Eu me ajoelho ao seu lado pegando ela em meus braços.
Com uma mão eu seguro seu rosto o sacudindo com cuidado chamando seu nome tentando trazê-la de volta para mim. Seus olhos estão fechados, e seu rosto parece pálido e tenso....
" Kate....Kate por favor acorda... por favor ..."
Eu procuro por algum ferimento, até que meu coração se parte ao ver os cortes em seus pulsos.
Um frio cortante me percorre enquanto tento entender o que aconteceu.
O que ela fez? Por que ela está assim?
Com as mãos trêmulas, verifico sua respiração e seu pulso, aliviado ao sentir que ainda estão presentes, embora fracos.
Mesmo com a angústia me apertando o peito, sei que não posso desistir dela. Com cuidado, a envolvo em uma toalha e a seguro em meus braços, correndo pro carro determinado a levá-la para o hospital o mais rápido possível.
Dirijo em alta velocidade em direção ao hospital mais próximo. Cada segundo parece uma eternidade, a preocupação e o medo me consumindo por dentro.
Chegando ao hospital, entro em ação imediatamente, gritando por ajuda enquanto carrego Kate nos braços para dentro. Não há tempo para hesitar. Ela precisa de ajuda, e farei tudo o que estiver ao meu alcance para garantir que ela receba o cuidado necessário.
......................
Minha mente está uma confusão tumultuada de emoções enquanto espero por notícias de Kate. Rezo para que ela fique bem, prometendo a mim mesmo que estarei ao seu lado, não importa o que aconteça.
As lágrimas caem sem parar ao lembrar daquela cena....
Por que? ......
Apenas por favor....não tira ela de mim....
Cada segundo que passa parece uma eternidade, e a incerteza sobre seu estado de saúde me consome por dentro....
Finalmente, um médico se aproxima, e eu prendo a respiração, esperando pelo veredito. Seus olhos sérios e a expressão dele me dizem tudo o que preciso saber antes mesmo que ele abra a boca.
"Como ela está?", pergunto ansiosamente, minha voz trêmula com a emoção contida.
O médico respira fundo antes de responder, e eu sinto meu coração apertar com o suspense.
"Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance", ele começa, sua voz calma e profissional. "Kate está estável agora, mas os cortes em seus pulsos foram profundos. Ela perdeu uma quantidade considerável de sangue e vai precisar de alguns cuidados intensivos. Se tivesse demorado mais alguns minutos, o quadro dela seria gravíssimo....."
"Posso vê-la?", pergunto ao médico, minha voz implorando por uma resposta positiva.
Ele assente gentilmente, e meu coração se enche de gratidão. Com passos apressados, o sigo até o quarto onde Kate está sendo cuidada...
Me coração se destrói em todos os pedaços possíveis vendo ela tão pálida, tão frágil...como nunca a vi....
A roupa de hospital, o quarto, o soro em seu braço e os barulhos das máquinas apitando deixavam tudo tão mórbido...tão pesado....
" Ela levará algumas horas pra acordar... Vamos esperar pra ver como ela reage com as medicações e esperar pelo melhor" Ele diz e eu assinto com a cabeça
Com o coração ainda apertado de preocupação, vou pro corredor, pego meu telefone e disco o número do restaurante onde Dorothy trabalha.
Cada toque parece uma eternidade, e a ansiedade me consome enquanto espero que alguém atenda do outro lado da linha.
Finalmente, ouço a voz de Dorothy do outro lado, e minha garganta se fecha com a emoção contida.
"Dorothy", digo engasgando com o nó que se forma em minha garganta. "É o Luke...."
" Oi Luke, tá tudo bem?"
Eu prendo a respiração tentando segurar as lágrimas é totalmente em vão....
O choro volta com força, me impedindo de formar qualquer palavra , por mais simples que seja.
Eu cubro a boca tentando abafar cada soluço...
" Luke, o que foi?"
" É a Kate....Ela se machucou....Ela está no hospital...." Eu consigo balbuciar entre as lágrimas e as respirações entrecortadas
" Aí meu deus! Que hospital vocês estão?"
" St. Joseph's Hospital..... Dorothy....Por favor...."
" Eu estou a caminho" Ela diz desligando o telefone
Eu me escoro na parede, deixando ela guiar minhas costas até sentar no chão...me sentindo derrotado....
Quando consigo me acalmar eu me sento na cadeira em frente ao quarto de Kate, esperando por Dorothy..
......................
Escuto passos apressados no corredor e quando olho na direção de onde vem os barulhos, eu vejo Dorothy virando no corredor, quando ela me vê ela corre até mim
" Luke , o que aconteceu com ela?" .
"Eu...eu encontrei ela em casa e... ela estava na banheira, inconsciente....
