Anika continuava sem compreender a razão pela qual precisavam dela. Ela entendia que possuía metade do cristal de Tomás, mas não sabia como usá-lo. Ela não era uma maga, nasceu sem sensibilidade para a magia, seria melhor que eles pedissem ajuda para outros magos da torre.
- Entendo sua preocupação\, lady Anika\, dou-lhe minha palavra como líder da torre de que você pode nos ajudar - acalmou o ancião - mesmo que não possa usar magia\, o fragmento do cristal reconhece sua outra metade dentro do corpo do mestre Tomás. Se algo acontecer\, de maneira inconsciente\, seu cristal se ativará. É apenas uma questão de estar perto dele o tempo todo.
- O tempo todo? - perguntou Tomás - Você espera que eu me torne uma criança para ser cuidado o tempo todo?
- Filho\, se seu calor interno ajuda meus netos\, você terá que dormir na mesma sala que eles - respondeu seu pai com firmeza.
Tomás resmungou, não gostava de dormir acompanhado. Nunca pensou que teria que fazer algo pelos filhos, tendo cuidadores especiais para eles. Se seus inimigos o vissem nesse papel de mãe, certamente ririam.
- Os gêmeos chegaram! - ouviu seu irmão dizer.
As duas babás de seus filhos se aproximaram dele, enquanto uma terceira cuidadora se aproximava com um estranho pedaço de tecido em sua mão. A mulher empalideceu diante da presença de Tomás, mas quando a irmã do grande mestre vinha amamentar os bebês, essa era a forma mais simples de carregá-los.
- Tire o casaco\, mestre Tomás - disse o ancião.
Com irritação, ele tirou a parte de cima de sua roupa. Isso surpreendeu até Anika, que não imaginava que aquele homem alto tivesse o corpo tão marcado por cicatrizes e queimaduras. Embora entendesse que ele era um soldado puro, seu corpo certamente tinha sofrido muito por causa de suas lesões. Havia até uma área em sua lombar que tinha uma cor mais escura que o resto da pele.
"Ele tem um corpo debilitado como o meu?"
Pensou enquanto analisava a situação, Tomás era um homem bonito, mas fisicamente marcado. Isso a fez pensar por um momento que as pessoas que tiveram uma vida melhor do que a dela também poderiam ter sofrido. Esse pensamento provocou um sentimento dentro dela, fazendo-a não se sentir tão sozinha.
No entanto, enquanto sua debilitação a fazia sentir-se um monstro, para ele ainda permitia que ele tivesse sua beleza. Como prova disso, havia o rubor de todas as mulheres presentes ali, o que sua pele perdia em aparência, ganhava nos músculos bem definidos, até seus peitorais pareciam dois travesseiros onde se poderia descansar.
Respirando fundo, Tomás sentou-se em um sofá projetado especialmente para mães que amamentam. Ali, com a ajuda da terceira cuidadora, eles amarraram os dois recém-nascidos contra seu corpo com o pedaço de tecido que servia como uma espécie de canguru. Seu irmão tentou tranquilizá-lo para que ficasse mais confortável, mas foi apenas quando sentiu a pele macia de seus bebês contra sua pele áspera que ele conseguiu relaxar um pouco. Isso o lembrou da sensação que tinha quando era criança, ao acariciar um filhote de cachorro recém-nascido.
"Por que me sinto tão confortável?"
Foi o que ele pensou, sentindo sua pele arrepiar ao perceber a suave respiração de seus filhos contra ela. Essa era uma cena que estava fazendo seu irmão rir, mas ao olhá-lo decidiu aguentar. Era poético ver o rosto tenso de Tomás enquanto lutava para controlar o que seu corpo sentia.
- Tomás\, filho\, relaxe o rosto! - pediu seu pai - se os bebês acordarem\, irão se assustar com a cara de ogro que você está fazendo.
- Cara de ogro que herdei\, então também vão se assustar com vários por aqui - provocou seu pai - eu...
Ele se endireitou mais ao sentir que ambos os bebês, não apenas um, mas os dois gêmeos, começaram a amassar seus peitorais. Se estivessem centímetros mais abaixo, teriam usado para tentar tirar leite. Isso fez com que Cedric não pudesse conter a risada, tanto que seu pai teve que pedir-lhe que saísse por um momento para não incomodar seu filho.
"Será que eles me veem como uma mulher esses dois?"
Pensou enquanto respirava profundamente, diante do olhar atento de Anika, que estava incrédula ao ver aquele homem, que emanava terror, ser dominado por dois recém-nascidos. Seu pai parou por um momento as babás, que queriam acomodar melhor seus netos. Era a primeira vez que via seu filho tão paciente, embora fosse perceptível que ele queria explodir. Queria ver até onde ele seria capaz de suportar o iceberg que seria o futuro líder do clã.
—Filho...
— Nem uma...única...palavra — disse com os olhos arregalados, tentando controlar a sensação da saliva de seus filhos — eu não perdi uma única batalha, meus filhos não serão exceção.
Aquela resposta fez com que tanto o líder da torre mágica quanto seu pai suspirassem cansados, pelo menos esperavam que Tomás esquecesse a guerra por um segundo, tratando-se de seus próprios filhos. No entanto, aquela reação das crianças fez com que as esperanças do ancião mago aumentassem, pois estavam reagindo melhor à magia de seu pai do que à magia dos magos de sua torre. Definitivamente, com Tomás, aqueles dois bebês poderiam encontrar calor suficiente para regular sua temperatura e crescer mais saudáveis.
—Devem estar com fome, iremos buscar as reservas de leite que a senhora nos deixou — falou a terceira das babás — ela prometeu voltar esta noite, então alimentará bem antes de dormir.
Dito isso, as três foram atrás do leite nas conservas. Aquilo levaria um tempo, pois estava em uma despensa subterrânea, regulada por uma runa mágica, que permitia manter uma temperatura constante. Aquilo fez Anika se sentir um pouco mal, pois ela não podia dar leite aos seus filhos.
"Na verdade, eu sou apenas um estorvo, nem consigo alimentar meus bebês... se eu desaparecer, eles não sentiriam minha falta"
Pensou amargamente, baixando o olhar para que ninguém visse suas lágrimas. Ela estava tranquila sabendo que seus bebês estavam sendo bem cuidados, mas já que não sabia fazer nada e estava doente, sem poder se levantar da cama, não se sentia sequer merecedora de desfrutar do mesmo calor que seus gêmeos tinham direito devido ao sangue que corria em suas pequenas veias.
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Atualizado até capítulo 20
Comments
Rosária 234 Fonseca
é muito ruin se sentir assim
2024-03-15
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