A Oficina
Era recente que Sandro tinha encontrado um momento de paz, depois de ter quase perdido seu grande amor por um monstro, decidiu deixar a adrenalina de lado, tomou outro rumo, investiu na sua oficina de bairro que se tornou a referência da cidade, passou a ter uma vida tranquila.
Depois de um sábado trabalhado, se despediu dos seus parceiros, fechou a oficina, foi para casa, tomou seu banho santo, fez barba, vestiu seu jeans rasgado, colocou sua regata preta e calçou seu tênis e saiu com sua moto em direção ao que aquecia seu coração nos últimos tempos.
Entrou no velho bar de jazz de Denis, de luz escura, sentou no bar, pediu sua vodca, era o momento perfeito que pegava seu caderno de planos para seu futuro e suas contas, distraído não notou que o diabo sentou ao seu lado e pediu para o velho dono do bar:
— Denis, me vê duas vodcas.
— Eu não curto encontro com homens – avisou Sandro levando o olhar para Renan.
— São negócios.
— Todos sabem que negócios não me importam mais.
— 190 mil.
Sandro assoviou, deu um sorriso de lado, abaixou a cabeça balançado em negação e voltou a olhar para seu caderno, Renan bebeu um pouco da vodca e perguntou:
— Não será fácil, não é?
— Me diz o que precisa e eu te indico alguém — respondeu Sandro ficando levemente irritado e fechou seu caderno.
— Só você pode fazer o serviço — Renan disse misterioso com um sorriso perverso.
— Esqueça Renan, eu estou fora e nunca trabalhamos juntos.
— Você ainda cuida dos carros e motos da minha gangue.
— Eu não tenho restrição quanto a clientes.
— 290 mil, tenho certeza que conseguirá abrir uma nova oficina.
— Conseguiria, mas minha alma não vale isso — disse Sandro virando o copo de vodca e estava prestes a ficar de pé.
— 500 mil.
— Caralho, que porra de trabalho é esse? — Sandro desistiu de sair daquele banco.
— Eu preciso de um piloto de fuma, sei que é o melhor.
— Vai assaltar um novo banco?
— E se fecharmos 600 mil e não fazer perguntas?
— Tem coisas que não valem o dinheiro.
— Eu só vou entregar um recado, será uma conversa rápida.
— Quando? — Sandro já não se importava mais, era muito dinheiro, o dinheiro que precisa para colocar sua vida onde queria.
— Amanhã no ponto cego da igreja abandonada a meia noite.
Sandro assentiu, a presença de Renan o incomodava, por isso do bar foi para balada, mas não para curtir, sentou em um dos sofás e ficou olhando as pessoas dançarem, enquanto pensava em sua vida.
Domingo, era o dia sagrado para Sandro, ele nunca abria a oficina, exceto se fosse algum trabalho que desse muito lucro, como o trabalho para o diabo, discreto saiu vestido de preto, era sua roupa de guerra, encontrou Renan encostado em um carro esportivo, era um Aston Martin DBS cor de jumbo, encarou o diabo nos olhos, pegou a chave e entrou no carro ao mesmo tempo que Renan, ajeitando o retrovisor Sandro pediu:
— Sinto de segurança, senhor.
— Está de palhaçada?
— Você quem sabe, eu não brinco em serviço — avisou Sandro acelerando sem piedade, ele conhecia a cidade como a palma de sua mão, sabia cada ponto cego, qual ponto poderia ir veloz e não levantar alarde.
Renan sabia que Sandro queria o provocar, seu corpo ia para frente para e para trás, não teve escolhas a não ser colocar o cinto. O destino estava no GPS, Renan só tinha que ser levado.
Era uma mansão, com seguranças, o portão foi aberto ao reconhecerem Renan, Sandro dirigiu para dentro escutando seu cliente pedir:
— Não desligue o carro.
— Do que vamos fugir? — Sandro questionou desconfiado.
— De nada que precise se preocupar — respondeu Renan descendo do carro.
Cinco seguranças seguiram Renan, ele ajeitou seu terno, desfilou poderoso pelo jardim, até a entrada da casa, foi recebido pela adorável governanta:
— Senhor, me acompanhe.
