Capítulo 15

" Tá, e o que eu faço agora ?"

" O mais importante, você já pediu desculpas?" Anne pergunta

Eu fico um minuto em silêncio, sentindo um desconforto misturado com constrangimento...

" Esse tapete é novo?" Eu pergunto desviando a conversa

" Adrian!" Ela diz com um tom repreensivo

" Não, eu não pedi... Mas eu cuidei dela aquela noite...era pra tudo ficar numa boa " Reclamo

" Meus parabéns por ter cuidado dela, depois de intoxicar ela!" Zade diz com sarcasmo

Eu solto um suspiro frustrado me afundando ainda mais no sofá

" Eu...eu não sei como fazer isso...Se eu chego perto dela ela sai , ou fica trancada naquele quarto. Eu bato na porta, ela não responde e só sai depois que eu saio de casa"

" Como você sabe?" Zade pergunta

" Por que um dia eu saí de casa e fiquei olhando na janela, depois de alguns minutos ela desceu e foi pra cozinha comer" Explico

Já tinham se passado vários dias desde que ela ficou doente

Dark: " Quinze dias pra ser mais exato. Mas quem está contando não é mesmo?" Ele debocha

" A sinceridade é a chave......" Zade diz

" Tenha paciência, e vai tentando aos poucos até conseguir falar com ela... Não tô dizendo que vai ser fácil. Ela é uma boa moça....mas a coitada passou por muita coisa por isso ela é fechada...se você perguntasse você ia ver que vocês tem coisas em comum...." Anne diz

" Tipo o que?"

" Tipo, a mãe dela também morreu depois de dar a luz....O pai dela criou ela sozinha, assim como o seu.... até ele morrer e deixar ela só " Ela diz

" Como o pai dela morreu?"

"E um dia quando saíram pra caçar eles foram atacados por lobos e o pai dela morreu por conta dos ferimentos. A coitada ficou morando lá, sem ninguém. Teve que aprender a enfrentar tudo sozinha, e ela sempre teve muito medo de ir pra longe de casa procurar ajuda e acontecer o mesmo...Então é normal ela criar essa barreira pra não se machucar emocionalmente...ainda mais depois de perder tudo..." Anne conta

Foi exatamente o que aconteceu aquele dia...

Aquele dia eu tinha ido colocar o plano em prática.

Basicamente eu ia tentar ' comprar ' ela....iria oferecer comida, um teto e segurança. Iria chamar ela pra ir até a aldeia, e depois que ela entrasse ia dar um jeito de fazer ela ficar, mas o pretexto é que ela teria que ficar na minha casa como minha noiva...claro eu só ia contar isso depois de convencer ela a ficar....

Essa parte eu não gostei nem um pouco, já Dark....

Só que se eu não tivesse ido até lá....

Espera....

" Você disse que eles foram atacados por lobos?" Pergunto e ela concorda com a cabeça

" Ela me falou que foram alfas e betas, provavelmente da aldeia do norte...." Ela diz

Meus olhos se estreitam um pouco

Dark :" Tá pensando o mesmo que eu?"

Adrian :" Tem coisa aí...."

Dark :" Será que não era melhor a gente ir até a casa dela investigar?"

" Zade....preciso da sua ajuda..." Digo

Ele me olha com uma cara desconfiada

" Não mesmo" Ele responde

" Prometo que não é nada arriscado" Digo

Ele balança a cabeça negativamente soltando um suspiro

Quando fica escuro e todo mundo já está dormindo, eu pego minha mochila, volto pra casa de Zade e bato na porta.

" Se eu voltar sem minha bunda,eu te mato" Ele diz quando abre a porta, me fazendo dar uma leve risada

Eu entro, então ele fecha a porta.

Ele pega a mochila dele e nós saímos pela porta dos fundos....

Vamos andando pelo jardim e então entramos pelos becos mais escuros, indo em direção a passagem que eu usava pra sair escondido

Nós deixamos nossas mochilas ali , cobrindo elas pra ninguém conseguir ver e então nos transformamos.

Dark vai correndo um pouco mais a frente, guiando Orion até a casa de Ayla.

