Um pouco de ciúme

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Abro a porta da frente e dou um sorriso vendo minha mãe e Mandy. A dona Milene me abraça apertado quase me sufocando.

Minha mãe é uma mulher muito bonita, não tô dizendo porque é a minha mãe, mas é mesmo. Ela nem parece que teve filhos, foi mãe muito jovem, ela e meu pai já estão com trinta e dois anos de casados.

Tem o cabelo castanho mantido em um chanel bem cortado e sempre está bem vestida.

Ela analisa tudo com os olhos azuis examinadores que tem e abre um sorriso vendo a casa que eu escolhi.

- Nossa, é muito bonita.

Dou um beijo na bochecha de Mandy e depois respondo ao comentário da minha mãe.

- É, não é? Eu escolhi bem, acho.

As duas me seguem até a sala de jantar onde a Rita arrumou tudo pra gente, eu falei com ela pra colocar um prato a mais e se sentar pra jantar. Minha mãe e minha irmã também gostam muito dela, Rita acaba me vigiando e fazendo o papel que as duas não conseguem fazer porque não estão o tempo todo por perto.

- Fico feliz que tenha saído daquela lata de sardinha em que morava.

Mandy revira os olhos e eu também.

- Mãe, vai começar?

Ela mexe nas jóias de casamento.

- Ah, meu filho, eu não me conformo. Não aceito o jeito como você escolheu viver a sua vida.

Apoio meus cotovelos na mesa.

- Não me apoia vivendo do meu próprio trabalho? Preferia que eu fosse um desses playboys que vivem de gastar o dinheiro que os pais ganham?

Ela faz um bico contrariada.

- Não é bem assim, eu só acho que tem tantas coisas que você poderia já ter avançado. Por exemplo, o jeito como comprou essa casa. Vai passar a vida toda em um financiamento?

Gesticulo com as mãos enquanto tento argumentar com minha mãe.

- É o que as pessoas fazem por aí pra conseguirem uma vida decente, não é? Eu ainda sou muito privilegiado, porque ganho o suficiente pra ter carros caros na garagem e conseguir morar em um condomínio ótimo pagando a prestação e a taxa daqui.

Ela faz uma cara ruim e Mandy entra na conversa pra que isso nao vire o muro das lamentações.

- Mãe, vamos só aproveitar a noite e comemorar com o Eric. Ele está feliz, então a gente também fica.

*********

Depois de jantar eu levo as duas pra dar uma volta pela casa e depois pelo jardim. Eu ando com elas até que Rita e minha mãe se distraem conversando e eu fico só com Mandy.

- Como estão as coisas, Éli?

Coloco as mãos nos meus bolsos enquanto andamos devagar em volta da piscina.

- Estão ótimas, acho que em breve vou contar outra novidade pra vocês.

Eu fui sondado por uma indústria química e talvez eu lance uma linha própria de tintas automotivas de alta temperatura. Era um sonho antigo e depois que a Saved saiu em uma revista especializada sobre carros e restaurações, eu consegui entrar na mira de boas oportunidades.

- Fico tão feliz de te ver assim, cheio de planos e sorrindo por cada conquista. Eu vou confessar que também iria preferir que você usasse os recursos que a nossa família tem, mas entendo seu lado.

Paro e tiro minha mão direita da minha calça. Entrego a ela um recibo de depósito que fiz hoje, como os antigos faziam. Eu fui em uma agência e depositei na boca do caixa eletrônico.

- Toma, é a última.

Minha irmã revira os olhos pra mim.

- Eu odeio quando você faz isso. O pior é que eu sequer sei onde você tem conta, se soubesse já teria te devolvido todo esse dinheiro.

Fecho a cara pra ela.

- Eu te pedi um empréstimo pra cursar a faculdade, até onde eu sei empréstimos precisam ser pagos. Eu sei que você me devolveria, exatamente por isso que eu faço questão de depositar de um jeito que não vai deixar rastros pra você fazer isso.

Passo a língua pelos meus lábios.

- Quero te agradecer, Dy. Você acreditou em mim quando ninguém acreditava, me emprestou aquele valor alto mesmo com todas as chances de eu fazer uma merda das grandes com ele. Foi só por sua causa que eu consegui entrar na faculdade naquela época e conhecer Brand pra me dar a oportunidade que ele me deu e que me trouxe até aqui. Sem você nada disso teria acontecido.

