Quem mexe com fogo sai queimado

Melissa viu o momento em que Nicolas deixou este mundo. As lágrimas em seu rosto evaporaram-se, ela sentiu um grande poder emergir de dentro dela, ergueu a cabeça, olhou com ódio para a loira a sua frente.

“Melissa!” — Draco a chamou. — “Você precisa reagir”.

“Ela o matou...”

“Melissa, você precisa reagir”.

“Mas ela...”

“Sim, ela o matou e você precisa o vingar”.

“Como eu vou fazer isso?”.

“Chame sua espada”.

“Que espada?”.

“Ela faz parte do seu poder, pense nela e a chame pelo nome”.

Sentiu seu corpo arder, a raiva combustível para o seu poder. Olhos assumiram uma tonalidade vermelha, sua pele chocolate começou a soltar fumaça. Levantou do chão e estendeu sua mão para o lado.

— Excalibur! — Gritou com força Melissa. Uma linda espada de prata envolvida em fogo materializou em sua frente.

— Ora, ora, ora. — Alicia puxou duas adagas negras de sua cintura e encarou sua oponente. — Vamos bailar vadiazinha.

— Duris dolor ossibus ardet! — Todo o corpo de Melissa começou a pegar fogo. A menina empunhou a espada e foi em direção a sua oponente.

O som do choque entre as adagas e a espada, fez com que todos os presentes parassem e observassem as duas duelando, cada golpe era estratégico e preciso, nenhuma das duas dava chances para outra.

Melissa desligou seus sentimentos, tudo que ela queria era vingança. O sentimento era tão forte que a queimava por dentro e por fora. Alicia ria como louca, xingando e falando coisas ruins sobre Nicolas, tudo para fazer a menina baixar a guarda. Mas ela estava focada em destruir o inimigo.

Alicia estava sentindo dificuldade de parar a garota, todos os golpes que ela lançava tinha um contra-ataque certeiro. — Nicolas era tão bobinho, foi tão fácil enganá-lo.

— Assim diz a mulher que precisa enfeitiçar um homem para que ele saia com ela. — Melissa retrucou. — Nicolas é um homem...

— Ele foi — Ela gargalhou interrompendo. — Me certifiquei disso...

Alicia não completou a frase, pois Melissa deu um salto e enterrou a espada no dorso da mulher. Chamas lamberam o corpo da loira. Ela olhou em discrição para o peito e se dissolveu em cinzas.

***

— Dimitri — chamou Júlia. — Eu preciso ir até aquele corpo estendido no chão.

— Estamos no meio de uma batalha, é arriscado demais...

— Aquele guerreiro é muito importante. Não se preocupe, eu vi o que vai acontecer, e não vou me machucar.

Dimitri olhou para a garota baixinha em sua frente. Com um pouco mais de 1,60 de altura, longos cabelos negros, olhos verdes, parecia uma pequena fadinha. Ele olhou para seus homens e deu o comando, todos marcharam para a beira do lago, saindo do meio das árvores.

— Você não sai do meu lado, Júlia ...

— Tudo bem, Dimitri, vou precisar de você. — Júlia o cortou e caminhou para o local onde o corpo de Nicolas estava estendido. Ajoelhou-se no solo e pegou sua mão. — Eu vou começar com o processo de cura. Meu espírito sairá de meu corpo e irá remendar tudo que está danificado.

— Para o que você precisa de mim? — Dimitri permaneceu em pé. Vestido todo de preto, seus cabelos loiros e sua pele clara, fazia um grande contraste. Munido com armas, dos pés à cabeça e em seus dois metros de altura era uma figura para se temer.

— Preciso que você seja meu escudo, só isso. — Júlia disse ao fechar os olhos. Uma névoa rosada saiu do seu corpo e inundou o corpo de Nicolas.

***

— Mandou ver, cabeça de fósforo. — Clara chegou a uma distância segura de Melissa.

Melissa desviou lentamente o olhar do monte de cinzas e encarou a japonesa. — Excalibur. — Melissa disse, a espada sumiu do mesmo jeito que apareceu.

— Como você conseguiu esta espada? — Clara perguntou espantada.

— Faz parte do meu poder. — Melissa deu de ombros. Seu olhar vagou por todos os lados.

A beira do lago estava um caos, corpos-secos, jinns, lobisomens traidores e humanos modificados lutavam contra Adam e seus homens, silfos, o povo do mar e humanos.

— Quem são os G.I. Joe? — Melissa perguntou.

— Eu não sei, mas estão nos ajudando, então eu não estou me preocupando.

Melissa olhou para o corpo de Nicolas estendido no chão, envolto de uma estranha luz. Ela correu até ele e foi barrada por um estranho loiro. — Sai da minha frente. — Gritou ela.

