Lizzie

Lizzie

CAP01-MORNING GLORY

_ ALÔ ANNE? ESTÁ EM CASA? AMIGA PASSEI!

Sinto meu coração tão quentinho. Me escutar dando essa noticia me deixa tão agradecida. ANNE esteve comigo todos esses anos, é impossível não ser a primeira a ficar sabendo.

_ Lizzie? MEU DEUS AMIGAAAA… VOCÊ É MARAVILHOSA. EU JÁ SABIA que conseguiria, ANDA, VEM PRA CASA, PRECISAMOS COMEMORAR MUITO. E NÃO ME DIGA NÃO. TCHAU E VEM LOGO. TE AMO.

Ela desliga antes que eu pudesse dar alguma opção de lugar para essa comemoração. Meu projeto final está concluído, vou poder procurar um emprego melhor, ajudar a ANNE que estava segurando as pontas com as despesas maiores, ela trabalha para um empresa muito boa desde que terminou a faculdade. Somos amigas de infância, crescemos juntas na mansão dos pais dela onde minha avó era governanta, nossa infância era muito divertida. Hoje moramos juntas à 3 anos e meio e não sei o que seria da minha vida sem Anne e o apoio que tivemos da família dela.

Aceno com a mão quando avisto de longe o carro que chamei pelo aplicativo, me vem à cabeça todos esses anos de dedicação, não tive tempo para muita coisa, diversão era ouvindo as presepadas que a Anne se enfiava quando estava apaixonada e tomando um vinho as vezes. Só de lembrar me sai alguns sorrisos. No caminho troquei algumas palavras com o motorista bem simpático por sinal, a viagem pareceu ser muito mais curta que o normal e logo entrei na rua do nosso apartamento, moramos numa boa localização perto do centro de Nova York.

- Tchau Sr James! Muito obrigada pela viagem. Se tivesse opção de 10 estrelas no aplicativo eu te daria!

Desci rapidamente até a portaria, chamo o elevador e toco a campainha de casa, minhas chaves estão em algum lugar na bolsa e com tanta coisa nas mãos, vai ser impossível achar. Anne abre a porta correndo e me recebe com um abraço muito caloroso.

_ Calma, calma, vai amassar seu bolo, toma aqui, passei no Little Collins no almoço.

_ Vamos, entra, já estou escolhendo nossas roupas, obrigada amiga, estou com muita fome. Ah e antes que pergunte, eu prefiro sair do que pizza e vinho em casa. Você merece comemorar simmmmm. 💃🏻

Olhei pra ela com uma cara de dúvida e mesmo sabendo que mereço um momento mais animado, tudo que me vem à cabeça não passa de trabalho, trabalho e trabalho. _ Já tem ideia de onde vamos ? _ Balbuciei algo pra parecer mais interessada na nossa comemoração, ela está muito animada como sempre e receber minha licença para advogar talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu nos últimos anos, pode ser que seja uma boa ideia, sair hoje.

📲 Trilililimmm… trilililimmm..

O telefone da Anne toca, é o Jhon certamente, eles se falam o dia todo.

- Perfeito. Pode ser lá sim, Lizzie vai amar. Estaremos prontas as 23:00. Ah.. Jhon você vai sozinho né? .. tá, Até já.

_ O que foi esse “você vai sozinho ?” Hahahahaha..

_ Lizzie já falei pra parar de assistir dorama. Para de gracinha. Eu e ele somos amigos. 🙄

Anne tenta disfarçar a empolgação, mas ela sabe que comigo não funciona, conheço minha amiga muito bem. Ela entra no quarto e vai direto ao enorme closet, a fortuna que ela é herdeira vem do ramo da alta costura aqui em NY. Talvez eu nunca tenha visto um brinco fora do lugar nela. Inclusive eu poderia ter aproveitado mais esse lado fashionista para aprender a me apresentar melhor, pode me ajudar profissionalmente de certa forma, geralmente eu pego o suéter mais confortável no meu armário e sou capaz de apostar que entendo mais de anéis estelares do que de moda.

_ Pronto Lizzie, ficou bom ein, olha ali no espelho, voce esta magnífica de azul.

_ hahaha, se eu acreditar em tudo que você e vovó falam sobre mim, vou acabar me achando a modelo mais bem paga das passarelas de Milão.

