O doce cantarolar de uma canção clássica preenchia o extenso jardim, envolvendo cada canto em uma atmosfera tranquila e harmoniosa. Samuel, com os olhos fechados, se deixava levar pela melodia, sentindo o vento quente acariciando seu rosto com suavidade. Movia suas mãos no ritmo da balada, submergindo no melhor momento da canção, quando de repente, um estridente rugido de motor interrompeu sua paz, fazendo-o abrir os olhos com fastidio.
Buscou com o olhar a origem daquele ruído incômodo e o encontrou bem na saída da garagem do seu pai. Aquele indivíduo já lhe havia causado bastantes aborrecimentos, e agora, quando finalmente se dispunha a relaxar e desfrutar de um momento de tranquilidade, agia como um verdadeiro neandertal.
Levantou-se de um pulo, ajustando os óculos escuros e agarrando o guarda-sol, dirigiu-se rapidamente até o intruso.
— Ei, você! — gritou Samuel atrás dele, mas a pessoa parecia ignorá-lo por completo, concentrada no motor.
Samuel revirou os olhos e contornou o carro. Com determinação, bateu no ombro de Derek. Só então os olhos escuros se voltaram para ele.
Derek Blackwell, seu pesadelo personificado, era um homem alto, talvez de quase um metro e noventa, com pele morena e um olhar que impunha respeito. Sempre se vestia de preto, embora naquele momento estivesse com uma camiseta branca manchada com sabe-se lá o quê de carros. Samuel supôs que era sua roupa de trabalho. Mas não era sua aparência ou seu jeito de vestir que o irritava, mas sim seu tom zombeteiro ao se dirigir a ele.
— E aí, princesa, o que você quer? — disse Derek com um sorriso de lado, fazendo Samuel revirar os olhos com exasperação.
Mesmo que Derek fosse funcionário ou talvez sócio de seu pai, era inaceitável que o tratasse assim! Samuel lutou para controlar sua crescente irritação enquanto apontava para o carro. Derek o olhava com divertimento, ignorando-o por completo.
Samuel, franzindo o cenho com desgosto, se aproximou o suficiente para que Derek o ouvisse.
— Desliga o carro! — gritou, recuando rapidamente.
Derek fez um "oh" com a boca, desligou o motor e saiu do veículo.
— Está incomodando? — perguntou da porta, se encostando despreocupadamente.
— Claro que sim — disse Samuel —. Não pode fazer isso outro dia? Estou tentando descansar um pouco.
Derek, limpando as mãos com um pedaço de pano que estava por perto, explicou:
— Seu pai me pediu para testar o carro na próxima semana. Preciso me certificar de que tudo está em ordem. Não queremos ter nenhum acidente.
— Ainda há tempo, Derek. Faz isso amanhã — insistiu Samuel. Derek pareceu considerar por um momento, mas depois balançou a cabeça.
— Impossível — declarou com firmeza —. Então vá e pare de incomodar.
Samuel, frustrado e sem encontrar uma resposta adequada, soltou um pequeno grito de exasperação, deu meia-volta e voltou para casa. Derek sorriu ao vê-lo entrar e continuou com seu trabalho depois de suspirar levemente.
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— Ele é um idiota, um completo idiota! — murmurou alto o suficiente para que sua mãe, que estava na sala de estar, o ouvisse.
— Quem é um idiota, filho? — questionou a mulher enquanto se levantava, revelando uma aparência que era um reflexo dele, exceto pelos olhos, que ele havia herdado do pai. Ruiva, com sardas no rosto, cílios encaracolados e um rosto fino e bonito. Ela exalava status e elegância por onde passava, mesmo naquele momento em que usava um vestido simples e sandálias rasteirinhas.
— O Derek, mãe. Ele é um idiota — resmungou cruzando os braços com indignação sobre o peito. Sua mãe, que estava em frente a ele, simplesmente riu baixinho.
— Vamos lá, não fale assim dele. Ele é um bom rapaz.
— Bom rapaz? Ele só não mostra a víbora que pode ser com você. — Samuel revirou os olhos. Sim, seus pais só conheciam o "encantador e prestativo Derek Blackwell", mas ele conhecia sua personalidade obscura.
— Seja como for — Susan não deu importância às queixas do filho. Afinal, já estava acostumada a ouvi-lo. Talvez Samuel não estivesse mentindo, mas exagerava as coisas. Além disso, ele sempre discutia com Derek, mesmo por insignificâncias; uma reclamação a mais não era significativa, porém, ainda assim perguntou —: O que foi dessa vez?
