Capítulo 3

Samuel, com os olhos semicerrados e o vento a bater-lhe no rosto, agarrou com mais força a cintura de Derek. O rugido do motor ecoava em seus ouvidos, e cada vez que Derek acelerava, um arrepio percorria suas costas.

—Estás a passar da conta, Derek. Eu não quero morrer hoje —resmungou Samuel, tentando esconder o medo por trás de um tom desafiador.

Derek, porém, parecia estar gostando da situação. Um sorriso irônico surgiu em seu rosto enquanto ele manobrava no trânsito da cidade.

—Relaxe, Winters. Estás mais seguro comigo do que em qualquer outro lugar —respondeu Derek, embora seu tom de voz sugerisse o contrário.

Samuel cerrou os dentes, decidido a não largar Derek por nada no mundo. A ideia de terminar num hospital por causa de um passeio de moto não estava em seus planos para aquela noite.

Enquanto avançavam pelas ruas iluminadas pelos postes de luz, Samuel não conseguia deixar de se lembrar de como tinha ido parar naquela situação. Um simples jantar na casa de seus pais tinha se transformado numa aventura perigosa de moto, tudo graças à insistência de sua mãe e à presença sempre inoportuna de Derek.

—Quer saber? Eu prefiro que me deixes na próxima esquina. Vou a pé o resto do caminho —disse Samuel, tentando fazer sua voz ser ouvida por cima do barulho do motor.

Derek, porém, ignorou seu pedido e continuou a avançar pela cidade. Samuel resignou-se a agarrar-se com mais força, em parte por segurança e em parte para evitar que seu orgulho fosse ferido.

Depois de alguns minutos que pareceram durar uma eternidade, finalmente chegaram ao destino de Samuel. Ao descer da moto, Samuel certificou-se de desabotoar bem o capacete antes de encarar Derek.

—Obrigado pelo passeio "agradável", Blackwell —disse Samuel com sarcasmo, tirando o capacete e passando a mão pelos cabelos revoltos.

Derek também tirou o capacete, revelando um sorriso satisfeito no rosto. Pegou o capacete de Samuel e guardou-o novamente antes de olhar para Samuel.

—De nada, príncipe. Se precisares de outra viagem emocionante, já sabes a quem ligar —respondeu Derek, dando uns tapinhas amigáveis no ombro de Samuel antes de dar partida na moto e desaparecer na noite.

Samuel ficou ali parado, olhando para o caminho por onde Derek tinha ido, com uma mistura de emoções que iam do alívio por ter sobrevivido à viagem à frustração por ter sido forçado a aceitar a ajuda de alguém que ele detestava.

...----------------...

Era segunda-feira de manhã e Samuel caminhava pelo corredor da Universidade Mitchell, onde estudava jornalismo. As vozes das garotas gritando e chorando emocionadas eram tudo o que ele conseguia ouvir por toda parte.

A notícia bombástica?

Derek Blackwell tinha ido à festa de Jenny McKenzie.

Derek era famoso em todo o campus. Ao que parece, as garotas sempre se interessavam pelo bad boy, mesmo que depois acabassem chorando pelos cantos.

Derek tinha fama de ser um mulherengo da pior espécie. Nunca levava nenhuma relação a sério e era sempre visto com uma ou duas garotas ao mesmo tempo. Nem sequer se importava em disfarçar. Mas as garotas também não se importavam de serem apenas uma diversão passageira.

Ao que parece, o mais importante era ser conhecida como "a garota de Derek", mesmo que não existisse nenhuma relação de verdade.

Derek raramente ia a festas a menos que estivesse realmente interessado em alguma garota. Caso contrário, nem que implorassem de joelhos.

Era estranho; qualquer um pensaria que ele passava o tempo em festas com a aparência e a fama que tinha. No entanto, ele também era o melhor aluno da sua turma e até tinha participado em concursos e trazido medalhas de ouro para a universidade.

Um orgulho ambulante.

Bom nos estudos, nos desportos, e segundo as garotas, atraente.

Ele não desperdiçava a oportunidade de tirar proveito dos seus "encantos" e era isso que irritava Samuel acima de tudo.

Derek era o ser humano mais amável com os pais, mas fora dali, aquele anjo se transformava num demónio.

Tsk, idiota de duas caras.

Sim, era isso que Derek Blackwell era para ele, um hipócrita.

—Samuel Winters, certo? —perguntou uma garota quando ele tinha acabado de tirar as coisas do cacifo e se preparava para ir para a sua sala de aula. Samuel assentiu em resposta à pergunta.

—Podes me dar o número do Derek? Vocês são amigos, certo?

—Não tenho o número dele e não, não somos amigos —respondeu de forma antipática. Claro que ele tinha o número dele, mas não ia dá-lo a qualquer estranha que aparecesse. Além disso, eles não eram amigos, de certeza que não.