Ela faz uma carinho no meu rosto com a mão direita e sorri pra mim de um jeito afetuoso.

- Eu sempre vou acreditar em você e sempre vou torcer por sua vitória. Eu sei que o jeito que escolheu pra fazer isso é mais difícil, mas que também tem um gostinho especial em cada conquista sua.

Quando minha mãe volta pra perto de nós ela diz que quer conversar comigo a sós. Eu ando com ela até a gente se sentar no futon preto do meu jardim de estar.

- Eu quero saber como estão as coisas. Você está bem?

Dou um sorriso pra tranquilizar ela.

- Estou mais do que bem.

Ela segura minhas mãos e sorri pra mim de um jeito largo.

- Seu pai te mandou um oi.

Só faço um gesto de cabeça pra ela.

- Diz que eu mandei um também.

Meu pai e eu não somos muito próximos hoje em dia, mas quando eu era criança ele era meu herói. Eu o decepcionei muito e ele também falhou comigo, então nós nos mantemos em uma distância segura pra evitar novos traumas emocionais.

Minha mãe mexe na bolsa pequena dela.

- Eu trouxe pra você.

Faço uma cara ruim vendo o pedaço de plástico preto que ela carrega.

- Achei que essa porcaria já tinha vencido.

- E venceu, seu pai mandou fazer outro pra que eu trouxesse. A senha é sua data de aniversário.

Pego o cartão e quebro no meio, minha mãe contrai a boca em uma linha fina.

- Mãe, eu já disse tantas vezes...

Ela me interrompe.

- Eu sei que você já disse pra gente doar esse dinheiro pra instituições de caridade, a gente já doa muito e você sabe, só queremos você bem. Seu avô e seu pai trabalharam a vida inteira pra que conforto nunca faltasse para os descendentes deles e você age como se isso fosse uma maldição. Seu pai se arrepende do que te disse e você já provou que não depende de nada da gente, podia pelo menos aceitar o cartão.

Me aproximo dela e dou um abraço e um beijo na sua cabeça.

- Mãe, eu não tenho raiva do meu pai e sei que ele também não tem raiva de mim. A minha recusa em viver usando esse dinheiro é pelo fato de não precisar dele, eu não estou fazendo isso de birra e nem nada, só escolhi viver do meu trabalho mesmo. Eu tenho conforto, e muito, a diferença é que eu parcelo esse conforto em várias prestações pra caberem no meu bolso. Eu vou te dizer algo que eu já disse ao senhor Hitch quando nós dois fizemos as pazes: sou extremamente grato por ter ouvido dele o que ouvi uma vez, porque isso me impulsionou a criar minha própria vida e história. Dou valor ao meu trabalho e as minhas conquistas e isso jamais aconteceria se eu estivesse acomodado e usando um cartão Black sem limites. O senhor Hitch moldou o meu caráter, mesmo que com duras palavras, mas era o que eu precisava na época.

*********

Jogo o jaqueta de napa por cima da camiseta destroied que escolhi hoje e escolho um gorro na gaveta.

Não quis companhia pra noite de hoje, quero só curtir a festa de Brand. Pego minhas chaves e o envelope com o presente que resolvi dar a ele.

A conveniência de estar no mesmo condomínio de Nick me permite ir pra festa a pé, e quando eu chego no lugar eu avisto ele e Brand conversando.

- Feliz aniversário, imprestável!

Toco na mão dele e dou um abraço.

- Trouxe uma coisa pra você.

Entrego a ele o envelope e ele abre logo dando um sorriso quando lê.

- Então você fechou mesmo com eles?

- Fechei sim, e quero te propor vinte por cento nos negócios em troca de você usar só a minha marca em todas as unidades.

Brand guarda o envelope.

- Com toda a certeza.

Pergunto a ele onde eu encontro a cerveja e ele me indica o bar que Silvia montou na festa. Ela organizou tudo mesmo, tem bastante gente conhecida e alguns que nunca nem vi, mas imagino que sejam amigos dela. Me aproximo do balcão.

- Pega uma cerveja pra mim, por favor?

