_ Eu preciso de uma esposa, André, preciso para ontem.
No banco de trás do carro, a caminho de um Starbucks, Otávio Miller olhou para o relógio pela décima vez em uma hora. O riso surpreso de André irritou até a última célula nervosa de Otavio.
— Então escolha qualquer uma e se case.
O conselho despreocupado de seu melhor amigo talvez tivesse algum mérito se Otávio pudesse confiar nas mulheres de sua vida. Infelizmente, não era o caso.
— E correr o risco de perder tudo? Você me conhece melhor que isso. Eu não preciso de emoções para atrapalhar algo tão importante quanto um acordo matrimonial.
Um acordo — era exatamente disso que ele precisava. Um contrato. Um negócio que beneficiasse ambas as partes durante um ano. Depois, cada um poderia seguir seu caminho e nunca mais olhar para a cara do outro.
— Algumas mulheres com quem você anda não teriam problema algum em assinar um pacto antenupcial.
Ele já tinha pensado nisso. Mas havia trabalhado arduamente para conquistar sua reputação de canalha sem sentimentos, e não precisava estragar tudo fingindo estar apaixonado para que uma mulher subisse ao altar com ele.
— Preciso de alguém que concorde com o meu plano, alguém por quem eu não sinta a mínima atração.
— Tem certeza de que esse serviço de namoro é o caminho certo?
— Compatibilidade, não namoro.
— Qual é a diferença?
— Eles não atendem aos seus interesses amorosos; atendem ao seu plano de vida.
— Que romântico. — O sarcasmo de André falava bem alto.
— Aparentemente, eu não sou o único nessa situação.
André riu e engasgou com a própria respiração.
— Na verdade — disse —, eu não conheço nenhum outro homem com o seu título e a sua riqueza que tenha contratado um estranho para lhe arranjar uma mulher.
— Esse sujeito foi muito bem recomendado. É um empresário que ajuda homens como eu em situações semelhantes.
— Qual é o nome dele?
— Mel Gandhia.
— Nunca ouvi falar.
O trânsito obstruía o cruzamento a dois quarteirões de onde Otavio marcara o encontro com o tal empresário. Os segundos se passavam rapidamente, ultrapassando o horário marcado. Droga, ele odiava se atrasar.
— Tenho que desligar.
— Espero que saiba o que está fazendo.
— O que eu faço é tratar de negócios, André.
Seu amigo bufou, em um tom desaprovador.
— Eu sei. É com relacionamentos que você estraga tudo.
— Vá se foder. — Mas Otávio sabia que seu amigo estava certo.
— Você não faz o meu tipo.
O motorista de Otavio deu uma guinada para poder avançar. Implacável, como seu chefe gostava.
— Vejo você à noite para tomarmos alguma coisa.
Otavio desligou o telefone, guardou-o no bolso do casaco e se recostou no banco. Muito bem, estava atrasado. Homens em sua posição podiam chegar com meia hora de atraso e ainda haveria pessoas brigando para fazer parecer que era culpa delas. Muita coisa estaria em jogo nessa reunião. Dependia de Mel Gandhia encontrar-lhe uma esposa antes do fim da semana, para que ele pudesse ficar com a casa ancestral que acompanhava seu título — isso para não mencionar o restante da fortuna de seu pai.
Ele realmente esperava que o contato de seu assistente pessoal soubesse do que estava falando. Caso contrário, Otavio poderia ser forçado a abordar o tema casamento com Bruna, ou talvez com Lia. Bruna gostava mais da própria independência do que do dinheiro dele. E o fato de ela ter um amante, além dele, a tirara da corrida matrimonial. Sobrava Lia. Linda, loira e já quase futura ex por causa de suas indiretas sobre exclusividade. Ele não gostava da ideia de iludi-la. Era um canalha, mas nunca cruel. Algumas mulheres discordavam disso, e os tabloides o consideravam arrogante e ardiloso. Se os jornais desconfiassem do que ele estava fazendo, escreveriam sobre o assunto e o transformariam em motivo de piada. Ele queria evitar escândalos. A realidade, entretanto, era uma merda, e ele sabia que seu falso casamento precisaria parecer verdadeiro para manter os advogados de seu pai satisfeitos.
Adrian parou o longo carro preto junto ao meio-fio e rapidamente abriu a porta de Otavio diante do café pintado de verde e ,branco. Com a pasta de trabalho na mão, Otavio ignorou as cabeças viradas quando entrou na loja. O rico cheiro de grãos recém-moídos invadiu suas narinas enquanto ele examinava as mesas à procura do homem que imaginava ser Mel Gandhia. Otávio supunha que encontraria um homem de terno, carregando uma pasta repleta de fichas de possíveis esposas.
À primeira vista não encontrou nada, então tirou os óculos escuros e recomeçou. Um jovem casal, cada um com seu notebook, bebericava seus lattes em uma mesinha. Em outra, um homem de bermuda e camiseta discutia com alguém ao celular. Um casal fazia pedidos no balcão, com um carrinho de bebê ao lado. Avançando um pouco mais, Otávio notou a silhueta delicada de uma mulher com uma massa de cabelos ruivos encaracolados. Ela estava de costas e tamborilava com os dedos do pé ansiosamente, ou talvez estivesse ouvindo música com fones de ouvido. Com os olhos ainda espreitando a pequena multidão, Otavio encontrou um homem solitário sentado em uma poltrona de veludo. Usava calça casual e parecia ter quase cinquenta anos. Em vez de uma pasta, segurava um livro. Otavio estreitou os olhos e captou a atenção do sujeito. Mas, em vez de um lampejo de compreensão, o olhar sombrio do homem voltou para o livro.
Que droga. Talvez o sr. Gandhia estivesse preso naquele mesmo engarrafamento. Atrasos nunca eram um bom presságio para clientes em potencial, independentemente do negócio de que se tratasse. Se Otávio tivesse escolha, teria dado meia-volta e ido embora. Então ele passou pela ruiva solitária, contornou o carrinho de bebê e pediu um café simples. Resignado, se sentou por alguns minutos para esperar. Colocou a pasta em uma mesa vazia e foi pegar o café quando o adolescente atrás do balcão chamou seu nome.
Otavio sentiu o peso do olhar de alguém percorrer lhe a espinha. Examinou o ambiente para ver quem o observava. Instantaneamente, um par de olhos verde-esmeralda se estreitou. A mulher delicada sentada sozinha não estava ouvindo música ou lendo uma revista. Estava encarando-o. Seus olhos impressionantes se desviaram para um notebook antes de voltar para ele. Um lampejo de reconhecimento surgiu. Ele já tinha visto essa expressão antes, cada vez que alguém ligava seu nome a sua imagem. Ali, na Califórnia, isso não acontecia com tanta frequência quanto em casa, mas Otavio conhecia a sensação.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Marina Silva Sales
Eita que apaixonou logo de primeira pela ruiva 🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰
2023-12-25
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