Eu tô fazendo diferente

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Acho que meu coração nunca esteve tão acelerado na minha vida.

Deslizo minhas mãos nas costas de Silvia fazendo um carinho pra retribuir o que ela faz no meu cabelo enquanto eu continuo sentindo o cheiro bom pra cacete que ela tem. Tenho que me lembrar de ir com calma com ela, não posso ultrapassar os limites aqui porque ela já me mostrou que eles são o que mais tem.

Volto a encarar a loira de olhar doce e tiro meu celular do meu bolso. Entrego pra Sil desbloqueado e ela me olha meio confusa.

- Anota seu número de telefone aí, eu não tenho e quero e preciso dele.

Ela dá um sorriso bem pequeno e digita o número na tela, salva o contato dela com o apelido e um coração duplo, cor de rosa.

- Eu vou entrar agora, boa noite pra você.

Guardo meu celular de volta no bolso e não resisto a beijar ela uma última vez pra me despedir, quero sentir de novo e garantir que eu não estou sonhando feito um idiota. Silvia enrosca as mãos no meu cabelo enquanto o gosto bom que o beijo dela tem invade meus sentidos mais uma vez.

💭Que mulher maravilhosa💭

Ela me dá um sorriso bonito quando eu solto e vai andando pra dentro de casa enquanto eu ando até Domenico. Chego em casa e nem cogito a hipótese de tomar um banho, quero sentir por mais tempo o cheiro dela em mim.

Eu não preciso nem dizer que não consigo dormir rápido porque cada vez que fecho meus olhos ela aparece na minha mente.

********

Chego da academia e me sento pra tomar café na bancada da cozinha.

- Que cara é essa?

Rita coloca uma xícara na minha frente e serve café pra mim.

- Que cara?

- Essa de quem parece que viu uma revoada inteira de passarinhos verdes cantantes.

Abro um sorriso pra ela, um dos bem grandes.

- Porque eu vi uma revoada inteira.

Ela estreita os olhos pra mim e joga uma piadinha.

- A calcinha que você tirou noite passada era de diamantes? Nunca vi você tão empolgado assim depois de sair com uma mulher.

Não seguro a risada alta enquanto passo uma geléia em uma fatia de pão.

- Eu não tirei calcinha alguma ontem, Rita...

Levanto os olhos pra ela.

-... mas tenho que admitir que mesmo não tirando ela foi de longe a melhor mulher com quem eu já estive.

Isso pega ela de surpresa de um jeito que eu achei que nem fosse possível, mas também eu não julgo a reação dela. Eu nunca achei que fosse dizer uma coisa dessa.

- E quem é essa?

- A Silvia.

Rita ajeita os óculos no rosto e sorri pra mim.

- Já que viu que ela é diferente, então faça valer a pena.

Dou uma piscada pra ela e digo que vou fazer.

Depois de comer eu tomo um banho rápido e antes de trocar de roupa eu mando uma mensagem pra Sil. Embora eu esteja morrendo de vontade de ouvir a voz gostosa que ela tem eu sei que tá muito cedo pra isso, e ela provavelmente está na aula agora.

📱- Só pra dar bom dia e dizer que foi ótimo te ver ontem.

Quando chego na oficina vejo Brandon com a cara enfiada no Camaro. Ele chegou cedo hoje.

- Bom dia, bom dia!

Ele me olha franzindo a testa, com certeza intrigado pelo meu bom humor de hoje.

- Bom dia, não vou nem me dar ao trabalho de perguntar se está tudo bem porque isso é óbvio.

Entro no vestiário pra me livrar da minha calça e da camiseta e me enfiar no meu macacão.

- O que tem pra hoje?

Meu amigo usa a Biela que está segurando pra apontar dois esportivos de luxo.

- Dois playboys decidiram apostar um racha em uma pista de corrida estreita, o resultado são os dois garotos ali com a pintura deformada e mais um milhão e meio na conta da Saved.

