Alícia voltou para casa e, ao encontrar o olhar de desprezo da mulher de seu tio, recolheu-se para o seu quarto. As lágrimas rolavam pelo seu rosto, e a única coisa que parecia trazer-lhe felicidade era a ideia de uma noitada na balada. Ali, ela se sentia anestesiada para o mundo de dor que a cercava. Às vezes, recorria a pílulas que prometiam trazer alegria, iludindo-se de que isso a faria verdadeiramente feliz. Naquela noite, tudo o que Alícia queria era perder-se na balada, beber até ficar grogue e dormir na casa de uma amiga, só para evitar as críticas da mulher do seu tio.
Alícia dançava como nunca, deslizando pela pista ao som de "Natasha" do Capital Inicial, as luzes da balada passando por ela como raios de sol. Sua leveza atraía olhares, especialmente dos homens. Uma amiga se aproximou e lhe ofereceu um comprimido chamado LẞD, fazendo seu coração acelerar. Ela continuou dançando, entregando-se ao ritmo e beijando uma garota na pista. Com o amanhecer, Alícia saiu da balada com sua melhor amiga, Luana.
"O que aconteceu com você? Problemas na faculdade? Ou com sua 'tia'?", perguntou Luana.
"Ela não é minha tia, é só a esposa do meu tio. Não foi só ela, foi a vida", desabafou Alícia.
"Se cuida, você tem diabetes, eu sei que adora festas, mas tome cuidado, okay? Eu vou nessa. Você vai ficar mais um pouco?", questionou Luana.
"Sim, vou sair com aquela mulher. Ela é muito divertida", respondeu Alícia.
Ao acordar, Alícia encontrou uma mulher deitada do seu lado no motel, com um misto de pressa e constrangimento, despediu-se deixando seu telefone para contato. Após um banho demorado, ela percebeu que as memórias da noite anterior não desapareceram com a bebida. Isso a fez questionar se as pessoas que dizem ter apagões estão falando a verdade, pois com ela nunca funcionou. Sentindo-se envergonhada por ter saído com uma desconhecida, Alícia fechou os olhos, tentando focar nas partes positivas da noite, como o beijo em Cíntia. A lembrança desse momento se apoderou de sua mente, e ela revivia cada detalhe várias vezes, até tentar afastar essas memórias. Depois de se trocar, Alícia preparou um café sem açúcar e tomou, dirigindo-se ao quarto para pegar sua bolsa, onde encontrou a cópia da união estável, e só de enfrentar as brigas e birras de Cíntia e Camila, fazia questionar se valeria ir a faculdade neste dia.
No primeiro dia de aula após se tornarem oficialmente "casadas". Enquanto tentavam se encarar, suas mentes foram invadidas por lembranças do passad
____________Flashback ____________
"Faz seis meses que estamos juntas, próximo semestre está aí, vamos marcar um dia para sairmos", sugeriu Alícia.
"Boa ideia", concordou Tâmara.
"Eu não tenho dinheiro, alguém se habilita a pagar para mim?", perguntou Camila.
"Certo, vamos marcar no dia em que todos receberem, eu estou zerada", comentou Cíntia.
Era uma realidade difícil para Cíntia, que ganhava pouco e enfrentava dificuldades financeiras em casa. Por isso, tinha poucas peças de roupa para usar no trabalho e na escola.
"Não vem com essa, eles já vão pagar o meu. Não dá para pagar para todos", rebateu Camila.
"Eu não sou do tipo que vai nas costas de ninguém", respondeu Cíntia, determinada.
As brigas entre Camila e Cíntia eram frequentes, com ambas se provocando constantemente, mesmo fazendo parte do mesmo grupo. Apesar disso, não era raro vê-las em dias de paz, mas o cerne das divergências residia em suas personalidades e posicionamentos políticos. Cíntia, de inclinação mais religiosa, tendia a apoiar ideias tradicionais, enquanto Camila se posicionava de forma contrária a esse tipo de pensamento. Essas diferenças fundamentais alimentavam os conflitos entre elas, tornando suas interações muitas vezes tensas e desafiadoras.
Alícia recorda vividamente o momento em que fixou os olhos em Cíntia ao revelar a todos, no McDonald's, que era lésbica. O medo da rejeição por parte das amigas era avassalador, mas ela sentiu a necessidade de compartilhar sua verdade, especialmente ao encarar os olhos de Cíntia. No entanto, para sua surpresa, Cíntia permaneceu em silêncio, enquanto os outros expressavam surpresa diante da revelação, exceto Camila, que já estava ciente, pois ambas haviam compartilhado esse segredo uma com a outra anteriormente.
"Wow, sério? Nunca teria imaginado", disse Celso, dando um gole na sua coca.
"Relaxa, amiga, aqui ninguém vai te julgar, certo pessoal?", tranquilizou Tâmara.
"Claro, relaxa, cara. Sou de boa com isso", disse Fábio.
"Sem estresse, galera, só me preocupo se alguém mexer no meu lanche", brincou Celso, arrancando risadas.
"Eu sou lésbica, e nunca falei, mas vocês sempre souberam", revelou Camila.
Cíntia ficou em silêncio, impactada com a revelação. Ela nunca havia considerado a possibilidade, mas também nunca pensou se era certo ou errado. Sua visão estereotipada da realidade refletia mais sua própria bolha e falta de conhecimento sobre a complexidade humana do que qualquer preconceito real. Antes que pudesse compreender totalmente a situação, Camila a bombardeou com perguntas.
"Por que você não está apoiando nossa amiga? Ela precisa do apoio de todos", insistiu Camila.
"Calma, Camila, só estou tentando entender tudo", respondeu Cíntia.
"Não precisa entender nada, só respeitar e pronto", interveio Camila.
" Eu tenho minha fé, não estou sendo preconceituosa, mas não sei o que dizer." disse Cíntia.
As discussões logo se iniciaram, quase estragando o dia de paz. Por sorte, o grupo se deparou com uma loja de discos antigos, onde todos entraram para explorar as relíquias. Lá, tiraram uma foto de Alícia e Cíntia, sem que elas percebessem, enquanto examinavam as capas dos álbuns.
Alícia volta à realidade com a foto desse dia em mãos, a mesma imagem que foi usada para sugerir que elas tinham uma vida juntas. A lembrança daquele momento especial na loja de discos antigos a faz sorrir. Ela se lembra da sensação de descoberta ao explorar as capas dos álbuns ao lado dos amigos, e como aquela foto capturou um momento genuíno de conexão entre eles. Mesmo com todas as incertezas e desafios que enfrentaram desde então, essa lembrança traz um certo conforto e certeza de que, apesar de tudo, há uma história verdadeira entre os amigos da faculdade.
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Atualizado até capítulo 52
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