Vergonha

Enquanto eu ficava do lado de fora da porta, incapaz de ouvir a conversa entre Dominic e o Sr. Robert, não pude deixar de me perguntar o que eles estavam discutindo com tanta intensidade.

A curiosidade me consumia, mas ao mesmo tempo eu sabia que adentrar aquele escritório era arriscado. Dominic podia ser um verdadeiro furacão quando contrariado, e eu não queria me envolver em uma tempestade que não era minha.

Ainda assim, a incerteza sobre o que estava acontecendo me atormentava. O que Será que estavam discutindo? Ou talvez estivessem planejando algum novo plano para me tornar ainda mais miserável.

Independentemente do assunto, eu sabia que precisava estar preparada para o que viesse a seguir, porque no mundo de Dominic, nada era simples ou previsível.

Decidi me dirigir à sala de Dominic, onde ele estava trabalhando incansavelmente. Minha presença ali, apesar de indesejada, era muitas vezes necessária. Engoli minha apreensão e bati suavemente na porta antes de entrar.

- Sr. Dominic, desculpe incomodar, mas eu queria saber se você ainda precisa de mim. Estou indo almoçar, murmurei com cautela, mantendo um olhar respeitoso.

Dominic ergueu os olhos dos documentos que estava analisando e me avaliou por um breve momento antes de responder, sua voz fria e distante.

- Não, Isadora, não preciso mais de você por enquanto. Pode ir almoçar, ele disse com indiferença, indicando que minha presença era dispensável naquele momento.

A resposta dele ecoou como uma confirmação de que eu era apenas uma peça substituível em sua vida, e parti da sala com uma sensação de inadequação que já estava se tornando um sentimento familiar.

Dominic havia proibido que eu usasse o elevador privado, uma de suas muitas maneiras de me mostrar seu controle e autoridade sobre mim. Com isso em mente, escolhi descer os primeiros andares usando as escadas, um ato de pequena rebelião.

Conforme eu avançava pelas escadas, a sensação de liberdade crescia a cada degrau. No entanto, ao atingir um determinado andar, não pude resistir e recorri ao uso do elevador comum para finalizar minha jornada até o refeitório. Era uma pequena vitória, uma maneira de me lembrar de que, apesar de suas tentativas de me controlar, ainda tinha o poder de fazer minhas próprias escolhas.

Quando finalmente cheguei ao refeitório e me juntei à fila, minha amiga, Laura, me puxou subitamente pelo braço. Seu rosto estava vermelho de excitação e ansiedade, e mal conseguia conter sua emoção.

- Isadora, você não vai acreditar no que eu acabei de ouvir! Laura sussurrou, com os olhos brilhando. Ela não podia esperar para compartilhar as últimas fofocas.

Eu a ouvi falar mal de Dominic em voz baixa, criticando sua atitude arrogante e seu tratamento cruel em relação a mim. Estávamos tão imersas em nossa conversa que não percebemos que Dominic estava se aproximando.

Quando finalmente o vi, uma onda de tensão percorreu minha espinha. Ele estava logo atrás de Laura, olhando fixamente para nós com um olhar gélido.

Todos no refeitório pareciam ter notado sua presença, especialmente os cabelos molhados que ele ainda não tinha secado. Os olhares desconfiados e curiosos dos outros recaíram sobre nós, e o clima ficou tenso.

Dominic não disse uma palavra, mas seu olhar cortante deixou claro que ele estava ciente de nossa conversa e não ficou nada contente com o que estava ouvindo. Era mais uma demonstração de seu controle e poder sobre mim, e eu sabia que haveria consequências por nossa indiscrição.

Minha expressão de surpresa foi evidente quando percebi que Dominic tinha ouvido nossa conversa. Acreditava que ele sabia que eu o chamava de vil e riquinho mimado, e o choque me deixou momentaneamente sem palavras.

No entanto, Dominic não perdeu tempo em revelar sua irritação. Sua voz fria e cortante me fez arrepiar quando ele disse que eu deveria esperá-lo naquela noite para uma conversa. Era claro que havia consequências para minhas palavras, e ele não estava disposto a deixar a situação passar impune.

Cruzando os braços sobre o peito, fiz um bico de contrariedade enquanto imaginava que ele tinha feito aquilo de propósito, como um lembrete silencioso de nossa briga anterior. Era uma maneira dele me lembrar que, não importasse o quanto eu tentasse resistir, ele ainda tinha o controle sobre mim.

Quando minha amiga, Laura, notou minha expressão preocupada, ela tentou me acalmar, dizendo:

- Não fique assim, Isis. Acredito que ele não tenha escutado nada. Ele provavelmente pediu para você esperá-lo até tarde por causa do trabalho.

Suas palavras eram reconfortantes, mas eu ainda tinha minhas dúvidas. A presença de Dominic atrás de nós quando falávamos mal dele era uma coincidência curiosa demais para ser apenas obra do acaso.

Mesmo assim, eu queria acreditar na explicação de Laura, pois o pensamento de enfrentar uma noite de conversa séria com Dominic não era algo que me agradava.

A vergonha começou a me envolver quando percebi que as fofocas no refeitório haviam começado, alimentadas pelos cabelos molhados de Dominic. Além disso, o Sr. Diamond, que tinha uma fama notória de mulherengo, estava envolvido na história, o que só aumentava a atenção sobre nós.

As risadinhas e cochichos dos outros pairavam no ar, e os olhares curiosos e maldosos não passavam despercebidos.

Eu abaixei a cabeça, sentindo-me exposta e envergonhada pela situação que eu mesma ajudara a criar.

Dominic, de alguma forma, conseguia tornar a vida ainda mais complicada e embaraçosa, e eu me perguntava como poderia enfrentar o restante do dia com essa nuvem de fofocas pairando sobre nós.

Quando retornamos às nossas respectivas salas na empresa, Laura percebeu o quão constrangida eu estava. Ela, sendo uma verdadeira amiga, não hesitou em tentar me confortar.

Ela me deu um sorriso gentil e sussurrou: "Não se preocupe, Isis. Essas fofocas logo passarão. Dominic não é digno de tanto da nossa atenção. Apenas concentre-se no trabalho e ignore o que os outros dizem."

As palavras de Laura eram um bálsamo para a minha vergonha e desconforto, e eu sabia que podia contar com ela para me apoiar, mesmo nos momentos mais difíceis.

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