— Ele me incomodou enquanto eu descansava na piscina. Estava tudo tranquilo até que ele ligou aquele motor barulhento e toda a minha paz foi para o espaço.
— Seu pai pediu para ele fazer uma revisão completa no carro. Ele não quer nenhum acidente por negligência.
— Foi o que ele disse — Samuel pareceu se acalmar e sorriu suavemente para sua mãe. Já havia passado seu momento de estresse e entendia que, de fato, a revisão do veículo era necessária antes de qualquer corrida —. Bem, vou para o meu quarto, mãe. Se precisar de alguma coisa, me chame.
— Claro, suba.
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O som de uma batidinha leve em sua porta o fez abrir os olhos. Bocejou antes de se levantar.
— O que foi? — perguntou meio adormecido.
— São seis horas, seu pai chegou e vamos jantar. — Anunciou sua mãe.
— Já vou — ela assentiu e saiu.
Passaram-se cinco minutos quando Samuel desceu e foi direto para a sala de jantar. Havia trocado o shorts por uma calça e uma camisa branca folgada.
— Pai, oi — cumprimentou alegremente e lhe deu um beijo na bochecha, como costumava fazer —. Como foi seu dia? — Samuel se sentou à mesa e colocou o guardanapo no colo antes de olhar para o pai.
— Muito bom, filho — Gregory respondeu enquanto fazia um sinal para a empregada servir o jantar. Foi então que Samuel percebeu que, em frente a ele, haviam colocado um prato a mais.
— O tio Thomas vai jantar aqui?
— Não, ele ainda está na Inglaterra — respondeu Susan.
— Então quem...? — a pergunta morreu no ar quando ele viu aquela pessoa irritante entrando na sala de jantar.
— Boa noite, senhor, obrigado pelo convite. — Samuel conteve a vontade de revirar os olhos e fingiu muito bem um sorriso gentil. Claro, Derek também fingiu um sorriso para ele.
O jantar transcorreu entre conversas harmoniosas entre Derek e Gregory sobre carros, corridas e tudo aquilo que nem Samuel nem Susan entendiam. No entanto, embora Susan não entendesse muito, tentava se inserir na conversa porque seu marido era apaixonado por velocidade e adorava vê-lo com os olhos brilhando quando lhe explicava alguma coisa.
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— Aonde você vai? — a voz de sua mãe o fez parar.
— A Jenny vai para o exterior no próximo semestre, então pensamos em dar uma festa de despedida para ela. Logo as provas vão começar e não teremos tempo para nada — explicou Samuel.
— Eles vão vir te buscar ou você quer que o motorista te leve?
— Não, mãe, é problemático falar com ele agora — embora o homem morasse na casa dos fundos, já eram oito da noite e ele não queria incomodá-lo —. Eu vou sozinho, já tenho carteira de motorista, esqueceu? — disse convencido.
— Não esqueci, mas sabe que me preocupo com a sua segurança.
Samuel assentiu, mas continuou se recusando a ser levado por alguém. Era um adulto de vinte anos de idade; já podia se cuidar sozinho.
— Então deixe que o Derek te leve, ele ainda está aqui.
— Ele? Nem morto.
— É isso ou você não vai a lugar nenhum. — sentenciou Susan com voz firme.
Embora fosse calma na maior parte do tempo, seu temperamento era forte e impunha respeito. Nem mesmo seu pai ousava questioná-la; muito menos ele, um simples mortal.
— Está bem, mãe. — Disse com pesar e, como se fosse mágica, seu pai e Derek entraram pela porta do pátio conversando sobre a mesma coisa de sempre: carros.
— Derek — chamou Susan fazendo com que ele olhasse para ela —. Você pode levar o Samy? Ele vai sair, mas já está tarde e estou preocupada. Ele não quer incomodar o Joel e eu aceito que você o leve.
Derek ficou paralisado por um momento, processando cada uma das palavras. Nunca em sua vida ele pensou que levaria Samuel Winters a algum lugar. Aquele garoto o odiava completamente.
— S-sim, sim, claro — respondeu depois de se recompor, embora não tenha conseguido evitar gaguejar um pouco —. Eu o levo aonde ele for — acrescentou.
— Perfeito — Susan bateu palmas no ar —. Samy, filho, se você pretende voltar para casa hoje, me avise a hora que for, irei te buscar.
— Não incomode sua mãe, eu o trago se for preciso — disse Gregory abraçando Susan pelos ombros. Embora a cidade fosse segura, nunca se sabe se há algum louco nas ruas e ele não pretendia colocá-la em risco.
