capítulo 5

A forte chuva que cai agora não é suficiente para apagar as chamas e tão pouco lavar todo o sangue derramado.

O desespero toma conta de mim mais uma vez estando no meio de tanto caos e destruição. Mais adiante vejo uma mulher sendo abusada por três homens impiedosos, enquanto tantos outros matam e destroem tudo por onde passam.

Essa visão é aterrorizante, mas mesmo diante dos gritos de uma senhora, a implorar que parassem com tamanha crueldade, eles a ignoram, e continuam a violentar aquela mulher, que me parece muito familiar, embora eu não saiba exatamente quem seja. Ela já está morta, e ainda assim, aqueles monstros brincam com o seu corpo como se fosse um mero objeto.

Não consigo identificá-los, pois o mar de lágrimas que inundam meus olhos, não me permite ter uma visão nítida dos seus rostos, no entanto sei perfeitamente que fazem parte do destacamento de patrulha de São Martim, por conta dos seus uniformes azul marinho,com uma faixa banca atravessando o tórax em diagonal, o que se destaca entre os demais.

Não consigo entender porque nos atacam com tanta perversidade, e são capazes de cometerem atos tão hediondos, quanto esses, quando na verdade deveriam ser os primeitos a nos proteger e lutar pela segurança de todos, no entanto, nada posso fazer diante da maldade deles.

Não suporto mais presenciar tudo isso, e sendo movida por uma revolta crescente dentro de mim, abandono os destroços que me serviam de esconderijo, e parto na direção deles com vontade de liquidá-los com minhas próprias mãos, embora eu saiba que pouco conseguirei fazer, já que sou apenas uma criança tola, tentando lutar contra inimigos perversos.

__Nãaao!

Grito desesperada partindo em direção a eles, mas antes de alcançá-los, tudo aquilo desaparece.

__Senhorita, o que houve? Está se sentindo mal? Por favor diga alguma coisa!

As batidas do meu coração estão descontroladas e minha respiração ofegante. Sinto-me trêmula e um suor frito toma conta do meu corpo, e sei que isso são os efeitos de mais uma noite daquele pesadelo, mas é a presença dele que mais me assusta.

Quando abro os olhos e todo aquele caos desaparece da minha frente, deparo-me com o senhor Veranese diante de mim, encarando-me com estima e profunda preocupação, que sinto uma enorme vontade de abraçá-lo fortemente, como se isso fosse capaz de aplacar o medo que estou sentindo, no entanto, controlo meus atos, embora isso seja cada vez mais difícil.

__Senhor Veranese, o que faz aqui?

Pergunto tentando controlar as batidas do meu coração, pois agora sei que tudo fora somente o mesmo pesadelo.

Ele está sentado ao meu lado, usando um sobretudo, certamente para esconder o pijama que usa, pois já é tarde da noite, e eu provavelmente o acordei com meus gritos.

__ A senhorita está bem?__ele insiste entregando-me um copo com água__ Eu estava indo dormir, quando passei para ver como a senhorita estava. A encontrei tão aflita que não soube o que fazer. Fiquei com medo de acordá-la, mas, você, parecia sofrer muito. Fiquei preocupado!

Ele explica voltando a sentar-se ao meu lado.

__Me desculpe se o preocupei, mas eu estou bem!__respondo tomando um bom gole de água, como se isso ajudasse a acalmar as emoções dentro de mim.

__ Está sentindo alguma dor? Acho melhor tomar os remédios...

__Não precisa. Eu estou bem, de verdade!__digo já segurnado a sua mão impulsivamente, quando ele faz menção de levantar-se para buscar os medicamentos.

__Tem certeza?__ ele insiste pondo a outra mão em cima da minha, e só agora dou-me conta de que o segurava__ Você parecia tão assustada!

__Não se preocupe. Foi só um pesadelo.

Afirmo ja soltando sua mão.

__Entendo. Você realmente estava com muito medo. Sente-se melhor agora?

__Apesar de sofrer com o mesmo pesadelo, por anos, ainda não me acostumei com o terror que ele me causa, mas tudo passa depois que acordo! Vou ficar bem!

Respondo sorrindo de leve para tranquilizá-lo.

__E, é sempre o mesmo pesadelo?

__As vezes mudam alguns detalhes, mas no fim o resultado é o mesmo. Meu lar destruído. Três homens cruéis e uma mulher morta!

Respondo com olhar distante, ao ter aquela cena em minha mente, tão nítida como se estivesse a ver agora.

