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Através Do Seu Olhar

Capítulo 1

" Oi Nathan...." Digo sem graça, após ele atender "Eu estou tentando falar com o Dave e não estou conseguindo... você sabe me dizer se está tudo bem?"

" Oi Kate...o Dave tá de atestado....achei que soubesse...Ele ligou essa manhã e disse que estava resfriado e iria ficar em casa..." Ele diz

Coitadinho...

Ele deve ter evitado me falar pra não me deixar preocupada...

" Há sim.... obrigada pela informação, vou ver se consigo falar com ele.... Muito obrigada" Digo e logo em seguida desligo

Eu aproveito que estava no horário de almoço e passo no restaurante que vendia uma canja deliciosa.

Quando pego a canja eu vou levar pra ele

Subo no elevador e caminho até o apartamento dele.

Abro a porta e assim que entro eu acabo tropeçando em algo....

Eu me abaixo e tateio encontrando o chão duro e frio.

Tateio mais um pouco até sentir o que parecia ser um par de sapato....de salto fino....

Eu tateio ele até sentir na ponta algo gelado...metálico e áspero...como um broche...

Eu não uso salto fino...

Coloco o sapato no canto e vou andando até o quarto

" Amor?" O chamo em voz alta

Meu coração martelava no peito enquanto minhas mãos tremiam ao tocar a maçaneta.

" Oi! Oi Kate! " Dave aparece bem na minha frente " O que você tá fazendo aqui?"

Ele parece nervoso, sua voz estava ofegante e trêmula...

" Eu...eu fiquei sabendo que estava doente e então eu vim ver como estava....eu trouxe uma canja..." Digo

Eu escuto algum barulho em cima da cama, do colchão afundando com a mola e logo disfarçado com barulho de tosse de Dave.

Era um ruído leve, quase imperceptível, mas o suficiente para me fazer estremecer.

Eu vou tocar nele e ele segura minha mão

" O-o que tá fazendo?" Ele pergunta

" Estou vendo se está com febre...." Digo

Ele leva minha mão até a sua testa e de fato ele estava suado, mas não estava com febre.

Meu coração começa bater descompassadamente. Eu sabia o que isso significava, mesmo que não quisesse acreditar.

" Bem...." Eu forço um sorriso "Eu vou por a sopa em cima da mesa, e voltar pro serviço. É melhor voltar pra cama"

" Tá bom..." Ele diz .

Eu tateio até a maçaneta e fecho a porta do quarto

Ando até a mesa e coloco a sopa ali. Vou até a porta logo em seguida, abro ela e a fecho fazendo barulho, mas continuo do lado de dentro...

Fico ali, imóvel, ouvindo atentamente.

" Achei que ela não ia embora nunca! " Uma voz feminina diz de sentindo quarto

E não qualquer voz feminina....

Era uma voz familiar...

Minha prima....

Eu reconheceria essa voz de pato esganiçado ate embaixo da água

Um nó se forma em minha garganta, enquanto a traição parecia me sufocar.

" Você acha que ela sabe?" Ele pergunta

" Claro que não! Ela é uma sonsa, mosca morta, nem se ela enxergasse e a gente fizesse na frente dela, ela ia desconfiar .....agora volta aqui que a gente tem que continuar o que a gente parou..." Ela diz e logo escuto alguns murmúrios de ambos

Então aos poucos...murmúrios se transformam em gemidos

Acompanhados do barulho da mola da cama

Meu estômago começa a embrulhar, eu sinto nojo, sinto vontade de gritar, e vomitar

As lágrimas caem pelo meu rosto enquanto um nó se forma em minha garganta como se tivesse me impedindo de respirar

Eu giro a maçaneta devagar e abro a porta saindo logo em seguida em silêncio.

Eu pego a bengala,tentando achar o caminho de volta pro elevador.

Cada movimento, cada passo marcado pela dor e pela decepção que ameaçavam me engolir.

Quando as portas do elevador se abrem eu entro e aperto o botão do térreo com dedos trêmulos, me apoiando na parede, tentando não desabar no chão

O silêncio do elevador era ensurdecedor, apenas amplificando o eco dos meus pensamentos sombrios.... Até que as portas se abrem novamente e com passos automáticos eu estou no hall de entrada, enfrentando a dura realidade que me esperava do lado de fora.

Sinto uma presença próxima....

"Está tudo bem, senhorita?"a voz do porteiro sooa gentil

Engolindo o choro, eu tento fazer o meu melhor para parecer calma

"Sim, só... só poderia chamar um táxi para mim, por favor?" Peço, minha voz saindo mais trêmula do que eu queria.

" Claro...."

Com uma náusea crescente, espero, perdida em meus próprios pensamentos dolorosos.

Após alguns minutos de espera angustiante, finalmente escuto passos se aproximando.

Um sentimento de alívio passageiro se mistura com a dor persistente em meu peito

"O táxi está a caminho, senhorita."

Apenas assinto, agradecendo interiormente pela gentileza do homem que mal conhecia. Com passos hesitantes, sigo em direção à entrada do prédio...

O ar frio da tarde, me acolhe enquanto eu enfrentava o mundo lá fora.

Cada passo era uma batalha contra as lágrimas que ameaçavam cair novamente a qualquer momento.

