Através Do Seu Olhar

Através Do Seu Olhar

Capítulo 1

" Oi Nathan...." Digo sem graça, após ele atender "Eu estou tentando falar com o Dave e não estou conseguindo... você sabe me dizer se está tudo bem?"

" Oi Kate...o Dave tá de atestado....achei que soubesse...Ele ligou essa manhã e disse que estava resfriado e iria ficar em casa..." Ele diz

Coitadinho...

Ele deve ter evitado me falar pra não me deixar preocupada...

" Há sim.... obrigada pela informação, vou ver se consigo falar com ele.... Muito obrigada" Digo e logo em seguida desligo

Eu aproveito que estava no horário de almoço e passo no restaurante que vendia uma canja deliciosa.

Quando pego a canja eu vou levar pra ele

Subo no elevador e caminho até o apartamento dele.

Abro a porta e assim que entro eu acabo tropeçando em algo....

Eu me abaixo e tateio encontrando o chão duro e frio.

Tateio mais um pouco até sentir o que parecia ser um par de sapato....de salto fino....

Eu tateio ele até sentir na ponta algo gelado...metálico e áspero...como um broche...

Eu não uso salto fino...

Coloco o sapato no canto e vou andando até o quarto

" Amor?" O chamo em voz alta

Meu coração martelava no peito enquanto minhas mãos tremiam ao tocar a maçaneta.

" Oi! Oi Kate! " Dave aparece bem na minha frente " O que você tá fazendo aqui?"

Ele parece nervoso, sua voz estava ofegante e trêmula...

" Eu...eu fiquei sabendo que estava doente e então eu vim ver como estava....eu trouxe uma canja..." Digo

Eu escuto algum barulho em cima da cama, do colchão afundando com a mola e logo disfarçado com barulho de tosse de Dave.

Era um ruído leve, quase imperceptível, mas o suficiente para me fazer estremecer.

Eu vou tocar nele e ele segura minha mão

" O-o que tá fazendo?" Ele pergunta

" Estou vendo se está com febre...." Digo

Ele leva minha mão até a sua testa e de fato ele estava suado, mas não estava com febre.

Meu coração começa bater descompassadamente. Eu sabia o que isso significava, mesmo que não quisesse acreditar.

" Bem...." Eu forço um sorriso "Eu vou por a sopa em cima da mesa, e voltar pro serviço. É melhor voltar pra cama"

" Tá bom..." Ele diz .

Eu tateio até a maçaneta e fecho a porta do quarto

Ando até a mesa e coloco a sopa ali. Vou até a porta logo em seguida, abro ela e a fecho fazendo barulho, mas continuo do lado de dentro...

Fico ali, imóvel, ouvindo atentamente.

" Achei que ela não ia embora nunca! " Uma voz feminina diz de sentindo quarto

E não qualquer voz feminina....

Era uma voz familiar...

Minha prima....

Eu reconheceria essa voz de pato esganiçado ate embaixo da água

Um nó se forma em minha garganta, enquanto a traição parecia me sufocar.

" Você acha que ela sabe?" Ele pergunta

" Claro que não! Ela é uma sonsa, mosca morta, nem se ela enxergasse e a gente fizesse na frente dela, ela ia desconfiar .....agora volta aqui que a gente tem que continuar o que a gente parou..." Ela diz e logo escuto alguns murmúrios de ambos

Então aos poucos...murmúrios se transformam em gemidos

Acompanhados do barulho da mola da cama

Meu estômago começa a embrulhar, eu sinto nojo, sinto vontade de gritar, e vomitar

As lágrimas caem pelo meu rosto enquanto um nó se forma em minha garganta como se tivesse me impedindo de respirar

Eu giro a maçaneta devagar e abro a porta saindo logo em seguida em silêncio.

Eu pego a bengala,tentando achar o caminho de volta pro elevador.

Cada movimento, cada passo marcado pela dor e pela decepção que ameaçavam me engolir.

Quando as portas do elevador se abrem eu entro e aperto o botão do térreo com dedos trêmulos, me apoiando na parede, tentando não desabar no chão

O silêncio do elevador era ensurdecedor, apenas amplificando o eco dos meus pensamentos sombrios.... Até que as portas se abrem novamente e com passos automáticos eu estou no hall de entrada, enfrentando a dura realidade que me esperava do lado de fora.

Sinto uma presença próxima....

"Está tudo bem, senhorita?"a voz do porteiro sooa gentil

Engolindo o choro, eu tento fazer o meu melhor para parecer calma

"Sim, só... só poderia chamar um táxi para mim, por favor?" Peço, minha voz saindo mais trêmula do que eu queria.

" Claro...."

Com uma náusea crescente, espero, perdida em meus próprios pensamentos dolorosos.

