"Nossas vidas são definidas por momentos. Principalmente aqueles que nos pegam de surpresa."
Vermelha.
— Olhe os modos, os modos Rubia.
Advertiu Lary.
— Não se esqueça de que você é o Escolhido, precisa dar o exemplo, causar boa impressão. É uma pena que não deem aulas de etiqueta aqui. Qual o garfo para a salada.
Caligrafia. O jeito mais elegante de estripar um oponente.
Por um segundo, pensei que Deni fosse investir contra Martin.
— Chega, Martin.
O tom tranquilo de Lary insinuava algo de
ameaçador.
— Vamos continuar onde estamos até Dóris chegar.
— Ela chegou.
Uma mulher surgiu com passos largos pela porta. Vestia-se como os demais Inquisidores, porém tinha pendurado no pescoço um medalhão de ferro no formato de uma bússola.
Os cabelos, presos em várias tranças que formavam um coque, pareciam palhas de milho.
Estava acompanhada de outra mulher, cuja aparência lembrava uma única palavra: feroz. O cabelo muito preto cortado rente ao couro cabeludo e uma tatuagem do que parecia ser um intrincado conjunto de rendas cobriam toda a pele caramelo de seu pescoço.
O cinturão estava repleto de facas, cujos cabos brilhantes refletiam os raios de sol como mortíferos faróis de alerta.
— Sheron!
Lary correu pelo salão e agarrou a guerreira tatuada em um abraço de urso.
— Bom ver você também, Lary.
Sua risada era baixa e rouca.
— Como está Rubia?
— Ainda brigando com Lary.
Ele sorriu.
— E morrendo de saudade de você, claro.
Ela retribuiu o sorriso.
— Se tudo der certo, vou poder vê-la em algumas horas.
Lary pôs as mãos nos ombros da moça.
— Hoje à noite não vai ser bem um reencontro.
— Já vou estar no lucro.
Disse.
Martin se aproximou do par. Pegou no cotovelo de Sheron e a virou.
— Está vestida a caráter.
Sheron e Martin encaixaram os antebraços no que parecia uma espécie de ritual curioso de saudação.
— Ouvi dizer que temos convidados especiais.
Disse ela, olhando em volta. Seus olhos pousaram em mim e ela então ergueu o queixo.
Surpreendida, quase dei um passo atrás. Havia sido um gesto evidente de... respeito.
Duas perguntas perseguiam uma à outra em minha cabeça: Quem essas pessoas pensam que eu sou? O que querem de mim?
Sheron fez uma reverência vigorosa para Lary.
— Estamos prontos para partir?
Lary olhava para ela e em seguida para mim.
— Ainda não.
A ruiva de feições rústica sorriu para os dois.
— Não tem problema. Isso significa que não teremos que retroceder.
Ela acenou para mim.
— Vermelha, é uma honra conhecê-la. Meu nome é Sheron.
— Obrigada.
Retribuí o aperto de mão e sua força me surpreendeu.
Tudo nessa mulher, desde a voz fortemente grave ao seu comportamento majestoso, revelava autoridade.
— Apesar de não ter muita certeza sobre essa
parte da honra.
Ela riu.
— Você salvou o progênito, o que quer dizer que provavelmente salvou a todos nós.
— Você ainda nem me explicou o que o fato de eu ser o progênito quer dizer.
Deni agora estava ao meu lado.
— Sheron tem sido minha babá desde
que cheguei aqui.
— Não sou sua babá.
Protestou Sheron.
— Não dei sequer uma palmadinha em você, o que é uma pena.
Deni arregalou os olhos. Fitou meu rosto e balançou a cabeça negativamente, mas não evitou que meu sangue fervesse.
— Sheron!
Lary lançou um olhar severo em sua direção.
Estava crente que Martin fosse cumprimentá-la pela piadinha tirada de
seu repertório usual, mas o rapaz parecia mais desapontado do que Lary.
Olhei a estrutura física da garota e comecei a calcular quanto tempo levaria para arrancar seus braços do restante do corpo. Definitivamente, menos de dez minutos. Talvez menos de cinco.
— Relaxem, estou brincando.
Provocou ela, mas em seguida olhou
apreensiva para Rubia.
— Desculpe, Rubia.
— Desculpas aceitas.
Um sorriso se formou nos lábios de Rubia e a
transformou brevemente.
— Vamos precisar de tempo para ensiná-lo quem é realmente, Deni. Tenho certeza de que a espera é frustrante, e sinto muito por
isso. Mas seu papel será desempenhado um pouco mais à frente nessa jornada. Qual será a função de Vermelha nessa história é a pergunta mais complexa.
— Minha função?
Perguntei, esquecendo Sheron, que certamente voltaria a provocar Deni. Mas agora ela olhava Martin com um sorriso malicioso.
— Eu sou a Seta.
Disse Rubia.
— O que quer dizer que neste momento
sou eu quem dá as ordens por aqui.
— Ahn?
Franzi a testa.
Ela tocou a bússola de ferro pendurada no pescoço antes de apontar para Lary.
— A Seta supervisiona e orienta os Guias de cada divisão. Você já conheceu o Guia da divisão Hunter.
— O que é a divisão Hunter?
Perguntei, pensando no símbolo terra na
porta.
— Vamos explicar tudo no momento oportuno. Eu prometo. Mas há um
assunto urgente que pede nossa atenção imediata. Precisamos da sua ajuda, se
aceitar nos ajudar.
— Como posso ajudar?
Minha voz estava carregada de desconfiança.
Por mais que me pedissem que confiasse neles, minha expectativa era de que em algum momento os Inquisidores fossem me armar algum tipo de cilada.
Ela sorriu, mas a expressão era triste.
— Precisamos que você volte para Wolf Cite.
Torci para que tivesse conseguido me manter neutra. Voltar para Wolf Cite. Era o que eu queria, não era? Então por que tinha a impressão de que minha pele havia virado pedra?
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Sintia Oliveira de castro
isso é verdade
2023-09-01
9
Boneca De pano
verdade viu
2023-08-31
5
rô
verdade.
2023-07-11
7