Ao entrar no táxi, eu simplesmente não conseguia aguentar mais e finalmente me permiti desabar. As lágrimas fluíram livremente, lavando a dor e a decepção que me consumiam por dentro.

Me afundo no assento, me entregando à minha tristeza, enquanto o carro me levava para casa....

......................

As batidas na porta ecoaram pela sala, quebrando o silêncio pesado que envolvia o ambiente, me fazendo dar um pequeno salto.

"Kate....sou eu "Meu coração deu um salto de surpresa ao reconhecer a voz chamando por mim do outro lado.

Com um suspiro de alívio e gratidão, me levanto do sofá e caminho até a porta.

Com mãos trêmulas, destranco a porta e a abro....

"Ei Topeirinha....o que foi que aconteceu? Eu te liguei, você não atendeu, te esperei no restaurante e você não apareceu..." Ela para por um momento e, conhecendo ela, ela tá passando um raio-x em mim

" VOCÊ TA CHORANDO?! Quem fez você chorar?!" Ela pergunta ficando brava

Um sorriso triste se forma em meus lábios...

Dorothy era minha única família, mesmo não tendo parentesco comigo...

Éramos completamente o opostos...ela tinha a personalidade forte e não levava desaforo pra casa...

Já eu...era realmente uma mosca morta...Ela sempre me defendia, desde que nos conhecemos...ela sempre esteve lá pra mim...

Nossa amizade começou no fundamental....

Era meu primeiro dia de aula e alguns garotos estavam me intimidando na hora do recreio.... e ela me defendeu. Na verdade ela deu uma surra nos garotos e colocou eles pra correrem....foi a primeira que nós falamos

Ela disse pra mim sempre andar com ela assim ninguém ia mexer comigo...e assim foi... Não nos separamos mais... Dorothy tem um coração enorme e é uma pessoa maravilhosa...

Quando eu precisei, ela foi a primeira a me acolher em todos os sentidos, e a família dela era como minha família....

Éramos irmãs, pra falar a verdade, mesmo que não tivéssemos o mesmo sangue correndo em nossas veias, ainda assim éramos irmãs de coração, e nada, nem ninguém podia mudar isso....

"Entra..." Murmuro dando espaço na porta pra ela passar

Escuto seus passos decididos ecoando pela sala.

Eu me afundo no sofá, me sentindo frágil e vulnerável, mas ao mesmo tempo grata por sua amizade inabalável.

"Kate, o que aconteceu?" Ela pergunta sua voz carregada de preocupação genuína

E então, as lágrimas começaram a fluir, rompendo as barreira que eu passei a tarde toda tentando construír ao meu redor.

Entre soluços e lágrimas, conto pra ela sobre a traição de Dave e Brittany, junto com o peso da dor avassaladora que me consumia por dentro.

Ela me abraça me oferecendo consolo até que as minhas lágrimas acabem...

Quando meu choro se transforma em apenas suspiro, ela se afasta e eu sinto seu toque gentil em meu rosto, enquanto ela limpa as lágrimas

" É o seguinte...eu vou precisar que você cuide dos meninos pra mim, não vai ser por muito tempo , é só até eu voltar da cadeia, por que essa noite eu vou matar aquele desgraçado" Ela diz com uma calma que chega a ser engraçado

Eu seguro seu braço

"Dorothy, por favor, não. Não vai resolver nada", murmuro

"Mas Kate, ele não pode sair impune depois do que fez com você, nem ele nem a vaca da sua prima! Eu sabia que aquela sebosa tava de cima igual um urubu.... Ela sempre sentiu inveja de você, aquela....espantalha!"

Eu não posso conter uma pequena risada, mas logo ela se desfaz e eu balanço a cabeça

"Eu sei, eu sei. Mas não quero mais drama. Já é humilhante o suficiente...." Respondo

Dorothy parece relutante em aceitar minha decisão, mas finalmente cede, deixando escapar um suspiro frustrado.

"Tudo bem, Kate. Mas saiba que estou aqui para o que precisar. E se um deles ousar aparecer novamente, vai se ver comigo" Ela diz, sua voz saindo determinada e protetora

" Obrigada, Dory" Digo fazendo ela dar uma leve risada

Eu chamava ela assim por que além de ser uma abreviação de seu nome, ela me lembrava e muito a Dory de 'Procurando o nemo', ela era até um pouco desmemoriada...

E ela me chamava de Toperinha, por conta de uma piada interna que tínhamos.

Sempre que ela dizia que eu era uma pessoa top eu respondia: "Eu sou tão top, que se eu fosse um animal, eu seria uma toupeira"

E depois do que eu acordei no hospital nós brincávamos e eu dizia que eu realmente me transformei em uma Toupeira

Aqui vai uma pequena aula de biologia:

As toupeiras são mamíferos que vivem embaixo da terra. Elas tem olhos tão pequenos que não enxergam praticamente nada...então elas usam o olfato e audição...

Acho que já deu pra entender a similaridade...

Ela se levanta do sofá

" Onde você vai?" Pergunto

" Onde eu vou, não. Onde nós vamos. Você vai pegar suas roupas e nós vamos pro restaurante. Você vai ficar com a gente hoje..." Ela diz

"Dory...eu não quero incomodar é sério..." Murmuro

" Não é incomodo. E o restaurante também é seu, oras. E os pirralhos estão morrendo de saudades de você " Ela diz me fazendo dar uma leve risada

Seguindo as instruções dela, me levanto do sofá e sigo para o quarto para pegar minhas roupas. Dory vem me ajudar, suas mãos hábeis encontrando facilmente minhas roupas e as dobrando, enquanto eu as escolho. Era reconfortante ter sua presença e apoio em momentos como esse.