Após alguns minutos de espera angustiante, finalmente escuto passos se aproximando.

Um sentimento de alívio passageiro se mistura com a dor persistente em meu peito

"O táxi está a caminho, senhorita."

Apenas assinto, agradecendo interiormente pela gentileza do homem que mal conhecia. Com passos hesitantes, sigo em direção à entrada do prédio...

O ar frio da tarde, me acolhe enquanto eu enfrentava o mundo lá fora.

Cada passo era uma batalha contra as lágrimas que ameaçavam cair novamente a qualquer momento.

Ao entrar no táxi, eu simplesmente não conseguia aguentar mais e finalmente me permiti desabar. As lágrimas fluíram livremente, lavando a dor e a decepção que me consumiam por dentro.

Me afundo no assento, me entregando à minha tristeza, enquanto o carro me levava para casa....

......................

As batidas na porta ecoaram pela sala, quebrando o silêncio pesado que envolvia o ambiente, me fazendo dar um pequeno salto.

"Kate....sou eu "Meu coração deu um salto de surpresa ao reconhecer a voz chamando por mim do outro lado.

Com um suspiro de alívio e gratidão, me levanto do sofá e caminho até a porta.

Com mãos trêmulas, destranco a porta e a abro....

"Ei Topeirinha....o que foi que aconteceu? Eu te liguei, você não atendeu, te esperei no restaurante e você não apareceu..." Ela para por um momento e, conhecendo ela, ela tá passando um raio-x em mim

" VOCÊ TA CHORANDO?! Quem fez você chorar?!" Ela pergunta ficando brava

Um sorriso triste se forma em meus lábios...

Dorothy era minha única família, mesmo não tendo parentesco comigo...

Éramos completamente o opostos...ela tinha a personalidade forte e não levava desaforo pra casa...

Já eu...era realmente uma mosca morta...Ela sempre me defendia, desde que nos conhecemos...ela sempre esteve lá pra mim...

Nossa amizade começou no fundamental....

Era meu primeiro dia de aula e alguns garotos estavam me intimidando na hora do recreio.... e ela me defendeu. Na verdade ela deu uma surra nos garotos e colocou eles pra correrem....foi a primeira que nós falamos

Ela disse pra mim sempre andar com ela assim ninguém ia mexer comigo...e assim foi... Não nos separamos mais... Dorothy tem um coração enorme e é uma pessoa maravilhosa...

Quando eu precisei, ela foi a primeira a me acolher em todos os sentidos, e a família dela era como minha família....

Éramos irmãs, pra falar a verdade, mesmo que não tivéssemos o mesmo sangue correndo em nossas veias, ainda assim éramos irmãs de coração, e nada, nem ninguém podia mudar isso....

"Entra..." Murmuro dando espaço na porta pra ela passar

Escuto seus passos decididos ecoando pela sala.

Eu me afundo no sofá, me sentindo frágil e vulnerável, mas ao mesmo tempo grata por sua amizade inabalável.

"Kate, o que aconteceu?" Ela pergunta sua voz carregada de preocupação genuína

E então, as lágrimas começaram a fluir, rompendo as barreira que eu passei a tarde toda tentando construír ao meu redor.

Entre soluços e lágrimas, conto pra ela sobre a traição de Dave e Brittany, junto com o peso da dor avassaladora que me consumia por dentro.

Ela me abraça me oferecendo consolo até que as minhas lágrimas acabem...

Quando meu choro se transforma em apenas suspiro, ela se afasta e eu sinto seu toque gentil em meu rosto, enquanto ela limpa as lágrimas

" É o seguinte...eu vou precisar que você cuide dos meninos pra mim, não vai ser por muito tempo , é só até eu voltar da cadeia, por que essa noite eu vou matar aquele desgraçado" Ela diz com uma calma que chega a ser engraçado

Eu seguro seu braço

"Dorothy, por favor, não. Não vai resolver nada", murmuro

"Mas Kate, ele não pode sair impune depois do que fez com você, nem ele nem a vaca da sua prima! Eu sabia que aquela sebosa tava de cima igual um urubu.... Ela sempre sentiu inveja de você, aquela....espantalha!"

Eu não posso conter uma pequena risada, mas logo ela se desfaz e eu balanço a cabeça

"Eu sei, eu sei. Mas não quero mais drama. Já é humilhante o suficiente...." Respondo

Dorothy parece relutante em aceitar minha decisão, mas finalmente cede, deixando escapar um suspiro frustrado.