_ Tudo bem, se não acredita na gente para pra pensar quantos caras dispensou nos últimos tempos. Acho que seus olhos enfeitiçam eles ou coisas assim.

_ Sem exagero lindona, termina ai o cabelo e para de falar abobrinhas se não vamos nos atrasar.

Anne pega em minhas mãos numa cena bem mãe e filha que ela ama fazer comigo como se ela fosse 15 anos mais velha e experiente.

_ Amiga, olha pra mim. Se abre um pouco Lizzie, você precisa se cobrar menos. Se divertir as vezes não faz mal. Inclusive com carinhas. Sua avó está bem esses dias, todos cuidam muito bem dela no hospital, Deixaram ate de cobrar a maior parte dos remédios e agora que vai achar um emprego melhor não tem desculpas para não cuidar mais de você e do seu coração, tenho certeza que vai ser chamada para todos os processos seletivos de semana passada, relaxa um pouco.

_ Anne eu sei, obrigada por sempre se preocupar, prometo dar mais atenção pra isso. 👀

Concordei pra mudar o foco da conversa porque Anne sempre acha que o que me falta é um amor, eu entendo a preocupação dela mas não consegui sentir absolutamente nada nos últimos anos a não ser vontade de terminar meus estudos, trabalhar e cuidar da minha avó, fora que meu último relacionamento foi de mau a pior, ele era possessivo, carente, eu não podia respirar, preciso de tudo menos de homem perturbado atrapalhando minha vida, esse quase me enlouqueceu. Foi meu único relacionamento e não durou três meses, ainda bem. Vovó quando está bem, sempre tem coisas boas a dizer, segundo ela a hora certa pra tudo existe e que saberei quando encontrar alguém especial, acredito nela, mas tem dia que olho meu meio e penso, Onde? NY tudo gira em torno de dinheiro, famílias desfilando seus filhos para casamentos arranjados e só pensam em união de poderes, ainda bem que Anne vive bem e sinto muita felicidade dela ter tido a sorte de um lar amoroso, com valores e que pensa em algo alem de acumular mais e mais riquezas.

DingDong … DingDong …

_ Lizzie, ele chegou, vem! 🗣️

Olho pra porta e Jhon está encostado nos esperando. Belíssimo, cabelo milimetricamente para trás, olhar muito marcante, roupas escuras que realçam muito seu tom de pele, da pra entender porque Anne morre de ciúmes, olhando de fora, o que mais me deixa curiosa nesses dois ė que ele também faz tudo pela Anne, discutem como namorados, saem juntos sempre, se falam o dia todo, mas não assumem o que sentem. A família de Jhon ė muito influente, possuem a maior farmacêutica do país. Eles dois vem de uma criação muito parecida, daria certo eu acho. Entende porque me sinto deslocada no meio deles? Apesar de amar muito a Anne, no fundo eu sei que não pertenço a esse mundo e que minha história não ė regada a flores, chá da tarde com as amigas e viagens internacionais, definitivamente a benção de ser herdeira não caiu sobre mim. Tô aqui rindo só de pensar como eu me sairia sendo de uma família rica, sou meio destrambelhada, as vezes vergonhosa, eventos, fotos, discursos, melhor eu nem pensar nisso, mesmo não sendo a mais fácil do mundo, minha vida é muito feliz, eu amo cada pedaço espalhafatoso da minha história.

Lizzie, onde você está trabalhando mesmo? _ meus pensamentos são interrompidos pela pergunta de Jhon que manobra o carro para estacionar, ja escuto a música de dentro da baote.

_ Resolvi fazer uma pausa no estágio recentemente para finalizar meu projeto e poder advogar. Peguei a licença hoje.

_ Sério? Parabéns flor de Lizzie. Depois me lembra de falarmos mais sobre isso. Chegamos e é noite de festa mocinhas, trabalho a gente fala amanhã. Anne pega seu casaco, a noite vai esfriar mais.

Tuntzz.. tuntzzzz.. tuntz..

_ Putz, Anne meu celular ficou no carro, me espera na entrada.

_Jhon me empresta as chave?

Apresso meu passo atė o carro, pego meu celular, Fecho a porta e de repente sinto um esbarrão, malditos saltos que Anne me enfiou, tentei ao máximo me equilibrar mas foi em vão, tudo caiu, bolsa aberta, tudo espalhado no chão, abaixo para pegar e escuto algumas palavras misturadas a música alta. _ presta mais atenção querida _ foi o que deu pra entender, respirei fundo tentando achar um fio de calmaria dentro de mim, olho pra cima esperando um pedido de desculpas da princesa das trevas mas a única coisa que escuto é alguém aproximando.