Pouco tempo depois estamos no restaurante dela

Ela dizia que esse restaurante era meu por que eu dei as minhas economias pra ela e John poderem montar ele...

E felizmente tudo deu certo. O restaurante é a fonte de sustento deles, e os ajudavam a dar uma boa vida pra Emily e Evan, os gêmeos deles...

Não era um restaurante cinco estrelas, mas era muito bom....

Ela me leva até minha mesa de sempre

"Kate, que bom que você veio!" John, esposo de Dory, diz com uma voz calorosa que eu respondo apenas com um leve sorriso

Pouco tempo depois escuto vários passos rápidos, correndo em minha direção

"Tia Katzilla, você veio!" Evan diz com empolgação

No meu processo de adaptação eu simplesmente derrubava tudo...era um completo desastre...causando caos por onde eu passava...tipo o Godzilla... Então pros pequenos eu virei a Katzilla

"É tão bom te ver vocês, meus pirralhinhos " Digo recebendo abraços calorosos em resposta...

Eu amava essas praguinhas, e considerava eles como meus sobrinhos...

Falando em parentesco....minha prima? É uma longa história, mas vou dar um pequeno resumo...

Basicamente ela era da família por parte da minha mãe...a única com quem eu tinha contato esporádico.... E quando digo esporádico, é apenas pra saber de vez em quando como ela tá....

Eu e Britany éramos próximas quando pequenas...na verdade eu passava mais tempo na casa da minha tia do que na minha própria casa, então basicamente crescemos juntas...

Ela era 4 anos mais nova que eu.

Ela era legal comigo... Estava sempre comigo, sempre queria usar minhas roupas, ou as minhas coisas...

Nas palavras dela : " Eu te admiro tanto....eu quero ser como você quando ficar mais velha..."

Acho que ela levou isso ao pé da letra....

Enquanto eu me acomodo na cadeira com as crianças, começo a ouvir os sons familiares de pratos sendo colocados sobre a mesa.

"Isso aqui é só pra começar" Dorothy diz com um tom de voz travesso. "Temos petiscos, algumas delícias para você saborear, e claro, uma boa bebida apenas para adultos, pra acompanhar."

Dou uma leve risada...Dory conseguia me deixar sempre com o astral lá em cima, mesmo nas piores situações...

" Titia , a gente pode experimentar essa bebida de adultos?" Emilly cochicha pra mim.

" Só quando você completar trinta anos, mocinha. E de preferência longe de outros meninos" Brinco fazendo ela rir

" Tá bom. Vocês dois, pra cima. Agora" Dorothy diz

" Ahh mas a gente quer ficar com a titia Kate" Emily diz e pela voz manhosa ela deve estar fazendo bico

Eu acompanho e faço um leve biquinho também

" Viu? Até a tia Katzilla quer que a gente fica " Evan fala

" Eu quero muito, mas eu preciso conversar um pouco com a mãe de vocês... Mas se vocês prometerem se comportar, quando for o dia do meu pagamento, eu levo vocês pra assistirem o filme que quiserem" Digo

Escuto os suspiros de animação deles

" Com direito a pipoca e docinhos?" Evan pergunta

" Com direito a tudo que quiserem" digo e eles me abraçam

Eu aperto o abraço, e era como se aquelas criaturinhas com toda sua inocência conseguissem reparar rachaduras que elas nem tinham causado

" Pronto, agora pro quarto." Dory diz e então escuto os passos deles se afastando

Escuto ela enchendo dois copos e colocando na minha frente com um pouco de força pra que eu escute onde ele está.

Sinto o aroma característico do álcool pairando no ar, misturado com o cheiro reconfortante da comida do restaurante. É um cheiro familiar, que me faz sentir em casa, apesar das circunstâncias.

Eu solto um suspiro cansado

" Dory eu não tô afim de chorar na frente dos outros...e se eu começar eu não vou conseguir parar " Murmuro

" Mas não tem ninguém além da gente aqui" Ela diz

" Claro que tem!"

" Você tá vendo alguém?" Ela pergunta com um tom de voz brincalhão me fazendo rir

" Não é por que eu não enxergo que não significa que elas não estão la..."

"Ah, claro, claro", Ela responde, rindo mais ainda. "Você vê tudo, Kate. Absolutamente tudo!"

" Besta... Eu tô ouvindo eles " Digo rindo de leve

" Ah relaxa, é só a música ambiente que achei na internet pra parecer que meu restaurante é frequentado. Agora para de coisa que a gente vai encher a cara" Ela brinca

Eu solto um leve suspiro e com cuidado eu tateio até encontrar o copo

Eu ergo o copo em direção a ela e pouco tempo depois escuto o barulho dos copos se chocando em um leve brinde

Eu viro de uma vez , sentindo sua textura suave deslizando pela minha garganta e o sabor familiar e reconfortante do álcool.

Enquanto desfrutamos da bebida e do ambiente acolhedor do restaurante, consigo sentir a vibração das vozes das pessoas ao nosso redor, misturadas com o som suave da música ambiente.

