Capítulo 5: Um Café

Em uma típica quarta-feira, o despertador tocou pontualmente às 5h da manhã. Era hora de iniciar mais um dia na empresa. Com a energia de quem estava disposta a conquistar o mundo, me levantei e segui para o banheiro para começar minha rotina matinal.

Após me arrumar, fui até a cozinha e me deparei com um cenário desolador. A geladeira e o armário estavam praticamente vazios. Nos últimos dias, eu havia usado o cartão de vale alimentação da empresa para comprar mantimentos para minha avó e minha irmã, pois ainda não tinha recebido o meu salário. Queria garantir que Julia não passasse necessidade nenhuma, mesmo enfrentando minhas próprias dificuldades financeiras.

Decidi, então, tomar um café na casa da minha avó antes de sair para o trabalho. Ao chegar lá, fui recebida com uma atitude mal-educada pela senhora Margareth, como era de costume. Suas palavras cortantes e críticas eram o pão nosso de cada dia, uma rotina que eu já conhecia muito bem.

- Bom dia irmã, como está? – Julia me perguntou enquanto terminava de passar o café e estava arrumada para ir para a escola.

- Bom dia, estou ótima irmã – Eu disse pegando uma xícara e colocando minha bolsa em cima da mesa

- Lá vai você Layla, mais um dia trabalhar nessa tal empresa grande, quero ver quando eles descobrirem a bandida vagabunda que você é, se não irão te colocar na rua – Margareth gritava olhando para mim

- Me deixa em paz velha porca – Eu respondi

- Poderia ganhar mil vezes mais se eu te apresentasse alguns clientes, mas prefere se fazer de orgulhosa e ir trabalhar em escritório de gente rica, não dou um mês para você continuar nesse trabalho, você não tem vocação para trabalhar, só pra ser prostituta – Ela continuava dizendo

- Cala sua boca velha insuportável – Eu respondi nervosa

- Cala a boca você vagabunda, a conta de luz venceu e preciso que você arrume o dinheiro, não te convidei para voltar a morar nessa casa, e a conta aumentou porque você demora no chuveiro e vive usando o secador, está pensando que essa casa é hotel? Sabe que a conta do loft é junto com a nossa, se não ajudar com as contas, pegue suas coisas e saia daqui – Ela gritava

- Se eu tivesse para onde ir, pode ter certeza que eu não estava mais aqui, agora para de gritar na minha cabeça, porque foi eu quem te deu o dinheiro para comprar e reformar essa casa, se eu quiser te expulso daqui e te coloco em um asilo, velha insuportável, eu vou pagar a porcaria da conta – Respondi nervosa pegando a conta que ela segurava na mão e coloquei em minha bolsa

- Acho bom você pagar mesmo, você não ouse me colocar em um asilo, eu sou a sua avó, cuidei de você sua ingrata – Margareth gritava

- Cuidou porra nenhuma, sou eu quem tive que ajudar desgraçada – Eu respondi nervosa

- Vó, por favor, deixa a Layla tomar café em paz – Julia pediu colocando café em uma xícara para mim

- Eu não estou impedindo ninguém de nada Julia, e arruma essa cozinha antes de ir para escola, não quero nenhuma bagunça, você está ficando folgada igual sua irmã

Margareth disse e se retirou da cozinha nos deixando sozinha, eu tentava engolir em seco e manter a compostura, infelizmente as vezes aquela mulher conseguia me tirar do sério. Aquele tipo de tratamento já não me afetava como antes, mas sempre deixava uma marca de tristeza.

Sabia que tinha que seguir em frente e provar a todos, inclusive a ela, que eu era capaz de alcançar meus objetivos, apesar das adversidades da vida. Terminei meu café em silêncio, sem comer mais nada, me despedi de Julia e saí para enfrentar o dia que se desenhava.

A fome que senti naquela manhã era um lembrete constante das minhas responsabilidades e das pessoas que dependiam de mim. Eu precisava persistir e lutar, não apenas por mim, mas pela minha irmã. Caminhei pelas ruas com neblina por volta das seis e meia da manhã para enfrentar o transporte público que me levaria até a empresa. O ônibus era o primeiro passo da jornada, seguido pelo metrô que me levaria até o coração de São Paulo, onde se encontrava a sede da empresa.