O cara faz um gesto com a cabeça e quando se vira pra pegar uma long neck eu sou abordado por uma garota ruiva de farmácia. Ela me entrega um papel dobrado e quando eu abro tem um preservativo da marca que eu gosto de usar. Franzo a testa vendo isso e leio o número de telefone anotado com um nome: Ava.

Olho pra ela e reparo nos olhos escuros destacados por uma maquiagem bem feita e o piercing do nariz bem na Bridge. A ponte dela está enfeitada por duas bolinhas pretas como eu tenho na minha sobrancelha direita.

Ela sorri de um jeito malicioso pra mim.

- É o Eric, não é?

Dou um sorriso de canto reparando no corpo dela destacado por um vestido de courino e na tatuagem no colo que representa um coração alado.

- Eu mesmo, posso deduzir que você seja Ava.

A ruiva confirma com a cabeça e morde o lábio inferior depois de me responder:

- Isso mesmo.

- Desculpa, mas eu não te conheço e estou me perguntando como sabe da Jontex aqui.

Ela desliza o indicador direito pelo meu peito.

- Ouvi falar muito bem de você, te vi parado aqui e não podia desperdiçar a oportunidade. Mel me disse que é sua preferida e que uma só não é suficiente em uma noite, quem sabe mais outras não surjam pra nós hoje?

Pego o papel que ela me deu e dou um beijo antes de guardar junto com a camisinha.

- Quem sabe? A noite é uma criança travessa, que custa a ir embora.

Ouço uma voz conhecida falando atrás de mim.

- Ah, pra mim, deu!

Olho e vejo Silvia esperando o garçom preparar três drinks de abacaxi pra ela. Ela está com uma cara feia.

- Que foi? Tá com ciúme?

Ela ri de um jeito debochado.

- De um cara que se veste igual a mendigo e que eu não troco nem meia dúzia de palavras? Vai sonhando, Hitch!

Olho pra Ava e dou uma piscada.

- Depois te chamo, pode ir.

 Volto a olhar a senhorita Rivers-Stanton.

- Uma estudante de moda com preconceito em uma camiseta com buracos que eu paguei uma fortuna?

Silvia pega as três taças e me olha em um tom debochado.

- *Gosto é igual c*, cada um com o seu*.

Aaaaaaah, garota atrevida!

Eu gosto.

Ela ainda vai gemer meu nome, eu sou paciente.

Sil se afasta levando as bebidas até as amigas e eu observo ela se juntando em uma roda. Tem Madison próxima de uma cara que não sei quem é e ela está próxima de um cara almofadinha que também nunca vi e se veste feito um João bobo.

O cara é um ordinário.

Como eu sei? Está com a mão na cintura dela mas não tira os olhos da b*nda de uma amiga nossa. Provavelmente ele age como um príncipe com a bobinha ali e ela não imagina o safado que ele seja.

Me aproximo de Brandon e falo com meu amigo.

- Você não se incomoda da sua irmã ficar com aquele babaca?

Brand se vira pra mim franzindo a testa.

- Que babaca?

Aponto pra direita e mostro a ele a irmã sendo abraçada pelo infeliz.

- Qual é o seu interesse na minha irmã, Hitch?

Ah, inferno!

- Nenhum, só não acho que aquele cara alí seja boa coisa.

Ele parece focar a atenção na roda e não gosta da proximidade de Madie com o outro cara.

Nikolai para perto de nós dois e Brandon aproveita pra saber quem é a companhia da amiga da irmã.

- Ele se chama Oliver, é primo do Douglas Strauss, o ficante da Silvia.

Strauss? Eles não são os barões da borracha? Acho que é um negócio assim.

Brandon inspira fundo e anda até eles, eu fico crente que vai botar um fim na patifaria de Sil, mas ele vai direto acabar com a proximidade Madie com o tal Oliver.

Reviro meus olhos vendo a cena. Esse besta tá apaixonado pelo visto...

Minha consciência me atinge com um soco de verdade:

💭 E você tá chamando ele de besta, mas tá com ciúme de alguém quem nem gosta da sua cara💭

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Comments

Michele Aparecida da Silva Bonfim

Michele Aparecida da Silva Bonfim

Tá querendo enganar quem? Esses homens que se acham o fodao, são os.primeiros a virar cadelinhos kkkkk

2024-04-27

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