Inferno na terra

Tem poucas coisas na vida que assustavam Melissa, como ratos, baratas, aranhas, ciganos, mas uma cabeça decapitada rolando até seus pés, definitivamente entrou para o topo da lista. Com o grito das quatro, todos que estava no lugar pararam para olhá-las.

— Fecha a porta! Fecha a porta! — Gritou Clara.

“Você precisa do fogo agora” — gritou a voz na cabeça dela.

“Como eu faço isso?”

“Garota estúpida”

“Não me chame de estúpida!” —raiva subiu nela.

Um homem de olhos vermelhos e sangue pingando da boca agarrou as portas do elevador, evitando que as mesmas se fechassem.

“Garota estúpida vai morrer se não fizer o que eu estou falando” — A voz soou irritada.

Melissa sentiu suas mãos esquentarem, quanto mais brava ficava com a maldita voz mais a mão esquentava. Ela olhou para a criatura na sua frente, e as outras meninas gritavam em pânico, por um instante tudo ficou no mais absoluto silêncio. Foi como o mundo todo entrasse em câmera lenta de repente, ela abriu a mão e uma bola de fogo se formou. Não sentiu medo desta vez. Afastou seu braço para trás e lançou.

O fogo atingiu o peito da criatura em cheio e se espalhou por todos os lados. A criatura soltou as portas e tentou apagar as chamas. Antes do elevador se fechar, Melissa viu o monstro virar um monte de cinzas.

— Que porra foi aquela? — Liz gritou.

— Você acaba de colocar fogo em uma pessoa. — Clara acusou Melissa — Qual o seu problema?

— Olha aqui, japinha, você está presa em um elevador com uma pessoa que taca fogo pelas mãos, não acho sensato me irritar. — Melissa socou o dedo no número um do painel e o elevador voltou a descer. — E outra. Caso você, não tenha visto. Uma pessoa não vira cinzas em meio segundo.

— Nem cabeças decapitadas. — Karen apontou para o chão onde um monte de cinzas se encontrava. Todas olharam estupefatas.

— A explicação de sermos zumbis não é tão fantasiosa assim agora. — Liz disse olhando para a Clara. Essa, assim que abriu a porta do elevador, saiu.

— O que vamos fazer agora? — Perguntou Karen.

— Primeiro vamos nos certificar que este elevador não suba. — Melissa parou segurando as portas. Clara pegou o carrinho do faxineiro e levou até onde ela estava. Tirou o esfregão do balde e colocou no meio das portas.

— O que vamos fazer agora? — Clara perguntou a contragosto.

“Por que essa garota não gosta de mim?” Melissa olhou indignada para a nuca da outra mulher.

“O elemento dela é contrário ao seu”

“Como assim?”

“Você controla o fogo. Clara a água, a ruiva a terra e a loira o ar, somos espíritos elementares e estamos aqui para ajudar a terra. Seu corpo é um receptáculo. A partir do momento em que você morreu eu assumiria até o momento de cumprir o meu propósito”.

“Por que eu?”

“Você estava à beira da morte, só podemos assumir um corpo recém-morto, nunca em todos estes anos, habitamos um corpo com a alma do hospedeiro junto. Algo está errado e a prova disso são os não mortos no andar de cima”.

“Não mortos? Você diz vampiros?”

“Estive acessando suas memórias, e acredito que este termo é o mais apropriado”.

— Merda! — Falou em voz alta.

— Que foi Melissa? — Perguntou Karen.

— Bem a voz na minha cabeça disse que é um espírito elementar, que eu controlo o fogo, Karen a terra, Liz o ar e a Clara a água — ela tomou fôlego — Aquilo lá em cima era não morto ou vampiros, e antes que a senhorita pé no saco venha “com isso não existe”, isso explica muita coisa.

— Lupus confirma isso. — Karen disse.

— Quem é Lupus? — Perguntou Liz.

— A voz... o elementar na minha cabeça — apontou para própria cabeça.

“Você tem um nome?”

“Pode me chamar de Draco”.

— O meu se chama Draco.

— Lupus diz que viu seus filhos lá em cima. Os homens lobos.

— Aquele que Melissa tacou fogo? — Liz indagou.

— Não. Os homens gigantes, com as espadas.

— São mocinhos ou bandidos? — Perguntou Melissa receosa.

— São os mocinhos, Lupus disse que podemos confiar neles.

— Isso não importa no momento. — Clara cruzou os braços com cara de poucos amigos. — Temos que sair daqui e pelo elevador não é possível ou vamos parar novamente no mar de sangue.

— Podemos sair pela saída de incêndio. — Apontou Liz para a placa luminosa.

— Vamos lá. — Melissa começou a correr para aquela direção. — Vamos torcer para dar do lado de fora.

***

— Adam! — Pat o chamou. — Vá atrás das meninas. Nós cuidamos daqui.

Adam olhou ao redor. A entrada do IML estava uma bagunça total, os corpos decapitados estavam em seu processo de decomposição, o cheiro ruim subia em baforadas. Ele tinha perdido pelo menos dois homens naquela luta, foi um saldo muito bom, devido às circunstâncias.

Usando sua força sobrenatural, abriu as portas do elevador, já que o mesmo não subia. Olhou para o buraco negro abaixo e pulou. A queda não levou mais que segundos. Aterrissou em cima da caixa, com a pouca luz e sua incrível visão, conseguiu achar a alavanca para puxar a portinhola do alto do elevador. O buraco era estreito e com seu tamanho da transição não conseguiria passar. Levou alguns minutos para voltar ao normal.