Ando até os dois que não tem nenhum amassado, mas quando dou a volta vejo que parecem ter ralado um no outro. Abaixo olhando a porta direita da Lamborguini Veneno grafite e depois viro meus olhos pra porta do motorista da Bugatti Bolide laranja. Elas tiveram transferência de cor.

- Pode aumentar pra dois. Esse laranja da Bolide é um inferno pra tirar!

Me levanto quase chorando por causa desse pecado automotivo, a gente tá falando aqui de pouco mais de nove milhões de dólares em carros. Acho que se um dia eu tiver um filho tão burro a esse ponto, eu cubro ele na porrada.

**********

Na hora do almoço eu sinto meu telefone vibrando, olho pra tela e abro um sorriso vendo o nome gravado com os corações na tela.

📲🔊 - Oi!

A voz gostosa responde pra mim o oi animado.

📲🔊 - Oi! Eu só vi sua mensagem agora que cheguei em casa, esse final de curso tá uma loucura. Tudo bem com você?

Acabou de ficar perfeito agora, mas eu vou usar essa brecha pra fazer uma coisa que eu nunca fiz antes.

📲🔊 - Vai ficar tudo ótimo se você aceitar meu convite pra ver um filme hoje e depois dar uma passada no Nobu. Você gosta de japonesa, não gosta?

Ela demora uns instantes pra responder, mas quando faz eu imagino que esteja sorrindo, o tom de voz deu uma mudada sutil.

📲🔊 - Gosto sim, quer me encontrar lá quando?

Estalo a língua.

📲🔊 - Eu te busco em casa lá pelas dezenove. Tudo bem pra você esse horário?

📲🔊 - Tudo ótimo! Te espero mais tarde, beijo.

Brandon olha pra mim e eu vejo que ele está meio desacreditado.

- Você chamando uma mulher pra ir no cinema em plena segunda e depois comer um japa?!

Ele deixa o garfo e a faca e coloca a mão na minha testa.

- Você tá bem?

Mostro o dedo do meio pra ele.

- Se você conseguiu uma namorada decente por que eu não posso tentar conquistar uma também?

 A pergunta dele me faz abrir um sorriso.

- Quem é ela?

Corto o bife a milanesa no meu prato enquanto respondo de maneira casual:

- Depois eu te apresento. A única coisa que eu posso dizer é que ela é perfeita, sem exagero algum.

**********

No horário combinado eu paro na porta da casa dela, Sil vem usando um conjunto de short de alfaiataria e uma blusa larga de mangas curtas e que mostra uma pequena faixa de pele na barriga. Estou do lado de fora de Domenico, e quando ela para perto de mim a diferença de altura fica gritante. Eu não sei como ela é baixinha, afinal de contas os pais dela são altos, mas a gente precisa lembrar que a vó dela parece um enfeite de jardim, como Nikolai gosta de dizer. Acho que Silvia puxou a senhora Rivers nesse quesito, e ela de tênis hoje deixa isso mais evidente. O salto de ontem deu a ela uns centímetros a mais.

- Quê que foi?

Ela olha pra baixo como se tivesse avaliando a própria roupa.

- Eu tô feia?

Dou uma risadinha com o questionamento genuíno dela.

- Acho isso uma coisa impossível de acontecer. Eu estou pensando que nem sua mãe é tão baixinha assim, apesar de ter uns o quê? Uns trinta centímetros a menos que seu pai? Mas você não puxou a altura dela, é mais baixa ainda, puxou a sua vó.

Ela faz um bico, parece que esse é um ponto delicado pra ela.

- Meu pai tem um e noventa e três, ela é exatos vinte e quatro centímetros mais baixa que ele. Eu tenho um centímetro a menos que a altura da minha vó, um e cinquenta e oito. Vai me chamar de enfeite de jardim também?