_ Sther tudo bem aqui?_

ah tá! Quem me colocou nessa situação ridícula se chama STHER. Meus sentidos foram roubados pelo cheiro que acompanhou a voz masculina e preocupada atrás de mim. Não consigo levantar os olhos, nem olhar para trás pra responder qualquer coisa, que situação tosca, sinto meu rosto ruborizar e tento o mais rápido possível recolher todas as coisas jogadas no chão, saio andando. A leve ardência no meu joelho me faz pensar que posso ter ralado e precise de um banheiro com urgência pra me limpar e me recompor. Não, calma, tranquei o carro? Meu Deus Lizzie!

Olho pra trás muito relutante, ja estava a uma certa distância e pude ver o casal conversando ainda próximo ao carro de Jhon. Aperto o alarme e os dois olham pra mim. Dois segundos, três segundos, anda Lizzie, para de olhar e anda, meu corpo não responde aos meus comandos, fico presa no olhar forte e penetrante daquele homem, músculos perfeitamente torneados, terno escuro de corte fino, tudo, até as mãos nos bolsos, uma masculinidade muito marcante. De onde saiu tanta beleza? É como se eu ainda pudesse sentir o cheiro dele olhando de longe. Lizzie minha filha volte a si. Meus sentidos rapidinho se organizaram quando ela puxou ele pelo braço chamando atenção e o virando de costas pra mim.

Avisto Anne me esperando na entrada da Boate, MorninGlory, balada mais requisitada de NY, a anos funciona apenas para convidados. A beleza da arquitetura, a temática asiática que se mistura a convidados bem bonitos me faz esquecer do pequeno incidente no estacionamento, vou me envolvendo com a música, detalhes desde as cores na sala de acesso ao bar aos enormes quadros demarcando ambientes são de um bom gosto inquestionável, tudo com uma assinatura muito sensual. Procuro o banheiro mais próximo. Pronto, tudo no lugar, me sinto mais calma, procuro Anne de longe e ela me chama pedindo pra eu escolher a bebida da noite.

_ Não Anne! Vamos comigo e escolhemos juntas. _ Ela deixa Jhon por alguns minutos e andamos até o primeiro garçom que nos oferece uma especie de cardápio eletrônico com todas as opções de comidas e bebidas que a casa oferece, tudo totalmente a vontade, os serviços prestados são impecáveis, talvez seja por isso o tão desejado nome na lista de convidados da MorninGlory e como grandes negócios são fechados em noites como essa, o ambiente tem que ser á altura.

_ Lizzie, Anne. _ jhon levanta a mão pedindo nossa presença. _ Tenho um amigo que quer conhecê-las, ele chegou de Hong Kong a pouco tempo. tudo bem pra vocês ? _ Olho pra Anne e ela concorda imediatamente.

_ Jhon? _ Uma voz grossa, um tom educado.

Não pode ser, minha mente grita silenciosamente, que seja qualquer um, menos o cara do estacionamento. Meu rosto começa a esquentar de vergonha, mas só pode ser ele, a voz, o cheiro …

_ Anne, Lizzie. Esse è meu amigo Mateo. Mateo, essas são Anne e Lizzie. _ me viro e fico absorta quando vejo Anne correr e abraçá-lo como se fossem amigos de infância. Olho Jhon com cara de espanto e mil perguntas me passam em questões de segundos na mente. Eu cresci com Anne, eu definitivamente lembraria.

_ Jhon tem a mania de achar que sò tenho ele de amigo aqui em NY, Mateo._ Anne resmunga e todos seguem rindo e eu imóvel, não sei se é vergonha do acontecido no estacionamento ou se a beleza dele de perto me deixou estática.

_ Muito prazer Srta Lizzie._ Meu corpo inteiro responde involuntariamente ao cheiro e a voz dele, estendo a mão e tento disfarçar, não foi nada confortável ter encontrado ele numa situação tão constrangedora. Minha mente sessou o falatório quando ele me envolveu para um cumprimento. O arrepio no primeiro toque, seu olhar fixo no meu me deixa desencontrada, ele não desvia olhar um segundo.