Apesar da tristeza que ainda persiste dentro de mim, consigo sentir um leve alívio.

Com o fechamento do restaurante, John se junta a nós à mesa.

"Parece que os pequenos finalmente estão dormindo", Ele diz, puxando uma cadeira e se sentando conosco. "E então Kate...o que acontecendo?" John pergunta, sua voz cheia de preocupação.

Respiro fundo antes de responder, reunindo coragem para compartilhar com ele o que está pesando em meu coração.

"Eu descobri que além de cega eu sou corna" Murmuro " O Dave... Ta me traindo com minha prima " Minha voz começa a embargar e meu estômago a embrulhar ao relembrar mais uma vez do que ouvi.....

E então o choro começa a vir de novo...

Sinto a mão de Dory sobre a minha, e a mão de John sobre meu ombro

"Sinto muito, Kate.... Você merece alguém muito melhor do que ele....alguém que te valorize." John diz com a voz suave.

A medida que eu consigo me acalmar eu começo a contar pra ele o que aconteceu...

" Bem... Querida o que acha de deixarmos a guarda das crianças com a Kate? Só até a gente voltar da prisão. " John diz com uma voz brincalhona

" Você pega o Dave e eu pego aquela bruaca?" Dorothy pergunta pra ele

" Fechado" John diz e então eu escuto um barulho de palmas se chocando, como em um hig five

Apesar da dor que ainda ecoa em meu coração, não posso deixar de sorrir com as palavras brincalhonas de Dory e John. Seu humor peculiar e seu apoio inabalável são como um bálsamo para minha alma ferida, trazendo um leve alívio mesmo nos momentos mais sombrios.

"Vocês dois são loucos", murmuro entre soluços, mas não consigo evitar o riso que se mistura às lágrimas em meu rosto. "Mas obrigada. Por estarem aqui por mim...."

Sinto a mão de Dory apertar a minha com firmeza, seu toque transmitindo uma sensação de conforto e solidariedade.

"Sempre, Kate. Sempre estaremos aqui para você, não importa o quê."

"Você não está sozinha, Kate. Vamos resolver isso juntos, como uma família." Ouvindo a voz de John, sorrio, me sentindo grata

Apesar da dor e da traição, sei que não estou sozinha nesta jornada.

E assim, com o apoio amoroso de meus amigos ao meu lado, me sinto um pouco mais forte, um pouco mais capaz de enfrentar os desafios que estão por vir.

Capítulo 2

" E o que você vai fazer em relação ao Dave?" Dorothy pergunta enquanto prepara nosso café da manhã

" Eu pensei muito e...eu vou terminar com ele.... Eu posso ser uma mosca morta, mas corna mansa já é demais...." Digo tateando a cadeira pra me sentar

" Mas ainda sim tá sendo muito boazinha! Você tá entregando ele de bandeja pra aquela paquita do capeta! Faz um barraco...." Ela diz servindo nosso café e eu escuto alguns passos ao fundo " Se eu fosse você eu rancava o pint-"

" Aah que manhã maravilhosaaa!" Josh fala alto interrompendo Dory " Com a família reunida e as crianças no recinto " Ele diz e apesar do tom brincalhão eu sei que ele tá repreendendo Dory por que as crianças podem ter escutado

Escuto passos curtos em minha direção

" Bom dia titia Kate!" Evan e Emilly me abraçando

" Bom dia meus dragãozinhos....vocês dormiram bem?" Pergunto

" Muito!"

" Estão indo pra escola?" Pergunto sentindo o tecido da mochila em suas costas

" Estamos sim " Emily responde

" Que bom! E qual foi o combinado? " Pergunto

" A gente tem que se comportar" Eles respondem juntos

" Isso, e eu vou perguntar pra mãe de vocês se vocês se comportaram. Se ela disser que vocês se saíram mal na escola e não se comportaram, eu não vou levar vocês no cinema pelos próximos 30 anos. Fechado?" Digo estendendo minhas mãos pra um hig five e logo em seguida sinto suas mãos pequenas batendo nas minhas

" Tá bom pirralhada, café. E é pra comer direito" Dory diz

Eu me ajeito na cadeira e pego a xícara com cuidado, e segurando a borda eu aproximo da minha boca

Enquanto seguro a xícara, sinto o calor do café emanando suavemente.

Eu escuto as vozes alegres de Dorothy, Josh e os pequenos. Eles compartilham histórias engraçadas e risadas ecoam ao meu redor, criando uma atmosfera calorosa e acolhedora.

Embora eu não possa ver seus sorrisos, posso sentir a energia positiva irradiando de suas expressões faciais e gestos animados...

Mais tarde eu estava no trabalho...

Enquanto atendia as ligações meu telefone toca e pelo toque específico eu sei que é Dave...

Fazia alguns dias que a gente não se falava... Na verdade, ele até mandava mensagem, mas eu mal respondia…

Meu coração acelera tanto que eu sinto ele em minha garganta, enquanto um calafrio percorre meu corpo.

Eu espero dar meu momento de pausa e então pego o telefone e me afasto pra um local isolado

Com as mãos trêmulas eu ligo pra ele, meu coração acelera quando eu coloco o celular em meu ouvido aguardando ele atender

Enquanto aguardo Dave atender, tento controlar minha respiração acelerada e as mãos trêmulas. Finalmente, ele atende, e sua voz soa pelo telefone, despertando uma mistura de emoções dentro de mim.

