Os murmúrios das garotas que acabavam de chegar para as aulas noturnas fizeram com que Samuel revirasse os olhos e deixasse a garrafa de água com irritação no piso de madeira.
—Você está bem? — perguntou Lily, sua amiga e parceira de dança. Ambos haviam participado de várias competições e se conheciam muito bem —. Você parece um pouco irritado — murmurou.
—Um pouco? — perguntou enquanto guardava suas sapatilhas de ballet na mochila —. Estou certo de que estou bastante irritado neste momento.
—Oh — Lily prolongou o som e se recostou contra o espelho. Samuel não era muito expressivo com seus sentimentos, mas quando ficava irritado, zangado ou aborrecido, tornava-se menos racional e deixava transparecer tudo o que sentia —. Quer me dizer por quê?
—Duas palavras: Derek Blackwell.
—Você está falando do engenheiro atraente? — Samuel revirou os olhos ao ouvir a descrição. Parecia que todos ao seu redor o amavam ou pelo menos gostavam de algo nele. Detestava isso —. Um, não, quero dizer, sabe, ele é famoso por aí e, um, bem, é assim que o conhecem — comentou, encolhendo-se no lugar e abraçando os joelhos para esconder seu rosto envergonhado.
—Sim, eu sei — Samuel se levantou e pegou sua mochila sem muita vontade de sair. Já havia tomado banho, então não tinha mais nada para fazer ali —. Bom, acontece que ele está lá fora e é por isso todo o barulho das garotas — mencionou, desvalorizando.
—O quê?! — Lily se levantou de um pulo —. Derek está aqui?! — perguntou, não conseguindo evitar a emoção em sua voz. Samuel evitou revirar os olhos e assentiu em silêncio, conseguindo fazer com que Lily emitisse o que parecia ser um som muito agudo —. Você pode nos apresentar? Por favor, Samy, prometo me comportar.
Os olhos mel dela pareciam suplicantes, no entanto, Samuel não estava muito convencido de fazer isso, afinal de contas, Lily era uma garota extraordinariamente bonita e não duvidava que Derek quisesse colocar suas sujas mãos sobre ela.
—Tudo bem — concordou, por fim —. Mas nada de flertes, entendeu?
—Sim, senhor — prometeu ela, com uma saudação militar.
Ambos saíram do ginásio e lá estava ele, Derek Blackwell, o engenheiro mais famoso da Universidade Mitchell. Derek estava semi-apoiado em sua motocicleta; suas roupas escuras e sua jaqueta de couro, além da imponente altura e cabelo meio longo, davam-lhe um ar completo de bad boy. Um bad boy que enlouquecia todas.
—Ei, princesa! — disse ao levantar o olhar do celular e ver Samuel parado em frente à porta principal, a alguns metros dele.
—Princesa? — Lily parecia confusa e olhou estranhamente para ambos.
—É para me provocar — disse Samuel —. Vamos, vou te apresentar.
Os dois amigos caminharam até ficar um pouco mais perto de Derek. Foi então que os escuros olhos de Derek se fixaram em Lily.
—Que garota bonita — Derek se adiantou a qualquer palavra que pudesse sair de Samuel —. Sou Derek Blackwell, muito prazer. E você é?
—Olá — disse ela timidamente e gaguejando um pouco —. Sou Lily Moore, parceira do Samuel. — Os olhos de Derek se arregalaram perante tal revelação e seu rosto ficou sério no instante. Ele se afastou um pouco e olhou para o garoto ao lado dela. Samuel não tinha nada atraente que uma garota pudesse ver nele —. De dança — apressou-se em esclarecer ao ver como o rosto de Derek começava a se deformar em uma expressão de desgosto —. Somos parceiros de dança — reafirmou. Não podia perder a oportunidade de deixar claro que estava solteira e disponível.
Derek relaxou e um sorriso voltou ao seu rosto. — Muito prazer, Lily. É um prazer conhecer você. — Depois, voltou a olhar para Samuel —. Vamos, princesa? Não queremos chegar tarde.