— Não. — Dimitri cruzou em frente dela.

— Como é? — Melissa cerrou os punhos e encarou o loiro. — Você saia da minha frente agora.

— Não. Minha garota está fazendo o seu trabalho e você não vai atrapalhar.

— Quem é ela? Quem é você.

— Somos a irmandade elemental...

— Que porra é essa? — Adam perguntou ao chegar no local junto com todos os outros.

— Somos guerreiros que, ao longo dos tempos, protegemos os humanos de seres sobrenaturais que os atacam.

— Essa é nova. — Adam debochou.

— Não é. — Dimitri não desviou os olhos de Melissa. — A irmandade tem mil anos.

— Quem é ela? — Melissa apontou para a menina ao lado de Nicolas. — O que ela está fazendo com o corpo do Nicolas.

— O nome dela é Júlia e ela é uma elemental.

— Ah, não é não. — Adam apontou para as meninas. — Já temos as quatro elementais...

— São cinco, lobo. — Dimitri interrompeu. — Ar, terra, água, fogo e espírito.

— Ele tem razão. — Melissa concordou. — Somos cinco, mas o que ela está fazendo?

— Está curando ele...

— Ele está morto. — Cortou Melissa.

— Eu não sei, só estou cumprindo ordens. Que são proteger a moça e o rapaz.

Melissa olhou para os dois. — Por favor, eu não vou atrapalhar. Deixa eu ficar perto?

Dimitri balançou a cabeça em negativa. — Ninguém toca em nenhum dos dois.

— Vem Melissa. — Karen pegou a mão dela. — Você ouviu o grandalhão. Ela está o curando, isso é bom!

Melissa sentou no chão de pernas cruzadas sem tirar os olhos do estranho fenômeno a sua frente. As outras meninas seguiram seu exemplo. Dando apoio para ela. Os outros presentes foram limpar o local da batalha e tirar qualquer vestígio de que estiveram ali.

Passaram-se uma hora e o sol estava começando a surgir no horizonte. Júlia voltou para seu corpo, a névoa rosa voltou para o corpo da menina e ela abriu os olhos.

— Dimitri — sussurrou Júlia.

O grandalhão loiro deu uma última olhada para todos os presentes e caminhou até a menina, ajoelhou e a pegou no colo. — Você está bem? — Dimitri se assustou com a cor acinzentada da garota.

— Eu preciso descansar, a ferida foi muito extensa...

— Ele vai viver? — Perguntou Melissa, ao levantar de um salto de onde estava e chegar perto do corpo de seu amado.

— O corpo dele está vivo — sussurrou Júlia fechando os olhos e recostando a cabeça no ombro de Dimitri. — Mas sua alma não está mais aqui. Você precisa trazê-la de volta.

— Como faço isso? — Melissa ajoelho no chão e pegou a mão de Nicolas na sua. Seu corpo estava quente, seu rosto exibia uma expressão de paz. “É o homem mais bonito que eu já vi”, pensou ela.

— Acredito que do mesmo jeito que ele fez com você — falou Lucas. — Não podemos ficar aqui, logo mais os humanos iram aparecer e minha magia de ilusão não vai conseguir esconder todos nós.

— Você tem razão, Silfo. — Dimitri acenou. — Vamos para o complexo da irmandade.

— Onde fica este lugar que eu nunca ouvi falar? — Perguntou Adam.

— Monastério São Bento. — Ele informou.

— Você só pode está de brincadeira. — Adam arregalou os olhos. — Como é que um bando de brutamontes como vocês vive em um monastério?

— Do mesmo jeito que uma alcateia inteira de lobisomens vive em uma casa no Bixiga.

— Conversaremos melhor quando estivemos em segurança. — Lucas cortou o papo dos dois.

Lucas e Bento pegaram o corpo desfalecido de Nicolas do chão e seguiram o contingente de humanos pela mata até a saída onde várias SUV’s estavam esperando por eles. Quando todos estavam acomodados, o contingente saiu em marcha para o centro da cidade.

Melissa foi posta no último banco do carro junto com Nicolas. Dimitri e Júlia estavam junto com ela. — Eu acabei com ela, pelo menos Alicia não será um problema. — Ela dizia enquanto acariciava seus cabelos negros.

— Eu não estaria tão certa disso — sussurrou Júlia. — Aquilo que você destruiu foi apenas um espectro.

— Como assim? — Melissa perguntou sem entender.

— Uma porção da alma da bruxa sendhir. Ela ainda vai voltar, ainda mais forte.

— Ela pode vir, eu estarei preparada para ela. — Garantiu Melissa.

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