Depois de percorrermos minutos a fio, nós chegamos....

" Era aqui que ela morava?" Orion pergunta

" Sim...." Dark responde

" O que devemos procurar?"

" Qualquer coisa fora do comum..." Dark diz

As chamas tinham devorado tudo, deixando apenas destroços e cinzas. As paredes estavam enegrecidas e desmoronadas, o telhado desabado formando um monte de entulho

A luz da lua se filtrava através das lacunas nos destroços, criando padrões sombrios e irregulares no chão coberto de cinzas.

Dark avança com determinação, seus sentidos aguçados buscando qualquer indício que pudesse fornecer pistas sobre o que aconteceu ali. Orion o seguia de perto, varrendo o cenário de destruição com uma mistura de curiosidade e apreensão.

De repente, Orion emite um rosnado baixo, indicando que encontrou algo. Dark corre em sua direção, e meu coração acelera com a possibilidade de uma descoberta crucial.

"O que você encontrou, Orion?" Ele pergunta

Orion aponta para um canto da sala, onde uma pilha de destroços carbonizados se destaca. Avançamos até lá, e é então que sinto o cheiro peculiar, uma mistura de substâncias químicas....

"Isso não parece ser resultado do incêndio", murmuro para Dark, minha mente trabalhando para entender o que poderia ter causado aquilo.

" Você sabe o que é isso Orion?" Dark pergunta

"Isso é napalm", ele explica sombriamente. "Um produto químico altamente inflamável e extremamente perigoso. Era usado como arma de destruição na aldeia do Sul antes da divisão, mas depois foi banido da nossa aldeia."

Meu coração afunda ao ouvir aquelas palavras.

"Como você sabe disso?", Dark pergunta

Ele suspira, parecendo um pouco desconfortável com a lembrança.

"Eu... tive alguns encontros desagradáveis com napalm no passado", admitiu. "Uma vez, quando estava vigiando a aldeia do Norte, senti esse cheiro. Foi uma experiência... memorável."

Orion pensou por um momento...

"Parece que alguém está desesperado para chamar a atenção da aldeia do Sul", ele conclui, sua voz carregada de preocupação. "Queimar as alcatéias separadas é uma tática desesperada, mas não é a primeira vez que vemos isso acontecer."

Dark fica parado pensando

" Ou pode ser uma distração...." Murmuro pra Dark

" Como assim uma distração?" Ele pergunta

" Às vezes eles querem nos deixar tão preocupados com as alcatéias externas, que esquecemos da nossa própria aldeia..." Explico

" Então o que sugere? Deixar as alcatéias externas sem ajuda?" Orion pergunta

" Só pelo fato de eles quererem ficar separados das duas aldeias já mostra que não querem nossa ajuda, deixem se virarem por conta própria " Dark resmunga

" Eu concordo com Dark, mas não podemos deixar eles sem nenhuma ajuda.... Mas vamos focar em cuidar da segurança da nossa aldeia primeiro, reforçando ela...." Digo

" Devemos comunicar o que vimos aqui para os membros do conselho?" Orion pergunta

" Não.... O que vimos aqui, fica aqui..." Dark diz

" Entendido." Orion responde

" Vamos voltar..." Ordeno

Assim que estamos saindo, a minha atenção é atraída pra um brilho reluzente no meio dos escombros iluminados pela luz da lua.

"Dark..." Eu Digo e logo ele está andando em direção ao objeto

Entre os destroços, tinha um objeto delicado, um pingente de prata, parcialmente derretido pelas chamas, mas ainda sim dava pra identificar o que seria uma lua...

" Pode ser importante pra ela.... Vamos levar e descobrir..."

Com cuidado, Dark recolhe o pingente, o prendendo em sua mandíbula

Então nós partimos dos destroços de volta à aldeia....

Quando chegamos, vamos até nossas mochilas, nos transformamos e vestimos nossas roupas, entrando de novo na aldeia.

Da casa de Zade eu vou pra minha, entrando sorrateiramente, tentando não fazer barulho pra não acordar ela.

Eu deixo o colar no meu criado mudo e vou tomar um banho.