— Com prazer — ele disse a olhando dos pés à cabeça.
Renan chegou à sala de visita, encarou o anfitrião, Domenico, o homem grande, gordo, com o olhar intimidador, fumava seu charuto favorito, encarou Renan e com um sorriso nervoso o recebeu:
— Amigo!
— Você tem o que me deve? — perguntou Renan ficando com fisionomia indecifrável.
— Tenho quase tudo.
— Quase tudo, não é tudo — afirmou Renan erguendo sua sobrancelha esquerda com reprovação — E o seu tempo esgotou.
Domenico somente teve tempo de arregalar os olhos, Renan sacou uma pistola com silenciador do seu terno, atirou em sua cabeça, na sequência, atirou na cabeça da governança, certamente ela tentaria ligar para a polícia primeiro, nesse momento os seguranças tinham acabado de sacar suas armas, Renan atirou em um, precisou se esconder atrás do sofá escapando de dois tiros. Ele era um ótimo atirador, sua mira impecável, antes que viessem as duas outras balas, ele já tinha atirado no coração do segundo segurança e na perna do terceiro, ganhou tempo com o terceiro, pode atirar na cabeça do quarto, rolar pelo chão, virar a mesa de centro como escudo e atirar no coração do quinto segurança. Ainda restou o terceiro e quarto, o terceiro que tentou fugir alastrando sangue pela casa, levou um tiro pelas costas, deu um tiro de raspão em Renan que revidou em sua testa.
Renan acabou com os seguranças da casa, correu para cabine de segurança, deletou todos os vídeos e deixou o programa de segurança desativado, correu para o carro e mandou:
— Vai!
— Eu ouvi tiros, o que aconteceu lá dentro? — perguntou Sandro que não acreditava no que tinha ouvido, ele nunca se colocou em situações de assassinato.
— Nada que tenha que se preocupar e você não é o único que ouviu os tiros, os vizinhos já devem ter chamado a polícia faz tempo, por isso, voe com esse carro agora!
— Desgraçado! — Sandro se enfureceu, nunca quis ter envolvimento com assassinato.
— Cale a merda da boca, não está fazendo isso de graça garoto!
— Onde te deixo?
— Você me deixa no meu império garoto — ele disse com um sorriso de canto.
Sandro entendo o que Renan queria, aquele era somente um primeiro encontro entre eles, ir para o domínio das ruas de Renan, era como uma parceria, a parceira com o diabo que Sandro por anos lutou contra.
Ao chegar em frente a uma casa modesta, mas muito bela, Renan avisou:
— O dinheiro já está na conta da oficina, fique com o carro de gorjeta.
— O quê?
Renan não respondeu, somente saiu do carro e foi para sua casa, e Sandro, foi para sua oficina, ficou um tempo olhando para o volante pesando em qual merda tinha se metido e mandou mensagem para seu melhor amigo:
“Pode vir para a oficina?”
“20 min” — respondeu Ted.
Ted estava na balada, afastou a morena que estava beijando seu pescoço e pediu:
— Foi mal gata, a chefia me chama.
— San vai vir pra cá? — perguntou Veronica uma velha amiga e uma garota que Sandro ficava.
— Se eu conseguir fazer ele vir, será um milagre — respondeu Ted piscando.
Ted pegou sua moto, chegou na oficina, se espantou ao ver o carro, assoviou e perguntou:
— Está saindo com alguma velha rica?
— Pior.
— Um velho rico?
— Não seu idiota, eu preciso me livrar desse carro — disse Sandro sorrindo de nervoso.
— Foi um roubo?
— Se nada der certo já pode virar coxinha — Sandro foi sarcástico quanto aos questionamentos do seu amigo.
— Vai se foder.
— Digamos que Renan me deu muita grana para ser seu piloto de fuga, e não foi bem assim, ele executou algumas pessoas e assim eu fui levado para a merda.
— É regra da vida, não se meter com aquele velho do cacete.
— Vamos focar em vender essa porra.
— Relaxa, isso eu cuido — ele disse tirando fotos do carro — Faço isso desde sempre.
— Quanto tempo para termos um comprador?