— Se ele quiser e vocês concordarem, eu posso trazê-lo — Derek se juntou à conversa e Samuel o fulminou com o olhar. Aquele idiota sempre se fazendo de prestativo com seus pais.
— Não precisa, não voltarei hoje — embora tivesse planejado voltar, não queria incomodar seus pais e Derek definitivamente não era uma opção de transporte.
— Tudo bem, então se cuide.
Susan se despediu dele com um beijo na bochecha e Gregory lhe deu um tapinha no ombro. Samuel esperou que seus pais subissem as escadas antes de olhar para Derek.
— Vamos no meu carro.
— Não, não vou deixar minha moto aqui. — Derek passou por ele e saiu para a frente da casa.
— Não vão roubá-la, Derek.
— Não é isso — Derek se aproximou da motocicleta que havia deixado no estacionamento da frente da casa e pegou suas luvas e o capacete extra que carregava —. Ela é meu bebê, sabe? Não consigo dormir sabendo que ela está em outra casa ao ar livre.
Samuel revirou os olhos e cruzou os braços, dobrando um dos joelhos enquanto levantava uma das sobrancelhas com um rosto que deixava transparecer a pergunta "é sério?" em todo seu esplendor.
— Estou brincando, só não quero vir buscá-la amanhã cedo e você tem outros meios de transporte.
Samuel suspirou internamente e olhou para a motocicleta. Nunca havia subido em uma, principalmente porque odiava o barulho que elas faziam. Mas também porque não se sentia seguro em ir ali sem nada que o protegesse de algum carro ou caminhão de carga. Não queria morrer esmagado por dezenas de toneladas. Não com essa idade.
— É inseguro, não vou subir aí.
— Como quiser — Derek colocou o capacete, subiu na moto e ligou —. Mas se eu não te levar, você vai ficar aqui.
Samuel olhou para sua casa, para o relógio e, por fim, para a motocicleta, suspirou profundamente e colocou o capacete.
— Está bem, vamos. Mas dirija com cuidado ou eu te bato — avisou enquanto apontava para Derek. Derek conteve uma risada imaginando como seria ser atingido por Samuel. Ele era magro e seus braços não mostravam músculos. Talvez fosse como a picada de um mosquito, ou muito menos que isso.
— Venha aqui — Derek puxou o braço de Samuel antes que ele pudesse subir na garupa da motocicleta —. Lembre-se, você sempre tem que prender bem o capacete. Pode salvar sua vida. — Disse enquanto ajustava o capacete dele.
Samuel ficou perplexo com a ação repentina. Não esperava que Derek o ajudasse a ajustar o capacete tão de repente. Ele poderia muito bem dizer a ele e ele o faria.
— Sobe, ou você também espera que eu te carregue? — perguntou Derek. E lá estava novamente sua personalidade irritante.
Samuel revirou os olhos e subiu, segurando-se em qualquer lugar menos em Derek.
— Dirija com cuidado, não quero cair.
— Então se segure firme, não vou andar a passo de tartaruga por sua causa.
Derek deu partida e Samuel fechou os olhos ao sentir a moto acelerar sobre o asfalto. Sentia que, se continuasse assim, a qualquer momento poderia se soltar, cair e morrer.
— Derek Blackwell, diminua a velocidade! — gritou. Ele não conseguia vê-lo, mas sabia que Derek estava com um sorriso zombeteiro no rosto.
— Eu te disse para se segurar firme, princesa — Derek parou e encostou —. Segure-se em mim, vamos entrar na estrada e não posso ir devagar ou os outros motoristas vão ficar irritados.
— Não, nem morto.
— Então morra — Derek acelerou para fazer barulho e Samuel, em um ataque de medo, se agarrou à sua cintura com força. Derek sorriu triunfante —. Segure-se firme, príncipe, e me diga para onde vamos — sussurrou.
Pelo menos ele já tinha tirado o feminino do apelido idiota que lhe dera.
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Ok, este é o primeiro capítulo desta nova história. Espero que tenham gostado, deixem seus comentários sobre o que acharam.
Vocês gostaram do Samuel?
O que acharam do Derek?
Deixem seus comentários, eu leio todos.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Hosana Marjori Patente
q comecem os jogos de conquista ♥️
2025-02-23
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Vilma Maria Lima Barroso
Isso tá com cara de paixão. kkkkkk
2025-02-10
0
Santos 💗
🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣
2025-06-11
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