João: Menina, o que faz dormindo no meio da rua? Esse local é perigoso, tem assaltos frequentemente.
Júlia: Mas, o que iriam levar de mim seu João?
Ele sentou do meu lado.
João: O que foi menina, por que está no meio da rua? Eu nunca vi você sair daquela casa.
Júlia: A dona Marisa me dispensou, ela pediu para que eu fosse embora e não procurasse mais por eles.
João: Como é? Assim do nada?
Júlia: Não, seu João, não foi do nada… já fizeram muito durante todos esses anos.
João: Olhe menina, a Lila sempre foi a única que realmente cuidou de você naquela casa, aquelas pessoas só fizeram de você a serviçal deles durante todos esses anos.
Júlia: Seu João, eu moro lá desde que saí do hospital, tive acesso à escola, comida, eles realmente fizeram muito por mim, o que eu faço não chega aos pés do que me deram.
Ele balança a cabeça.
Júlia: O que foi seu João?
João: Você é muito inocente, Júlia… eles privaram você do mundo, você viveu esses anos todos para eles, fazendo a comida e arrumando a casa de segunda a domingo.
Júlia: Tudo bem seu João, eu não me importo… talvez o senhor tenha razão, mas o que posso fazer?
João: Pois é filha, mas tenho certeza que irá se restabelecer e conquistar suas coisas aqui fora. Você vai para a casa de algum parente da Lila?
Júlia: Não seu João, eu não conheço nenhum parente da Lila, ela se foi quando eu era muito jovem, o senhor não lembra? Mesmo que ela tenha me contado sobre alguém, eu não me lembro.
Lila era uma antiga funcionária da mansão, quando ela faleceu eu tinha doze anos, e depois da partida dela eu fiquei completamente sem ninguém, as coisas só pioraram.
Eu passei a ser a faxineira da casa e conforme fui crescendo, virei a cozinheira também. Só havia eu de funcionária dentro da casa, os outros três eram dois seguranças e um jardineiro, a parte da limpeza e organização era comigo.
A Lila tinha 60 anos quando faleceu, ela me contava como minha mãe era alegre logo que chegou na casa da dona Marisa para trabalhar. Uns meses depois ela contou que estava grávida e a dona Marisa aceitou ela assim mesmo, já que o meu pai não queria saber dela e ela estava sozinha no mundo.
A gravidez foi tranquila, mas infelizmente ela não resistiu durante a cesariana. Foi aí que a Dona Marisa e o seu Paulo resolveram ficar comigo, por isso sou grata a eles, nem todo mundo tem a mesma sorte que tive.
João: Poxa Júlia, eu quero te ajudar… não posso te deixar sozinha na rua.
Júlia: É sério isso seu João? Olha, eu prometo que ajudo o senhor com o que precisar! Com as cartas, limpo a casa, faço comida.
Levanto e digo tudo de uma vez.
João: Se acalme menina, eu vou ligar para a minha mulher, primeiro tenho que avisar que estamos indo.
Ele pegou o telefone e se afastou um pouco, fiquei observando e ela não parecia ter brigado com ele. Quando ele desligou o telefone eu virei o rosto para que ele não percebesse meu nervosismo.
João: Pronto, podemos ir.
Júlia: Seu João, eu nem sei como posso te agradecer!
Fomos para o ponto de ônibus e logo passou um, ele ainda fez a gentileza de pagar minha passagem.
Quando chegamos na rua dele já era noite, minha barriga roncava de fome e teve um momento que até eu me assustei com o barulho. Só havia comido aqueles pães de queijo pela manhã.
João: Já estamos chegando Júlia.
Balancei a cabeça morta de vergonha.
Quando chegamos, ele bateu na porta e uma mulher muito bonita abriu.
João: Virgínia, essa é Júlia.
Júlia: Olá, boa noite...
Virgínia: Prazer me chamo Virgínia, você é muito bonita Júlia.
Júlia: Você também Virginia, o prazer é todo meu.
Virgínia: Entrem, a minha mãe está terminando o jantar.
Entramos e a Virgínia pede para que eu sente no sofá. Os dois vão para a cozinha e eu fico que nem estátua sentada.
Logo, os dois e uma mulher de mais idade voltam para a sala, ela me olha um pouco desconfiada e eu levanto para cumprimentá-la.
Júlia: Olá, boa noite.
João: Júlia, essa é a minha esposa Glória.
Glória: Olá, Júlia.
Aperto a mão dela.
Júlia: Dona Glória, muito obrigada por ter me aceitado aqui, prometo não atrapalhar e nem passar muito tempo.
Glória: Tudo bem, vamos jantar?
Seguimos para a cozinha e tudo que tinha na mesa era muito apetitoso.
João: Sirva-se Júlia, fique a vontade.
Coloco um pouco de sopa no prato, e em seguida pego algumas torradas.
Júlia: Eu vou comer na sala, deixar vocês sozinhos.
Virgínia: Júlia, mas porque não come aqui com a gente?
Júlia: Eu posso?
Glória: Mais que pergunta besta menina, sente-se.
Sento um pouco sem jeito e jantamos todos juntos. Era bonito de ver a forma amorosa que eles se tratavam, uma verdadeira família.
Depois da janta a Virgínia me chamou para o quarto.
Virgínia: Você pode dormir na minha cama, eu durmo no colchão.
Júlia: Nada disso, deixa que eu durmo no colchão.
Virgínia: Mas você é visita, não custa nada.
Júlia: Não, por favor…
Virgínia: Está bem, mas se quiser trocar é só falar, ainda dá tempo.
Júlia: Não se preocupe com isso Virgínia, se não fosse por vocês eu estaria dormindo era na rua agora.
Ela sorriu de canto.
Virgínia: Vai ficar tudo bem, é só uma fase.
Júlia: Eu também acho Virgínia, é só uma fase…
Ela me deu uma toalha e mostrou onde era o banheiro, fui para o banho e deixei minhas lágrimas todas naquele banheiro, eu odiava a sensação de estar incomodando uma família, a sensação de nunca ter para onde correr nos momentos difíceis… de sempre ser um fardo na vida de todos.
Depois do banho eu saio do banheiro e já vou direto para o colchão, Virgínia já dormia na cama dela e eu fiz o máximo de silêncio para não acordá-la, estava tão cansada que nem vi a noite passar, dormi feito pedra.
...Fotos dos personagens apresentados no capítulo…...
Glória…
Virgínia…
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Josiane Costa da Silva
esse capítulo mexeu comigo demais , sabe é difícil não ter parentes pra vc contar e a única alternativa é contar com estranhos , chorei e não vou negar
2024-07-29
250
Silvia Barbosa
Ador história que já começa arrasando. Mostrando logo as mocinhas e as mocréias .
2025-02-02
0
Edna Anjos Santos
Com tudo isso que aconteceu com Júlia, ela se preocupa em estar incomodando, ela tem um bom coração
2024-07-02
44