Covardia

—O que ele vai fazer meu Deus!

— Calma David! Você está suando frio e tremendo!

Eu seguro firmemente as suas mãos e meu coração dói. Ele estava sofrendo só de imaginar o que o Caio poderia fazer, e eu sabendo que se ele viesse me provar que não teve culpa, eu iria embora com ele dali,como no filme "Uma noiva em fuga".

David começa a passar mal, tamanho o estresse,colocam uma cadeira para ele se sentar e lhe dão água.

Eu olho novamente para o Caio,aguardando ansiosa por uma ação, mas ele se retira para o lado e senta-se junto da sua família.

—Senhor juiz, pode concluir a cerimônia. Meu noivo já está se recuperando!

—Sendo assim, eu vos declaro,marido e mulher!

Todos nos aplaudem,eu ajudo David a se levantar, já melhor depois do susto e o beijo.

Fazemos a nossa saída, e passamos por Caio que nos encara,eu balanço a cabeça negativamente para ele e continuo a caminhar com o meu marido.

......................

Não tive coragem,me deu pena da cara do David, me coloquei no lugar dele.

E se a Alexia quisesse provas? Eu só tinha a minha palavra!

— Bem que a mamãe falou! Você é covarde Caio! Deixou a mulher que ama se casar com outro!

—Eu não consegui! E se ela não acreditasse? E se ele passasse tal mal e desse um infarto por minha causa e se ...

—E se... e se... Covarde! Merece sofrer mesmo! Você a perdeu Caio, a perdeu!

—Helena ! Chega! Não piora as coisas! Vamos cumprimentar os noivos e depois nos retiramos à francesa. - diz minha mãe

Nos dirigirmos até Alexia e David,meus pais,minha irmã e meu cunhado os cumprimentam e em seguida, eu.

—Parabéns David! Desejo toda a felicidade do mundo para vocês! Por favor,faça a Alexia feliz!

—Não tenha dúvidas que viverei para isso!- ele me responde com firmeza. Em seguida me dirijo a ela.

—Você está maravilhosa!

—Obrigada!

Eu a abraço e beijo no rosto,e a falo no ouvido.

—Eu te amo, pra sempre vou te amar!

—Agora? Do que adianta?

David percebe nossa conversa e disfarço.

—O Bê ficará com a minha mãe durante a minha lua de mel. Pode pegá-lo na casa dela nos finais de semana ou se puder durante a semana também.

—Claro! Felicidades a vocês! Vamos pessoal?

Nos retiramos e eu só pensava em dormir para esquecer esse maldito dia!

......................

Após a recepção que foi alegre e agradável, fomos direto para o aeroporto, de onde partimos para a nossa lua de mel em Cartagena na Colômbia. Dias de sol, boêmia e praias lindas. Aproveitemos cada segundo dos nossos dias por lá. Enquanto aproveitamos a banheira de hidromassagem do nosso quarto no hotel,após fazermos amor,David me faz um pedido que não esperava agora.

— Meu amor, vamos tentar engravidar logo?

— Agora? Mal nos casamos, e o Bernardo ainda é muito pequeno para passar por mais uma mudança brusca.

— Eu sei.. mas porque perder tempo?

— Por que a pressa? Fala a verdade!

—Eu quero ser pai, só isso! Eu amo o Bê, eu o tenho como meu filho também, mas ele tem pai e um pai bem presente.

—É para me prender a você?

—O quê? Como assim? - ele pergunta sem graça

— Se está pensando que um filho me prenderá a você, está muito enganado!

—Um filho nos deixaria mais unidos.

—Um filho não me uniu ao Caio...

—O que você quer dizer com isso.

—Nada! Eu não queria brigar em nossa lua de mel. Por favor?

—Tudo bem! Falamos.sobre gravidez daqui alguns meses. Certo?

—Certo!

......................

                 5 meses depois

Os meses se seguiriam arrastados pra mim, é como se eu quase só existisse, como se fosse um ser inanimado.

Tudo eu faço no automático, trabalho,como ,durmo,anda,falo... os meus únicos momentos de alegria verdadeira são ao lado do meu filho, se não fosse a por ele eu não sei se estaria de pé.

Me culpo diariamente pela minha covardia de não ter impedido aquele casamento,continuei a terapia para me ajudar a lidar com os traumas que passei em relacionamentos amorosos e essa covardia que tenho de fugir ou me conformar com a realidade ruim.

Minhas lembranças daquele dia voltaram, e agora Sabine está morando em Paris à trabalho e sem previsão de retorno, nem se eu quisesse poderia provar que não fiz nada, só ela pode confirmar o que fez.

Um determinado dia, vou até a casa de Alexia e David, levar o Bê e peço para conversar com ela na varanda.

—Ele está cansado mesmo, coloquei na cama e apagou!

