Gus é desperto pela campainha da sua casa tocando várias vezes, olha no celular e falta pouco para ás 6 da tarde. Desce para abrir a porta, ao fazer isso, vê Lipe com sacolas na mão.
- Oi Gus.
- Oi Lipe, você não só vinha de sete e meia?
- An, eu posso me vestir aqui?
- Claro né, já está aqui, e que sacolas são essas?
- Uma é o terno e a outra são lanchinhos. Diz o garoto com um meio sorriso.
O garoto abre caminho para que Lipe entre em casa, depois de fechar o portão, eles vão direto para o quarto. Lipe deixa seu terno na cadeira e coloca a comida na escrivaninha. Gus liga a TV e escolhe uma playlist de músicas aleatórias para manter o clima agradável. Eles passam a hora jogando Uno e comendo, antes de começarem a se arrumar.
Lipe se arruma primeiro e depois Gus segue para o banheiro com seu terno, pois não queria vestir na frente do amigo enquanto ainda havia marcas roxas em sua barriga
- Ei guzinho, onde está o secador de cabelo? Fala Lipe entrando no banheiro.
Gus toma um susto com a entrada do amigo, rapidamente se vira de lado colocando a camisa do terno, mas, não rápido o suficiente para que o outro garoto não percebe-se alguns pontos roxos em seu tórax.
Lipe se aproxima do amigo tocando em sua mão para parar de abotoar a camisa, em seguida desabotoou os botões abrindo a camisa e tocando as marcas roxas, levantando a cabeça e olhando para Gus, esse que evita o contato visual.
- O que ouve? Pergunta Lipe com uma voz calma e baixa.
- Nada, eu só acabei pegando uma alergia. Fala Gus com um sorriso nervoso, pegando o resto da roupa e saindo para o quarto.
- Que eu saiba alergia deixa marcas vermelhas não roxas.
- Mas eu fiquei com essas, tem um secador lá no banheiro dos meu pais, pode pegar, ninguém usar.
Gus vai para a cama e se senta para calçar seus sapatos, Lipe senta ao seu lado de braços cruzados olhando para o garoto.
- Você não vai mesmo me dizer o que houve? Foram aqueles meninos lá que sempre mexem com você?
- Não precisa se meter nisso, eu sei me virar.
- Então realmente foram eles, eu vou deixar cada um deles com as mesmas marcas roxas. Fala Lipe em tom irritado.
- Você não vai fazer nada Lipe, isso já passou. Diz Gus deixando o que estava fazendo para olhar para o amigo.
- Como assim, olha o que fizeram com você, devia tá bem pior no dia. Quando foi isso? Foi no dia que você faltou dizendo que estava doente?
- Não importa, eu vou pegar o secador de cabelo já que não vai.
Gus levanta-se e sai do quarto. Ao entrar no quarto dos pais, ele se senta e deita as costas na cama e suspira, lembrando da cena. Ele faz o máximo para não lembrar do passado, mesmo que tenham sido apenas poucos dias, mas as lembranças ruins sempre vêm em algum momento.
Ele abre os olhos ao sentir um peso na cama e vê Lipe sentando-se e deitando-se de lado para ele. Antes que pudesse ter alguma reação, o garoto do terno vermelho coloca sua perna por cima do seu corpo
- Você vai amassar sua roupa. Diz Gus virando sua cabeça para o lado de Lipe.
- Não tem problema. Você sabe que pode contar comigo né Gus?
- Sei.
- Mas não parece, quando você precisar de ajuda pode falar comigo.
- Tá bem. Eu prometo. Feliz? Diz Gus abrindo um sorriso para tranquilizar o outro.
- Okay. Também sorrindo Lipe responde.
Ambos ficam deitados por alguns segundos olhando nos olhos, até que Lipe leva a mão para a face do garoto moreno. Gus se levanta da cama e vai ao banheiro pegar o secador e entregar a Lipe.
- Pega, e usa antes do seu cabelo secar, não quero ir com um leão como par. Fala Gus em tom sarcástico.
- Então quer dizer que eu sou seu par agora? Lipe se levanta da cama pegando o secador com uma mão e com a outra livre passando na lateral da face de Gus.
- Não quis dizer isso, você sabe muito bem.
O garoto entra dentro do banheiro daquele quarto para usar o secador e Gus segue seu caminho para terminar de se vestir. Ele se sente bem, pois a relação com Lipe está ficando cada vez mais forte, e ele sente que finalmente pode contar com alguém quando precisar.