Samuel bufei e se virou para Lily. — Nos vemos amanhã, Lily. Lembre-se do que eu disse — mencionou enquanto se encaminhava para a moto de Derek.
—Lembrarei, Samy — respondeu ela, lançando-lhe um sorriso antes de se virar para Derek —. Um prazer conhecer você, Derek. Espero vê-lo novamente.
—O prazer é meu, Lily — respondeu Derek, com seu habitual tom encantador e vendo como ela se afastava até um carro que partiu logo depois dela embarcar.
Samuel subiu na moto, e Derek lhe passou o capacete. Enquanto Samuel o colocava, não pôde evitar pensar em como todas as garotas caíam aos pés de Derek. Era exasperante.
—Vamos, Derek. Já tive o suficiente por hoje — disse Samuel, subindo na moto e se agarrando firmemente à cintura de Derek.
—Como quiser, princesa — respondeu Derek, dando a partida na moto e acelerando pelas ruas.
Enquanto a moto avançava, Samuel não pôde evitar sentir uma mistura de irritação e resignação.
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—Derek, pare — disse Samuel quase gritando enquanto movia o ombro de Derek. Samuel esperou estarem estacionados à beira para levantar o visor do capacete e olhar ao redor.
—O que houve? — perguntou Derek, olhando ao redor também. — O que estamos procurando?
—Onde estamos indo? — Samuel perguntou, ainda olhando por todo lado. Nada do que via lhe era familiar.
—Ah, isso — Derek coçou a nuca e olhou para outro lado, um tanto envergonhado. — Acontece que um amigo precisa da minha ajuda, acabei de me lembrar e por isso mudei de rota. Você se importa de me acompanhar?
Samuel o fulminou com o olhar.
—Você está realmente me perguntando isso? Já estamos sei lá onde. Deveria ter dito isso antes, Derek!
—Sabia que você recusaria.
—Oh, claro que sim. — Samuel estava zangado e suspirou várias vezes. Derek sempre fazia o que queria e jamais tinha repercussões por isso.
—Já estamos longe. Sua casa fica no outro extremo da cidade. A esta hora é muito perigoso por aqui, então não pense em voltar sozinho.
—Por que não? Também sou homem e sei me defender muito bem. — Samuel pegou sua mochila e estava prestes a tirar o capacete, mas Derek o impediu, segurando suas mãos.
—Eu sei, mas seus pais querem que eu te leve inteiro para casa. Além disso, dois é melhor do que um; podemos nos ajudar se algo acontecer.
Samuel odiava admitir, mas Derek estava certo. Embora soubesse se defender, nesses bairros era muito comum que os bandidos assaltassem à mão armada, e de uma pistola era difícil escapar. Resignado, suspirou e voltou a subir na motocicleta.
Não demorou muito até pararem fora do que parecia ser uma oficina mecânica. Samuel desceu da motocicleta e seguiu Derek para dentro. O lugar tinha todo tipo de odores desagradáveis, desde o penetrante cheiro da gasolina até o sufocante aroma de tabaco; era desagradável.
—Ei, velho! Que surpresa te ter por aqui — um homem robusto de uns trinta e tantos anos se apresentou diante deles. Samuel franziu as sobrancelhas ao ver o quão desleixado essa pessoa parecia, vestido com um macacão manchado de óleo e com as mãos sujas.
—E aí, hein? — A Derek não pareceu importar a aparência do outro e bateu os punhos com ele —. Marvin me ligou, disse que tem algo para me mostrar.
—Ah, sim! Você vai pirar quando ver, é fodidamente incrível! — O homem parecia uma criança feliz por receber um novo brinquedo —. A propósito, quem é ele? — seus olhos se fixaram em Samuel, que estava meio metro atrás de Derek, e Samuel encolheu os ombros.
