Ísis ainda tentou tirar a sua vida outras duas vezes. Foi necessário pedir que a sua irmã mais nova viesse morar com a gente.
— Lewis, eu não vou poder ficar aqui para sempre. Ísis já deixou claro que não quer a minha presença aqui.
— Releve o que ela disse Anna, ela faz isso para afastar.
— Ela não mudou de ideia em relação a psicoterapia?
— Não.
Tudo estava em declínio. Eu estava sufocado demais. Os dois estavamos machucados, e não havia jeito de fazer uma ponte entre nós. Ísis fez um castelo em volta dela, e não permitia aproximação. Sentia falta da minha esposa. Sentia falta de ter ela em meus braços. Sentia falta de sentarmos e conversarmos durante o jantar. Sentia falta de cada coisa por mínima que fosse que fazíamos juntos.
Doía tanto, estar perto mas tão longe. Quando deitava na cama e tentava abraça-la Ísis me rejeitava, por vezes levantava no meio da noite e eu podia ouvir o choro dela. Dia após dia eu era afastado. É como se ela não suportasse olhar para mim.
Nem conseguia me lembrar dos dias de felicidade, pareciam ser de outra vida, como se eu tivesse reencarnado nessa realidade cuja existência fosse apenas de dor.
Acho que Ísis não me amava mais. Nossa convivência se tornou pesada, cheia de cobranças e ressentimentos.
Naquele final de semana Lívia completaria dois anos. Me pegava pensando em como ela estaria nessa faixa de idade, tentava visualizar a cena, de nós dois brincando no tapete da sala, assistindo desenhos animados ou brincando com as bonecas. E isso trouxe um pouco de paz para a turbulência em que estava.
— Você está bem?
Will apareceu na minha sala com duas xícaras de café e uma sacola com donuts.
— Só perdido nos meus pensamentos.
— Temos um caso para fechar. É o melhor investigador que conheço.
— Eu sou o único no departamento todo.
Ele deu risada. E depois de tomar o café, trabalhei o dia todo numa cena de crime, montando o caso, tentando não pensar naquela data, pois sabia que iria enfrentar mais uma das recaídas da Isis.
Mas quando retornei para casa, descobri que minha mulher havia me deixado. Em cima da mesa uma carta.
...Lee, estou indo para a casa dos meus pais. Cheguei conclusão que não consigo mais estar ao seu lado sem pensar no que perdi. A nossa comunicação será feita através de um advogado, eu ja dei entrada no processo. Eu só quero tentar recomeçar. Não quero que você me procure ou ligue. Eu preciso me afastar. Eu preciso esquecer....
Então era isso? Ela precisava recomeçar e eu era o empecilho?
Entrei no meu quarto, todas suas roupas já não estavam ali. Abri o quarto da Lívia tudo estava como costumava estar.
Aquela carta me acertou de um jeito que não dava para explicar. Peguei as chaves do carro e fui para um bar.
— Uísque, sem gelo.
Olhei a aliança no meu dedo. Prometemos um ao outro. As mesmas promessas que eu a fiz ela também fez. E Deus é testemunha o quanto havia tentado. O quanto queria me reaproximar. E ela simplesmente vai embora.
Pedi mais algumas doses até que senti uma mão no meu ombro.
— O que faz aqui Lewis?
— Ela foi embora porr*a. Ísis foi embora Will.
— Como assim?
— Pegou as coisas dela e saiu, como se nada do que vivemos juntos importasse. Nem ao menos falou comigo. Sabe se ela tivesse conversado... Poderíamos ter chegado a essa decisão juntos. Ela simplesmente disse que já deu entrada no divórcio Will. Eu tentei Will. Nada foi suficiente. Nada.
A minha voz estava embargada e cheia de ressentimento. Eu preciso esquecer. Essa parte ressoava na minha cabeça sem parar. Esquecer tudo o que vivemos? O que prometemos? Os planos que tínhamos?
— Lewis, eu vi você nesses quase dois anos fazer tudo que estava ao seu alcance para que Isis ficasse bem. Você não viveu seu luto para dar apoio a ela. Não existe casamento sem cumplicidade, e não se constrói um casamento sozinho.
Lewis tirou a aliança e fazia a mesma girar, enquanto se mantinha em silêncio.
— Eu vou embora irmão.
— Lewis, se precisar de uns dias.
— Eu vou ficar bem Will.
Lewis tirou algumas notas do bolso e deixou em cima do balcão. Retornou para casa desejando que tudo fosse mentira,desejou entrar por aquelas portas e ver Lívia correndo para ele enquanto Ísis cantarolava algo na cozinha. Mas tudo que encontrou foi vazio.
Caiu de joelhos na sala enquanto sentia tudo que guardou nos ultimos tempos saltar para fora, em uma espécie de filme de terror, se concentrou tanto em ajudar Ísis lidar com tudo, que agora não sabia como agir consigo mesmo.
Dois dias depois, Lewis seguiu para o túmulo da filha, não tinha conseguido ir trabalhar, não conseguiu dormir ou comer. Se ajoelhou ao lado da lápide, trazia consigo algumas flores, mesmo que a vida da pequena tivesse sido breve, foi cheia de significado, e a alegria que sentiu ao ouvir o primeiro choro, segurar ela próximo ao seu peito, enquanto a mesma dava pequenos sorrisos, e essas lembranças trouxeram calmaria para o coração dele, talvez devesse ser assim que deveria de lembrar dela. Ou era apenas uma forma medíocre de suplantar sua própria dor?
— Eu amo você pequena. Amo demais. Penso em você cada dia. Queria que estivesse aqui. Queria te ver correr, brincar, expulsar seu primeiro namorado. Te ver formar na faculdade. Não tivemos muito tempo juntos, mais foi o melhor tempo da minha vida.
Algumas lágrimas caíram no chão, permaneceu ali um bom tempo. E depois Lewis voltou para casa, para a solidão. Ísis não atendeu nenhum dos seus telefonemas.
Os pais dela ao ver a insistência ligaram para mim e disseram que estava tudo bem na medida do possível. E que eu deveria fazer o que ela falou que faria. Recomeçar.
Eu havia perdido a minha filha, e a minha mulher havia ido embora sem olhar para trás. Recomeçar era um tanto utópico.
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Atualizado até capítulo 48
Comments
morena
ah leeh 🥺
2024-09-09
0
Sandra Mota
É sobre isso!
Will disse tudo! 💖
2024-06-14
2
Sandra Mota
Como se a culpa do que aconteceu fosse dele. Quanta injustiça e egoísmo! 😒
2024-06-14
0