Os Corpos Falam
A noite envolvia Nocturnópolis como um manto de escuridão, pontilhado apenas pelas luzes fracas dos postes e o brilho distante das estrelas. A cidade, com suas ruas estreitas e becos sinuosos, parecia guardar segredos em cada esquina. A chuva fina caía incessantemente, criando uma sinfonia de pingos que ecoava pelas calçadas vazias.
Isabela Nocturna caminhava com passos decididos, seu casaco preto balançando ao ritmo de seus movimentos. Seus olhos, atentos e penetrantes, varriam o cenário à sua frente. Ela havia recebido uma ligação urgente: um corpo havia sido encontrado no Clube de Jazz Nocturno, um dos lugares mais icônicos da cidade.
Ao entrar no clube, Isabela foi recebida por um silêncio inquietante. As mesas estavam vazias, e o palco, que normalmente vibrava com música e dança, agora era um cenário de tragédia. As luzes do palco ainda estavam acesas, lançando sombras longas e distorcidas pelo salão. No centro do palco, o corpo de Clara Luz, a estrela do clube, estava estendido em uma pose de dança final. Uma rosa negra repousava em suas mãos, um símbolo de morte e mistério.
Isabela se aproximou lentamente, sentindo uma onda de tristeza e determinação. Clara era uma figura querida na cidade, e sua morte deixava um vazio profundo. A detetive se ajoelhou ao lado do corpo, observando cada detalhe. A rosa negra, a expressão serena no rosto de Clara, e a partitura musical ao lado do corpo.
Ela pegou a partitura e examinou as notas. Algo estava errado. As notas pareciam formar uma melodia sombria, quase como um sussurro de segredos ocultos. Isabela sabia que essa era uma pista deixada pelo assassino, alguém que gostava de brincar com símbolos e mensagens cifradas.
De repente, uma sensação estranha percorreu seu corpo. Ao tocar a rosa negra, Isabela teve uma visão fugaz: Clara dançando no palco, seu rosto iluminado por um sorriso, até que um vulto na multidão chamou sua atenção. O sorriso desapareceu, substituído por um olhar de medo.
Isabela piscou, voltando ao presente. Ela sabia que essa visão era um fragmento do que Clara havia experimentado em seus últimos momentos. Com cuidado, ela guardou a partitura e a rosa negra. "O Sussurrador está nos desafiando", murmurou para si mesma. "Mas eu vou decifrar suas mensagens e trazer justiça para Clara."
Enquanto a chuva continuava a cair lá fora, Isabela sabia que essa era apenas a primeira peça de um quebra-cabeça macabro. Nocturnópolis estava prestes a revelar seus segredos mais sombrios, e ela estava pronta para enfrentar o que viesse.
Isabela se levantou e olhou ao redor do clube. As mesas e cadeiras estavam dispostas como se esperassem por uma noite de festa que nunca aconteceria. Ela caminhou até o bar, onde encontrou o barman, um homem de meia-idade com olhos cansados e mãos trêmulas.
"Você viu algo suspeito esta noite?" perguntou Isabela, sua voz firme, mas gentil.
O barman balançou a cabeça. "Não, senhora. Clara estava ensaiando sozinha. Eu estava no depósito quando ouvi um barulho estranho. Quando voltei, encontrei ela assim."
Isabela assentiu, agradecendo ao homem antes de se dirigir ao camarim de Clara. O pequeno espaço estava cheio de roupas brilhantes e maquiagem espalhada. Fotos de Clara em várias apresentações decoravam as paredes, mostrando sua paixão pela dança.
Ela encontrou um diário no camarim, com anotações sobre ensaios e apresentações. Nas últimas páginas, Clara mencionava um admirador misterioso que a estava seguindo. Isabela fez uma anotação mental para investigar isso mais a fundo.