"Tudo bem, Kate. Mas saiba que estou aqui para o que precisar. E se um deles ousar aparecer novamente, vai se ver comigo" Ela diz, sua voz saindo determinada e protetora

" Obrigada, Dory" Digo fazendo ela dar uma leve risada

Eu chamava ela assim por que além de ser uma abreviação de seu nome, ela me lembrava e muito a Dory de 'Procurando o nemo', ela era até um pouco desmemoriada...

E ela me chamava de Toperinha, por conta de uma piada interna que tínhamos.

Sempre que ela dizia que eu era uma pessoa top eu respondia: "Eu sou tão top, que se eu fosse um animal, eu seria uma toupeira"

E depois do que eu acordei no hospital nós brincávamos e eu dizia que eu realmente me transformei em uma Toupeira

Aqui vai uma pequena aula de biologia:

As toupeiras são mamíferos que vivem embaixo da terra. Elas tem olhos tão pequenos que não enxergam praticamente nada...então elas usam o olfato e audição...

Acho que já deu pra entender a similaridade...

Ela se levanta do sofá

" Onde você vai?" Pergunto

" Onde eu vou, não. Onde nós vamos. Você vai pegar suas roupas e nós vamos pro restaurante. Você vai ficar com a gente hoje..." Ela diz

"Dory...eu não quero incomodar é sério..." Murmuro

" Não é incomodo. E o restaurante também é seu, oras. E os pirralhos estão morrendo de saudades de você " Ela diz me fazendo dar uma leve risada

Seguindo as instruções dela, me levanto do sofá e sigo para o quarto para pegar minhas roupas. Dory vem me ajudar, suas mãos hábeis encontrando facilmente minhas roupas e as dobrando, enquanto eu as escolho. Era reconfortante ter sua presença e apoio em momentos como esse.

Pouco tempo depois estamos no restaurante dela

Ela dizia que esse restaurante era meu por que eu dei as minhas economias pra ela e John poderem montar ele...

E felizmente tudo deu certo. O restaurante é a fonte de sustento deles, e os ajudavam a dar uma boa vida pra Emily e Evan, os gêmeos deles...

Não era um restaurante cinco estrelas, mas era muito bom....

Ela me leva até minha mesa de sempre

"Kate, que bom que você veio!" John, esposo de Dory, diz com uma voz calorosa que eu respondo apenas com um leve sorriso

Pouco tempo depois escuto vários passos rápidos, correndo em minha direção

"Tia Katzilla, você veio!" Evan diz com empolgação

No meu processo de adaptação eu simplesmente derrubava tudo...era um completo desastre...causando caos por onde eu passava...tipo o Godzilla... Então pros pequenos eu virei a Katzilla

"É tão bom te ver vocês, meus pirralhinhos " Digo recebendo abraços calorosos em resposta...

Eu amava essas praguinhas, e considerava eles como meus sobrinhos...

Falando em parentesco....minha prima? É uma longa história, mas vou dar um pequeno resumo...

Basicamente ela era da família por parte da minha mãe...a única com quem eu tinha contato esporádico.... E quando digo esporádico, é apenas pra saber de vez em quando como ela tá....

Eu e Britany éramos próximas quando pequenas...na verdade eu passava mais tempo na casa da minha tia do que na minha própria casa, então basicamente crescemos juntas...

Ela era 4 anos mais nova que eu.

Ela era legal comigo... Estava sempre comigo, sempre queria usar minhas roupas, ou as minhas coisas...

Nas palavras dela : " Eu te admiro tanto....eu quero ser como você quando ficar mais velha..."

Acho que ela levou isso ao pé da letra....

Enquanto eu me acomodo na cadeira com as crianças, começo a ouvir os sons familiares de pratos sendo colocados sobre a mesa.

"Isso aqui é só pra começar" Dorothy diz com um tom de voz travesso. "Temos petiscos, algumas delícias para você saborear, e claro, uma boa bebida apenas para adultos, pra acompanhar."

Dou uma leve risada...Dory conseguia me deixar sempre com o astral lá em cima, mesmo nas piores situações...

" Titia , a gente pode experimentar essa bebida de adultos?" Emilly cochicha pra mim.

" Só quando você completar trinta anos, mocinha. E de preferência longe de outros meninos" Brinco fazendo ela rir

" Tá bom. Vocês dois, pra cima. Agora" Dorothy diz

" Ahh mas a gente quer ficar com a titia Kate" Emily diz e pela voz manhosa ela deve estar fazendo bico

Eu acompanho e faço um leve biquinho também

" Viu? Até a tia Katzilla quer que a gente fica " Evan fala

" Eu quero muito, mas eu preciso conversar um pouco com a mãe de vocês... Mas se vocês prometerem se comportar, quando for o dia do meu pagamento, eu levo vocês pra assistirem o filme que quiserem" Digo

Escuto os suspiros de animação deles

" Com direito a pipoca e docinhos?" Evan pergunta

" Com direito a tudo que quiserem" digo e eles me abraçam

Eu aperto o abraço, e era como se aquelas criaturinhas com toda sua inocência conseguissem reparar rachaduras que elas nem tinham causado

" Pronto, agora pro quarto." Dory diz e então escuto os passos deles se afastando

Escuto ela enchendo dois copos e colocando na minha frente com um pouco de força pra que eu escute onde ele está.