Os olhos de Dorothy se arregalam em choque, e ela coloca uma mão sobre a boca, incapaz de articular qualquer palavra.
"Ela tinha cortado os pulsos.... "
Dorothy desaba em lágrimas, andando de um lado pro outro....segurando a cabeça como se não pudesse acreditar
"Meu deus..... Kate..." Ela murmurava
Ela se agacha como se as forças que ela tivesse pra se sustentar tivessem saído de seu corpo...
Quando ela consegue se acalmar nós nos sentamos nas cadeiras do corredor
"Os médicos dizem que ela está estável agora, mas os cortes em seus pulsos foram profundos...eu... eu vi uma lista na geladeira da Kate. Uma lista de desejos... de coisas que ela queria fazer antes de... antes de..."
Eu paro , incapaz de articular as palavras. Dorothy olha para mim, compreensão cruzando seu rosto enquanto ela conecta os pontos.
"Antes de morrer", termino, minha voz falhando. "Ela tinha uma data e uma hora marcada para hoje à noite... às 20 horas.... Eu saí do trabalho assim que descobri o que era a lista e encontrei ela lá...."
Os olhos de Dorothy se enchem de lágrimas novamente, a realidade da situação caindo sobre ela com todo o seu peso.
"Oh, Luke" Ela murmura, sua voz embargada pela emoção. "Como isso pôde acontecer?"
Ficamos os dois ali... tentado absorver todo o peso do acontecido, tentando achar uma explicação, uma lógica que fosse...
Dorothy respira fundo antes de começar a falar, seus olhos revelando a tristeza e a dor que as memórias parecem trazer a ela
"Luke... a verdade... é que .... Kate sofreu muito desde pequena. Seu pai era alcoólatra, e a mãe sempre foi omissa, incapaz de proteger ela do inferno que era aquela casa...Por isso, Kate passava mais tempo na casa da prima dela, a Britany, do que na própria casa. Britany, apesar de ser mais nova, com o tempo começou a invejar a Kate e sempre encontrava maneiras de fazer ela ser castigada por coisas que não tinha feito, criando um ambiente cada vez mais hostil para ela...os tios dela, como não tinham nenhum apego emocional com ela, não deixavam de punir ela...."
Dorothy pausa por um momento, relembrando os eventos que marcaram a vida de Kate.
"Quando a situação lá ficou insustentável, Kate teve que voltar para sua casa de vez. Seu pai se tornou cada vez mais violento, e sua mãe, presa na dependência dele, nunca teve a coragem de defender ela. Um dia.... depois de apanhar e muito...ela fugiu de casa...na chuva, descalço, só com a roupa do corpo.... Ela correu até chegar na minha casa, procurando ajuda. Ela tinha apenas 14 anos na época. Desde então, morou comigo."
Os olhos de Dorothy se enchem de lágrimas ao continuar.
"Kate sempre foi uma guerreira, Luke. Ela nunca desistiu, mesmo nos momentos mais difíceis. Ela sempre continuava com o queixo erguido, e sorrindo, independente do quão horrível a situação fosse... Ela nunca revidou, nunca gritou e nunca brigou com ninguém, tanto que no jantar eu fiquei em choque com ela confrontando a prima dela...Kate sempre trabalhava duro, estudava, juntava suas economias. Teve uma época que ela estudava e tinha dois empregos....Quando me casei com John, ela sempre esteve ao nosso lado, ajudando em tudo. Quando tivemos os gêmeos, ela estava lá para me ajudar no processo... Deus sabe como foi difícil, e ela estava lá cuidando de mim no pós parto, enquanto John trabalhava pra manter o restaurante.... Quando decidimos abrir o restaurante, ela deu todas as suas economias para nós, para que pudéssemos realizar esse sonho...."
Dorothy limpa as lágrimas teimosas que escorrem por seu rosto enquanto continua a contar a história de Kate.
"Kate passou em primeiro lugar e conseguiu uma bolsa na faculdade de fisioterapia....ela se formou com honras.... Tudo parecia estar indo bem. Ela começou a estagiar e estava ansiosa para começar sua carreira. Foi quando sua mãe ligou para ela, desesperada. Seu pai tinha arrumado confusão no bar e não tinha dinheiro para pagar. Kate, mesmo relutante, concordou em ajudar, mas deixou claro que era a última vez......Eu lembro daquela noite como se fosse hoje... tava caindo um temporal...ela pegou o carro dela e dirigiu até lá, pagou a dívida e tentou levá-lo para casa. Mas as coisas tomaram um rumo terrível. Aquele doente começou a gritar e agredir ela. Ele pegou o volante e, em um momento de loucura, jogou o carro contra uma coluna....Kate ficou em coma por algumas semanas. Tentamos encontrar o melhor especialista, mas ela precisava acordar do coma para fazer a cirurgia."
