Casa de Juan

O apartamento de Juan era modesto e reservado, uma clara diferença em relação ao meu, que estava localizado em uma área mais movimentada e luxuosa da cidade. Seu edifício era menor e menos chamativo em comparação com os altos prédios modernos que cercavam o meu. Os prédios ao redor eram bem cuidados, mas a área era mais tranquila e menos agitada do que a que eu estava acostumada. Quando chegamos, Juan estacionou o carro do lado de fora e foi até a portaria do edifício, enquanto eu observava tudo de dentro do carro. Várias vezes, ele foi indicado para mim, talvez para mostrar ao porteiro que eu estava com ele e que eu era bem-vinda. Parecia que ele estava fornecendo algumas informações adicionais ao porteiro. Não demorou muito e os dois se aproximaram do carro, indicando que tudo estava em ordem. A sensação de segurança e descrição do local era reconfortante, dadas as questões delicadas em que me encontrava

-Este é o Anthony. – Disse Juan, abrindo a porta para mim. – Ele cuidará de você quando eu não estiver por perto.

Anthony era um rapaz jovem, de cabelos lisos e pretos. Sua pele era parda, com olhos puxados e um sorriso branco como a neve. Quando me aproximei, ele fez uma saudação com a cabeça e imediatamente pegou minhas coisas que estavam no porta-malas. Juan precisou retornar à empresa, mas deixou claro que eu poderia ligar para ele a qualquer momento. Anthony gentilmente me transferiu até o apartamento localizado no bloco C, no terceiro andar. Havia um total de 8 blocos no complexo, cada um com 6 apartamentos. O meu esteve a apenas uns 3 minutos de caminhada do local onde estávamos. Anthony me mostrou as instalações e todos os reparos que eu poderia fazer. Ele também me explicou o funcionamento do prédio e como chamar os porteiros em caso de necessidade.

-Então, senhora, acredito que seja tudo. – Disse ele, indo em direção à porta. – O senhor Juan me instruiu a manter sua presença aqui em segredo. Vou informar aos outros porteiros.

-Agradeço pela descrição.

-Se precisar de alguma coisa, é só chamar.

Depois que Anthony saiu, fiquei andando pelo apartamento por alguns segundos antes de começar a organizar minhas coisas. Não demorei muito para que eu as arrumasse nos espaços disponíveis. Os móveis eram todos de Juan, pois não tive tempo de trazer os meus. O apartamento era claramente a cara dele, com vários quadros, livros e uma paleta de cores consistente. Em contraste, o meu antigo apartamento costumava ser dominado pela cor rosa.

-Nossa, preciso de um banho. – Digo para mim mesma. 

Dirijo-me ao banheiro e ligo o chuveiro, na esperança de que a água quente chegue mais rapidamente. Vou pegando minhas coisas para o banho, mas quando estou prestes a entrar, percebo que a água está gelada. Com um suspiro de frustração, visto uma roupa novamente e vou até o interfone.

-Porteiro? – Digo, tremendo de frio.

-Sim, senhora? – Uma voz grave responde.

-A água do meu apartamento não quer esquentar.

-Qual é o número do seu apartamento, senhora?

-Bloco C, número 3.

-Tem alguém a caminho.- Ele respondeu e eu desligo. 

Não demorou muito para que Anthony chegasse.

-Boa tarde novamente, senhora. – Anthony estava sorrindo ao entrar. Vim para concertar o chuveiro.

Fiz um gesto para que ele entrasse, embora estivesse desconfortável com o frio que me envolvia. Anthony parecia animado, o que me surpreendeu, dado o desconforto que eu estava sentindo. Senti-me na sala e aguardei. Às vezes, parecia que o mundo estava conspirando contra mim, pensei com amargura. Cerca de uma hora e trinta minutos depois, Anthony aparece na sala, todo molhado, como se tivesse tomado um banho. No entanto, ele ainda mantinha um sorriso no rosto.

-Pronto, senhora, o chuveiro está quentinho e pronto para ser usado.

-Vejo que você o testou primeiro. – Dei um sorriso.

-Sim, tive que trocar o banheiro inteiro, por isso demorou um pouco.

-Não posso deixar você sair assim, espere um minuto. – Fui até meu quarto e peguei um roupão. – Aqui, use isso. – Entreguei a ele.

-Não precisa, senhora. Isso acontece com frequência por aqui. – Ele tentou devolvê-lo.

-Faço questão que você use, depois pode me devolver.

-Obrigado. – Agora ele estava visivelmente tímido. O roupão ficou curto nele, já que era alto demais. – Vou indo, senhora, qualquer coisa pode me chamar.

