Durante os dias que se passaram ali, percebi que eles tinham sonhos. Nada mesquinho, nada tão impossível de se realizar. Felipe queria ser pedreiro, assim poderia ajudar a mãe. Pensei para mim. Por que não um arquiteto. Mário queria ser vendedor de frutas, assim poderia comer todas as frutas que quisesse. Aquilo seria engraçado se viesse de alguém com condições financeiras. Mas, quando eles me perguntaram, o que eu queria ser? Fiquei muda, percebi que não sabia. Não tinha almejado um futuro, nem mesmo pensava nisso. E eu achando graça dos sonhos deles. Nem mesmo tinha um para dividir. Aquilo me manteve acordada uma boa parte da noite. No que eu era boa? O que iria fazer da minha vida quando terminasse o ensino médio? eu tinha perguntas, pela primeira vez na minha vida, eu tinha perguntas futuras.
Conheci um amigo dos meninos. Eles chamavam ele de Rex. Eu sei, parece nome de cachorro. Ele levava algumas coisas de comida. Sempre prontos. Era um pote de feijão, era algumas fatias de bolo, as vezes um pedaço de carne. Descobri que ele dividia o pouco que tinha com eles. Rex tinha 20 anos, era magrelo, engraçado, educado, e sempre que podia ia visitar os meninos.
Não sei ao certo em que parte tudo aconteceu. Mas tive um namorico com ele. Aquilo era estranho e diferente. Ele me falava de planos para o futuro. Rex sonhava alto, ele estudava, trabalhava, ajudava a avó. Assim como na casa da Margo, era tudo muito simples, mas organizado, limpinho. Acabei dormindo com ele algumas vezes. Ele era carinhoso comigo, e acabei me envolvendo bem mais do que devia.
Margo me dizia para ficar longe dele, aquilo jamais daria certo. Eu não ouvi os conselhos dela. Aos 16 anos, engravidei. Margo assustada com o rumo que tudo tomou. Mandou avisar a minha mãe. Que mandou o motorista ir me pegar. Ela me levou a uma clínica, e lá eles tiraram o meu bebê.
Eu nunca mais vi o Rex. Minha vida parecia ter virado de cabeça para baixo. Não podia sair, e quando saia os meus passos eram vigiados.
O meu pai não fez nada na época. Apenas lembro que ele dizia. É para o seu próprio bem. Você é nova, não sabe o que quer da vida.
Passei semanas tomando remédios. Quando entendi que não tinha mais volta, e tudo estava perdido. Levantei e tirei todas as minhas roupas do guarda roupa. As que não usava mais, incluindo as de bebê que a minha mãe guardava, e outras coisas. Juntei tudo, coloquei em caixas, e escrevi um bilhete para a Margo.
" Faça bom uso. Venda e pegue o dinheiro para comprar o que precisa. Mande notícias. Helena"
Pedi que chamassem um táxi. E mandei aquelas caixas todas para ela. Junto, alguns alimentos. Tínhamos coisas demais naquela casa.
Tive uma discussão com a minha mãe por causa disso. Ela me disse que não poderia tirar nada daquela casa sem a autorização dela. Quando questionei sobre a casa também ser minha. Ela me jogou em cara que eu era apenas uma bastarda. Minha mãe não me queria e ela me criou. Aquilo foi um choque. Mas ao mesmo tempo pensei que falou aquilo apenas para me ferir.
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Atualizado até capítulo 99
Comments
Tania Loz
vige 😱 🥺
2024-06-22
2
Ŕìťą Đę Ćąššîą
Coitada
2024-02-27
2