Depois do banho eu me deito exausto, e só percebo que peguei no sono quando acordo com o despertador.

Eu me visto pra ir pro escritório, pego o colar guardando em meu bolso, e desço as escadas, fazendo o máximo de barulho possível pra acordar ela e chamar sua atenção.

Vou até a porta, abro e fecho ela com um pouco de força, mas continuo dentro.

Com passos leves eu me escondo na parede da cozinha e espero...

Um tempo depois eu escuto sua porta se abrir, e os seus passos descendo as escadas e andando pela casa.

Quando ela entra na cozinha eu dou um passo à frente aparecendo atrás dela de repente

"Tá me evitando?", pergunto, deixando minha voz carregar uma mistura de frustração e curiosidade.

Seu pulo de surpresa confirmou que eu tinha conseguido o que queria.

Ayla se vira bruscamente ao ouvir minha voz, seus olhos mostrando uma mistura de surpresa e irritação.

"Precisamos conversar."

"Não há nada para conversar", ela responde secamente, tentando desviar de mim e subir as escadas novamente, mas eu dou um passo em sua direção impedindo ela de sair dali

"Ayla, por favor", eu insisto, meu tom suplicante. "Só... só me dê uma chance...."

Ayla permanece parada, sem olhar para mim, mas eu posso sentir a tensão no ar.

"Eu sei que fui um idiota", começo, minha voz soando mais rouca do que eu gostaria.

Dark: " Fala mais "

"Disse coisas que não devia, agi de maneira que me envergonha agora que olho para trás. Eu não tenho desculpas pro que eu fiz e eu mereci tudo que fez comigo.....por isso eu gostaria de me redimir." Continuo

Ela não responde, mas também não se afasta, o que eu tomo como um pequeno sinal de esperança.

Dark :"Muito vago. Especifique como foi um idiota, por que senão ela não vai lembrar. Até por que é o que você é na maior parte do tempo "

Eu respiro fundo

"Eu não deveria ter confiado em Melany daquela forma....Foi um erro terrível, eu lamento profundamente por isso...lamento por ter brigado com você e....lamento por não ter sido o apoio que precisava..."

Há um momento de silêncio....

Então, finalmente, ela levanta a cabeça pra me encarar, seus olhos cheios de cautela.

"Você realmente acredita em tudo o que está dizendo?" ela pergunta, sua voz baixa e carregada de desconfiança.

Eu respiro fundo, encontrando sua expressão séria com sinceridade nos meus próprios olhos.

"Sim", eu digo com convicção. "Eu realmente acredito."

Ayla me observa por um momento, avaliando minhas palavras e minha expressão.

Me sinto exposto diante dela, vulnerável de uma maneira que não estou acostumado.

Finalmente, ela parece relaxar um pouco, mas ainda mantém uma certa reserva.

"Não sei se posso simplesmente esquecer tudo o que aconteceu", ela murmura, sua voz um sussurro quase inaudível.

Eu me aproximo lentamente, sentindo um desejo de tocar seu rosto para confortá-la, mas resisto ao impulso.

"Entendo", digo suavemente, escolhendo minhas palavras com cuidado. "Sei que não será fácil, mas não quero que nossa convivência seja assim. Quero que possamos, pelo menos, ser cordiais um com o outro." Digo com uma voz mais suave

Ela assente lentamente, parecendo considerar minha proposta. Eu me sinto um pouco aliviado ao ver que ela está disposta a tentar.

"Eu gostaria disso", ela murmura " Seria mais fácil... Passar por tudo isso sem esse ódio todo..." Ela diz sem me olhar

Eu olho pra ela, sentindo coisas que eu nunca senti...

Sinto vontade de abraçar ela, sinto vontade de ser melhor....

Dark :" REAGE! Vai ficar aí babando por ela? Alimente ela, faça ela se sentir cuidada!"

" O que acha de começarmos pelo café da manhã?" Pergunto e ela concorda com a cabeça sem me olhar "Vou fazer algo pra gente então.."