"Oi, amor", ele diz, e sinto um nó se formar em minha garganta ao ouvir o apelido carinhoso que ele costumava usar.

"Oi, Dave", eu digo, tentando manter a calma em minha voz.

"Como você está?" Ele pergunta

"Estou bem", respondo rapidamente, tentando soar normal. "Estava pensando... talvez pudéssemos nos encontrar para conversar. O que acha de tomar um café juntos?"

Há uma pausa do outro lado da linha, e meu coração bate descontroladamente enquanto aguardo sua resposta.

"Claro, podemos nos encontrar no café de sempre", ele responde com indiferença. "Que tal depois do seu expediente?."

"Claro...", eu respondo, sentindo um misto de alívio e apreensão. "Nos vemos lá..."

"Ótimo, estarei lá", ele responde com uma voz casual, sem perceber a turbulência emocional do outro lado da linha. "Mal posso esperar para te ver."

Sua resposta soa tão natural que é quase irritante. Eu me forço a manter a calma enquanto desligo o telefone, decidida a por um ponto final nisso

Quando dá o horário, eu saio da minha sala. O expediente finalmente acabou, mas a tensão em meu peito só aumenta à medida que me aproximo do momento que me espera. Pego minha bolsa e minha bengala, ajeitando a bolsa com cuidado sobre o ombro, começo a me deslocar pelo corredor.

O som dos passos dos colegas ecoa ao meu redor, se misturando com o ruído distante dos teclados e conversas animadas. Apesar do movimento ao meu redor, me sinto isolada em minha própria bolha de preocupação. A ansiedade cresce a cada passo que dou em direção à saída.

Com passos calculados e confiantes, desço as escadas do prédio, contando mentalmente os degraus enquanto desço. O ar fresco da tarde acaricia meu rosto conforme saio para a rua movimentada.

Eu sei o caminho de cor até a cafeteria onde combinamos de nos encontrar, mas ainda assim confio em minha bengala para me guiar através da multidão. As vozes das pessoas se misturam em um zumbido distante, e eu me concentro em seguir em frente, um passo de cada vez.

Ao entrar na cafeteria, sou saudada pelo som familiar do ambiente: o zumbido das conversas, o chiado da máquina de café e a música suave tocando ao fundo. No entanto, esse conforto é interrompido pelo som da voz de Dave ecoando pelo espaço.

Meus músculos se contraem involuntariamente e sinto um arrepio percorrer minha espinha. A voz que um dia me trouxe conforto agora desperta um misto de emoções indesejadas. É como se cada palavra fosse um eco do passado, lembrando-me da dor e da traição que experimentei.

"Kate" Ele me chama e logo em seguida ele está segurando meu braço me levando até a cadeira

" Eu consigo fazer isso.." Murmuro mas ele simplesmente ignora

Eu seguro na cadeira e me sento.

" Que bom que está aqui....tem alguns dias que a gente não se fala...eu estava preocupado com você" Ele diz

Tento manter a compostura forçando um sorriso nos lábios. Por dentro, porém, meu estômago se revira de repulsa. A ideia de me encontrar com ele, de encarar a pessoa que me magoou tão profundamente, é quase insuportável. No entanto, sei que preciso seguir em frente, enfrentar meus medos e encarar a situação de frente.

" Eu pedi pra você " Ele diz e então pega minha mão

Sinto a xícara sendo colocada em minha mão, e uma onda de desconforto percorre meu corpo.

Odiava quando as pessoas assumiam que eu precisava de ajuda para as coisas mais simples, como pegar uma xícara de café. Mas não digo nada, apenas forço um sorriso e agradeço com um aceno de cabeça

Dou um pequeno gole na bebida, tentando ignorar o fato que é a bebida que eu menos gosto.....

"E então...sobre o que quer conversar?" Dave pergunta, interrompendo meus pensamentos.

Dave e eu namorávamos desde o ensino médio....antes de eu perder a visão.... Tínhamos uma ótima relação.... Pelo menos era o que eu achava...

E como sempre, acreditei que deveríamos esperar até o casamento para dar esse passo tão significativo, por que eu sempre desejei que nossa primeira vez fosse especial, algo para lembrar pelo resto de nossas vidas.

Mas, conforme nossos amigos começaram a avançar em seus relacionamentos, a pressão começou a pesar sobre nós. Eu me vi questionando se estava fazendo a coisa certa, se estava sendo antiquada demais em minhas crenças. Talvez seja por isso que ele me traiu....

Respiro fundo antes de responder, meu coração apertado de angústia diante da pergunta.

"Eu quero terminar com você" Minha voz soa firme, embora por dentro eu esteja tremendo de raiva e tristeza.

"O que? Por quê?" Ele parece atordoado, como se não estivesse esperando essa reviravolta.

" Eu só acho que não estamos mais na mesma sintonia, sabe? Então é melhor seguirmos caminhos diferentes." Digo

Por que eu não questionei sobre a traição?...