_ Você está bem? Não tive tempo de te perguntar na entrada.

_ Sim, não foi nada, acabei me desequilibrando.

_ Fico feliz por estar bem!

Sorrio procurando minha bebida, não preciso olhar pra Anne pra saber que ela está com cara de quem não entendeu nada. Talvez ela esteja com a mesma cara que eu fiz quando vi que eles são amigos desde a infância.

_ No final das contas todos já se conhecem, é isso? _ Jhon sorri e segue conversando com Mateo. Definitivamente sim, ele é o homem mais bonito que já vi. O assunto fica totalmente voltado para trabalho e remessas exteriores que Mateo faz em sociedade com a família de Jhon. Entre um gole e outro ele insiste nos olhares e em perguntas quase que pessoais sobre mim, eu tento responder de forma mais breve possível, mas minha mente se prende completamente no terno torneando o corpo, na voz e nos gestos firmes, sinto o cheiro dele em mim, o perfume que ele usa se apresenta 3 minutos antes dele, volto a realidade quando Anne me toca a mão e sem que Mateo perceba ela sussurra _ vocês ja se encontraram ? _ peço licença aos meninos com a desculpa de que vi uma amiga que queremos cumprimentar, pego Anne pelo braço e saímos.

_ Meu Deus amiga, que vergonha. Ainda sinto meu rosto ardendo. Ele me viu quando voltei para pegar meu celular no carro de Jhon. 🫣

_ Nunca vi Mateo tao impressionado com alguém Lizzie, ele não tirou os olhos de você.

_ Amiga eu to morrendo de vergonha, ele é lindo demais, só acontece essas coisas comigo mesmo.

_ Ah Amiga.. para vai … ele só é educado, cheiroso, dono do império Holdsfield, não tirou os olhos de você desde que chegou na mesa, só isso tudo não precisa ser motivo pra vergonha. 🤭_ Posso sentir o tom sarcástico na voz de Anne, ela sempre tenta agitar minha vida amorosa.

_ Amiga, ele me viu de joelhos no chão, catando minhas coisas que caíram depois que a namorada dele esbarrou em mim. Se eu a conhecesse diria que foi de propósito. E de onde saiu essa amizade entre vocês ? Eu nunca vi ele antes.

_ Namorada? Mateo? Você caiu ? Hahhahaha🤣 É muita informação e a festa começou agora! Amiga Impossível, ele não assume namoro com ninguém desde que o noivado com a filha única dos Felths terminou. Foi um dos maiores burburinhos da High Society de NY. Sther e ele foram o casal mais esperado naquele ano, uniriam as maiores fortunas do país e ninguem até hoje sabe o motivo do casamento não ter acontecido.

_ Pois preparem os estilistas. O casal está de volta. Foi ela quem me derrubou no estacionamento. Eles chegaram juntos.

Pego mais uma bebida com garçom enquanto Anne me olha com os olhos arregalados, algo revirou meu estômago falando sobre os dois, com certeza foi lembrar da ex atual futura, noiva .. sei lá.

_ Vou tentar saber mais amanhã, você não se lembra dele por ele ser mais velho que a gente, mas a irmã mais nova dele é a Vallery.

_ A Vallery?

_ Sim, o Jhon foi pra pista, vamos.

Tuntz.. tuntz.. tuntzz..

02:00 am

A festa está tão incrível. Tirando a noiva ou sei la o quê do Mateo que resolveu ser extremamente desagradável comigo todas as vezes que veio na nossa mesa, certamente percebeu a proximidade dele comigo e acha que eu tenho culpa, se me conhecesse saberia que quero tudo nessa vida, menos o que é dos outros. Mas ela não vai estragar minha noite. Não sei como reuniram muita beleza num lugar só, nesse tipo de ambiente geralmente são fechados diversos tipos de acordos profissionais, porem muita gente sai daqui com alguém e obviamente que se eu quisesse sair acompanhada não seria de alguém que já veio acompanhado. Mesmo tentando prender minha atenção na festa a sensação do cheiro dele ficou perambulando minha mente, nossos olhos se encontraram quase a noite toda, e todas as vezes evitei retribuir. Anne jura que ele está interessado, mas o fato dele ser comprometido me deixa completamente confusa a respeito de quem ele é, ao lado de Jhon parecia um cara completamente sério, inteligente, educado, sempre posturado, mas desde que saiu da nossa mesa insiste em me procurar com os olhos não demonstrando nenhum tipo de afeto pela mulher ao lado dele. Vai Lizzie toma mais um gole, talvez passe! tem que passar, ele é noivo, essa inquietação em mim não passa de um absurdo, não posso nem pensar sentir algo.

