Capítulo 4: Revisão

Cíntia deu espaço para que Alicia pudesse tocar sua língua...sua mente ainda tentando processar a ideia de dar o primeiro beijo em sua ex-amiga. Era uma situação tão surreal que ela mal conseguia acreditar que estava acontecendo

Alicia, por sua vez, estava determinada a tornar o momento o mais simples possível, mas ainda assim especial o suficiente para não levantar suspeitas. Ela podia sentir as batidas aceleradas do coração de Cíntia, refletindo sua própria ansiedade e excitação.

Para Cíntia, não era apenas um beijo com uma mulher, era o seu primeiro beijo na vida. O nervosismo a consumia, não apenas pelo beijo em si, mas também pelo medo de que Alicia pensasse que ela beijasse mal.

Era impossível sentir qualquer coisa além da própria tensão. No entanto, havia uma eletricidade no ar, foi um momento breve, mas carregado de significado. Cíntia sentiu uma mistura de emoções inundando-a, enquanto Alicia, surpreendida pela intensidade do momento, também experimentava arrepios percorrendo seu corpo.

Após o beijo, elas se afastaram, olhando uma para a outra com uma mistura de surpresa e vulnerabilidade. Ao se voltarem para o funcionário do cartório, encontraram um sorriso caloroso, e parabéns pela união.

Ao sair do cartório, foram abordadas por fotógrafos oferecendo seus serviços para registrar o momento. Alicia e Cíntia optaram por se dirigir diretamente a Tâmara, que as aguardava do lado de fora.

"Como foi lá dentro? Deu tudo certo?", perguntou Tâmara, preocupada ao notar a expressão de desespero nas faces das duas.

"Sim, deu tudo certo", respondeu Alicia, tentando soar confiante, apesar das emoções tumultuadas dentro dela.

Cíntia, por outro lado, sentia uma mistura de alívio e confusão. Ela não conseguia processar totalmente o que acabara de acontecer. Era uma mistura de emoções, desde a ansiedade de estar em uma situação tão inesperada até a estranheza de ter experimentado seu primeiro beijo com uma amiga de longa data, que a pouco tempo virou sua inimiga, agora estavam unidas perante a lei.

Tâmara percebeu a tensão nos rostos das duas e deu um sorriso encorajador. "Vocês estão bem?", perguntou, preocupada.

Cíntia respirou fundo, tentando acalmar seus nervos. "Sim, estamos bem. Foi... acho que normal, e estranho lá dentro", respondeu, com um sorriso tímido.

Alicia assentiu, concordando com as palavras de Cíntia. "Sim, definitivamente, estranho", acrescentou, ainda processando tudo o que havia acontecido.

Tâmara deu um suspiro de alívio. "Que bom que deu tudo certo. Agora, vamos celebrar essa nova etapa juntas", sugeriu, com um brilho nos olhos.

"Comemorar? Como assim?", questionou Cíntia, ainda confusa com tudo o que tinha acabado de acontecer.

"Amiga, agora vocês vão poder desfrutar do convênio à vontade, e isso também serve como registro caso haja alguma investigação, embora eu não acredite que isso vá acontecer", explicou Tâmara, tentando acalmar os ânimos.

"Você acha que vão nos investigar?", perguntou Cíntia, com medo evidente em sua voz.

Tâmara instantaneamente se arrependeu de ter mencionado essa possibilidade.

"Amiga, todos os convênios têm uma carência de um ano, mas você tem um projeto feito pela sua empresa, que é uma parceira valiosa do convênio. Sei que pode parecer errado, estamos abusando desse benefício, mas é por uma boa causa, e o sistema sempre nos prejudicou", argumentou Tâmara, buscando justificar a situação.

"Eu me sinto mal por isso, com medo de ser descoberta. E se alguém do RH descobrir que tenho uma união estável com uma mulher? Isso poderia se espalhar", desabafou Cíntia, revelando suas preocupações.

"Viu como ela não é preconceituosa", comentou Alícia, com um tom de deboche.

"Não é nada disso, eu só...", tentou se explicar Cíntia, antes de ser interrompida por Tâmara.

"Não é por nada não, mas vocês estão na porta do cartório brigando", Tâmara interveio, trazendo um momento de leveza para a tensão crescente entre elas.