Dark :"Adrian, não ouse estragar isso. Você precisa impressioná-la", ele começa a me encher enquanto preparo o café da manhã

Eu reviro os olhos mentalmente, um suspiro escapando dos meus lábios enquanto tento me concentrar na tarefa em mãos.

Adrian: "Eu sei, Dark, eu sei", respondo com uma pontada de irritação. "Eu farei o melhor que puder."

Eu sinto o olhar atento e desconfiado de Ayla sobre mim, e a pressão de Dark só aumenta meu nervosismo....

Enquanto tomamos café, ambos ficamos em silêncio...

E um silêncio desconfortável...

Dark:" Fala com ela"

Adrian:" O que? Eu não sei o que falar....eu tenho medo de abrir minha boca e amanhã amanhecer com a cara pintada de novo..."

Dark :" Humano fraco....Repita o que eu disser, sem exceção. Apenas repita "

Suspiro internamente, aceitando a estratégia de Dark. Ele sempre foi meticuloso e cuidadoso, e confiar em sua orientação parece ser a melhor opção neste momento.

Adrian: "Entendi, Dark", murmuro em resposta, me preparando para seguir suas instruções.

Com um leve pigarro, me viro para Ayla, pronto para repetir as palavras que Dark me orientar a dizer.

Dark: "Ayla,... quero... que você saiba... que... Valorizo a oportunidade de... ter uma convivência... pacífica... com você."

"Ayla, eu... quero que você saiba que ... valorizo a oportunidade de... ter uma convivência pacífica com você."

Enquanto repito as palavras de Dark, me sentindo um tanto desconfortável com a situação, mas mantenho minha expressão neutra, esperando pela reação de Ayla.

Dark: "E que... estou disposto a fazer o que for preciso... para tornar as coisas... menos difíceis para você."

"E que... estou disposto a fazer o que for preciso para tornar as coisas menos difíceis para você."

Ayla observa silenciosamente, seus olhos expressando uma mistura de surpresa e desconfiança.

Dark: "Reconheço que as coisas não começaram... da melhor forma... mas espero... que possamos mudar isso... a partir de agora."

"Reconheço que as coisas não começaram... da melhor forma entre nós... mas espero que possamos mudar isso... a partir de agora."

Dark :" E seu cheiro é delicioso "

" E seu cheiro é delicioso " Só depois que as palavras saem da minha boca é que eu percebo.....

Ela arregala o olho, parecendo surpresa e um tanto quanto desconcertada, suas bochechas ficando um pouco rosadas, fazendo ela desviar o olhar

Adrian :" Dark seu pulguento maldito!"

Dark :" O que foi? As fêmeas gostam disso"

Adrian :" Se você tivesse aqui eu ia tosar seus pêlos e te deixaria parecendo que pegou sarna"

" Desculpa...eu não quis dizer isso...quer dizer, não é que seu cheiro é ruim, e-" Eu te tô concertar

Dark:" Só cala a boca cara"

Ayla assente lentamente, mas não diz nada, mantendo seu olhar baixo como se estivesse estudando o prato.

Adrian :" Que vontade de sumir...."

Dark :" Eu não queria tá na sua pele...."

Adrian :" Se eu ouvir sua voz de novo, eu juro que vou te castrar...."

Eu respiro fundo

" Obrigada por ter cuidado de mim aquele dia..." Ela murmura ainda olhando pro prato

Dark:" Se ela soubesse que foi você que deixou ela assim "

Adrian:" Fecha a matraca!"

" Não precisa agradecer..... " Eu digo com a voz suave

Dark :" Pelo menos serviu pra aproximar vocês...."

Adrian :" É..... Pelo menos.... "

Ayla volta a comer sua comida ainda em silêncio mas percebo que ela está mais relaxada...

Depois que comemos eu me levanto e vou recolher os pratos

" Pode deixar...eu faço isso " Ela diz pegando o prato da minha mão

" Obrigado...." Digo " Bem eu vou indo....até mais " Digo e ela assente com a cabeça

A medida que saio de casa sinto um sorriso se formar em meus lábios...

Dark :" Hmmmmm, mas é um bocó mesmo " ele diz rindo

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***