Por que eu me sentia humilhada o suficiente....e eu não conseguia admitir isso...e perguntar pra ele sobre....era demais pra mim

"Se é isso que você acha melhor, Kate... Eu entendo. Acho que sempre soube que algo não estava certo entre nós." Ele suspira

Por um momento, uma onda de raiva quase me faz perder o controle. Como ele pode fingir que está tudo bem? Como pode aceitar tão facilmente o fim do nosso relacionamento, sabendo que ele é o culpado? Mas eu me seguro, mantendo minha expressão neutra e respondendo com uma voz calma

"Sim, acho que é melhor assim...Bem eu vou indo. Boa noite Dave" Digo me levantando da cadeira

Estico a bengala e vou andando até a saída

Saio do café com um nó na garganta, sentindo um misto de raiva e tristeza. Caminho até o ponto de ônibus mais próximo, tentando acalmar meus pensamentos tumultuados enquanto aguardava.

O barulho da cidade ao meu redor, os passos apressados das pessoas e o tráfego constante não ajudavam a acalmar minha mente.

Quando o ônibus chega, eu subo e me sento, perdida em meus próprios pensamentos durante toda a jornada.

Quando o ônibus chega no ponto, eu sigo o caminho familiar até o restaurante de Dorothy. O aroma tentador da comida me envolve enquanto me aproximava, e o som familiar de vozes animadas dentro do restaurante traz um pouco de conforto ao meu coração pesado.

Eu abro a porta, o sino em cima da porta anunciando minha chegada

" Toperinha! Você chegou?" Escuto Dory falar comigo, animada como sempre " Vem, sua mesa tá livre"

Me sento na minha mesa habitual e respiro fundo, agradecendo por ter um lugar seguro onde pudesse desabafar e encontrar apoio nos momentos difíceis.

" E então o que vai querer?" Ela pergunta

" A bebida mais forte que você tiver....forte até pra um adulto" Digo forçando o sorriso

Dorothy fica em silêncio por um momento....ela deve tá lendo até a minha alma

"Está bem, vou preparar algo para você. E então, podemos conversar." Ela diz e logo seus passos ficam distantes

Pouco tempo depois escuto o barulho de algo sendo colocado na minha frente, e do metal dos talheres sendo colocado sobre a mesa

" Olha, eu não vou conseguir parar por agora, o restaurante tá cheio. Mas assim que fechar a gente vai beber e você vai me contar o que aconteceu, combinado Toperinha?" Ela pergunta com uma voz suave e eu apenas concordo com a cabeça

......................

" COMO ASSIM VOCÊ NAO QUESTIONOU SOBRE A TRAIÇÃO? COMO VOCÊ NAO JOGOU CAFÉ NA CARA DELE?" Ela pergunta brava

"Por que era capaz de eu não acertar " Murmuro "Eu não sei.....eu não consegui....eu...eu não consigo...e se ele tiver me traído por minha culpa? E se o fato de a gente não ter dormido juntos levou ele pra alguém que desse isso pra ele?" Pergunta

" Você tá se ouvindo?" Ela pergunta " Essa foi a pior idiotice que você já falou desde que eu te conheço ! Ele te traiu por que ele não presta! O problema é ele não você !"

" E por que.... Por que eu sinto que o problema é comigo?...." Eu digo, minha voz começando a embargar as lágrimas começando a brotar " Por que eu sou tão patética?... Por que eu....E se eu não tivesse perdido a visão? Será que-"

Antes que eu terminasse a frase eu sinto as mãos de Dory segurando meus ombros me sacudindo de leve, fazendo meu olho arregalar

" Mulher! Se recomponha! Põe na sua cabeça que você não é o problema e que a sua cegueira não é justificativa pra ele agir como um verdadeiro embuste! Você tá entendendo?! " Ela pergunta me sacudindo mais um pouco

" Pelo menos eu não tô vendo o papel de trouxa que eu tô fazendo " Eu digo e ficamos em silêncio.... Até que nós duas começamos a rir

Quando as risadas cessam eu solto um longo suspiro

" Eu não sei...eu não tô tão mal quanto eu achei que ficaria.... é normal?" Eu pergunto

" Sim... é normal...."

" Eu sei lá....parece que esse relacionamento já havia acabado desde o acidente.....eu não sei explicar.... " Murmuro me afundando na cadeira

" Isso só prova que ele não era o cara certo pra você...eu lembro das várias vezes que ele se esquivou de ficar com você no hospital...no começo eu não questionei por que foi algo chocante, mas com o tempo...." Ela diz suspirando

" Eu sei... Ele colocou o copo de café na minha mão, e nem era da bebida que eu gosto" Digo dando uma leve risada

" Misericórdia que imbecil.... " Ela diz, enquanto eu escuto barulho de copo sendo preenchido com líquido " Toma" Ela diz colocando o copo na minha frente "Vamos beber que a gente ganha mais "

" Sim....hoje eu quero sair do meu corpo" Digo levantando o copo pra um brinde

" É assim que fala!"

......................

"Hmmm...." Eu acordo resmungando " Minha cabeça..."

Meu celular apita....uma notificação diferente...eu não lembro de ter colocado esse toque pra alguma coisa

Tateio o telefone até achar ele.

Desbloqueio ele e acesso o comando de voz pedindo pra ele ler as notificações

" 1 ligação perdida de : Senhora Yoshida.... Alarme das 6:00 perdido... Tinder: você tem novas mensagens de alguns matches..."

Meu olho arregala

Tinder?

Eu nunca tive o Tinder no meu telefone....