—Vem cá, princesa — Derek deu um passo para trás e passou o braço sobre os ombros de Samuel, trazendo-o para o seu lado —. Este é o Samuel, estou fazendo de babá. Sabe como são os garotos ricos — disse com ironia, recebendo um pisão nada discreto de Samuel, que se enfureceu na hora.
—Então você é amigo do Crusher, então é bem-vindo aqui — o homem soltou uma gargalhada um pouco exagerada e Samuel apenas sorriu nervosamente —. Eu sou Jack.
—Muito prazer, Jack — disse Samuel com um sorriso forçado.
—Bom, vou trabalhar e você — apontou para Derek —, é melhor ir rápido ou ela vai se zangar — avisou, virando-se para sair.
—Sim, sim — Derek olhou para Samuel, que afastou com um empurrão sua mão do seu ombro, o que fez Derek revirar os olhos —. Sente-se por aí, volto em uns quinze ou vinte minutos.
Samuel procurou um lugar para se sentar e encontrou uma velha cadeira de metal num canto da oficina. Ele se deixou cair nela com um suspiro, sentindo o cansaço acumulado do dia. Do canto, observava como Derek e Jack adentravam a oficina, falando em voz baixa e gesticulando animadamente. Samuel nunca tinha entendido a fascinação de Derek por esses lugares. Para ele, o cheiro de graxa e o som constante das ferramentas eram simplesmente irritantes.
Tirou seu celular e começou a verificar suas mensagens. Havia várias dos seus amigos perguntando onde ele estava, e uma em particular de Lily, sua parceira de dança, que fazia uma pergunta que ele tinha receio, após responder, recostou a cabeça no encosto da cadeira.
Após alguns minutos, Derek retornou com um sorriso no rosto e um brilho nos olhos que Samuel raramente via.
—Você precisa ver isso, Sam —disse, sem esperar resposta e puxando-o para dentro da oficina.
Samuel não teve escolha a não ser segui-lo, apesar de não estar certo do que esperar. Ao entrar mais profundamente na oficina, viu um carro esportivo, brilhante e aparentemente novo, cercado por ferramentas e peças de carro. Marvin estava de pé ao lado do carro, sorrindo orgulhosamente.
—O que você acha? —perguntou Marvin, dirigindo-se a Derek, embora seus olhos também estivessem em Samuel.
—É incrível —respondeu Derek, caminhando ao redor do carro e examinando-o atentamente—. É o novo modelo que você mencionou?
—Exato. Acabou de chegar e pensei que você gostaria de vê-lo primeiro. —Marvin sorria de orelha a orelha, claramente gostando da admiração de Derek.
Samuel, por sua vez, não conseguia entender o entusiasmo. Para ele, um carro era simplesmente um meio de transporte, nada mais. No entanto, decidiu manter seus pensamentos para si mesmo e simplesmente observou enquanto Derek, Marvin e Jack, que se juntou a eles alguns segundos depois, continuavam falando sobre o carro.
Depois de um tempo, Derek se voltou para Samuel com um olhar de desculpa.
—Desculpe, Sam. Sei que isso não é a sua praia, mas eu tinha que ver esse carro. Prometo que vai ser rápido e depois te levo para casa —disse, genuinamente arrependido.
Samuel suspirou e acenou com a cabeça. Não havia muito que pudesse fazer naquele momento.
—Tudo bem, só não demore muito. Tenho coisas para fazer amanhã cedo.
Derek sorriu e deu-lhe um tapinha nas costas antes de voltar sua atenção ao carro e aos amigos. Samuel retirou-se para o seu canto e sentou-se novamente, resignado a esperar. Enquanto observava Derek interagir com os desconhecidos, não pôde deixar de se perguntar por que continuava a tolerar todas as loucuras de Derek.
Samuel checou a hora em seu celular. Já haviam passado trinta minutos e ele estava ficando impaciente; ainda tinha trabalho da faculdade para fazer.
Olhou na direção onde os tinha visto anteriormente, mas só conseguiu vislumbrar Jack e Marvin, que estavam analisando o carro. Franziu a testa e se levantou, indo em direção a eles.