As duas se entreolharam, o silêncio pairando entre elas. 😶

"Então vamos, estou faminta", disse Cíntia, tentando dissipar a tensão do momento. 🍽️

Elas seguiram em direção a um restaurante próximo ao cartório, enquanto um flashback invadia a mente de Alícia:

🎞️ Flashback [Alícia na Faculdade]

Em 2020, Alícia adentrava pela porta da faculdade, já fazia duas semanas desde o início das aulas. Ela havia escolhido um curso pelo qual muitos diziam que ela ficaria desempregada para sempre: Fotografia. Normalmente, a graduação duraria cerca de 3 anos, mas ela optara por uma faculdade que se estendia por 4 anos.

Ela tentou se encontrar no meio da turma, observando os colegas ao redor. Viu uma garota de cabelos cacheados presos, aparentando um humor não muito bom, que sequer a olhou nos olhos. Depois, uma garota que parecia ser do vale, e Alícia pensou que talvez pudesse se aproximar dela. Havia também uma garota de expressão séria, mas de origem amigável, e um rapaz um tanto esquisito. O restante da turma parecia composto por pessoas maduras, focadas apenas nos estudos, sem muito interesse em fazer amizades.

Justamente nesses dias, o professor solicitou que fizessem um trabalho em grupo. Alícia não sabia com quem se enturmar. Pensou em se juntar ao grupo da garota que aparentava ser do mesmo grupo LGBTQ+ que ela, mas porém no grupo dela tinha a garota estava com uma expressão azeda. 🤔

A garota de cabelos cacheados, se chamava Cíntia, e a que parecia ser do vale, Camila, estavam discutindo sobre a evolução das fotografias para o trabalho em grupo. Camila afirmava que a máquina fotográfica foi criada depois da televisão, enquanto Cíntia argumentava que ela surgiu antes do cinema. A discussão, de alguma forma, tomou um rumo de intolerância, com Camila sugerindo que Cíntia só implicava com ela por ser diferente.

"Você está de brincadeira comigo? Eu apenas disse que a máquina fotográfica existia antes do cinema. Se colocarmos a informação errada no trabalho, corremos o risco de receber uma nota baixa", explicou Cíntia, tentando manter o foco na qualidade do trabalho.

"Eu sei que você não gosta de mim porque sou quem sou", retrucou Camila, visivelmente revoltada.

"Você é chata, isso sim! Só se for por esse motivo, que eu implico com você", rebateu Cíntia, deixando escapar sua frustração.

"Por favor, gente, parem", interveio Tâmara, tentando acalmar os ânimos e organizar o grupo.

Enquanto isso, Alícia estava no meio do fogo cruzado, apenas cumprindo sua parte do trabalho em silêncio, observando as duas se atacarem verbalmente. Ela preferia manter-se neutra na discussão, focando em contribuir para o sucesso do projeto. 📸🎥

Houve um momento em que os olhos de Cíntia pareceram estar fixos em Alícia, talvez por curiosidade devido ao fato de Alícia ser uma novata, embora apenas por duas semanas, já que todos na sala eram novatos, ou talvez fosse apenas uma impressão. Apesar da beleza de Cíntia, sua escolha de roupas deixava a desejar: ela sempre usava uma única blusa de moletom cinza, estampada com Frajola, faça chuva e faça sol, uma calça desbotada, e um tênis feio, que mais parecia uma bola de futebol americano 🏈 Uma bolsa rosa brilhante e um cinto com fivelas grandes completavam o visual, criando uma figura diferente.

Outra pessoa que não conseguia desviar o olhar de Alícia era Camila, que Alícia suspeitava ser da região do vale. Os olhos de Camila pareciam penetrar fundo nos de Alícia, deixando-a envergonhada com tamanha intensidade do olhar.

Alícia estava determinada a iniciar uma conversa com Cíntia, mas estava se sentindo insegura. No entanto, quando finalmente reuniu coragem para fazê-lo, Camila interveio e iniciou a conversa com ela. Isso deixou Alícia desapontada, e ela percebeu Cíntia se afastando um pouco mais. Alícia não conseguia entender por que sentia essa vontade de conversar com aquela mulher, cujo estilo de vestir ela considerava totalmente brega, e cujo temperamento parecia ser um tanto estressado.

No presente, Alícia sentiu uma estranha sensação. A garota com quem ela tanto queria se aproximar agora era oficialmente sua mulher, ou algo do tipo. Essa ideia parecia surreal para ela, considerando como tudo começou na faculdade e agora tinham dado esse passo inesperado, mesmo que fosse tudo de mentirinha.

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