A manhã seguinte chegou com o céu tingido de cinza, e um silêncio estranho pairava sobre o castelo, como se o próprio edifício estivesse segurando a respiração. O Príncipe das Trevas e Isabela estavam sentados na biblioteca, o amuleto entre eles, com a luz fraca das velas tremulando nas paredes.
Isabela, que não havia descansado desde a descoberta do amuleto, segurava um pergaminho velho e amarelado em suas mãos. O texto estava escrito em uma língua antiga, e as palavras pareciam dançar na página, resistindo aos seus esforços de lê-las.
"O que diz aí?" perguntou o Príncipe, sua voz carregada de tensão. Embora ele tentasse manter uma fachada fria, a expectativa de uma possível solução estava pesando sobre ele.
Isabela franziu a testa enquanto examinava as linhas tortuosas do texto. "Este é um ritual antigo, descrito como sendo capaz de desfazer maldições... Mas é incrivelmente perigoso. Não foi realizado com sucesso em séculos, e há avisos por todo o pergaminho sobre os riscos."
"O que exatamente diz?" Ele inclinou-se para frente, seus olhos fixos nela.
"Basicamente, o ritual exige que o amuleto seja imbuído com sangue real – o sangue de quem foi afetado pela maldição. Em seguida, a pessoa amaldiçoada deve enfrentar uma prova espiritual, um confronto com os próprios demônios interiores. Se vencer, a maldição pode ser quebrada. Se falhar... Bem, as consequências podem ser piores que a própria maldição."
O príncipe respirou fundo, processando a informação. "E se falharmos?"
"O texto não é muito claro. Pode resultar na perda completa de sua humanidade... ou algo ainda pior. Há menções de almas perdidas para sempre, aprisionadas em um estado de tormento eterno."
Houve um silêncio pesado enquanto ambos ponderavam as implicações. O Príncipe das Trevas sempre vivera à sombra de uma maldição que ele acreditava ser justa, uma punição pelos erros de seus antepassados. Mas agora, confrontado com a possibilidade de libertação, ele estava dividido entre a esperança e o medo.
"Mas se isso funcionar," continuou Isabela, "você poderá se livrar dessa escuridão que o envolve. Poderá viver como um homem normal, sem o peso dessa maldição em seus ombros."
Ele se levantou e começou a andar pela sala, lutando com seus pensamentos. "Eu fui criado para aceitar esse destino, para carregar essa maldição como uma forma de penitência. Nunca imaginei que haveria uma saída."
"Talvez você nunca tenha procurado uma porque, no fundo, não acreditava que merecia," disse Isabela suavemente. "Mas agora você tem uma chance. Uma chance de quebrar o ciclo de dor que sua família carregou por gerações. Não quer pelo menos tentar?"
O Príncipe olhou para ela, vendo a determinação em seus olhos. Ela estava disposta a arriscar tudo para ajudá-lo, mesmo que isso significasse se expor a perigos desconhecidos. Pela primeira vez, ele se perguntou por que ela estava tão empenhada nisso. "Por que está fazendo isso, Isabela? O que você ganha com isso?"
Ela desviou o olhar por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. "Eu... também tenho minha própria maldição para enfrentar. Algo que me atormenta desde a infância. Mas ajudar você me dá esperança de que talvez, algum dia, eu também possa encontrar a paz."
O Príncipe ficou em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. "Então estamos juntos nisso, seja qual for o resultado."
Ela assentiu, e ele pôde ver um lampejo de alívio em seu rosto.
"Vamos fazer o ritual," decidiu ele, sua voz firme. "Vou enfrentar o que for preciso. Se há uma chance de me libertar, então estou disposto a correr o risco."
Isabela respirou fundo, se preparando para o que estava por vir. "Muito bem. Precisamos começar imediatamente. O ritual deve ser feito à meia-noite, no local onde a maldição foi lançada pela primeira vez."
Ele assentiu, e juntos, começaram a preparar tudo o que seria necessário. Isabela desenhou um círculo de proteção no chão da biblioteca, usando giz branco misturado com sal. No centro, colocou o amuleto, que agora parecia emitir um brilho fraco e pulsante. O Príncipe, por sua vez, buscou uma adaga cerimonial, uma relíquia de sua família, que seria usada para cortar sua própria carne e oferecer o sangue necessário para o ritual.