Sinto o aroma característico do álcool pairando no ar, misturado com o cheiro reconfortante da comida do restaurante. É um cheiro familiar, que me faz sentir em casa, apesar das circunstâncias.

Eu solto um suspiro cansado

" Dory eu não tô afim de chorar na frente dos outros...e se eu começar eu não vou conseguir parar " Murmuro

" Mas não tem ninguém além da gente aqui" Ela diz

" Claro que tem!"

" Você tá vendo alguém?" Ela pergunta com um tom de voz brincalhão me fazendo rir

" Não é por que eu não enxergo que não significa que elas não estão la..."

"Ah, claro, claro", Ela responde, rindo mais ainda. "Você vê tudo, Kate. Absolutamente tudo!"

" Besta... Eu tô ouvindo eles " Digo rindo de leve

" Ah relaxa, é só a música ambiente que achei na internet pra parecer que meu restaurante é frequentado. Agora para de coisa que a gente vai encher a cara" Ela brinca

Eu solto um leve suspiro e com cuidado eu tateio até encontrar o copo

Eu ergo o copo em direção a ela e pouco tempo depois escuto o barulho dos copos se chocando em um leve brinde

Eu viro de uma vez , sentindo sua textura suave deslizando pela minha garganta e o sabor familiar e reconfortante do álcool.

Enquanto desfrutamos da bebida e do ambiente acolhedor do restaurante, consigo sentir a vibração das vozes das pessoas ao nosso redor, misturadas com o som suave da música ambiente.

Apesar da tristeza que ainda persiste dentro de mim, consigo sentir um leve alívio.

Com o fechamento do restaurante, John se junta a nós à mesa.

"Parece que os pequenos finalmente estão dormindo", Ele diz, puxando uma cadeira e se sentando conosco. "E então Kate...o que acontecendo?" John pergunta, sua voz cheia de preocupação.

Respiro fundo antes de responder, reunindo coragem para compartilhar com ele o que está pesando em meu coração.

"Eu descobri que além de cega eu sou corna" Murmuro " O Dave... Ta me traindo com minha prima " Minha voz começa a embargar e meu estômago a embrulhar ao relembrar mais uma vez do que ouvi.....

E então o choro começa a vir de novo...

Sinto a mão de Dory sobre a minha, e a mão de John sobre meu ombro

"Sinto muito, Kate.... Você merece alguém muito melhor do que ele....alguém que te valorize." John diz com a voz suave.

A medida que eu consigo me acalmar eu começo a contar pra ele o que aconteceu...

" Bem... Querida o que acha de deixarmos a guarda das crianças com a Kate? Só até a gente voltar da prisão. " John diz com uma voz brincalhona

" Você pega o Dave e eu pego aquela bruaca?" Dorothy pergunta pra ele

" Fechado" John diz e então eu escuto um barulho de palmas se chocando, como em um hig five

Apesar da dor que ainda ecoa em meu coração, não posso deixar de sorrir com as palavras brincalhonas de Dory e John. Seu humor peculiar e seu apoio inabalável são como um bálsamo para minha alma ferida, trazendo um leve alívio mesmo nos momentos mais sombrios.

"Vocês dois são loucos", murmuro entre soluços, mas não consigo evitar o riso que se mistura às lágrimas em meu rosto. "Mas obrigada. Por estarem aqui por mim...."

Sinto a mão de Dory apertar a minha com firmeza, seu toque transmitindo uma sensação de conforto e solidariedade.

"Sempre, Kate. Sempre estaremos aqui para você, não importa o quê."

"Você não está sozinha, Kate. Vamos resolver isso juntos, como uma família." Ouvindo a voz de John, sorrio, me sentindo grata

Apesar da dor e da traição, sei que não estou sozinha nesta jornada.

E assim, com o apoio amoroso de meus amigos ao meu lado, me sinto um pouco mais forte, um pouco mais capaz de enfrentar os desafios que estão por vir.

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Comments

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

Começando....29/09/2024

2024-10-01

1

Gislaine Oliveira

Gislaine Oliveira

Eu Tb espero, apesar dessa prima ser capaz de fazer isso e muito mais

2024-08-14

2

Grace 🌻🌷

Grace 🌻🌷

Queria te substituir 😮‍💨

2024-07-30

1

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