—Mas ele levou-te à festa da Jenny, como explicas isso? —interrogou a acompanhante da garota.

—Isso não é da vossa conta. Mas ele e eu não somos amigos, não tenho o número dele e, mesmo que tivesse, não seria correto dá-lo a vocês sem lhe perguntar primeiro —Samuel colocou a mochila ao ombro e olhou para elas com seriedade. Ele até tinha o número de Derek, mas não ia dizer que o tinha na lista negra do seu telefone—. O Derek dá o número dele a qualquer pessoa que peça, vão lá pedir vocês mesmas.

Depois disso, Samuel passou por elas a caminho da sua primeira aula.

Essa era a razão pela qual ele se tinha recusado a que o Derek o levasse: ele sabia que os rumores de que eram amigos não demorariam a espalhar-se. A última coisa que ele queria ou procurava era ser associado àquele idiota.

Ao chegar à sala de aula, Samuel sentou-se no seu lugar habitual, na terceira fila junto à janela. Tirou os livros e cadernos, preparando-se para a aula. Apesar da agitação no corredor, ele tentou concentrar-se nos estudos.

Três dos seus amigos entraram alguns minutos depois, Jenny entre eles. Os três aproximaram-se e cumprimentaram-no como habitualmente, embora Jenny parecesse mais animada do que o normal.

—Aconteceu algo bom? —perguntou Samuel ao sentir o olhar da amiga sobre ele. Ela sorriu assentindo e arrastou a cadeira para o lugar que ele ocupava.

—Estou popular. Muito popular —disse sem conseguir esconder o tom presunçoso nas suas palavras.

—Eu sei —Samuel não deu muita importância ao assunto, afinal, Jenny tinha sido a rainha do baile no ano anterior e a sua popularidade tinha-se espalhado até a outras instituições.

—Não, a sério, estou muito popular —disse ela, alongando a palavra "muito" um pouco—. Todos sabem que o Derek foi à minha festa, mesmo que não tenha ficado muito tempo, ele apareceu, o que os levou a pensar que eu estava a sair com ele, ou pelo menos que ele estava interessado em mim —explicou ela, sem conseguir conter o grito de alegria no final.

Samuel suspirou internamente enquanto abanava a cabeça e voltava a concentrar-se no computador.

Jenny era a sua melhor amiga; ele conhecia-a desde os dez anos e desde então nunca se tinham separado. Ele mais do que ninguém sabia o quão importante era para ela ser reconhecida pelos outros. Quando ela era criança tinha sofrido de obesidade, e embora isso não a afetasse no início, quando eram adolescentes ela tinha começado a reparar nas garotas que exibiam os seus corpos com roupas curtas e blusas até ao umbigo.

Ela também queria fazer o mesmo, por isso começou a usar saias curtas e tops, mas nada resultou como esperava. Enquanto outras garotas eram elogiadas pelas suas roupas e corpo, ela só recebia provocações e era vítima de bullying.

O bullying foi tanto que acabaram por lhe dar um murro na cara e desenharam um nariz de porco com spray na sua barriga. Nesse dia, ele foi castigado por bater em três dos seus colegas e pintar duas das suas colegas com tinta de parede. Claro que ele não ia deixar a sua melhor amiga sofrer.

Embora parecesse frágil e fosse magro, ele fazia aulas de autodefesa desde os dez anos e nesse dia tinha posto todo o seu conhecimento em prática.

Mas embora ele gostasse dela e ela fosse muito preciosa para ele, preocupava-o que ela estivesse apaixonada pelo Derek, mesmo depois de ter sido usada como tantas outras. Porque sim, Jenny McKenzie também tinha sido uma das garotas do Derek. Essa era outra razão para ele não o suportar.

Samuel fechou o computador e olhou para a Jenny com seriedade.

—Jenny, eu não quero que te iludas com o Derek —disse Samuel em tom de aviso—. Já sabes como ele é. Não quero ver-te magoada outra vez.

Jenny suspirou, o seu entusiasmo diminuindo um pouco.

—Eu sei, Sam. Eu sei que o Derek não é de confiança, mas não consigo evitar ficar animada com a atenção que estou a receber. Só por uma vez, quero aproveitar isto sem me preocupar com o futuro.

Samuel olhou para ela com preocupação. Jenny sempre tinha procurado a validação dos outros, e embora ele compreendesse as suas razões, não conseguia deixar de se preocupar com ela.

—Está bem, mas por favor, toma cuidado. Não quero ver-te sofrer outra vez —insistiu Samuel.

Jenny assentiu e dedicou-lhe um sorriso tranquilizador.

—Prometo, Sam. Só quero aproveitar isto um pouco.

