O papai é muito misterioso

Visão de Tommy:

Hoje, o papai foi pra aquela mansão grandona e me deixou em casa, somente com minha babá, de novo. O que será que ele tanto faz naquele lugar, hein?

Ainda me lembro de ver aqueles olhos dentro de um pote... eca!!! Como o papai guarda essas coisas na geladeira?!

E ele nunca come a mesma carne que eu como. Ele frita ou cozinha uma carne especial pra ele, que ele não me deixa comer, fala que não é carne pra criança. Ora... E existe carne pra adulto?!

E tem vezes que ele chega de carro com vários pacotes de carne bem embalada. Parece até que foi no mercado. Mas o papai me diz que nunca devo contar pra ninguém dessa carne. Que estranho... por que não poderia contar que ele comprou carne?

O papai, às vezes, é muito estranho. Às vezes, fala coisas estranhas também. Diz que a minha pele é muito macia, e que eu daria um bom prato. Claro, ele diz meio brincando, eu acho... mas ele me esconde alguma coisa, eu sei. Pois, tem vezes que ele apareceu aqui com uma mulher, e depois, ela nunca volta a aparecer. Acho que o papai não é bom com o amor, pois sempre vive trocando de mulher. Que pena, queria ter uma mamãe.

Hoje, uns meninos da escola zombaram de mim, me falaram que meus pais me abandonaram porque eu era muito chato. Dá pra acreditar? Ficaram zombando do meu tamanho (sou um pouco mais baixo que eles) e me chamando de adotado. Foi aí que não aguentei e parti pra cima deles, com raiva. Levei muita surra, pois eram três contra um, ou seja, eu. Chorei, é claro, e de meu nariz saiu sangue.

O papai chegou na escola e quando me viu, todo machucado e com um lenço no nariz, para parar o sangue, ele se aproximou de mim e acariciou a minha face de leve. Aquilo me animou e o abracei na hora!

- Papai... papai! - Solucei, com a cara no seu grande peito. - Papai... você está aqui.

- Seu tolo, onde pensou que estaria? - Ele me disse, limpando o sangue que teimava em escorrer do meu nariz. - Quem fez isso com você?

- Uns meninos...

- Que meninos?

Mostrei onde estavam os meninos, e o papai os olhou com ar sombrio.

- Vamos para casa - ordenou o papai, e eu obedeci. Nunca tinha visto o papai tão nervoso quanto naquele momento.

- Tá bravo comigo? - perguntei, apertando a barra da sua camisa. - Tá bravo? Papai, eu não fiz isso por querer! Eles me falaram que fui adotado por pena, que sou muito feio e burro! Falaram que meus pais não me queriam porque eu era chato e feio!

Ele me olhou, depois se ajoelhou e me olhou bem nos olhos. Comecei a chorar, com tristeza.

- Papai... - solucei. - Desculpe...

O papai me ergueu do chão e me colocou em seus braços, me dando um abraço carinhoso. Ele acariciou as minhas bochechas e me disse pra ficar calmo, que ele não estava nada zangado comigo. Eu fiquei mais tranquilo e ele me levou pra cama, me embrulhou com um cobertor e contou uma história pra mim. Ele parecia o melhor pai do mundo naquele momento.

Foi então que eu, tímido, disse: Eu te amo, papai.

Ele me olhou, surpreso. Mas não disse nada, apenas continuou contando a história de contos de fadas. Mas ele ouviu, sei disso.

- Boa noite - ele me disse, quando terminou de contar. - E se cuida, garotinho.

- Sim, papai! - eu sorri pra ele.

Ele se aproximou de mim e apertou a minha mãozinha com carinho, e depois deu um beijo nela bem de leve.

- Papai... quero um abraço.

E ele me abraçou apertado. O papai é forte e quentinho. Gosto muito quando me abraça, me sinto quentinho e seguro.

E assim terminou o meu dia.

No dia seguinte, volto pra escola, e não encontro mais os meninos que zombaram de mim. Eles estão desaparecidos desde ontem à noite e os seus pais estão desesperados! Bem, pelo menos, hoje, ninguém vai implicar comigo...

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