—Onde está o Derek? —perguntou, chamando a atenção de ambos.
—Robbin veio buscá-lo e ele saiu faz uns quinze minutos —disse Jack—. Por ali, pela porta dos fundos —apontou um corredor onde se podia ver uma porta de metal ao fundo.
Samuel assentiu, agradeceu, e foi até lá. Saiu e olhou um beco com nada mais que enormes contentores de lixo. O local cheirava mal. Procurou com o olhar e andou alguns passos até ver Derek, sentado nas escadas de emergência do prédio ao lado. No entanto, não estava sozinho. Samuel aproximou-se um pouco mais e viu uma garota que estava sobre o colo de Derek.
Ela usava um vestido preto e curto, tão curto que se Derek movesse sua mão um pouco mais para cima da coxa dela, poderia entrar em suas calcinhas. Samuel se sentiu irritado só de olhar.
—Estou aqui esperando feito um idiota há meia hora e você quase transando com ela aqui —disse, fazendo com que as duas pessoas se separassem do beijo apaixonado que compartilhavam naquele momento.
—Samuel, o que você está fazendo aqui? —perguntou Derek, nervoso.
—Te esperando para voltar para casa. Você disse que não demoraria, mas aqui está você, se beijando com essa senhorita. —Os olhos verdes de Samuel brilhavam com raiva. Ele estava verdadeiramente irritado.
—Ela é apenas uma amiga. Eu ia voltar logo —Derek se ajustou a camisa e a garota abaixou seu vestido o quanto pôde.
—Amigas não se beijam na boca até a garganta —disse Samuel irritado—. Pelo menos que eu saiba. E sabe de uma coisa? Pode ficar com sua amiga, eu volto sozinho. —Samuel virou-se para retornar pelo caminho pelo qual havia chegado, mas Derek o agarrou pelo braço.
—Não, espera, eu te levo.
—Você realmente vai me deixar? —questionou a garota—. Ele pode ir embora sozinho, também é um homem —ela cruzou as pernas, recostando-se nas costas de Derek e passou suas mãos com manicure perfeita sobre o ombro e abdômen de Derek—. Aliás, essa cena parece de um namorado ciumento —mencionou, olhando deliberadamente para Samuel. Samuel apertou os punhos com raiva diante daquela insinuação e soltou-se do aperto que Derek mantinha sobre ele.
—Fica aí, ela precisa mais de você do que eu —disse—, e se estiver preocupado com meus pais, direi que você me levou em casa são e salvo. —Depois disso, Samuel foi embora o mais rápido que pôde dali, sem olhar para trás.
Enquanto caminhava de volta pela oficina, sua mente estava tumultuada com pensamentos de raiva e frustração. Não conseguia entender por que continuava suportando Derek e suas irresponsabilidades. À medida que saía da oficina, pegou seu celular e chamou um táxi. Não estava disposto a caminhar sozinho por aqueles bairros àquela hora da noite, apesar de sua irritação.
Finalmente, um táxi chegou e Samuel entrou, dando o endereço de sua casa ao motorista. Afundou-se no assento traseiro, fechando os olhos por um momento e tentando se acalmar. Sabia que tinha reagido exageradamente, mas a atitude de Derek o tirou do sério.
Ao chegar em casa, Samuel pagou ao motorista e entrou em silêncio. Não queria preocupar seus pais com o ocorrido. Subiu para seu quarto e deixou-se cair na cama, exausto. Pensou em Lily e no que lhe diria no dia seguinte.
Com esses pensamentos em mente, adormeceu, esperando que o dia seguinte fosse melhor e que, de alguma forma, Derek Blackwell não se interpusesse mais em seu caminho. Estava cansado dessas coincidências.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Fran Silva
esse Derek se acha
2025-01-03
1
Erica Jesus
ele é muito debochado 😂😂😂😂
2024-11-30
1