Os outros amigos juntaram-se à conversa, e a conversa desviou-se para temas mais leves e divertidos. No entanto, no fundo da sua mente, Samuel continuava preocupado com a Jenny e com a influência do Derek na sua vida.

À medida que o dia avançava, Samuel tentou concentrar-se nas aulas e nos trabalhos, mas as preocupações com a Jenny e o Derek continuavam a pairar na sua mente. Ele sabia que não conseguia controlar as decisões da Jenny, mas desejava poder protegê-la de alguma forma.

...----------------...

—Ei!, princesa, para onde vais com tanta pressa? —a voz irritante do Derek fez com que Samuel parasse e revirasse os olhos.

—O que queres? Já chega os rumores idiotas que andam por aí e se alguém me vir contigo, não vão ter dúvidas de que são verdade —Samuel franziu as sobrancelhas imediatamente.

Derek riu-se e contornou Samuel com a mota para depois parar à sua frente. Ele adorava mesmo chatear aquele rapaz. Na verdade, ele não sabia porque é que o Samuel o evitava tanto. Eles tinham sido bons amigos, mas há pouco mais de dois anos Samuel começou a ignorá-lo e ele, embora confuso no início, acabou por se habituar a provocá-lo e a relacionar-se dessa forma com Samuel. Era fofo de certa forma.

—O Joel não vem buscar-te e os teus pais estão ocupados —informou ele, fazendo com que Samuel franziu ainda mais as sobrancelhas, se é que isso era possível.

—Ah, é? Pois eu não acredito em ti, eles ter-me-iam avisado —Samuel fez um beicinho e tentou passar por ele. Derek seguiu-o na mota.

—Vê por ti mesmo —Derek estendeu o telemóvel para Samuel mostrando a mensagem que o Gregory tinha enviado há quinze minutos—. Porque achas que eu ainda estou aqui? Eu estava à tua espera para te levar às tuas aulas de ballet.

Samuel leu a mensagem sem querer acreditar. Era verdade, os seus pais não estavam e o Joel obviamente tinha ido com eles. A pergunta era, porque é que eles não o tinham avisado em vez de avisar aquele idiota? Ele estava extremamente ofendido. Se soubesse que o Derek o ia levar, teria aceitado o convite do Josh para ir com ele para o estúdio de ballet.

—Eu não vou a lado nenhum contigo —resmungou Samuel.

—Não tens outra opção, princesa. Ou vais comigo, ou não vais a lado nenhum. E eu lembro-me perfeitamente que nunca faltaste a um treino, pois não? —Derek ergueu uma sobrancelha enquanto fazia a pergunta. Era verdade, mesmo que houvesse um alerta de furacão, ele estava à porta do ginásio para cumprir a sua rotina diária. Mas mesmo assim...

—Uma vez por ano não faz mal. Toda a gente o faz —defendeu-se ele.

—Mas só os medíocres. Não os melhores —contra-atacou Derek, atingindo o ponto fraco de Samuel.

Odeio que ele me conheça tão bem, pensou Samuel.

—Está bem, vamos —cedeu ele finalmente.

Derek tirou o capacete e Samuel colocou-o. Já não precisou da ajuda do Derek para apertar a correia e Samuel nem esperou que ele arrancasse para se agarrar à cintura do Derek com força.

Enquanto a mota avançava pelas ruas da cidade, Samuel não conseguia evitar sentir uma mistura de irritação e resignação. O vento batia-lhe no rosto e o rugido do motor era ensurdecedor, mas ele sabia que não tinha outra opção. Derek, apesar de tudo, parecia estar sempre presente na sua vida nos momentos mais inoportunos.

Chegaram ao estúdio de ballet em pouco tempo. Samuel desmontou rapidamente da mota e tirou o capacete, entregando-o ao Derek com um grunhido de agradecimento quase inaudível.

—Obrigado —disse Samuel, não sem alguma relutância.

—De nada, princesa. Venho buscar-te depois do treino —Derek sorriu ironicamente.

—Não é preciso. Eu posso voltar sozinho —respondeu Samuel, sabendo que provavelmente não teria escolha.

—Os teus pais já me disseram para te vir buscar. Então, desculpa, mas vais ter de me aturar mais um pouco —Derek piscou-lhe o olho antes de ligar a mota e se afastar.

Samuel viu-o a ir-se embora e suspirou. Entrou no estúdio, decidido a concentrar-se no seu treino e a deixar de pensar no Derek durante pelo menos algumas horas. Mas ele sabia que seria difícil. Derek Blackwell tinha uma forma única de se meter debaixo da sua pele, e isso não ia mudar tão facilmente.

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Comments

Nubia

Nubia

acho que estão apaixonados e n perceberam ainda

2025-01-25

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