Capítulo 16

Enquanto uma batalha acontecia na superfície do lago, outra se desenrolava entre Tomás e os demônios. Anika, incapaz de fazer qualquer coisa, apenas podia abaixar a cabeça enquanto permanecia amordaçada. O fato de ter se lembrado disso partiu ainda mais seu coração, especialmente porque seu primeiro marido era aquele que deveria tê-la protegido.

"Ele realmente me amou alguma vez?"

Essa foi a pergunta que ela se fez ao lembrar-se da primeira vez que o viu, quando seu avô conseguiu acordar seu casamento com ele, semanas antes do seu único parente falecer. Ele era tão bonito, com um sorriso gentil; no entanto, a opinião de seus pais, principalmente de sua sogra, valia mais do que qualquer sentimento possível, por menor que fosse, que ela pudesse ter desenvolvido por ele.

Sem saber que o destino dela e de Félix estavam misteriosamente ligados, mesmo sem se conhecerem, os dois irmãos gêmeos lutavam por eles; no entanto, a escuridão que habitava em ambos, sobretudo no coração de Anika, proporcionava uma vantagem para os demônios. No entanto, naquele momento em que estavam prestes a morrer, suas almas, assim como a de Félix, estavam ligadas aos caminhos do destino.

Nas intrincadas redes do espaço-tempo, onde existe apenas um deus maior, que deu poder a deuses menores para gerenciar os diferentes universos e mundos que existiam, houve duas universos que colidiram devido a uma condenação que gerou um efeito borboleta.

Tudo por uma traição que a alma de um homem, que foi designado para proteger alguém que o amou, cometeu impiedosamente. Isso provocou uma série de reencarnações que afetaria não apenas eles ou as pessoas próximas às suas diferentes vidas, mas também todos os filhos que nascessem em suas reencarnações.

Essa era uma das muitas verdades que a falsa santa conhecia, pois tinha sido cúmplice na tortura daquele traidor; no entanto, devido ao enfraquecimento dos demônios em seu universo, ela teve que pedir ajuda a uma subespécie demoníaca de outro mundo. Mas isso não foi fácil, pois implicou roubar uma parte do domínio das redes espaço-temporais.

"Você sabe, você é bonito", disse a falsa santa segurando o braço de Cédric com força, "uma vez que o miasma acabar com os três, eu não me importaria de tê-lo como amante".

"Não, obrigado. Uma mulher decadente como você me causa náuseas", gritou, jogando-a contra a própria barreira de fogo amaldiçoado. "Meu irmão está com eles, tenho certeza de que ele os libertará em breve".

Cédric correu com força para contra-atacar antes que a maldita mulher se recuperasse, pois, como paladino do deus do destino, ele poderia lutar contra demônios de alto poder, mas, devido ao enfraquecimento do deus, seu poder também diminuía. Por isso, ele precisava se mover com cuidado, esperando que o fogo interior de seu irmão libertasse tanto Anika quanto Félix, as reencarnações dos filhos do homem condenado por traição.

"Já deve faltar pouco para que Tomás queime a porta", pensou enquanto lutava contra a falsa santa. Ele só esperava que, se seus cálculos estivessem corretos, pelo menos Félix ou Anika pudessem lembrar de suas vidas passadas. Ele apenas esperava que aquela experiência próxima da morte não os destruísse com a presença de Tomás, ele só precisava que um deles desse o passo, apenas um, para obter uma vantagem ainda maior na guerra que estava acontecendo entre o céu e a terra.

Enquanto isso, Tomás terminava de incinerar o último demônio dentro da igreja. Sua raiva era tanta que ele não mediou a altura das chamas, fazendo com que todo o recinto entrasse em colapso por causa do fogo. Sem ver a situação de Anika, ele pegou com fúria o demônio que assumiu a forma de seu padrasto para finalmente matá-lo.

"Você... Realmente quer salvar a vida de um monstro como ela?" o demônio perguntou tentando se defender.

"Por que você a chama de monstro?" perguntou Tomás, sufocando-o ainda mais forte.

"Porque essa vida que ela teve é culpa de sua herança familiar", disse antes de se transformar em cinzas. "Todo o seu sofrimento é culpa dela mesma".

Tomás ficou atônito, sem entender nada. Sentiu-se desorientado em uma teia de aranha, tanta informação o confundia, mas ao mesmo tempo o orientava. Segundo o que entendia, seu primo e Anika estavam ligados por algo mais, e esse algo mais era a verdadeira razão pela qual o deus do destino o havia reencarnado em seu passado.

—Não me importa se ela acabar sendo a filha do próprio rei dos demônios — disse começando a procurá-la entre o fogo — ela é agora a mãe dos meus filhos, ela é minha porra!

Começou a golpear um pequeno casulo que havia se formado ao redor do corpo frágil de Anika, piorando ainda mais sua complicada situação porque seu corpo físico já estava preso em uma esfera. Se aquele lugar fechasse mais sua alma, seria difícil tirá-la de lá.

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