__E, a senhorita conhece essas pessoas?

__Não!__respondo sem querer dar mais detalhes, pois isso poderia revelar a ele quem sou.

__Você passou por uma situação difícil, isso deve tê-la deixado impressionada. Volte a dormir e procure descansar. Tenho certeza que estará melhor amanhã!

Ele diz enquanto caminha rumo ao armário de roupas um pouco adiante, e retira de lá um cobertor extra. Eu até iria protestar, dizendo que não estou com frio, pois pensei que o trazia para mim, mas, antes que eu possa dizer algo, o vejo voltar para sua poltrona com o cobertor nas mãos.

__ O que está fazendo?

Pergunto quando o vejo tentar encontrar uma posição confortável na poltrona.

__Passarei a noite aqui, caso a senhorita precise de alguma coisa!

Ele explica de forma natural, ainda tentando se acomodar.

__Isso não é necessário senhor! Eu estou bem!

Protesto rapidamente, pois não tem cabimento ele passar o resto da noite ali.

__Eu sei, mas ficarei mesmo assim! Não se preocupe comigo. Volte a dormir. Você ainda precisa descansar!

ele diz a recostar a cabeça nas costas da poltrona como se tivesse encontrado a melhor posição.

__Não poderei fazer isso enquanto o senhor estiver aqui, pois só descansarei depois que estiver em seu quarto!

Afirmo mostrando-me decidida, pois não acho necessário, muito menos justo, ele ficar naquela poltrona desengonçada.

__Então, estamos resolvidos, pois este, é o meu quarto!

Ele diz, com um sorriso nos lábios ao erguer a cabeça olhando para mim e fazendo um amplo sinal em demonstração ao quarto.

Claro! Como não pensei nisso? Esse quarto aprece ser requintado demais para não ser o dele, e quando o vejo com um sorriso satisfeito por ter me deixado sem opções para retrucar, sinto que não posso dar-me por vencida.

__Então, suponho que eu, é quem devo sair!

Digo, já jogando o cobertor para longe e pondo-me de pé, tão rapidamente, que não penso bem em meus movimentos, e arrependo-me instantes depois.

__Aí... Aí!!!

Grito, no momento em que coloco os pés no chão e sinto uma dor forte em minha perna, que me faz cambalear, e só não caio, porque imediatamente o senhor Veranese amparar-me em seus braços.

__Tenha cuidado senhorita!__ele diz mantendo-me de pé junto ao seu corpo, e o seu rosto está tão próximo ao meu que posso sentir a sua respiração quente e ofegante.

Nesse momento sinto as pernas sem forças de uma vez, mas não por conta da dor que senti antes, e sim, porque a proximidade com esse homem tira toda minha resistência.

Ele encara-me de forma tão intensa, que sinto como se seus olhos invadissem minha alma em busca dos meus mais íntimos segredos, e quando sinto a sua boca tão próxima à minha, uma onda repentina de desejo percorre o meu corpo, que me sinto imensamente tentada em beijá-lo. E como quero fazer isso. O meu coração acelera quando me imagino sentindo o sabor dos seus lábios enquanto os seus braços fortes amparam-me pela cintura, que logo sinto o quanto o seu corpo reage ao meu, e por um instante tenho a impressão que ele sente o mesmo desejo que eu, pois a maneira como me olha, deixa evidente a lascívia dos seus pensamentos, mas, de repente, ele quebra a magia que nos une, ao afasta-me de si, posicionando-me cuidadosamente sobre a cama, de forma a evitar encarar-me diretamente.

__Tem certeza que está bem?__ele pergunta voltando a cobrir-me, ainda evitando olhar-me.

__Sim. Me desculpe, eu só não quis incomodá-lo, pois não...

__Se está com tanta pressa em deixar essa casa, deveria tomar mais cuidado. Atitudes impensadas como essa não vai ajuda-lá a se recuperar!

Ele diz de forma rude, antes mesmo que eu pudesse argumentar.

__Mas, eu não...

__Esqueça! Volte a dormir o quanto antes!

Ele interrompe-me mais uma vez, voltando a se acomodar naquela bendita poltrona, ainda sem olhar para mim.

Não acredito que ele entendeu tudo errado. Tudo o que eu quis foi deixá-lo confortável em seu próprio quarto, mas parece que só consegui deixá-lo chateado, por isso, mesmo ainda não concordando que passe a noite naquela poltrona desajeitada, resolvo não dizer nada para não criar outro mal entendido.

...****************...

CONTINUA...

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