Forças Do Destino
Um céu carregado por negras nuvens e rasgado por inúmeros relâmpagos é tudo que consigo ver nesse momento. Olho ao redor e vejo o vultos das árvores e o sons dos seus galhos estalando com o toque do vento forte que sopra por todos os lados, dando-me a certeza de que uma tempestade impiedosa se aproxima. Estou assustada e o meu corpo treme por inteiro.
Como vim parar aqui? Eu não sei. Mas sei que preciso encontrar um lugar seguro o quanto antes.
As cenas daquele terrível pesadelo ainda são vívidas na minha mente, e o meu coração ainda bate de forma disregular por conta de todo o terror que me atormenta.
Há muitos anos, todas as noites a mesma cena se repete diante de mim, deixando-me completamente perdida em desespero, pois, de repente, não mais que de repente, vejo-me escondida entres os escombros de um acampamento completamente destruído.
Há corpos espalhados por todos os lados, enquanto as tendas então em chamas e muitos ainda lutam por suas vidas tentando fugir daqueles homens que nos atacaram de forma tão covarde.
De onde estou consigo ver o corpo de uma mulher estirado ao chão, após ter sido brutalmente violentadas por aqueles homens perversos e sem alma. Não consigo reconhecê-los, mas sei que pertencem à esquadra de polícia de São Martim, já que essa não é a primeira vez que nos atacam e parecem felizes com todo o mal que fizeram, pois bebem e riam, caçoando do sofrimento de todo um povo.
A dor que cresce dentro de mim, é tão grande, que sinto vontade de acabar com eles e vingar o sangue dos meus irmãos mortos, com minhas próprias mãos, porém, nada posso fazer. Sou apenas uma criança assustada escondida atrás dos destroços daquilo que um dia chamei de lar, enquanto o resto é destruído ao meu redor.
Despertar de toda essa agonia nem sempre é tranquilizante, pois há momentos em que a minha realidade é tão angustiante, quanto o desespero daquele pesadelo, como agora, por exemplo, já que estou sozinha numa floresta escura e fria, com o céu prestes a desfazer-se sobre a minha cabeça.
Não sei porque durante anos sofro com o mesmo pesadelo, mas agora preciso acalmar o meu coração e tentar encontrar uma saída dessa floresta antes que a tempestade que se anuncia pelos fortes ventos comece a cair.
Tento mais uma vez lembrar como vim parar aqui, mas nada parece fazer sentido dentro de mim. Lembro-me somente o meus nome, e sinto como se as últimas horas da minha vida tivessem sido apagadas completamente da minha memória e não consigo recordar nada, nem como, e muito menos o porque estou aqui agora.
Kaila Romani, 25 anos.a
Estando com o coração já mais calmo e tendo a certeza que preciso sair daqui o quanto antes, pois as primeiras gotas de uma chuva fina começam a cair, levanto-me de maneira abrupta na intenção de seguir meu caminho, porém, não consigo sequer dar o primeiro passo.
Uma dor aguda atravessa minha perna de forma que não consigo manter-me de pé, e só então, dou-me conta de que estou ferida.
Mas como?
Tento novamente lembrar-me o que aconteceu até esse momento, e mais uma vez não encontro nenhuma explicação de como vim parar aqui, e nesse estado, mas preciso continuar.
Avalio o ferimento rapidamente, e logo noto que fui atingida por um tiro de raspão, o que deixou um corte profundo, e que por não ser tratado de forma adequada já está infeccionando. Meu corpo ainda treme, e agora percebo que não são vestígios do descontrole por conta do pesadelo que sempre tenho, mas sim, por conta da febre alta que me queima de dentro pra fora.
Mas não posso desistir.
A chuva, que antes era fraca está cada vez mais forte. Os raios continuam a rasgar o céu em todas as direções e os trovões assustadores ecoam por todos os lados, trazendo a certeza que a tempestade vai piorar a cada segundo, e eu preciso encontrar um lugar seguro antes que seja tarde.
Tento continuar arrastando-me pelo chão enquanto as forças do meu corpo ainda me obedecem, mas sei que não terei êxito na minha empreitada. O meu corpo inteiro dói a cada movimento e sinto como se a alma fosse arrancada de mim, e algo prendesse-me a esse lugar, impedindo-me de prosseguir.
Quero manter-me consciente acreditando que conseguirei escapar desse fim, mas penso que é inútil lutar contra isso agora. Não tenho forças e, por mais que eu queria, o meu corpo não obedece mais aos comandos da minha mente, já que esta, sequer consegue passar comando algum.
Estou sem forças e o monte de folhas encharcadas pela chuva, certamente será meu último repouso.
Nunca pensei que a minha vida fosse terminar assim. Mesmo não tendo certeza do que aconteceu comigo, sinto que não posso morrer. Tenho uma missão a cumprir, e ela não estar concluída. Não posso deixar que me vençam, pois, não lutei tanto para aceitar que esse seja o meu fim.
Uma onda de revolta cresce dentro de mim, mas infelizmente não posso fazer nada diante da minha completa incapacidade. Meu corpo está inerte, e enquanto observo a chuva fria me congelar e o céu sendo rasgado pelos raios incandescentes, a inconsciência domina minha mente, a ponto de tudo desaparecer por completo.
******
As coisas ainda estão um caos dentro de mim. Sinto-me perdida e sozinha no espaço escuro e vazio numa luta interna comigo mesma e a linha tênue entre a fantasia e a realidade se misturam deixando-me cada vez mais absorvida na escuridão das incertezas.
Sinto uma dor cruciante percorrendo todo meu corpo e um frio congelante e ardente ao mesmo tempo, de forma que não consigo explicar, e quando abro os olhos, vejo que a vida segue o seu curso tranquilamente.
