O crepitar das chamas era a única coisa que quebrava o silêncio na sala. Isabela havia terminado de contar sua história, mas o Príncipe das Trevas ainda estava imóvel, seus olhos fixos nas labaredas que dançavam na lareira. A revelação que ela trouxera perturbava profundamente seu espírito, como se uma porta que ele sempre mantivera trancada tivesse sido subitamente escancarada.
Finalmente, ele se levantou, a expressão em seu rosto uma mistura de raiva e confusão. "Você não tem ideia do que está mexendo, Isabela," disse ele, sua voz baixa e ameaçadora. "Essa história... se for verdade... significaria que tudo o que eu acreditei até agora foi uma mentira."
Isabela, ainda de pé perto do fogo, não recuou. "Eu entendo o que você deve estar sentindo, mas esconder a verdade não vai mudar o que aconteceu. E se há uma chance de desfazer essa maldição, você precisa encarar o passado."
O príncipe começou a andar pela sala, suas mãos fechadas em punhos. "Há muito tempo eu enterrei o passado," murmurou ele. "Vivi todos esses anos aceitando a maldição como uma punição pelos pecados dos meus pais, por suas ambições desmedidas... Mas agora, você me diz que tudo pode ter sido uma farsa? Uma traição?"
Isabela assentiu, sua expressão séria. "Sim, e acredito que essa traição é a chave para quebrar a maldição. Mas, para isso, precisamos descobrir quem realmente foi responsável."
Ele parou de andar e se virou para encará-la. "Você realmente acha que pode resolver um mistério que permanece há tanto tempo? Que pode desfazer uma maldição que nem os maiores magos e sábios conseguiram? O que faz você pensar que é diferente?"
Ela encontrou seu olhar, seus olhos brilhando com determinação. "Porque eu não estou aqui apenas para quebrar a maldição. Estou aqui para ajudá-lo a encontrar paz, seja qual for o custo."
Houve um longo silêncio entre eles, interrompido apenas pelo crepitar do fogo. O príncipe estava dividido. Parte dele queria acreditar em Isabela, agarrar-se à esperança que ela oferecia, mas outra parte – a parte mais sombria e cínica – não conseguia deixar de lado a dúvida e o medo. Ele sabia que aceitar a ajuda dela significaria abrir as feridas do passado, confrontar demônios que ele evitara por tanto tempo.
Finalmente, ele respirou fundo, decidindo que não tinha mais nada a perder. "Muito bem, Isabela. Vou permitir que você tente. Mas saiba que, se falhar, as consequências serão graves – para ambos."
Ela assentiu novamente, sem mostrar medo. "Estou pronta para enfrentar o que for necessário."
O príncipe sentiu uma onda de respeito por aquela jovem que, apesar de sua aparência frágil, mostrava uma coragem inabalável. "Muito bem. Amanhã de manhã, começaremos a investigar as verdadeiras raízes desta maldição. Tenho alguns registros antigos que podem nos ajudar a entender o que realmente aconteceu."
Com um aceno, ele a dispensou, observando enquanto ela deixava a sala. Quando a porta se fechou atrás de Isabela, ele se permitiu relaxar um pouco, sentando-se novamente na poltrona. Seus pensamentos estavam confusos, misturados com memórias dolorosas e dúvidas crescentes.
Aquela jovem havia despertado algo nele, algo que ele pensou que estava morto e enterrado: a esperança de que um dia, talvez, ele pudesse viver sem as sombras que o seguiam desde a infância. Mas junto com essa esperança, veio o medo – o medo de que, ao tentar desfazer a maldição, ele acabasse descobrindo verdades que não poderia suportar.
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Na manhã seguinte, o príncipe acordou antes do amanhecer. O castelo estava mergulhado em um silêncio profundo, interrompido apenas pelo som distante do vento passando pelas torres. Ele se vestiu rapidamente, optando por roupas escuras que o ajudavam a se misturar com as sombras do castelo.
Encontrou Isabela já esperando por ele na biblioteca do castelo, uma sala ampla com prateleiras que se estendiam até o teto, cheias de livros e pergaminhos antigos. Ela estava sentada em uma das mesas de leitura, examinando um manuscrito antigo com atenção. Ao vê-lo entrar, levantou-se imediatamente, seus olhos brilhando com expectativa.
"Bom dia," disse ela suavemente, colocando o manuscrito de lado. "Espero que tenha descansado bem."
