Capítulo 06

Renan: Sente-se, por favor.

Sento no sofá e ele numa poltrona um pouco à frente.

Renan: Eu nem me apresentei, me desculpe… me chamo Renan e sou o pai das crianças que você irá cuidar.

Ele falou como se eu já tivesse sido aceita para o emprego, será que estou entendendo direito?

Júlia: Muito prazer senhor Renan, como eu já disse me chamo Júlia e tenho 19 anos.

Ele assentiu.

Renan: Realmente jovem, por isso a minha surpresa quando você chegou… a Emily disse que você tem experiência, poderia me mostrar os documentos de onde trabalhou?

Eu só estava com uma pequena pasta na mão.

Júlia: Senhor Renan, eu realmente tenho experiência… fazia tudo na casa, passava, arrumava e cozinhava, só não cuidava de crianças… mas, infelizmente, não tenho documentação que comprove isso.

Renan: Como assim, você não tem uma carteira de trabalho?

Júlia: Eu não tenho… A casa onde eu morava era a mesma casa onde a minha mãe trabalhava quando eu ainda estava na barriga dela, ela infelizmente faleceu no parto e como eu não tinha pai a dona Marisa e o senhor Paulo decidiram me criar.

Ele fica com o olhar fixado em mim por alguns segundos.

Júlia: A única coisa que tenho aqui comigo são os meus documentos e o comprovante de escolaridade.

Renan: Deixa eu ver se entendi… Você foi criada pelos patrões da sua mãe e passou a trabalhar para eles?

Júlia: Isso mesmo, mas não era bem um serviço, sabe… era mais uma forma de agradecer por eles ficarem comigo esses anos todos.

Renan: Júlia, você recebia alguma coisa pelo serviço que prestava?

Júlia: Dinheiro não, mas eu comia, dormia na casa… A dona Marisa descontava nessas coisas, no final nunca sobrava.

Renan: Mas se eles decidiram cuidar de você, você não deveria ter sido criada como uma filha? Não entendo.

Júlia: Não, eles têm um filho, fizeram isso para me ajudar mesmo.

Renan: Bom… quem sou eu para julgar se até você não os julga.

Júlia: O senhor quer olhar minha identidade?

Renan: Isso só será necessário se você passar para a próxima fase Júlia. Como você já deve saber eu estou a procura de uma babá para os meus filhos, a antiga faleceu e minha outra funcionária ficou de férias no mesmo mês, ou seja, minha vida tá uma loucura com essas duas crianças.

Júlia: Eu imagino, sinto muito pela perda da babá, acredito que isso deixou as crianças tristes.

Renan: Sim, ainda mais por não terem uma mãe presente.

Júlia: Entendo.

Renan: Júlia, se você aceitar a minha proposta, seu salário esse mês será três vezes maior, pois além de cuidar das duas crianças eu preciso de alguém para cuidar da casa e fazer as refeições, seria um mês de testes e caso eu goste do seu trabalho, você será contratada apenas para babá a partir do próximo mês. Você daria conta?

Júlia: Eu tenho certeza que dou conta, sou acostumada a acordar cedo, então deixaria a casa limpa para quando as crianças acordassem eu tivesse mais tempo para elas.

Renan: Você não precisa se desdobrar, a prioridade são os meus filhos, sempre! Faça o que der, será só por um mês.

Júlia: Ok, eu entendi.

Renan: A minha mãe está aqui durante essa semana, o meu sobrinho está com ela, mas você não precisa se preocupar em cuidar dele, só vou pedir para que servir ele na primeira refeição do dia… já que a minha mãe tem pavor de cozinha e acorda tarde demais para servir o café da manhã, o resto do dia você não precisa se preocupar com ele, ela cuidará.

Júlia: Certo, o senhor tem mais alguma observação?

Renan: O meu filho mais velho é um pouco difícil, ele vive fazendo traquinagens, então é preciso o dobro de paciência com ele… O Gabriel tem sete anos e a Beatriz um ano e três meses, ele estuda pela manhã e as aulas voltam semana que vem, até lá eu te oriento melhor.

Júlia: Eles tomam alguma medicação específica? Em que horário costumam acordar?

Renan: A Bia acorda um pouco mais cedo e dorme mais cedo também, daqui a pouco ela acorda e eu consigo ver por esse aparelho.

Ele me mostra um aparelho com uma pequena tela mostrando a bebê no berço, como estava escuro eu não pude ver bem o rosto dela.

Júlia: Que fofura, não vejo a hora de conhecer a Bia pessoalmente… e os meninos também.