O dia finalmente já raiou e a floresta antes escura e vazia já não é mais tão assustadora quanto na noite tempestuosa que findara, porém, a minha situação não está muito melhor do que antes, na verdade, está bem pior, eu diria.
Procuro com mais atenção tentando identificar aquele lugar e posso ver que estou numa espécie de galpão velho e abandonado, onde as folhas encharcadas que me serviram por cama nessa noite, devem-se devido aos vários buracos no seu teto.
Olhando para a direita vejo uma pequena parede quase caindo bem próxima de mim, e mais a esquerda, vejo uma porta aberta, por onde certamente passei enquanto me arrastava sem forças até desfalecer naquele monte de folhas.
Quero mais uma vez levantar-me e sair dali o quanto antes, pois agora que já é dia com certeza será mais fácil encontrar um lugar seguro, no entanto, não consigo. Avalio outra vez a ferida em minha perna, e vejo que, realmente está pior do que pensei.
A dor espalha-se por meu corpo inteiro e a febre alta parece queimar-me por dentro de modo a causar-me calafrios, e por mais que eu queira, não consigo mover-me para lugar nenhum.
Minha mente ainda está perdida tentando encontrar as respostas de como cheguei a essa situação, e as coisas parecem mais claras agora, pois lembro-me que fugia, mais uma vez, daquele maldito, que nos perseguia por puro divertimento, e agora estou assim, prestes a encarar o fim, cada vez mais inevitável, pois começo a ouvir passos e vozes próximos aonde estou, o que só aumenta o desespero dentro de mim.
Não acredito que ele me encontrou. Não pode ser.
__Por aqui senhor! Penso que vai gostar desse lugar. Está um pouco abandonado, mas, com uma reforma ficará perfeito!
Ouço alguém dizer e entrando de repente no velho galpão, e logo tento reconhecer se são os mesmos que me perseguiam, no entanto, não consigo reconhecer essa voz.
__Você tem razão Bento. Depois de alguns reparos esse lugar ficará ótimo!
Uma segunda voz é ouvida, e mesmo sem reconhecer a quem pertence, tenho a impressão de que já a ouvi antes.
__Tem certeza que vai ficar dessa vez, senhor? Aqueles malditos ainda vivem por essa região!
O homem da primeira voz pergunta ao encostar-se na parede que está próxima a mim.
O meu coração parece que vai saltar para fora do peito nesse momento, pois mesmo tendo certeza de que esses dois não fazem parte daqueles que me perseguiam, não posso deixar que me encontrem.
__Não posso fugir do passado para sempre, Bento, e se, eu encontrá--los... Talvez possa enfim, realizar o meu desejo!
O segundo homem afirma em um tom rancoroso.
Nesse momento tento mais uma vez sair dali, mas sei que não é possível. Primeiro porque com certeza eles me veriam, e segundo, porque não tenho forças para mover-me sequer um único centímetro. Por alguns instantes penso em pedir ajuda, pois é mais do que óbvio que preciso de ajuda, no entanto, não sei se posso confiar neles, por isso, encolho-me o quanto posso para mais próximo da parede, tentando evitar que me vejam.
__Fico feliz com a sua decisão senhor, e estou aqui para ajudá-lo no que for preciso!
Aquele homem da primeira voz afirma a surgir diante de mim. Ele é de pequena estatura, um tanto robusto, e não consigo ver o seu rosto, pois está de costas para mim, observando a paisagem de fora do velho galpão parado na porta, no entanto, sei que me verá no instante em que voltar-se para dentro novamente, e isso eu não poderei evitar.
__Saiba que todos na mansão estão...Meu Deus!
Pronto. O que eu temia aconteceu. Ele para imediatamente o que dizia surpreso, ao virar-se e se deparar comigo ali.
__O que houve Bento? Parece que viu um fantasma!l
O segundo homem caçoa, certamente estranhando a expressão espantada no rosto rechonchudo do tal Bento. Ele encara-me com os seus olhos estreitos ainda por uns instantes, como se não acreditasse no que vê, enquanto caminha alguns passos na minha direção.
__É que... Tem uma moça aqui senhor!
Ele responde após piscar algumas vezes, como se quisesse ter certeza de que, realmente não está vendo um fantasma.
__Como?
O segundo homem pergunta espantado, também dando a volta na parede que nos separara e surgindo diante de mim.
Tudo acontece tão rápido que mal tenho tempo de assimilar as coisas diante de mim, pois em uma fração de segundos, a imagem daquele homem baixinho e corpulento de barba grisalha no rosto, é substituída pela figura imponente de um senhor alto, alguns anos mais jovem, corpo atlético e olhar intenso, que me atinge como uma flecha.
__É ela Bento! A moça do vilarejo!
Ele afirma surpreso assim que me vê e logo segue até mim, e até eu me espanto com o fato dele já me conhecer, pois, não me lembro de já tê-lo visto antes, e inutilmente tento manter-me longe encolhendo-me mais para o canto da parede.
__Mas o senhor a conhece?
Bento pergunta surpreso, tanto quanto eu.
__Depois eu explico. Ela está ferida. Vá buscar o médico depressa!
Ele afirma já me colocando nos seus braços e mesmo que eu queira relutar, não tenho forças para isso. Ainda tento lembrar-me de quando o vi, já que ele afirma conhecer-me, mas é inútil. A inconsciência novamente domina-me enquanto sinto o calor daqueles braços fortes que me seguram com firmeza, e mesmo não tendo certeza se posso confiar nele, não há melhor lugar do que esse agora.
Continua...
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Beninha Arcanjo
ótima leitura.
2023-08-03
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