Enquanto o tempo passava, a tensão na sala só aumentava. Nenhum deles sabia ao certo o que esperar, mas ambos sabiam que o que estavam prestes a fazer poderia mudar o curso de suas vidas para sempre.
Finalmente, quando o relógio do castelo bateu as badaladas da meia-noite, eles estavam prontos. O Príncipe ficou no centro do círculo, com a adaga na mão, enquanto Isabela começou a recitar as palavras do ritual em voz alta. A língua antiga soava estranha e inquietante, como se as próprias palavras carregassem um poder sombrio.
Quando Isabela terminou de recitar, o Príncipe cortou a palma da mão com a adaga, deixando seu sangue pingar sobre o amuleto. O amuleto brilhou intensamente por um momento, antes de absorver o sangue e começar a emitir uma luz vermelha sombria.
De repente, o chão sob seus pés começou a tremer, e as paredes da biblioteca pareceram se distorcer. Uma força invisível o puxou para baixo, como se estivesse sendo sugado para dentro de um abismo sem fundo. Isabela tentou alcançá-lo, mas uma barreira invisível a impediu de entrar no círculo.
O Príncipe sentiu como se estivesse sendo arrancado de seu corpo, sua consciência se separando, sendo transportada para outro lugar. Quando abriu os olhos novamente, encontrou-se em um campo vasto e desolado, cercado por sombras que sussurravam seu nome.
Este era o teste espiritual. Ele estava cara a cara com os demônios de seu passado, as sombras que assombravam sua família por gerações. As figuras que surgiram das sombras eram familiares – seus pais, seus avós, todos os que vieram antes dele, suas faces distorcidas pela dor e pela fúria.
"Você nos condenou," sussurraram as sombras. "Por sua culpa, estamos presos neste tormento eterno. Você falhou conosco, assim como todos os outros."
O Príncipe recuou, mas as sombras continuaram a avançar, seus sussurros crescendo em intensidade. "Você não merece redenção. Você deve pagar pelos pecados de sua família!"
Ele tentou se defender, mas as sombras eram implacáveis, envolvê-lo em uma escuridão sufocante. Cada palavra, cada acusação, era como um golpe direto em sua alma, fazendo-o duvidar de si mesmo.
Mas então, ele ouviu uma voz, uma voz suave e reconfortante, diferente das outras. Era Isabela. Embora ele estivesse em outro plano de existência, sua voz atravessou a barreira, alcançando-o em seu momento de maior desespero.
"Você não está sozinho," ela sussurrou. "Lute contra as sombras, enfrente seus medos. Você pode superar isso. Eu acredito em você."
Suas palavras foram como uma luz na escuridão, dando-lhe forças para se levantar e enfrentar as sombras. "Vocês não me derrotarão," gritou ele. "Eu sou mais do que os pecados do meu passado!"
As sombras hesitaram por um momento, e ele aproveitou essa fraqueza para avançar. Com cada passo, as sombras se dissipavam, como névoa ao sol. Finalmente, a última sombra desapareceu, deixando-o sozinho no campo desolado.
De repente, ele foi puxado de volta para seu corpo, de volta para a biblioteca. Ele caiu de joelhos, respirando pesadamente, suado e exausto. Isabela correu até ele, ajoelhando-se ao seu lado.
"Você conseguiu," disse ela, sua voz cheia de alívio e alegria.
Ele olhou para suas mãos, ainda sujas de sangue, e percebeu que o amuleto estava apagado, sem o brilho sinistro de antes. "Está acabado?"
Ela assentiu. "Você quebrou a maldição. O preço foi alto, mas você venceu seus demônios."
Ele ficou em silêncio por um momento, processando tudo o que aconteceu. "Eu não teria conseguido sem você," disse finalmente, olhando para ela com gratidão.
Ela sorriu, mas havia algo triste em seus olhos. "Agora é sua vez de me ajudar," disse ela suavemente.
Ele olhou para ela, surpreso. "O que quer dizer?"
"Eu também tenho meus demônios para enfrentar," disse ela, sua voz trêmula. "Mas para isso, preciso que você faça uma escolha... uma escolha que poderá nos custar muito."
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Vanusa Teixeira
qual sera a maldição dela
2024-11-26
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