—Brincamos muito na praia, e ele está pegando jacaré direitinho! Não vejo a hora dele estar em cima da prancha!

—Filho de peixe, peixinho é!

Nós dois rimos juntos, e nos olhamos profundamente,ela disfarça virando-se para o chão.

—Eu queria falar com você sobre a noite da festa de casamento dos meus pais.

—Isso já passou ! Não tem porque reviver esse dia horroroso.

—Eu preciso disso!

Ela aceita me ouvir e começo a falar cada detalhe que me lembro.

— Faz sentido,ficar apagado daquele jeito e com pouca memória não era normal.

—Mesmo sem provas, você acredita em mim?

—Acredito, mas do que adianta? Você deveria ter falado antes.

—Fiquei com medo de você não acreditar em mim,já que não tinha provas.

—Eu só queria que você lutasse por nós Caio! Você sempre foi conformista. Mas agora, já era! Eu sou a mulher de outro homem!

—Mas o seu coração é meu!

—Mas um dia não será mais, você terá alguém e a nossa história ficará de vez no passado. Algo que nunca foi para frente, mas deixou um fruto.

Ela se levanta para entrar e passa por mim, eu a pego na mão e leva me levanto também.

—Tenho tanta saudades suas, de nós dois! - eu a seguro suavemente e a beijo,o nosso beijo intenso e em seguida agressivo e na sala começamos a tirar as roupas rapidamente,a jogo no sofá pronto para penetra-la,mas ela para.

—Não! eu não sou esse tipo de mulher!

Ela se levanta,se veste e também.

—Mil perdões eu perdi a cabeça,mas você também se entregou!

—Eu amo você, Caio! É claro que vou desejar me entregar, mas não posso, não é correto,é falta de caráter e de respeito nosso!

Eu tenho um marido e vou honrá-lo! Nunca mais tentei me beijar ou transar comigo,ouviu bem?

— Ouvi,perdão!

— A sua chance passou,quando você se acovardou naquele dia. O único homem que pode me ter é o meu marido. Por favor, vá embora!- eu vejo lágrimas circundando os olhos dela.

— Eu sou covarde e você precipitada! Casou as pressas sem necessidade,agora estamos aqui, assim! Nós amando,sem poder estar juntos! Você tem tanta culpa nisso tudo do que eu!

Eu pego os meus pertences e ela bate a porta com força atrás de mim.

Dirigindo de volta para casa,atordoado por meus pensamentos,não presto atenção no sinal de trânsito e atravesso com ele fechado pra mim e acabo atropelando alguém. Saio desesperado de dentro do carro e rapidamente o local é cercado de curiosos.

—Você está bem? - grito para a moça jogada no chão.

— Você é cego?Não viu o sinal fechado?

— Desculpe-me moça, estaca distraído! Você está ferida?

— Só ralei a perna e o braço- ela se levanta com ajuda dos outros pedestres ,mas não consegue firmar o pé no chão.

— Rapaz,melhor chamar ambulância para ela. - disse um senhor

— Não precisa! Não bati a cabeça,não foi grave!

— Então eu mesma a levo!

—Já falei que não precisa!

Mas,eu mesmo a pego no colo, a coloco no banco carona e levo até uma clínica.

— O que você está fazendo? Me tira daqui ,eu nem te conheço pra entrar no seu carro!

— Caio!Qual o seu nome?

—Vitória.

—Pronto,estamos apresentados!

Chego a clínica e ajuda entrar

—Você não conhece o SUS né? Por sua cara de filhinho de papai...eu não tenho como pagar essa conta !

—Eu a atropelei, eu arco com as despesas!

Vitória é atendida enquanto aguardo na recepção. Ao sair,ela informa que teve apenas uma luxação no tornozelo.

— Vou precisar ficar afastada do trabalho,que ódio! Vou perder o emprego.

—Vou levá-la para a sua casa.

— Vai me levar em Madureira? - ela dá uma risada debochada

— É o mínimo,depois desse transtorno.

No caminho vamos conversando,e descubro que Vitória é funcionária de uma das unidades dos nossos hipermercados e mora sozinha com uma amiga.

— Agora com esse pé, não terei mãos emprego!

— Não é assim! Olha, tome o meu cartão. Entre em contato amanhã, posso ajuda-lá nessa questão. Trabalho para o grupo Duarte e garanto que você não será demitida.

— Se você está dizendo...- ela pega o cartão.

Eu a deixo na porta de casa,peço desculpas novamente e vou embora. Fico mais atento no trânsito e chego tarde.

— Explica o que aconteceu? A pessoa está bem? - pergunta Helena

— Está sim!Mas se vocês não se importam, só quero banho e cama.Boa noite!

Após minha higiene,me deito cobrindo toda a minha cabeça com as cobertas e simplesmente durmo exausto mentalmente,sem saber dos próximos que devo dar.

......................

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***