens com ternos caros, mulheres com vestidos deslumbrantes. Aurora sempre se encaixava perfeitamente nesse cenário, mas, naquela noite, ela sentia que não pertencia ali. Seus olhos vagavam pelo ambiente, entediados, enquanto ela segurava uma taça de champanhe que mal tocara.
Marcela já estava envolvida em uma conversa animada com alguns rapazes do círculo social deles, mas Aurora se afastou, caminhando até uma varanda isolada, onde o ar fresco da noite trazia um pouco de alívio. Ela respirou fundo, tentando encontrar um pouco de paz em meio ao caos da festa.
— Não parece o tipo de lugar para uma princesa, — uma voz baixa e rouca interrompeu seus pensamentos.
Aurora se virou rapidamente e viu Matt Hernandez encostado contra a parede, observando-a com um olhar desafiador. Ela sentiu seu coração acelerar, reconhecendo-o imediatamente. O homem da festa anterior. O homem que não deveria estar ali, mas que, de alguma forma, se tornara o centro de todos os seus pensamentos desde aquela noite.
— E você definitivamente não parece alguém que deveria estar aqui, — Aurora respondeu, cruzando os braços, tentando esconder seu nervosismo.
Matt sorriu, aquele sorriso torto e perigoso que parecia mexer com seus nervos de uma forma que ela nunca experimentara antes. Ele deu um passo para mais perto, seus olhos nunca deixando os dela.
— Talvez eu goste de testar limites, — ele disse, sua voz carregada de ironia.
Aurora engoliu em seco, mas manteve seu olhar firme. Ela sabia que deveria sair dali, afastar-se de alguém como ele. Matt exalava perigo em todos os sentidos, e ela não era estúpida o suficiente para ignorar isso. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que a atraía, algo que parecia gritar para ela explorar aquele lado sombrio e desconhecido que ele representava.
— E talvez eu também goste, — ela disse, desafiando-o.
Matt riu baixinho, claramente divertido com a resposta dela.
— Você está brincando com fogo, princesa. — Sua voz agora era um sussurro, mas ainda carregava aquele tom perigoso que fazia os pelos da nuca de Aurora se arrepiarem.
Ela deu de ombros, tentando fingir indiferença, mesmo que por dentro estivesse fervendo.
— Às vezes, o fogo é a única coisa que nos faz sentir vivos, — ela respondeu.
Por um breve momento, os olhos de Matt a analisaram com mais profundidade, como se ele estivesse tentando entender quem ela realmente era por trás daquela fachada de menina rica e mimada. E talvez, de alguma forma, ele tenha visto algo. Algo que o fez dar um passo para ainda mais perto, até que Aurora pudesse sentir o calor de seu corpo emanando, misturado com o cheiro de couro e fumaça de cigarro.
— Cuidado com o que deseja, — Matt murmurou, seus lábios perigosamente perto dos dela. — Porque o fogo queima. E eu não sou do tipo que vai apagar as chamas depois.
Aurora segurou a respiração, sentindo a tensão entre eles crescer a cada segundo. Ela sabia que estava entrando em um território perigoso, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se viva. Matt era tudo o que ela sempre evitara, tudo o que sempre dissera a si mesma que não queria. Mas, naquele momento, ela não conseguia se afastar.
Antes que ela pudesse responder, um som interrompeu a tensão. Era Marcela, chamando-a de volta para a festa. Aurora deu um passo para trás, o feitiço quebrado, mas seus olhos ainda fixos nos de Matt.
— A festa me chama, — ela disse, forçando um sorriso antes de se virar para sair.
Mas, enquanto se afastava, ela sentiu o olhar de Matt cravado em suas costas, e sabia, com absoluta certeza, que aquela não seria a última vez que seus caminhos se cruzariam.
O caos havia começado, e Aurora Menezes estava prestes a descobrir que, uma vez envolvida com Matt Hernandez, não havia mais volta.
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Atualizado até capítulo 63
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Daniela Gregorio
/Heart//Heart/
2024-09-12
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