O príncipe assentiu, embora o sono não tenha vindo fácil para ele naquela noite. "Vamos direto ao ponto," disse ele, caminhando até uma prateleira específica. "Há uma série de registros que foram mantidos por meus antepassados, registros que documentam os eventos que levaram à maldição."
Ele puxou um livro pesado e empoeirado da prateleira, colocando-o na mesa diante de Isabela. O livro parecia velho e frágil, suas páginas amarelecidas pelo tempo. "Este é um dos registros mais antigos. Acredito que o que estamos procurando pode estar aqui."
Isabela abriu o livro cuidadosamente, revelando páginas cheias de escritos antigos e ilustrações detalhadas. Ela começou a ler em voz alta, traduzindo o texto antigo para algo mais compreensível.
"A maldição foi lançada por um feiticeiro poderoso, conhecido apenas como O Sombra. Ele foi traído por aqueles em quem confiava, e em sua fúria, lançou uma maldição sobre o reino, jurando que nenhum descendente dos traidores viveria em paz. A maldição foi passada de geração em geração, corrompendo os corações e mentes dos que estavam no poder."
Ela olhou para o príncipe, seus olhos cheios de compreensão. "Parece que a traição foi a causa inicial da maldição, mas quem exatamente traiu quem ainda não está claro."
O príncipe balançou a cabeça, frustrado. "Isso não nos dá muitas respostas, apenas mais perguntas. Quem era esse Sombra? E por que ele escolheu minha família como alvo?"
Isabela voltou a folhear as páginas, parando em uma ilustração que mostrava um homem encapuzado, segurando um cetro em uma mão e uma adaga na outra. "Aqui, talvez isso possa nos dar uma pista."
O príncipe se aproximou, observando a ilustração com atenção. Havia algo familiar naquele homem encapuzado, algo que despertava memórias antigas e dolorosas. "Eu já vi essa imagem antes," disse ele, a voz baixa. "Quando eu era criança, meu pai tinha um amuleto com essa mesma figura. Ele me disse que era um símbolo de proteção... Mas e se não fosse?"
Isabela franziu a testa, intrigada. "Um símbolo de proteção ou um símbolo de poder corrompido? Talvez esse amuleto tenha um papel mais importante do que você imaginava."
O príncipe sentiu um calafrio. "Se o amuleto estiver ligado à maldição, talvez haja uma maneira de usá-lo para revertê-la."
"Precisamos encontrar esse amuleto," disse Isabela com determinação. "Pode ser a chave para quebrar a maldição de uma vez por todas."
O príncipe concordou, sentindo uma nova onda de esperança misturada com medo. "Se estiver certo, o amuleto deve estar guardado nos aposentos do meu pai. Ninguém tocou naquele quarto desde a morte dele."
Os dois deixaram a biblioteca e seguiram pelos corredores escuros do castelo, o príncipe liderando o caminho até uma ala isolada. As paredes aqui eram cobertas por tapeçarias antigas e retratos de seus antepassados, todos com expressões severas, como se as sombras do passado ainda os assombrassem.
Chegaram a uma porta grande de madeira, com entalhes intricados. O príncipe parou diante dela, hesitando por um momento antes de empurrá-la. O quarto estava exatamente como ele lembrava: austero, com móveis de madeira escura e uma cama grande no centro. Havia um cofre de ferro ao lado da cama, onde seu pai guardava suas posses mais valiosas.
O príncipe ajoelhou-se diante do cofre, tirando uma chave de seu pescoço. Com mãos trêmulas, ele abriu o cofre, revelando o amuleto. Era exatamente como ele lembrava: uma pequena figura de um homem encapuzado, esculpida em um metal escuro, preso a uma corrente de prata.
Ele pegou o amuleto com cuidado, sentindo uma energia estranha emanando dele. "Este é o símbolo que vi tantas vezes na minha infância. Mas agora, olhando para ele, sinto que há algo mais... algo que não consegui ver antes."
Isabela observou o amuleto com interesse. "Vamos levá-lo de volta à biblioteca. Talvez haja algo nos registros que possa nos dizer como usar isso para quebrar a maldição."
Eles retornaram à biblioteca com o amuleto em mãos. O príncipe colocou o amuleto sobre a mesa, enquanto Isabela continuava a folhear os registros antigos. Após alguns minutos, ela encontrou uma passagem que descrevia um ritual realizado com o amuleto.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Valentina Valente
Começando dia 4 de outubro/24. Até aqui bem escrita, português claro, leitura dinâmica. Muito bom!!
2024-10-04
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