capítulo 12

Cecília acorda com o celular tocando insistentemente. Ao ver um número desconhecido, atende ainda sonolenta.

_ Finalmente Cissa! _ Por que não atende minhas chamadas? Esqueceu de sua mãe?

Cecília gela ao ouvir a voz zombeteira de sua madrasta.Ela usou de artimanha para que ela aceitasse o telefonema.

_ Você não é e nunca será minha mãe Andreia. Se eu não atendi é porque não tenho nada a falar com você. Portanto...

_ Seu pai está muito doente Cecília. Por acaso esqueceu dele também? Ou ele não merece a atenção da única filha dele?

_ Filha que ele vendeu? _ Se vendeu deixei de ser filha dele no ato da venda. Tenho mais o que fazer. Se ele está doente procure médico. Não tenho nada a ver com isso

_ Espere Cissa!_ Implora a madrasta. Ele está muito doente e arrependido por ter feito o que fez a você num momento de extrema necessidade. Ele é seu pai e a ama. Desde o dia que foi embora ele se transformou em outra pessoa. É a sombra do homem que era. E isso o adoeceu. Você é uma pessoa boa. Não guarde mágoa de seu pai. Ele só quer seu perdão. E tenho medo que ele morra antes de você o perdoar.

_ Num momento de extrema necessidade?_ Necessidade de bancar sua vida luxuosa não é Andreia. Aí ele resolve vender a única filha para um homem sem escrúpulos que quase me matou. E ele nunca interferiu para me defender. Agora está querendo meu perdão? Não acredito em nada que me disse. Se for verdade, ele que peça perdão a Deus. Eu não quero saber de nada que diz respeito a vocês. Não me ligue mais.

_ Você é uma menina mimada e ingrata. Cresceu tendo tudo do bom e melhor. Quando precisou ajudar seu pai a se reerguer recusou. Ele não teve alternativa. Eu mereço sim uma vida luxuosa. Aguentar você, uma pirralha mimada e egoísta que sempre me tratou com desprezo. Tentei me aproximar de você. Tentei ser sua mãe e você retribuía fazendo intrigas para seu pai brigar comigo.

_ Sério isso?_ Fala sarcasticamente Cecília._ Faça o favor de sumir da minha vida. Não terá nem um centavo de meu fundo de herança deixado pela minha mãe, ouviu? Nunca! Desliga o celular e bloqueia o número. Ordinária! Sua sorte é que não tinha como rastrear o seu número para saber onde ela estava. E viu que teria que comprar outro celular. Tivera uma noite tão boa e agora acorda num pesadelo. Tenta isolar as lembranças dolorosas com um banho quente. O interfone interrompe seu banho. Paul, o porteiro avisa que tem uma visita. Quem poderia ser aquela hora? O porteiro diz que ele já esteve lá e portanto não esperou que ele pedisse a permissão dela. Cecília ouve a campainha e corre para atender a porta, apreensiva depois do telefonema. E se fosse a Andreia que de uma certa maneira conseguiu encontrá_la?

_ Ah, é você!_ Fala com alívio.

_ Agora estou confuso. Ficou feliz ou triste por ser eu Cecília?_ Talvez queria o Ravi?

_ Bom dia senhor Kennethy. _ O que está fazendo aqui tão cedo?_ Sabia que não era Ravi. Ele viajou. No entanto eu não o esperava aqui senhor Kennethy.

_ Achei que poderíamos tomar café e irmos juntos para a empresa. Tudo bem?

Ela suspira e indicou a ele onde pegaria tudo para arrumar a mesa. Pede licença para se arrumar. Quando volta tudo está arrumado e com um cheiro delicioso.

_ Pedi minha cozinheira para preparar um café reforçado para nós. Hoje o dia será longo.

Cecília suspira um pouco desanimada. Luke a olha admirado pois ela sempre mostra empolgação com o trabalho.

_ O que foi Cecília?_ Está doente novamente?_ Precisa de médico?_ E demonstra uma preocupação sincera com ela que fica comovida com essa atitde protetora dele.

_ Não senhor Kennethy. Estou bem. Pelo menos fisicamente. Mas deixa pra lá. Vamos tomar o café antes que esfrie e desperdice o bom trabalho de sua cozinheira.

Luke percebeu que ela não estava bem. Seu semblante estava triste. Mas sabia que ela era teimosa e não iria falar nada agora. Mas depois ele arrancaria dela o que a estava perturbando.

Durante o dia Cecília ficou tensa, distante. Mal conseguia se concentrar no trabalho, teve sua atenção sendo chamada duas vezes em reuniões. Quando faltava uns minutos para a última reunião se encerrar, pediu licença para ir ao toalete. Não conseguia desligar sua mente do seu passado que retornou com força depois do telefonema. Deixou lágrimas rolarem por sua face, na tentativa de limpar suas mágoas. No fim, tentou disfarçar os olhos inchados com uma leve maquiagem. Depois de se certificar que não haviam vestígios de choro, saiu e foi barrada por Luke. Ele sem falar nada, a pegou pela mão e foi pra sua sala. Depois de trancar a porta, fez com que ela se sentasse e esperou para ver se ela falava alguma coisa.

_ Desculpe senhor Kennethy. Sei que fui um desastre hoje.

_ Chega!_ Corta ele. Mas não com raiva na voz. Ela olhou para ele e ficou surpresa ao ver que ele a olhava angustiado ._ Você chorou. Quero saber o que está acontecendo Cecília. Não me importo com reunião. Você fez tudo certo. Mas vejo que não está bem. E não vai sair daqui se não me falar a verdade.

_ Senhor...

_Nada de senhor. É Luke.

_ Não é nada Luke. Nada que eu não possa resolver. É assunto pessoal. Sinto muito se interferiu no meu desempenho hoje. Prometo que não acontecerá novamente.

_ Já disse que não aceitarei respostas evasivas. Sei que é assunto pessoal. Não tem obrigação de me falar. Mas eu quero que fale. Por favor, me deixe tentar ajudar você.

_ Eu agradeço sua preocupação, mas não pode me ajudar.

_ Cecília, não há nada que eu não possa fazer se eu quero. E eu quero ajudar você. Abra seu coração para mim. Esqueça que sou um CEO. Seu patrão. Agora sou seu amigo. Pense que sou seu terapeuta.

_ Eu não tenho terapeuta. Quer dizer, tenho sim. Não sei como você sabe disso.

_ Não sabia. Apenas sugeri que pensasse que eu sou.

_ Tem certeza que não está com pena de mim?_ Não quero piedade de ninguém.

_ Cecília, pena é o único sentimento que não tenho por você.

Cecília fica surpresa com essas palavras e resolve se abrir para ele.

_ A minha história é longa. Peço que se realmente quiser ouvir não me interrompa. Depois poderá perguntar o que quiser.

_ Está bem.

Cecília dá um longo suspiro. Fecha os olhos por um instante. E volta no tempo.

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