cap 4

𝔸𝕘𝕟𝕖𝕤 ℂ𝕒𝕤𝕥𝕚𝕝𝕙𝕠

Acordei ao som de vozes familiares.

Ainda meio atordoada pelo sono, levantei-me apressada e fui direto ao espelho.

Conferir meu reflexo uma última vez antes de descer as escadas.

Eu tinha dormido tão profundamente que nem percebi a chegada dos Antonellis.

Assim que alcancei a sala, deparei-me com a Sra. Rosa Antonelli e o Sr. Túlio Antonelli.

Eles pareciam exatamente os mesmos de todos os anos.

Ele, com sua barba grisalha e a careca reluzente; ela, com os cabelos loiros cortados na altura do queixo, elegantemente penteados.

Ao notarem minha presença, os dois me dirigiram sorrisos calorosos.

- Agnes, querida! Que bom te ver! - exclamou a Sra. Rosa, com uma doçura que me fez sentir em casa.

- Como vão? - perguntei, retribuindo o sorriso enquanto estendia a mão para cumprimentar o Sr. Túlio.

- Vamos bem, graças a Deus. - respondeu ele, apertando minha mão com firmeza.

O olhar da Sra. Rosa se dirigiu para minha mãe, que estava a poucos passos de nós.

Com um sorriso animado.

- Este ano, todos virão para o almoço! -

O brilho em seus olhos deixava claro o quanto ela estava feliz por estarmos todos juntos.

Enquanto o Sr. Túlio se seguia perto do meu pai do outro lado da sala. fiquei ali, ao lado da Sra. Rosa e da minha mãe, observando a movimentação na casa.

Flora e Katarina, arrumavam a mesa com cuidado, e eu logo me juntei a elas para ajudar.

O aroma do almoço já começava a se espalhar pela casa, delicioso e reconfortante.

Pouco depois, o som de um carro chegando capturou a atenção de todos. A porta da sala se abriu, revelando os filhos dos Antonellis.

Eloise Antonelli entrou primeiro.

A caçula estava deslumbrante em um vestido rodado. Seus cabelos loiros escuros, lisos e perfeitamente alinhados, caíam sobre os ombros, realçando sua postura graciosa.

Ela tinha ares de modelo, com uma beleza que impressionava a cada passo.

Logo atrás, entrou Liam.

Ah, Liam...

Ele continuava tão encantador quanto eu me lembrava.

Diferente do restante da sua familia ele tinha cabelos negros, que estavam mais longos, o suficiente para imaginar que ele poderia amarrá-los em um pequeno rabo de cavalo.

Os músculos evidentes sob a camiseta branca sugeriam que ele havia ficado ainda mais forte desde a última vez que nos vimos.

O que me faz lembrar do homem de mais cedo, não ele não era…

Os dois eram incrivelmente belos, assim como seus pais.

Todos compartilhavam aqueles olhos azuis, que pareciam iluminar a sala.

Era como se, ao se aproximarem da mesa, o tempo parasse ao seu redor, como em um daqueles filmes onde tudo para e fica em câmera lenta.

Era exatamente isso que estava acontecendo.

Assim que me viu, Elisa abriu um sorriso radiante.

- Agnes! - ela caminhou rapidamente em minha direção, me puxando para um abraço apertado.

- Eloise, quanto tempo! - respondi, retribuindo o abraço com carinho.

Eloise não morava mais na fazenda, assim como seus irmãos.

No verão passado, ela estava viajando, então realmente fazia muito tempo que não nos víamos.

Ao me soltar, ela me olha com curiosidade.

- Quando chegou? - pergunta, ainda surpresa por me ver ali.

- Ontem. - respondi, soltando-me de seu abraço.

Imagino que Eloise me considerava a irmã que nunca teve.

Havia uma cumplicidade entre nós, apesar do tempo e da distância.

- Sério? - disse ela, com os olhos arregalados. - Nossas mães devem estar surtando, todos os filhos reunidos para a tradição do almoço.

- Com certeza... - digo, mas minha mente foi tomada por uma dúvida.

Todos os filhos?

Penso enquanto via Eloise se afastar para falar com Katarina.

Em seguida, Liam veio em minha direção, com um sorriso encantador nos lábios.

Ele parecia diferente, mais maduro, mas a mesma conexão de sempre estava presente.

- Parece que alguém quer virar o Tarzan. - brinco, apontando para seu cabelo mais comprido.

Liam soltou uma risada suave, balançando a cabeça antes de me puxar para seus braços, envolvendo-me em um abraço caloroso.

Havia algo de reconfortante naquele gesto, uma paz que só ele conseguia me trazer.

- Também é bom te ver, Agnes. - disse ele, com a voz baixa e suave, próxima ao meu ouvido.

Naquele instante, percebi que não importa quanto tempo passe ou o que aconteça, algumas conexões simplesmente permanecem.

A criança que eu havia sido se alegrou ao reencontrar seu melhor amigo.

Aquela sensação, ao mesmo tempo nova e familiar, inundou meu peito.

Era uma sintonia única, que me fez sorrir sem nem perceber.

...

Todos começaram a se acomodar à mesa, conversando animadamente, e um sentimento de nostalgia tomou conta de mim.

Ah, como eu sentia falta dessas reuniões em família, do riso fácil e das conversas que se entrelaçavam.

A mesa estava repleta de pratos deliciosos, meticulosamente arrumados, e a decoração estava impecável.

Flora arrasava, como sempre.

Enquanto eu observava, notei a Sra. Rosa murmurar algo para minha mãe, algo como "acho que não vem".

Isso fez com que minha curiosidade se acendesse, mas antes que pudesse pensar mais a respeito, peguei meu prato e, assim que levei o garfo à boca, a porta se abriu de repente.

Passos firmes ecoaram pelo corredor em direção à sala de almoço.

- Ah! aí está ele. - fala a Sra. Rosa, visivelmente aliviada e alegre.

- Que demora, Adam. - resmungou Eloise, fazendo uma careta de leve.

Adam?

o que ele estava fazendo aqui?

Meu coração deu um salto, e, antes que pudesse processar o que estava acontecendo, virei-me rapidamente para olhar.

E lá estava ele.

parecia ocupar todo o espaço.

O choque foi instantâneo.

Era o mesmo homem que havia me ajudado mais cedo com a vaca.

Como eu não o reconheci antes?

Seu cabelo, antes longo, que vivia amarrado em um coque dourado, estava agora cortado curto e bagunçado na testa, o que lhe dava um ar mais jovem, quase despreocupado.

Mas o que mais me atingiu foram aqueles olhos azul-escuro, intenso, que se encontrou com os meus.

Senti um arrepio percorrer minha espinha, pela enxurrada de memórias nada agradáveis que sua presença despertava em mim.

- Tive um contratempo, com uma...vaca. - ele me fita. - Desculpe pela demora.

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