Um sorriso incrédulo se abre em seu rosto ao lembrar da sensação estranha em seu estômago quando Lipe tocou seu rosto, uma sensação que ele nem sequer consegue descrever.
Após estarem devidamente prontos, Gus liga para Mary e avisa que estão indo pegá-la, os garotos seguem a viagem. Ao chegar na casa da garota ela já esperava na porta, entra no carro e seguem para a escola.
- Me ajuda a descer Lipe? Pergunta Mary quando o mesmo para o carro no estacionamento.
- Okay.
Lipe desce, abre a porta, Mary passa seus pés para fora do carro e pegando a mão do garoto fica em pé, porém se desequilibra e acaba quase caindo, sendo segurada por Lipe.
- Obrigada meu salvador. Fala Mary olhando para Lipe sem se soltar de seus braços.
- Não foi nada.
- Vamos!? Gus intervém na situação que estava o incomodando pela proximidade e tempo em que os dois permaneceram juntos.
- Vamos. Fala Mary passando o braço por dentro do de Lipe.
Gus observa a cena e percebe que se a garota estava agindo de forma diferente em relação a Lipe, seria possível que ela estivesse interessada nele ou até mesmo já tivessem um relacionamento. Sua mente estava confusa e ele precisava de respostas, mas decide não perguntar nada e segue em direção ao ginásio da escola onde o baile estava acontecendo.
Ao entrar, a música eletrônica alta invade seus ouvidos e ele se depara com uma multidão de pessoas. Algumas estavam dançando, outras conversando e algumas se beijando nos cantos. Gus observa tudo atentamente, era a primeira vez que ele estava em um ambiente assim, nunca tinha ido a bailes ou festas da escola antes.
- O que está achando Gus? Pergunta Mary.
- Eu não sei bem o que achar, é a primeira vez que venho.
- Você está brincando né? Achei que você já tinha vindo ano passado.
- Não estou não. Fala o garoto um pouco envergonhado.
- Então porque não dar uma volta? Ver tudo mais de perto.
- Acho que sim. Diz Gus de forma insegura.
- Vai lá bobinho, não vai ficar segurando vela para a gente a noite toda.
Gus, neste momento, compreendeu o que a amiga quis dizer e chegou à conclusão de que Lipe e ela estavam, de fato, em um relacionamento. Uma enxurrada de pensamentos inundou sua mente: "Por que Lipe não me contou? Eu achava que nossa relação estava melhorando nos últimos dias, mas parece que foi apenas coisa da minha cabeça.
Lipe sempre foi atencioso e prestativo com todo mundo. Mais uma vez, como sempre, minha carência falou mais alto." O garoto apenas assentiu com a cabeça e saiu andando pelo meio de todas aquelas pessoas.
- Onde está o Gus? Pergunta Lipe.
- Ele disse que ia dar uma volta. Dança comigo? Falou a garota em um sorriso largo.
- Tá, daqui a pouco a gente faz isso, vou dar um olá para uns conhecidos, mas só uma dança, okay. Não sou muito fã disso. Diz o garoto se retirando.
Gus caminhava pelo lugar, sentindo-se completamente deslocado naquele ambiente, não gostando do barulho e da presença de adolescentes bêbados por toda parte. Até que notou uma parte alta da arquibancada vazia e decidiu subir para lá. Dali, tinha uma vista privilegiada de todo o espaço, e pôde ver Lipe e Mary dançando juntos uma música lenta, bem próximos um do outro.
A visão do casal de certa forma parecia perfeita, o que deixou o garoto triste e seus pensamentos despertarem para a sua realidade de solidão. Ele se deu conta de que não importa quanto tempo passe, sempre estará sozinho. E que seria apenas uma questão de tempo até que Lipe e Mary se afastassem dele para viver seu relacionamento apenas a dois.
- Oi.
- Gus olha para o lado e vê Félix se sentando do seu lado na arquibancada.
- O que faz aqui? Perguntou o garoto de terno azul.
- Vim tentar socializar com o pessoal da minha nova escola.
- Então vai vim estudar aqui?
- Sim, é próximo da minha casa, a gente poderia vir juntos, o que acha?
- Eu venho sempre caminhando. Pelo jeito você é bem sociável, aqueles meninos estão acenando para você.
- Parece que nossas conversas nunca podem durar muito. Vou ter que ir lá, mas te vejo aqui depois? Pergunta o garoto cacheado pegando no braço de Gus.
- Claro.
Félix desce em direção ao grupo que o chamava, e neste momento Gus volta sua atenção para a pista de dança. Ele vê Mary puxando Lipe pelo braço entre os alunos e os segue com os olhos até que eles entram na área que leva à saída para o campo de futebol. Com um impulso, Gus decide ir ver o que está acontecendo e segue na direção em que eles foram.
