O jantar

Visão de Ivan:

Faz dois anos que estou cuidando desse menino. Ele cresceu bem pouco, ainda parece muito delicado e frágil, como se fosse feito de porcelana. Parece que perdi a vontade de devorá-lo, e ao invés disso, estou cuidando dele.

Isso não quer dizer que minha fome por pessoas se apagou, nada disso. Ainda sinto muita fome. E por isso, uma vez no mês, mato uma pessoa. Às vezes, é uma mulher que acabei de conhecer, outras vezes, é algum amigo que fiz no trabalho.

Quando não estou matando, estou comendo a carne que tirei a pele e a cortei, de modo que parece um bife comum. Eu faço carne frita, cozida, e os olhos eu coloco eles de conserva, para comer depois. Claro que Tommy não sabe que a carne é humana, mesmo assim, não o deixo comer. Afinal, seria muito estranho. Por isso, compro carne de vaca e frango para ele comer.

Dias atrás... matei um belo jovem, que estava apaixonado por mim. Um idiota, naturalmente. Fui gentil com ele. Eu deixei que transasse comigo e que me beijasse à vontade... E então o matei enquanto dormia. Ele não sofreu muito. Não sou tão cruel assim. Deixei as suas melhores partes guardadas para depois. Como é gostosa a carne jovem! Isso me faz pensar no garotinho que cuido. Será que vou deixá-lo envelhecer? Tenho minhas dúvidas.

Eu o levo para a escola todo dia, e todo dia, ele volta e me abraça apertado. Certo dia, peguei ele se tocando no seu quarto, curioso. Logo, ficou tão envergonhado que se escondeu debaixo da cama. Está começando a descobrir o seu corpo. É nessa idade que os meninos odeiam as meninas e brincam só entre si. Sorri ao me lembrar da minha própria infância.

Meus pais eram ricos, mas só viviam brigando. Eles nunca tinham tempo para mim. Eu brincava sempre sozinho, gostava de ficar sozinho, e matava os cachorros e os gatos com comidas envenenadas. Gostava de vê-los sofrendo, e depois os enterrava com cerimônia. Certo dia, minha mãe descobriu o que eu fazia, e me trancou dentro do meu quarto por três dias, sem receber comida nem água. Eu odiava minha mãe. Sempre me batia, me espancava, e me xingava dos piores nomes, mesmo que eu não fizesse nada, ela ainda não gostava de mim.

Na adolescência, me tornei um menino bonito, mas tímido e reservado. Continuei matando animais, mas certo dia... eu me descontrolei e matei um dos meus colegas. E foi aí que passei a gostar de matar e comer carne humana. Como sabia atuar e fingir de inocente, ninguém descobriu o que eu tinha feito, e prossegui com as matanças.

Ainda olho para Tommy, e me pergunto se ainda quero devorá-lo. O garoto se mostra mais gentil e alegre a cada dia que passa. Pensa que eu o amo. Comemoramos o seu aniversário de sete anos semana passada. Convidei os seus coleguinhas de escola para ir na festinha, mas poucos vieram. Aparentemente, Tommy não é muito bom em fazer amigos, porque é vergonhoso.

Fomos ao parque ontem. Ele tem medo dos brinquedos grandes, por isso, não fomos. Apenas fomos na roda gigante e no carrossel. Eu, um homem já adulto, indo no carrossel!

Depois, ele pegou a minha mão e me levou para comer sorvete. Claro que fui eu que paguei. Sempre se lambuza quando come sorvete. Parece um bebê! Limpei o seu rostinho com um pano. E ele me olhou, envergonhado. Parece que não gosta quando eu faço essas coisas nele. Quer ser grandinho. Eu sorri.

- Seu adultinho, já fez a sua lição de casa, pelo menos? - perguntei.

- Uhum - ele disse.

- Bom menino. Precisa fazer isso sempre, ouviu? Não gosto de menino preguiçoso.

- Sim, papai.

Vendo que ele estava meio triste, perguntei o que foi.

- Eu queria ter um amigo.

- Mas você não tem amigos na escola?

- Eles são apenas meus colegas, mas nenhum é meu amigo de verdade.

- Humm... entendi. Bem, seja legal com eles, apenas isso — Eu disse. Na idade dele, eu não tinha amigos, então não sei como se faz um amigo direito também. - Seja você mesmo.

- Eu mesmo? Como isso funciona?

Suspirei.

- Seja gentil e carinhoso, como é comigo. E perca a sua vergonha em falar com os outros.

- Como?

- Os outros não são melhores que você, não precisa ter vergonha.

O garotinho ficou quieto e vi seus olhos escuros formarem bolsas de água. Caramba, já vai chorar de novo, pensei. Ele costuma chorar com frequência. É muito sensível.

De repente, fiz cócegas na sua barriguinha e ele caiu no chão da sala, rindo. Não chorou, apenas riu. Eu também ri por um momento. Que pele macia, que rosto fofo, pensei na hora. Ele ria tanto que pedia para eu parar.

- Papai, pare! pare! - ele dava gargalhadas, e eu fazia cócegas nos seus pezinhos. Esqueci que eu queria devorá-lo tempos atrás, e beijei as suas bochechas macias, lhe beijei e disse:

- Você é meu filho querido.

E foi aí que ele me olhou, surpreso.

- Sou mesmo? - ele perguntou, na maior inocência.

- É mesmo! - eu disse, o abraçando.

E foi aí que me dei conta de que nunca vou matá-lo. Sou corpinho vai crescer e vai continuar intacto.

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Comments

anne

anne

eu chorei muito nessa parte 😞

2025-06-22

3

Lara Oliveira

Lara Oliveira

gente é um homem ou uma mulher??

2024-10-27

2

Lara Oliveira

Lara Oliveira

ea polícia amg??

2024-10-27

3

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