Fiz um sinal com a cabeça, e ele partiu. Meu celular começou a tocar, e eu o peguei rapidamente. Era Juan.

-Senhora, você está bem? – Ele disse em um tom baixo.

-Estou sim. – Respondi.

-Sua sogra e seu marido estiveram aqui e causaram um escândalo. Eu disse a eles que você está viajando e não sei quando volta.

-Eles parecem bravos?

-Sim.- Sussurrou.

- Envie todas as informações por e-mail. Vou trabalhar daqui e preciso que vá até meu apartamento e pegue o restante das minhas coisas. Eu vou te ligar caso precise de algo, está bem?

-Ok, senhora, vou providenciar tudo.

-OK. – Desliguei o telefone.

Minha noite foi terrível. Passei horas no banheiro, vomitando e sofrendo com constantes dores . Mandei mensagens para Juan, mas ele não respondeu. Não pude chamar minha mãe, pois ela poderia ser seguida pela minha sogra, que provavelmente já deveria ter informado a ela sobre o meu desaparecimento. Talvez eu não tenha sido muito clara sobre a família do meu marido. Além de serem poderosos, eles têm ligações com um lado obscuro, que se escondem sob uma fachada respeitável. Como eu era uma pessoa que não podia expressar minha opinião, muitas vezes eu apenas observava em silêncio.Uma vez, lembro-me de ouvir meu sogro extremamente irritado porque alguém estava ameaçando tomar seu lugar na empresa. Ele comentou que gostaria que essa pessoa desaparecesse e, se possível, que sua vida fosse encerrada. Duas semanas depois, o corpo daquela pessoa foi encontrado no rio, e o caso encontrou sem solução. Fiquei chocada e comentei isso ingenuamente com meu marido, que me respondeu com uma ameaça: "Se você abrir a boca, você será na próxima." A partir daquele dia, eu nunca mais fui a mesma. Passei a observar tudo de longe, mas nunca me atrevi a questionar ou desafiar. E é por isso que estou me escondendo agora. Eles podem me encontrar, e eu nem quero pensar que não possa acontecer comigo. Vi o sol nascer pela janela, meu corpo estava em frangalhos e mal consegui ficar em pé. Ouvi alguém destrancar a porta e fiquei apavorada, sem me mover, esperando o pior. Foi então que Juan entrou, me viu naquele estado e correu em minha direção.

-O que aconteceu, senhora? – Disse ele apavorado.

-Eu não sei, só passei a noite vomitando. – Respondi.

-Será que é alguma virose? – Ele foi até a cozinha e pegou um copo com água. – Você precisa se manter hidratada, caso isso for uma virose

-Você tem certeza de que ninguém te seguiu?

-Claro que não, eu vim de ônibus. - Disse ele.

-Juan, tenho medo de fazer algo com meus pais.

-Não precisa se preocupar, cuidei disso. Fui até seus pais e os mandei para a casa da minha família. Vim perguntar se você gostaria de ir também.

-Acho muito arriscado, Juan, e meu passaporte ficou na casa deles.

-Mas, senhora, acho que além da traição, tem algo a mais...

Antes que eu pudesse explicar, alguém bateu na porta.

-Quem é? – Ele perguntou encostando a cabeça na porta.

-Sou eu, senhora. Anthony. Vim trazer o roupão que me emprestou. – Disse ele.

-Você mal chegou aqui e já está se envolvendo com o porteiro?

-Cala a boca, Juan. – Digo, indo até a porta. – Ele veio aqui para restaurar o chuveiro e acabou se molhando todo. Então, emprestei a ele um roupão. – Abro a porta.

Anthony não estava trabalhando no momento, a julgar pelas roupas casuais que usava. Tinha um sorriso encantador nos lábios, e um perfume amadeirado cruzou minhas narinas, fazendo meu estômago revirar. Não perdi tempo e corri o mais rápido possível para o banheiro, onde vomitei o que ainda restava no meu estômago.

- Vixe, essa virose está bem brava, senhora. Será que é por conta da água? - Gritou Juan quando estava no banheiro.

-Eu irei verificar isso, senhora? - Anthony disse. - Talvez a senhora não esteja acostumada com a água daqui.

-Seria melhor pedir água mineral. -Disse Juan.

-Vou providenciar isso, senhor Juan. - Escutei a porta fechar, e Juan se mudou do banheiro.

-A senhora está bem? - Disse ele do outro lado da porta. - Se continuar assim, iremos ao hospital.

-Eu acho, Juan, que isso não é virose. - Respondi, tentando entender o que estava acontecendo.

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Comments

Ryan Antunes

Ryan Antunes

perfeitooo

2023-11-27

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