Como Assi-Tinder? Espera...por que o Tinder tá no meu-

" Dorothy!'

Capítulo 3

Eu me levanto rápido da cama indo com passos rápidos até a porta, apenas pra bater com a cabeça na parede

Tem esse detalhe....que eu não enxergo !

Vou tateando a porta até abrir ela

" Dorothy?"

Ando pelo corredor procurando o caminho da cozinha

" Dorothy!" Chamo ela mais alto

" Kate, o que foi?" Escuto ela falar de outro cômodo

" Onde você tá?" Pergunto

" No meu quarto" Ela diz e pela voz meio arrastada ela deve tá com ressaca também

Eu vou tateando até o quarto dela e abro a porta

" Eu que te pergunto o que aconteceu! Por que o Tinder está no meu telefone? E por que tem mensagem de matches? Desde quando eu fiz um perfil no Tinder?" Pergunto um pouco ofegante pela agitação interna

" Ah.... Hmmm...eu acho que tô começando a me lembrar de algo..." Ela diz receosa

" Dory!"

" Desculpa, tá? Mas a ideia foi sua... E de fato é uma ótima oportunidade pra você seguir em frente, e encontrar alguém que realmente te valorize " Ela diz

" Eu não quero encontrar ninguém! Eu terminei meu namoro ontem! E que história foi essa de que a ideia foi minha?" Pergunto e então eu me lembro

...****************...

Estávamos bebendo no restaurante...

" Sabe.... Eu tô cansada de ser assim..... Eu esperei até a droga dos meus vinte e seis anos por ele achando que a gente ia se casar...me guardando pra aquele pedaço de merda .... É o seguinte....eu vou encontrar alguém...e vou dormir com essa pessoa.... E eu vou...eu vou fazer tudo que eu tenho vontade de fazer! " Digo com a voz arrastando

Dory solta um suspiro de animação

" Aí siiim! Nooosa tô tão orgulhosa! Já tenho até um pretendente!" Ela diz

" Quem?"

" O John tem um amigo muito legal....ele é educado...tem todos os dentes.... E toma banho" Ela diz

" Não.....eu não vou sair abrindo a perna assim também não...eu quero um encontro....quero sair com caras.....e aí eu vou escolher com quem eu vou dormir" Digo

" Sabe onde você pode achar? No Tinder!" Ela diz

Eu arregalo os olhos

" Siiiimmm...... Instala pra mim" Digo estendendo o telefone pra ela

Então depois de instalar começamos a montar o perfil

" O que você vai colocar na bio?" Ela pergunta

" Hmmm..... Que tal 'estou de olho em você' ?" Eu digo e nós gargalhamos juntos

" Hm já sei, já sei ! " Escuto Dory digitar " O amor pode não ser cego, mas eu sei que eu sou " Ela escreve me fazendo rir mais ainda

Depois de montar o perfil ela começa a deslizar o dedo pelo telefone

" Não...não....Hmmm esse é uma opção..." Ela vai murmurando " Vamos escolher alguns que não pareçam com um serial killer ou com um que more com a mãe" Ela diz

...****************...

" Quem foi que deu match com você?" Ela pergunta me fazendo voltar pra ela

Eu vou andando até a cama. Quando eu sinto o colchão macio eu me sento e entrego o telefone pra ela

" Vejamos....bem...tem alguns que são bem bonitinhos.... Por que você não conversa com eles? Dá uma chance" Ela diz

" Eu...eu não sei.... " Eu me jogo pra trás, deitando na cama " Será que é a melhor opção? Será que eles vão...se sabe...aceitar numa boa que eu sou cega? " Pergunto

" Você só vai descobrir se responder essas mensagens" Ela diz me fazendo soltar um suspiro de derrota

" Tá bom....Mas você vai me ajudar...eu não sei flertar....então eu não sei nem por onde começar...." Murmuro

" Pode deixar comigo! Agora vamos, eu vou fazer um café pra gente....com ovos mexidos e bastante bacon pra acabar com essa ressaca... " Ela diz, então eu sinto o colchão afundar e logo em seguida ele subir novamente

Escuto os passos de Dory saindo do quarto e eu acompanho me arrastando pra fora

Depois de tomarmos café nós nos sentamos no sofá enquanto Dory olha as mensagens pra mim

"Ok, esse aqui diz: 'Oi Kate, achei seu perfil interessante. Como você está hoje?'", ela lê em voz alta, e eu balanço a cabeça, tentando processar a mensagem em minha mente.

"Eles são todos meio genéricos, não é?", comento. "Nada muito original...."

"Verdade. Mas às vezes é melhor começar com algo simples", responde Dorothy. "E este: 'Você tem um sorriso lindo. O que uma garota como você está fazendo aqui no Tinder?'", ela lê, fazendo uma pausa antes de continuar. "Ah, que clichê, né?"

Dou uma risada, concordando com ela.

"Sim, um pouco. Mas pelo menos é um elogio."

Dorothy continua lendo as mensagens enquanto eu tento imaginar como são os rostos por trás das palavras. Conversamos e rimos juntas, tornando o processo mais leve e divertido.