_ Amiga, Amiga .. vamos ao banheiro? _ Anne ja esta bem altinha depois da quarta rodada de whisky, se eu não parar por aqui com certeza vou ter ressaca tambem. Busco minha bolsa e saímos. Anne entra correndo e resolvo esperar no gigantesco rol de acesso aos banheiros, espelhos imensos cobrem toda a parede e parte do teto, emoldurados com detalhes finos de uma madeira muito bem trabalhada, luzes baixas, um ambiente muito sofisticado e reservado. Sinto o telefone vibrar em algum lugar da minha bolsa, imediatamente pego para conferir meu aplicativo de mensagens, sempre tenho ele em mãos caso minha avó precise de algo emergencial, mas era só Jhon enviando fotos que tiramos no nosso grupo.

Num impulso involuntário me viro quando escuto passos, de novo paraliso, dois segundos, três segundos, passos.. nossos olhos se prendem com uma facilidade assustadora.

_ Lizzie ? _ leves palpitadas no coração!

_ Oi Mateo. _ Guardo meu celular na bolsa tentando disfarçar mas com toda certeza do mundo meu rosto não esconde a vergonha.

_ Fiquei preocupado lá fora. Está tudo bem mesmo? Queria poder ter te ajudado mas saiu antes que eu chegasse.

_ Ah.. sim, não foi nada, só fiquei um pouco envergonhada com a situação. Estou bem. Obrigada.

_ E sua avó está bem?_ Minha cabeça dá um nó. Como ele sabe da vovó se o conheço a 3 horas no máximo. Tenho certeza que não a citei em nossa conversa na mesa.

_ Tenho feito o possível. Éhh .. Desculpa, como sabe sobre minha avó?

_ Ela fica no Lenox Hill, o mesmo hospital que visito sempre. Ele tira uma mão do bolso da calça perfeitamente ajustada ao corpo, luto pra não acompanhar os gestos com o olhar. Preciso segurar a onda.

_ Talvez hoje não tenha sido a primeira vez que te vejo mocinha. _ Se pensar na quantidade de vezes que entro e saio de lá todos os dias, faz sentido, não deve ser difícil ele ter me visto por lá mesmo. Isso Lizzie, parabéns, ele deve ter te visto nos seus melhores looks!

_ Não tive oportunidade mais cedo, mas queria te entregar, estava caído perto do carro do Jhon. Acredito ser seu. _ Ele estende a mão bem cuidada, e ao abrir reconheço imediatamente a flor no pingente do meu colar. Levo a mão ao pescoço _ Minha...

_ Flor de Liz ? Ele me interrompe fechando a mão, demonstrando ter reconhecido o tipo da flor.

_ Muito obrigada. Esse colar é muito importante pra mim.

_ Posso? _ ele abre o colar e caminha na minha direção. Não consigo dizer exatamente porque, mas obedeci, me virei e por alguns segundos de frente pro espelho nos olhamos fixamente, não consigo explicar a conexão, essa energia quando ele se aproxima, é quente, forte. Ele passa os dedos colocando meu cabelo de lado, toda minha nuca fica descoberta, e esse é o único momento que ele tira os olhos dos meus e termina de colocar o feixe do colar voltando meu cabelo pro lugar, nessas alturas eu já não consigo definir o que está acontecendo comigo.

_ Obrigada! _ Falo voltado a mim e me virando, mas minha respiração sessa no momento que sinto ele tão próximo, o cheiro, o hálito quente misturado ao Whiskey que tomamos, ofegantes, ele não se moveu propositalmente, pelo contrário, apoiou uma mão no espelho e seus lábios nos meus. Por alguns segundos senti coisas que jamais sentira antes. Mas como um balde de água fria nas nossa cabeças o afasto.

_ Mateo, Não.

O telefone dele toca confirmando o porque desta situação não fazer o menor sentido.

Sther chamando, o visor do celular no brilho máximo não deixou duvida. Olhei pra ele e tentei sair, senti sua mão no meu pulso tentando me impedir.