Renan: Vamos para a cozinha, vou preparar o mingau para quando ela acordar, assim você já conhece uma parte da casa.

Vou atrás dele e lá ele me mostra como ele faz o mingau da Bia.

Renan: Ela sempre reclama, eu não sei fazer do jeito que a Rosa fazia.

Júlia: Senhor Renan, o certo é esquentar a água… a quantidade de leite também está muito pouca, acho que tá ralo…

Pego a mamadeira na mão dele e mostro como se faz.

Júlia: Não tive experiência direta com bebês, mas quando não conseguia dormir sempre lia algumas revistas para me dar sono… acabei aprendendo algumas coisas em uma dessas revistas de maternidade.

Chacoalho a mamadeira e deixo na bancada.

Júlia: Agora é só esperar a bebê acordar, aí o senhor coloca um pouquinho na mão para ver se não está quente.

Renan: Caramba, então por esse motivo a Bia sempre fazia careta.

Júlia: Pobrezinha, ainda bem que agora o senhor já sabe.

Renan: Graças a você, caso contrário a Alice reclamaria novamente hoje.

Ele me olha e eu não posso segurar o riso.

Renan: Venha, vou te mostrar o resto da casa.

Andamos pela casa inteira e o quarto das crianças apenas passamos pela porta. Voltamos para a sala depois dele ter me mostrado tudo.

Renan: Eu tenho ciência que você não vai dar conta de tudo sozinha, então quero deixar claro mais uma vez que a prioridade são os meus filhos, estamos comendo comida de restaurante ultimamente então se você não tiver tempo em algum dia, é só ligar para alguns daqueles restaurantes na agenda ao lado do telefone, me manda o valor e eu envio o dinheiro.

Júlia: É uma boa ideia para os dias mais corridos, porém eu acho que não vamos precisar.

Renan: Eu vou viajar e passar alguns dias longe de casa, minha mãe ficará com vocês esse tempo, mas caso ocorra uma emergência é só me ligar e eu voltou na mesma hora.

Júlia: Ok, senhor Renan.

Renan: Você começa oficialmente amanhã, traga as suas roupas e o que for mais necessário, um motorista vai busca-lá amanhã cedo… Você provavelmente já deve imaginar que precisará dormir aqui, aos sábados você só trabalha meio turno e pode dormir fora da mansão, domingo é sua folga.

Júlia: Maravilha.

Renan: Ótimo Júlia, qualquer coisa é só me ligar para esse telefone e tirar qualquer dúvida.

Ele me entrega um cartão.

Júlia: É uma pena eu não ter conhecido as crianças hoje, não vejo a hora de vê-los amanhã! Senhor Renan, muito obrigada pela oportunidade, prometo que não vou te decepcionar.

Renan: Foi bom conhecê-la Júlia, acho que os meus filhos vão aprová-la.

Júlia: Espero muito que sim.

Renan: Meu motorista vai te deixar em casa e amanhã bem cedo vai te buscar, fique preparada.

Júlia: Claro, vou deixar tudo pronto.

Renan: Me passa o seu número, assim a gente vai mantendo o contato.

Júlia: Senhor Renan, eu não tenho um celular...

Renan: Sem problemas, você tem um e-mail?

Júlia: Também não… O senhor poderia me ligar do número de telefone da minha amiga? É a funcionária da sua vizinha, eu estou morando na casa dela.

Renan: Ótimo, você tem anotado aí?

💭Júlia: Ainda bem que anotei o número dela!

Passo o número da Virgínia para ele e nos despedimos. O motorista me espera enquanto vou avisar a Virgínia que vou embora.

Virgínia: E aí, como foi lá com o bonitão?

Júlia: Virgínia! Não fala desse jeito, se alguém escutar pode pensar maldade.

Virgínia: Que nada, fala logo.

Júlia: Vou trabalhar durante um mês e depois disso serei contratada caso ele goste do meu trabalho.

Virgínia: Ai que alegria! Já vamos comemorar porque você não é nem doida de perder um emprego desses, será seu e de mais ninguém!

Júlia: Espero muito! Agora volta para o seu serviço, até mais tarde.

Nos despedimos e eu vou para o carro. Dou o endereço para o motorista e ele me leva.

Júlia: Obrigada, um bom dia para você.

Ele era super gentil, me despeço e bato na porta.

Depois que a dona Glória abre a porta, eu já vou contando a novidade, ela diz que vai fazer um bolo para comemorar e é claro que vou amar ajudar.

Glória: Olha só como as coisas são, você não passou nem três dias desempregada.

Júlia: Tem razão, a vida é muito surpreendente.

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