Dorothy engole em seco, revivendo a angústia daqueles dias sombrios.
"Sua mãe nunca a visitou no hospital, Luke. Ela simplesmente ficou ao lado daquele desgraçado, ignorando completamente sua filha, que tava no mesmo hospital. Eu briguei feio com ela, gritei e eu só não bati nela por que John me segurou e me tirou de lá ... Quando Kate finalmente acordou, ela recusou qualquer ajuda. Nem mesmo aceitou o dinheiro que John e eu conseguimos juntar para cobrir as despesas. Ela simplesmente aceitou tudo como se fosse seu destino...."
Dorothy olha para mim, esperando que eu compreenda a complexidade da situação e a força de vontade que Kate demonstrou ao longo de sua vida tumultuada.
"No processo de adaptação, foi difícil para ela. Mas fizemos o máximo para ajudar e tentar deixar o mais tranquilo possível.... Aprendi braille para poder ensinar ela , e até passei o apartamento que ela tinha para o nome dela. Reformamos o lugar, adaptando ele para uma pessoa cega. Eu realmente achava que, à medida que ela se saía bem, ela estava feliz."
Ela para por um momento, uma expressão de dor cruzando seu rosto.
"Eu pensei que estava fazendo o suficiente para ajudar ela a se adaptar, mas agora vejo que deveria ter percebido antes. Kate sempre foi tão reservada, tão disposta a enfrentar tudo sozinha, que eu nunca imaginei que ela estivesse passando por tanto sofrimento. Eu deveria ter percebido antes, Luke. Deveria ter estado mais atenta. Deus, como eu sou horrível por não ter visto os sinais....por não ter percebido o que ela estava passando...." Ela volta a chorar e soluçar alto, como se cada lágrima fosse carregada por um peso de uma culpa que não pertence a ela
As palavras de Dorothy ecoam no silêncio do hospital, enquanto tento processar tudo o que acabei de ouvir.
"Dorothy , a culpa não é sua... nem da Kate.... Agora precisamos olhar para frente e focar em como podemos ajudar ela daqui para frente.... Eu vou entrar em contato com alguns dos meus contatos para conseguir ajuda psicológica para ela, e vou me certificar de que ela faça os exames necessários para entrar em contato com o especialista e realizar a cirurgia o mais rápido possível...."
" A gente vai ajudar ela a sair dessa....ela vai conseguir....ela precisa...." Dorothy acaba chorando mais um pouco...
Logo seus soluços são substituído por suspiros...
" É melhor você trocar de roupa, não vai querer que ela te veja assim quando acordar...." Ela diz e só então que eu olho pra minha roupa
Minha blusa era branca, mas no momento estava manchada de sangue
" Vai em casa, toma um banho e tenta comer alguma coisa, ela precisa que estejamos bem e fortes pra ficar ao lado dela. " Ela diz e eu concordo com a cabeça
" Eu preciso passar no apartamento e cuidar daquela bagunça-"
" Eu vou pedir pra John fazer isso.... Vou pedir pra minha mãe ficar um pouco com os meninos enquanto ele cuida disso...nesse momento tenta cuidar apenas de você" Ela diz
Relutante eu assinto com a cabeça e me levanto
" Luke.... Obrigada...por tudo... Por estar com ela, por ter cuidado dela...por ....por salvar a vida dela... Obrigada..."
Sinto um nó se formar em minha garganta e eu apenas abaixo a cabeça aceitando suas palavras
Quando chego no apartamento eu tiro minha roupa e coloco na máquina.
Eu fico no chuveiro deixando a água correr... Como se ela tivesse a capacidade de levar todo esse peso pro ralo...mas ela não tem....
Visto uma roupa mais confortável, faço uma pequena mochila com algumas coisas básicas e então dirijo de volta pro hospital
As horas se passam...
Se arrastam....
O tic tac do relógio parece ensurdecedor comparado aos bipes das máquinas no quarto, enquanto a agonia e a incerteza dominam....
Até que finalmente, ela começa a despertar....
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Cintia Maria Lemos Tavares
chorei muito triste a condição dela
2024-08-18
2
Grace 🌻🌷
Aqui na minha rua tem um menino que também perdeu a visão. A mãe fazia de tudo para ajudá-lo, infelizmente ela morreu no princípio do ano. Agora vejo os irmãos tentando ajudar e a ensina-lo a andar pelas ruas e ser independente. Não consigo imaginar o que essa criança passa e como ele sofre.😔😔😮💨😔😮💨
2024-07-31
3
Grace 🌻🌷
Não é mãe, e parideira e nada mais.😤😤😤
2024-07-31
1