_ Por favor Mateo, apenas não confunda as coisas. Você me causou problemas hoje.

_ Lizzie, eu sinto muito não queria causar nenhum…

Sai antes que ele terminasse de falar, como? Não sei, meu corpo está quente, entrei no banheiro atrás de Anne e me sentei respirando fundo buscando achar meu juízo, a enorme poltrona parece me abraçar, e claro, Anne que me conhece como ninguém, começou o interrogatório.

_ Ei olha pra mim, quê que foi?

_ Ainda tentando entender porque fico assim quando esse cara chega perto de mim.

_ Esse cara quem Lizzie?

_ Mateo amiga. O que significam esses olhares, essas investidas? Ele me beijou agora, ou melhor quase me beijou agora, ele pensa que é quem? Pior ainda, ele pensa que eu sou quem? ele está com a noiva, namorada sei lá.

_ Calma amiga. Ninguém entende Mateo. E Porque está tão afetada? Disse não e pronto, acabou.

_ Estou com raiva Anne, meu coração quase saiu pela boca só dele chegar perto de mim, onde ele está com a cabeça?

_ Calma, vem, me abraça. Eu sei quem você é, e você não fez nada, a gente não escolhe sentir essas coisas. Quer sair daqui? Eu chamo Jhon e vamos embora. Sther te provocou a noite toda também. Mateo se mete em cada uma.

_ Não Anne, eu vou, chamo um carro no aplicativo. Não estraguem a noite de vocês tá ? Eu só não quero sair daqui e olhar pra ele, não queria ver ele com ela, não vai ser legal.

_ Você não vai embora sozinha, vamos nos despedir de Jhon.

Anne sempre foi muito protetora, ela sabe também o quanto me chateia essa idéia que todos os homens tem de que nós mulheres estamos sempre disponíveis para o primeiro rico que aparecer em nossas vidas. Fala sério, odeio essa mentalidade ridícula. Que confiança é essa? Meu pai ao que parece foi um desses, mas essa parte da minha vida é algo que eu não gosto nem de lembrar.

_ Lizzie!! _ Anne me olha sem graça.

_Mateo e Sther estão na mesma mesa que Jhon.

_ Ele é muito babaca Anne, espero lá fora então, avisa Jhon que não me senti bem e estamos indo tá?

Raiva, só isso que estou conseguindo sentir. Pelo menos não perdi meu colar, ele é a única lembrança que tenho da minha mãe, ela sempre usava e vovó guardou, ganhei quando fiz quinze anos.

Deixei o salão de entrada em direção a enorme escadaria que da acesso a boate, a noite está muito fria, sinto minha pele toda arrepiada quando passo as mãos me abraçando na tentativa bem em vão de me esquentar. No fundo eu sei que a raiva é de mim por eu ter sentido algo, eu queria ele, não tem como negar.

_ Ei, Lizzie? Espera! _ dois segundos, três segundos, preciso começar a parar de bugar quando escuto essa voz. Me viro pra olhar e ele está se aproximando, involuntariamente dou dois passos pra trás e tento ir em direção ao táxi mais próximo, fui perturbada o suficiente essa noite por aquela mulher, e por causa dele com certeza, chega. Sigo com passos firmes em frente.

_ Lizzie, um minuto só. _ De novo meu corpo responde de imediato á mão dele no meu pulso tentando me impedir de seguir em frente. É como se ao menor toque tudo incendiasse.

_ Mateo não temos nada para conversar. Eu já estou com meu colar, você foi muito gentil em me entregar, eu de verdade aprecio a boa vontade, mas NÃO, não temos nada para conversar.

_ Lizzie…

_ Me solta Mateo… Por favor solta meu braço.

_ Lizzie me desculpa ..

Escuto de longe o pedido de desculpa e não olho mais para trás até chegar no táxi, entro explicando meu endereço e pelo vidro fechado consigo sentir o olhar que esquenta meu corpo todo acompanhando o carro até virar a esquina.

Envio uma mensagem para Anne avisando que resolvi esperar em casa pra ela não vir. Vim calada até a portaria do meu prédio, uma mistura de raiva da situação, mas ao mesmo tempo com vontade dele, do cheiro dele... Que loucura essa noite, dentro de mim uma confusão só, mas amanhã, amanhã é outro dia. Um chuveiro quente e cama resolvem tudo.

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