"Uau, este aqui....", ela diz, hesitando antes de continuar. "Ele diz: 'Oi, Kate. Você é tão linda que me faz querer pular as preliminares e ir direto ao ponto. O que acha de-'"

"Ok, chega por hoje", eu digo rapidamente, tentando aliviar a situação. "Acho que já tivemos o suficiente por enquanto... Misericórdia '' Dou uma leve risada

" Bem, pelos menos esse você já ia direto pro ponto" Dory diz me fazendo rir " Mas nunca caia na lábia de um cara assim....Digamos que o pacote com certeza vai ser pequeno "

Nós gargalhamos juntas

" Tá bom....vamos escolher os melhores e responder eles..." Digo

Nós respondemos alguns e então esperamos... Logo as mensagens começam a chegar.

Dory vai digitando pra mim, mas sempre lendo em voz alta antes de enviar

"Ele parece ser legal, Kate. E parece interessado em conhecê-la melhor." Ela diz

"Sim, parece. Acho que estou gostando da conversa até agora." Digo " Dory....você pode falar pra ele que eu sou cega?"

"Kate, você tem certeza?"

" Tenho... é melhor contar logo e evitar desperdiçar tempo."

"Tudo bem então....vou dizer..."

" E então?" Pergunto um tempo depois

" Ele vizualizou....mas não respondeu...vamos esperar um pouco... às vezes ele só tá processando a informação...." Ela diz

Então esperamos...e esperamos...

" Ou ele caiu, bateu com a cabeça e tá em coma" Digo fazendo ela rir

" Sinto muito Toperinha..." Ela diz

" Tá tudo bem..." Murmuro

" Por que você não sai com eles e deixa pra eles descobrirem quando te verem?" Ela pergunta

"Hmm, acho que pode ser uma ideia. Talvez assim eles tenham a chance de conhecer a pessoa que eu sou antes de julgar pela minha deficiência."

"É isso aí! Vamos mostrar a eles que você é muito mais do que sua cegueira. Agora, vamos escolher alguns lugares legais para esses encontros."

Então conseguimos marcar alguns encontros... Combinamos com eles de nós encontramos em lugares onde estou familiarizada...assim eu ficaria mais a vontade pra mostrar que eu não sou um peso morto...

......................

Chego cedo ao local do encontro e me sento em uma mesa discreta. O tempo parecia se arrastar enquanto eu esperava nervosamente.

Finalmente, escuto alguém se aproximando.

"Ei, você é a Kate, certo?"

"Sim, sou eu. Mark , não é ?" Pergunto e ele demora um pouco pra responder

"S-sim...." percebo a hesitação em sua voz

"Prazer em conhecê-lo."

"Prazer em conhecê-la também. Desculpe, mas... tem algo de .....?"

"Eu sou cega."

"Cega?" Ele parece surpreso. "Oh, bem, eu não esperava isso... Por que não falou antes?" Ele pergunta

"Por que queria que me conhecesse antes....algum problema com o fato de eu não enxergar?" Pergunto com uma voz suave

" N-não...não... problema nenhum... eu preciso usar o banheiro rapidinho. Já volto."

"Claro, sem problemas."

Os minutos passam, e ele não volta.....

E nem vai....

Espero mais um pouco do pra ter a certeza que eu tô levando bolo....

Depois de mais 10 minutos vejo que ele não volta, eu me levanto e vou pra casa...

Mais tarde Dory me liga

" E aí como foi? Quero detalhes?"

" Bem...ele apareceu, descobriu que eu sou cega e disse que ia no banheiro....e eu acho que ele deve ter caído dentro do vaso e alguém deve ter dado descarga, por que até agora ele não saiu de lá " Murmuro

Dory solta um pequeno suspiro

" Eu sinto muito Toperinha...."

" Tá tudo bem....eu não posso culpa-lo....quem ia querer ficar com uma cega...olha eu vou deitar, tô um pouco cansada..." Minto

" Quer que eu vá pra ai? Se quiser pode vir pra cá também" Ela sugere

" Não Dory, obrigada...eu só quero ficar sozinha... Amanhã a gente se fala" Eu desligo sem dar tempo pra ela protestar

Eu ando até a máquina de escrever em braille.

As teclas frias e familiares sob meus dedos me trazem um conforto tranquilo enquanto eu formo cuidadosamente cada palavra e frase na folha em braille.

Eu faria uma lista de desejos.... Coisas que eu gostaria de fazer antes de morrer.... Estava cansada dessa vida.... E de como as coisas estavam indo...

Eu também merecia ser feliz, mesmo que por um momento...

Cada palavra que digito parece pesar mais do que o normal, como se houvesse um peso invisível pairando sobre mim. Meus dedos seguem o ritmo monótono da máquina, enquanto eu registro os desejos que tanto anseio cumprir.

A cada item adicionado, sinto um aperto no peito, uma sensação estranha que não consigo identificar completamente.

Quando finalmente termino e coloco o papel na geladeira, uma sensação de alívio momentâneo me envolve. Mas mesmo assim, uma aura sombria parece pairar sobre a lista, como se houvesse algo mais por trás desses desejos....

Eu vou pra cama e apenas me deito, deixando que o amanhã chegue....

Os próximos encontros seguem o mesmo padrão. Eu me arrumo, vou ao local combinado, e então espero.

Mas eles nunca aparecem e quando aparecem vão embora.

Começo a me sentir desanimada e desiludida com a situação.

Será que algum dia encontrarei alguém que não se importe com minha deficiência?

Ou estou fadada a enfrentar a rejeição repetidamente?

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