Ao sair, ele olha ao redor e não vê nada. Decidindo dar uma volta pelo arredor, segue pelo campo e escuta vozes, mas não consegue entender o que estão dizendo. No entanto, vê Mary e Lipe perto da saída do campo para a rua. Gus segue em direção a eles, indo pela parte de baixo da arquibancada do local para não ser visto.
Antes que pudesse se aproximar o suficiente para entender o que estava sendo dito, Gus vê Mary avançando em direção a Lipe e o beijando. Ele para de se mover, dá meia volta e caminha apressadamente para longe dali, não querendo ver aquela cena.
Ele não entendia o sentimento ruim que se instalou nele ao ver aquilo. Mais uma vez, em pouco tempo, sua cabeça é inundada por pensamentos: "Aquilo não estava certo. Ele é meu amigo, não um anormal como eu. Além disso, ele está namorando minha amiga."
Gus sente dificuldade para respirar e acaba se sentando no chão. Ele tira sua gravata borboleta e desabotoa alguns botões de sua camisa, enquanto lágrimas descem pelo seu rosto. "Por que sempre tem que ser assim? Por que eu sempre tenho que ser estranho e esquisito?", ele pensa.
Depois de alguns minutos, ele escuta passos se aproximando, muito provavelmente do casal. Ele se concentra para não deixar nenhum barulho escapar e perceberem que ele está ali, após algum tempo seu celular vibra.
...Lipe, online....
Lipe: Onde você está?
Você: Estou quase em casa.
Lipe: Como assim você foi embora da festa? A gente nem curtiu e ir embora para a casa a noite sozinho é perigoso.
Você: Está tudo bem, estou na rua da minha casa agora, curte a festa por nós dois...Boa noite e tchau
Lipe: :(
Gus se levanta e sai de baixo da arquibancada e resolve ir embora para casa como tinha dito ao amigo. Segue em direção ao estacionamento, não iria pela escola para correr nenhum risco de ser visto. Já próximo a saída do local ele vê três pessoas fumando no portão, mas não se importa e segue direto.
- Olha quem está aqui, Guszinho, não sabe que é perigoso andar sozinho pelas ruas a noite.
Gus se vira para trás e vê que os três que fumavam eram Matheus, Ítalo e Junior o seu grupinho do inferno. Virando de volta ele aperta o passo, mas antes que pensasse em correr já tinha sido jogado na tela que separava o final da escola com a rua, ficando então cercado pelos três.
- Vai onde meu bem? Continua falando Matheus com um sorriso nos lábios.
- Estava achando aquela festa mô chata lá dentro, mas a diversão estava aqui fora. Fala Junior.
- Eu já estou indo embora. Responde Gus.
- Calma, a noite começou agora. Fala Matheus passando a mão pelo rosto do garoto moreno.
- O que vamos fazer com ele? Pergunta Ítalo.
- Não sei, o que você gosta Gus? Fala Matheus chegando próximo do ouvido do garoto. - Você gosta disso?
Ele passa a mão pela bunda do garoto e aperta.
- Deixa eu ir embora. Fala Gus em um sussurro forçando seus olhos a fechar não querendo estar ali.
- Repete para mim bem, não entendi. Diz Matheus colocando a mão nos lábios do garoto.
- Deixa eu ir embora, por favor. Fala o garoto assustado.
- Porque quer ir embora, vamos nos divertir mais, o que acha? O que vocês acham rapazes? Matheus olha para os companheiros.
- Será uma noite ótima, quem sabe até acendo um cigarro e termino o que comecei naquele dia em guzinho. Fala Junior.
- Com essa boquinha ele deve chupar super bem, não é mesmo. Fala Matheus.
- Os três se põem a gargalhar
- Vamos rapazes tragam ele, vamos a nosso local especial. Diz Matheus
Os outros dois se aproximam pegando os braços de Gus que tenta se soltar dos mesmo, mas suas tentativas mal surtem efeito contra os dois malhados. A sua última opção era pedir por ajuda, então encheu seus pulmões de ar e coragem e soltou o grito.
- Ajuda!
Recebeu um soco do Matheus em seu estômago, foi como se tivesse sido atropelado, ele definitivamente era bem mais forte que os outros.
- O que está acontecendo aqui.
A voz já conhecida soa atrás do garoto que estava sendo levado. Gus olha para atrás e confirma que era o Félix.
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Atualizado até capítulo 38
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