— Meninas espertas — quando olhou a amarração para manter a máquina no andar, ficou admirado.

Fez uma rápida varredura pelo andar e não as encontrou. O último lugar que as procurou foi a porta de saída de emergência. Xingou mentalmente, se as mesmas não apareceram na entrada, isso só significava que aquelas escadas dariam do lado de fora. Com a horda de vampiros cercando o prédio, estariam caminhando para uma armadilha.

Subiu de dois em dois os degraus, já começando novamente a transformação. Saiu pela porta com supetão e como esperado o lado de fora estava um caos. O cheiro de lixo, agredia seu nariz, se encontrava próximo às caçambas que provavelmente recebiam os detritos dos prédios.  As quatro garotas encurraladas em um canto. A morena lançava bolas de fogo em todos que chegasse o mais perto possível.

Ele uivou para chamar a atenção. Tirando suas laminas duplas preparou-se para o ataque, dois deles vieram em sua direção. Com golpes precisos ele os eliminou. O problema que atrás daqueles dois, tinham mais. Estavam em extrema desvantagem.

Foi aí que um vento frio passou pelo local, seguido por uma corneta. Adam já tinha ouvido aquele som, olhou para o céu e viu os guerreiros alados. “Agora a porra ficou séria”, rindo, mergulhou para acertar, mais daqueles não mortos.

***

— Aquilo são pássaros? — Perguntou Liz.

Melissa não tinha tempo e nem energia para olhar, para onde a outra menina apontava. Seu corpo estava ficando fraco, as bolas de fogo diminuíam. Antes acertava de dois a três, mas agora, mal atingia um.

— Não é um avião — riu histérica Karen. — Desculpa, quando fico com medo, começo a fazer piadinhas infames.

— Meninas eu... — Melissa não completou a frase e caiu de joelhos no chão. Completamente exausta, não conseguia lutar.

“Não posso mais” — pensou derrotada.

“Deixe-me assumir” — a voz pediu.

“O que vai acontecer se eu deixar Draco?”

“Irei queimar todos os não mortos”.

“E as meninas? Vão se machucar?”

“Não. Os elementares não podem afetar uns aos outros”.

Enquanto Melissa conversava com Draco, os silfos desceram do céu e se juntaram a batalha. Seis guerreiros dourados, munidos de espadas douradas, atacavam, qualquer não morto que chegava perto.

Silfos tinham a forma de homens, corpulentos, com asas brancas e violetas. O humano que alguma vez teve sorte de ver um deles, os confundiam com anjos, são dotados de grande beleza e vivem por mil anos sem nunca envelhecerem.

Liz tentou levantar Melissa, mas teve que retirar suas mãos quando o corpo da outra, começou a emitir calor, todo o ar ao redor pareceu convergir para o corpo dela, ele começou a brilhar.

Melissa levantou do chão e abriu os olhos, olhos de cor vermelho vivo. Seu corpo começou a levitar do chão. De seu braço uma lingueta de fogo nasceu, como se fosse um chicote. Todos no lugar pararam e a observaram. Quando estava no alto, parou para observar o cenário.

— IGNIS DRACONEM — pronunciou em latim.

O chicote tomou o formato de um dragão de fogo. Circundou seu corpo e desceu a Terra, acertando todos os não mortos. Um a um os vampiros foram carbonizados só restando cinzas. Depois do último queimar, o dragão voltou para ela e se fundiu ao seu corpo. Melissa fechou os olhos e seu corpo caiu, teria atingindo o chão se não fosse um vulto preto a pegá-la.

***

Nicolas chegou a tempo de ver o espetáculo que a nova recipiente do elemento fogo mostrava. No ponto de vista dele, era sempre um espetáculo Ignis Draconem. Fazia um milênio que não via aquele golpe.

Segurou mais forte o corpo da jovem em seus braços e observou o campo de batalha. Dois dos vampiros que tinha mandado viraram cinzas, os silfos e os lobos estavam reunidos, não era o momento de capturar as outras meninas. Por hora, o prêmio que tinha seria o suficiente.

Murmurou um feitiço que o possibilitava ficar invisível a todos, pulando de prédio em prédio se afastou do local. Há alguns quilômetros dali, seu carro com chofer o estava aguardando. Abriu a porta e depositou seu fardo com cuidado. Deu a ordem para partir de volta a sua casa.

Sabia que não seria fácil recuperar as meninas, que seus guardiões não iriam permitir os elementais surgir sem proteção. Por isso, mandou seus peões. Vampiros eram uma criação sua. Esta versão pelo menos. Antigamente essas criaturas não passavam de resquícios da podridão do ser humano.

Quando um humano comete um crime ou age de forma errada para com outro ser humano, sua alma vai apodrecendo aos poucos. E quando morre fica em extrema agonia para toda a eternidade, vão se fragmentando e os pedaços vagando pelo espaço, nunca sendo capaz de se completar novamente. A quem diga que este é o próprio purgatório.

Nicolas, depois de muitos estudos nas artes das trevas, conseguiu canalizar esses fragmentos e transferir de volta para o corpo humano. Assim nasceu o primeiro vampiro. Claro que o nome vampiro foi dado pela população, já que sua criação assim como os monstros da lenda bebia sangue humano, pois seu corpo não era capaz de filtrar ou renovar essa parte vital de seus sistemas, e não podia sair a luz do dia devido às trevas que habitavam dentro deles.

Afastando os cabelos da jovem em seu colo para ver seu rosto, arregalou os olhos surpresos.

— Minha Alicia — sussurrou maravilhado.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!