Capítulo 4 Transformação

Mag

Amanheci, hoje, como se fosse menstruar, demora a vir, mas quando chega, é um cataclisma de dor, cólicas, enjoos e mau humor. Mau humor pra mim é normal, imagina nesses dias. Mas hoje não é dia de vir minhas regras, hoje é meu aniversário e vou conhecer minha loba. Nem perguntei o nome dela.

— Aí você! Você que tá dentro da minha cabeça? Qual seu nome?

" Hoje estou me guardando pra transformação, dói, não só em você, em mim também."

— Tá bom, vou te deixar em paz, só me diz seu nome.

" Meu nome é Rosa."

Rosa? Eu sou Margarida e tenho uma loba chamada Rosa? Eu mereço morar num jardim, né?! Já tenho coisas demais pra pensar, não vou pirar com esse assunto. Já chega o apelido que me deram de Jaca podre.

O dia passou tranquilo, fiquei no quarto aproveitando que não tinha ninguém em casa, já que é sábado. Não sei pra onde todos foram, nem preciso e nem quero saber. Quando chegar por volta das seis horas, vou para a floresta,  essa é a hora que eu nasci, então é a hora do meu aniversário e da minha transformação.

Fiz um almoço leve, kkkk, um bom bife mal passado. Nunca consigo um desses, mas sem meu pai e meus irmãos em casa, chegou a minha vez. Termino de fazer o bife e corri pro quarto com o prato na mão e tranquei a porta depois de entrar, com medo que alguém chegasse na hora e me tirasse o bife. Comi gemendo de tão bom que estava. Depois dormi o sono da beleza, como dizem, pena que não funcione comigo kkkkk.

**

Dormi demais e já são seis horas, já está começando a escurecer e a lua já aparecia no horizonte. Corri, prestei atenção aos sons da casa e desviei de onde poderia encontrar alguém. Saí pela porta da cozinha e corri pra floresta, nem bem ultrapassei as primeiras árvores e as dores começaram. Estranho meus pais não se interessarem em estar comigo nessa hora. As dores atrapalham meus pensamentos.

Não sei quanto tempo demorou a transformação, mas finalmente terminou. Minha loba estava jogada no chão,  tão cansada quanto eu.

" Vamos querida, ânimo, também estou dolorida, mas precisamos prosseguir na transformação. Levante e corra, menina." — eu disse para minha loba.

" Sim, você está certa, força nos pelos Rosa, levanta e corrreeee! " — ainda bem que ela escutou e correu.

Foi o que ela fez, aos poucos foi levantando e quando se aprumou, se sacudiu toda e começou a andar aos poucos, aumentando os passos até correr e correr muito. Essa loba é uma velocista! Uhuuu! Isso é muito bom. O vento passa direto pelos nossos pelos e dá uma super velocidade.

Depois que percorremos toda a floresta, que é muito extensa, caçamos pela primeira vez e comemos bem, voltamos e chegamos a beira do rio. A noite se fez e a lua já iluminava aos poucos, a floresta e o rio estava claro. Fomos beber água e vimos nosso reflexo. Me assustei, ela é muito diferente dos lobos da Alcatéia, olhei para as pernas e o corpo e vi que os pelos são vermelhos. O focinho é alongado e se parece com uma raposa.

" Porque somos assim, diferente, Rosa? "

" Somos uma versão de lobo muito especial, temos o sangue com mais glóbulos vermelhos que o normal e por isso, somos muito fortes, tanto eu quanto você."

" Quer dizer que somos mais fortes que o normal dos lobisomens?"

" Na verdade, somos mais rápidas e resistentes, isso dá para nós uma vantagem na proteção da Alcateia e em combate, aguentamos golpes mais pesados."

" Mas para ter glóbulos vermelhos fortes não precisa de comer muita carne? "

" Sim, mas como eu ainda não tinha amadurecido, foi bom você comer pouca carne. Agora, podemos comer bem, pois vou gastar bastante proteína."

" Porque somos assim, diferentes dos lobos daqui? "

" Para isso, você vai precisar visitar sua avó materna e perguntar pra ela. Agora, é melhor irmos e quero que você saiba que temos magia. Só pense em você vestida na roupa que quiser e voltará vestida com ela. Agora vamos."

Fomos para casa e percebi que o tempo tinha passado muito rápido e a festa do alfa já devia ter começado. Cheguei em casa e não vi ninguém, todos já deviam ter ido para a festa. Corri para o quarto e vi um vestido sobre a cama. Mamãe comprou um vestido côr de rosa pra mim. Affff

Tomei banho e abri o guarda roupa, olhei tudo e lembrei de uma caixa que guardei no fundo do armário. Coloquei sobre a cama e tirei o lindo vestido vermelho, que estava envolto em papel de seda e com raminhos de alfazema seca e pétalas de rosa vermelha. Minha avó me deu de presente no aniversário do ano passado, dizendo que era pra eu usar hoje.

Ela acertou em cheio, a saia ampla disfarçou meu quadril estreito e o decote valorizou os seios ao mesmo tempo que disfarçou, ganhei cinturaaaaaa!!! Fiz uma trança francesa no cabelo caindo pelo ombro, escondi o máximo possível das mechas mais vermelhas e deu, chega de arrumação, passei um batom vermelho e fui.

Até eu me achei linda!

Saí de casa agradecendo pela casa do alfa ser perto e pelo scarpin vermelho que veio com o vestido, ter salto baixo e saí.

Cheguei lá e a festa corria solta, muitos dançando, outros conversando, creio que alguns encontraram suas companheiras, já que a lua está alta. Avistei David atrás de Adriana, falando e falando e ela com cara de: Te conheço? Acho que minha praga pegou.

Avisto meus pais e sigo até onde eles estão. Quando minha mãe me vê, faz igual aquele emoji de Ô, com as mãos no rosto. Ficou de pé pra me esperar.

— Que vestido é esse, Margarida? Porquê não usou o que deixei pra você? — perguntou, toda ofendida.

— Já pedi pra não me chamar assim, meu nome é Mag e esse foi o vestido que vovó me deu pra usar no meu aniversário de dezesseis anos e adivinha?  Hoje é o meu aniversário de dezesseis anos, então, visto o que eu quiser. — pareceu até um discurso.

— Menina desaforada, não fale comigo assim, sou sua mãe, mocinha!

— E onde a senhora estava quendo me transformei, sozinha, na floresta. 

Fui salva da ira dela, pela luz que se apagou, só ficando a do palco e todos olharam para lá, onde o alfa dava início a cerimônia de transferência de cargo. Jonathan estava ao seu lado, todo elegante, vestido em um terno preto, com lapela de seda. Achei ele muito bonito, até esqueci das grosserias que ele me fez.

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