Seguro o riso, ela é menor que eu trinta e um centímetros. Tá explicado porque é a primeira vez que eu a vejo com tênis, até pra faculdade ela usa algum sapato mais alto, mesmo que não seja exatamente uma sandália com salto fino. Ontem usava um que devia ter um salto quinze.

- Não, não vou te chamar disso, foi só uma curiosidade vendo você assim. É a primeira vez que não te vejo em cima de algo com alguma diferença de altura.

Ela abre a boca pra me responder, mas para no meio do raciocínio. Silvia parece pensar sobre outra cosa agora, ela pisca umas duas vezes e depois diz:

- Reparava tanto em mim assim que sabe até sobre minha preferência por sapatos?

Agora quem pisca pensando sou eu. Nunca me atentei a isso, não mesmo.

- Bom, parece que sim.

Ela abre um sorriso e fica na ponta dos pés indicando que quer ganhar um selinho, eu me abaixo pra beijar ela e seguro o riso mais uma vez com a situação. Abro a porta do carro e ela se acomoda no banco da frente e quando chegamos no cinema eu pego a mão dela achando graça também de como é minúscula se comparada com a minha.

- Quer pipoca?

Ela nega com a cabeça.

- Quero um milkshake.

Os olhos dela brilham quando o atendente do quiosque entrega o maior que ela conseguiu achar no cardápio, vem com uma camada grossa de Nutella na borda e ela ganha uma colher descartável pra comer o doce quando o sorvete acabar.

- *Depois eu reclamo que meu metabolismo é lento e eu tô com a b*nda grande*.

Olho pra cima soltando um suspiro.

💭Isso definitivamente não é algo que ela deveria reclamar💭

Silvia chama a minha atenção enquanto eu pego meu refrigerante.

- Quer um pouco?

Dou um sorriso de canto pra ela.

- Agora não, depois eu quero te beijar com a boca doce.

Ela desvia os olhos rápido enquanto o rubor de leve atinge as bochechas dela.

- Vamos, a gente vai perder o começo da sessão.

*********

Coloco a mão esquerda na minha boca enquanto olho Silvia manuseado o hashi. Ela é toda delicada com os pausinhos, mergulha um sashimi de atum no tarê e solta um gemido de apreciação quando leva na boca.

- Isso aqui devia ser considerado um crime, né?

Ela pega mais um pedaço de peixe, tempera e me entrega na boca e eu fico pensando se em algum momento, mesmo no meu devaneio mais íntimo, eu achei que faria isso aqui com qualquer mulher que fosse.

De repente ela revira os olhos e eu pergunto o que foi.

- Um daqueles infelizes.

Silvia aponta com o queixo em direção ao vidro e eu olho pra fora vendo um homem parado com uma câmera. Olho pra ela de novo e nego com a cabeça.

- Não se preocupa com ele.

- Eu queria ser que nem você, desapegado, um dia eu meto o louco e saio uma semana direto com a mesma roupa só pra impedir eles de ganharem dinheiro.

Nós dois damos uma risada lembrando de que eu fiz isso já, me inspirei em um ator e copiei a idéia.

- Foi um jeito que eu encontrei de deixar claro que a minha vida não é interessante como eles pensam só porque eu carrego o sobrenome que eu carrego.

Sil revira os olhos mais uma vez.

- Mas você faz exatamente o contrário levando a vida que leva, não acha? Não é raro achar uma ou outra garota ganhando cinco minutinhos de fama com seu nome.

Dou de ombros pra ela e decido fazer uma gracinha.

- Agora tá na sua hora de ganhar fama.

Ganho um tapa sem vontade no meu peito e pego a mão dela pra dar um beijo. Aproveito pra olhar bem nos olhos lindos dela e que são tão intensos.

- Mas falando sério aqui... Você não é uma delas, eu não estou fazendo o que eu costumo fazer e mesmo assim não dou a mínima pra eles. Só quero prestar atenção aqui, na gente, nós dois somos muito mais interessantes do que tá rolando lá fora.

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