De volta ao palco, Isabela encontrou o chefe de polícia, Capitão Duarte, um homem cético e rígido. "O que você acha, Nocturna?" ele perguntou, cruzando os braços.
"Isso não é um simples assassinato, Capitão. O Sussurrador está nos enviando uma mensagem. Precisamos decifrá-la antes que ele ataque novamente."
Duarte bufou, mas não discutiu. Ele sabia que Isabela tinha um talento especial para resolver casos complexos. "Faça o que precisar, mas quero resultados rápidos."
Isabela assentiu e saiu do clube, a chuva ainda caindo pesadamente. Ela sabia que a investigação seria longa e difícil, mas estava determinada a encontrar o assassino e trazer justiça para Clara Luz. Enquanto caminhava pelas ruas escuras de Nocturnópolis, ela sentiu uma presença sombria observando-a, como se o próprio Sussurrador estivesse esperando seu próximo movimento.
As ruas estavam desertas, exceto pelo som constante da chuva batendo nas calçadas e o ocasional farfalhar das folhas nas árvores. As luzes dos postes lançavam sombras longas e distorcidas, criando figuras fantasmagóricas que pareciam dançar ao ritmo da tempestade. Isabela puxou o casaco mais apertado ao redor de si, tentando afastar o frio que parecia penetrar até seus ossos.
Cada passo que ela dava ecoava nas paredes dos prédios antigos, amplificando a sensação de solidão e vulnerabilidade. Ela não podia deixar de olhar por cima do ombro, esperando ver um vulto nas sombras. A sensação de ser observada era quase palpável, como se olhos invisíveis estivessem fixos nela, seguindo cada movimento seu.
Isabela parou por um momento, fechando os olhos e respirando fundo. Ela precisava manter a calma e a clareza de pensamento. O Sussurrador queria que ela se sentisse assim – assustada e insegura. Mas ela não daria esse prazer a ele. Com um último olhar para as sombras, ela continuou seu caminho, decidida a não deixar o medo dominá-la.
Ao virar a esquina, ela avistou a luz acolhedora de um café 24 horas. Decidiu entrar para se abrigar da chuva e organizar seus pensamentos. O sino sobre a porta tilintou suavemente quando ela entrou, e o calor do interior a envolveu imediatamente. O aroma de café fresco e pão recém-assado era reconfortante.
Ela se sentou em uma mesa no canto, de onde podia observar a entrada e as janelas. Tirou o diário de Clara da bolsa e começou a folhear as páginas novamente. As anotações de Clara sobre o admirador misterioso eram perturbadoras. Presentes anônimos, bilhetes enigmáticos e a sensação constante de ser seguida. Tudo isso apontava para alguém obcecado, alguém que poderia facilmente se tornar perigoso.
Isabela fez anotações em seu próprio caderno, tentando conectar os pontos. Quem era esse admirador? E por que Clara? A resposta estava ali, escondida nas entrelinhas das palavras de Clara e nas pistas deixadas pelo Sussurrador.
De repente, uma sombra passou pela janela, e Isabela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela olhou rapidamente, mas não viu ninguém. Apenas a chuva caindo incessantemente. Mas a sensação de ser observada não desapareceu. Ela sabia que o Sussurrador estava perto, talvez mais perto do que ela imaginava.
Determinada, Isabela guardou o diário e suas anotações. Pagou pelo café e saiu do estabelecimento, a mente fervilhando com novas teorias e perguntas. A noite ainda era longa, e ela tinha muito trabalho pela frente. Mas uma coisa era certa: ela não descansaria até que Clara Luz tivesse justiça e o Sussurrador fosse desmascarado.
Enquanto caminhava de volta para seu apartamento, Isabela sentiu a presença sombria novamente. Desta vez, ela não olhou para trás. Em vez disso, acelerou o passo, determinada a seguir em frente. Nocturnópolis estava cheia de segredos, e ela estava pronta para desvendá-los, um por um.
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Atualizado até capítulo 58
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