A casa era pequena, havia três crianças, e essa mulher. Não tinha como esquecer a forma com que me olharam.
_ Você deve ser a Helena. Eu sou irmã da sua mãe.
_ Você está brincando? _ aquilo não era possível, como assim irmã.
_ Apenas por parte de pai. Eu sei, não parece. Ela é a rica da família que se deu bem. Bom eu sou a Margo, esses são os meus filhos. Felipe, Mário, e Alex. Não tem muito para mostrar a você. Como pode ver, aqui é a cozinha e também a sala, ali fica o quarto onde durmo com as crianças e ali o banheiro. Aliás não temos energia elétrica, se quiser tomar banho, aconselho que faça isso enquanto é cedo. Não temos máquina de lavar, lavamos a roupa no tanque. As vezes precisamos buscar água lá de baixo, pois não tem pressão suficiente. Não aconselho você a ficar andando pela rua tarde da noite. E deveria tirar essas joias, alguém pode assaltar você. Isso se não arrancarem as suas orelhas junto. Não temos TV, apenas um radinho a pilha. Acho que é isso, alguma pergunta?
_ Por que você vive num lugar como esse? _ pergunto olhando tudo em volta.
_ Tem pessoas que não tem nem mesmo um lugar igual a esse para morar. Sabe como foi difícil construir essa casa. Eu não tinha uma casa assim. Morava em baixo de uma lona. Eu sei a sua casa é grande, bonita, com conforto e comodidade. Mas nem todos vivem essa mesma vida.
_ Por que minha mãe não ajuda você. Poderia...
_ Eu não preciso das esmolas da sua mãe. Meus filhos vivem muito bem com o pouco que posso dar a eles. Não me fale dela dentro dessa casa. Nem iluda meus filhos com a vida que você tem. Pode colocar a sua mala no quarto. Terá que deixar suas coisas aí, não tenho guarda roupa.
Não conseguia acreditar que estava num lugar como aquele. Aliás, não imaginava que poderia existir um lugar como aquele. Lembro de ter entrado no quarto, ali existia apenas uma cama de casal. Um pequeno armário sem portas, e algumas caixas de papelão. Estavam todas organizadas. A cama estendida, e poucos brinquedos organizados dentro de uma caixa de madeira.
As crianças começaram a conversar. Voltei até onde eles estavam e se calaram. Margo mandou o Felipe buscar algumas batatas. Mário iria buscar algumas tábuas para começar o fogo. Felipe tinha 12 anos, Mário 10 anos, e Alex apenas 4 anos. Quando cheguei não sabia, descobri alguns dias depois. Eles eram tão miudinhos, tão magrelos, pareciam ter menos.
Nunca vou esquecer, aquele menino buscou três batatas. Não eram grandes, mas eram três batatas médias. Éramos cinco pessoas, para três batatas. Imaginei que ela teria mais. Mas quando a vi descascar, e picar aquelas batatas, percebi que seria apenas elas. Nunca esquecerei a minha primeira refeição naquela casa. Era uma sopa, havia apenas um pequeno punhado de carne moída, aquelas batatas picadas, um pouco de massa, e couve. Vi ela cortar algumas folhas. As crianças estavam felizes com aquilo. Eu comi, pois não havia comido nada durante a tarde. Estava com fome, com medo de passar mal, e ao mesmo tempo tentando entender como eles conseguiam se alimentar somente com aquilo.
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Atualizado até capítulo 99
Comments
Tania Loz
muito triste 😢
2024-06-22
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