— Talvez duas horas — respondeu Ted olhando para o aplicativo — Vamos esperar no bar?
— Prefiro esperar aqui.
— Quando foi que ficou tão sério?
— Acho que nunca, ainda sou burro para cair em brincadeiras.
— Desde quando Catherine foi para Portugal, você mudou — observou Ted se referindo que nunca mais havia visto Sandro fazer um roubo ou aposta em rachadinha.
— Não diga o nome dela, o passado, precisa se manter no passado.
— Certo, eu vou comprar um engradado enquanto esperamos, pode ser?
— Eu já dei bandeira com esse carro, quando eu for vender, acho melhor não estar alcoolizado, pega uma água pra mim.
— Depois da água, vamos para o culto nos arrepender dos nossos pecados?
— Anda logo Ted – pediu Sandro passando a mão no seu cabelo fino o jogando para trás, se encostou na parede e escorregou até sentar ao chão.
Ted foi para a venda da frente, comprou uma garrafa de água e uma cerveja de garrafa, voltou para a oficina com o sorriso largo, já estava com a cerveja aberta, jogou a garrafa d’água na direção de Sandro se gabando:
— Eu sou foda!
— Desembucha — mandou abrindo a garrafa.
— Já temos o comprador, ele acabou de depositar metade do valor na sua conta fantasma, papai Noel chegou adiantado.
— Você tá zoando? — perguntou Sandro levantando do chão todo alegre.
— E te dá todo resto na hora, ele quer se encontrar agora à 1h, atrás do shopping.
— Puta que pariu, vamos? — disse Sandro animado ignorando seus instintos que lhe diziam que estava fácil demais.
— Bora — respondeu Ted girando a chave da sua moto.
— Espera — pediu Sandro tirando detrás da cintura uma arma — É melhor prevenir que remediar.
— Vai acabar assustando o comprador — brincou Ted.
— Só quero que fique seguro e se precisar fugir, fuja — avisou Sandro que por algum motivo tinha um péssimo pressentimento.
— Relaxa irmão — mandou Ted com um largo sorriso — Nós vamos fazer uma festa daquelas para comemorar.
O sorriso Ted tirou a tensão de Sandro, relutando contra os seus sentidos foi para o carro e Ted o seguiu dirigindo a moto. Os dois dirigiram em alta velocidade, ao chegarem perto da parte detrás do shopping Sandro mandou:
— Fique aí.
— Mas, por quê? — questionou Ted parando a moto.
— Eu estou vendo que é só um cara, qualquer coisa você me dá cobertura — respondeu Sandro abaixando a luz do farol do carro.
— Tá bom — concordou Ted balançando a cabeça levemente, pensava que Sandro estava preocupado atoa.
Sandro se aproximou do homem dirigindo devagar, o homem se aproximou, saindo da sombra do poste e perguntou:
— Então esse é o meu novo brinquedo?
— Todo seu — respondeu Sandro descendo do carro.
Ele era da altura do homem que deveria ter em torno de quarenta anos, ele assoviou ao ver o interior do carro e disse entregando a maleta:
— Está tudo aí.
— Só vou conferir — avisou Sandro abrindo a maleta sobre o capo do carro.
Sandro havia visto um brilho prateado da jaqueta de couro do cara, encarando ele assoviou alto com dois tons diferentes, Ted sentiu seu coração disparar, ligou a moto, pensou em tentar ajudar Sandro, mas aquele era o comando de fuga e assim fez. O careca sacou a arma e perguntou encarando o ladrão:
— Como descobriu?
— Devia guardar melhor o distintivo — respondeu Sandro levantando as mãos sem ter a opção de pegar a arma em sua cintura.
Atrás o policial, no final da rua, haviam três carros de polícia que ligaram as sirenes, enquanto o policial careca dava voz de prisão:
— Coloque os braços para trás.
Sandro assim fez, foi desarmado e levado até a viatura, a policial que estava no banco da frente avisou:
— Perdemos o cumplice, a sexta viatura acabou de reportar, senhor.
— Puxa a ficha desse cara — mandou o policial jogando a identidade de Sandro em sua mão e o levou para o camburão.
Ao chegar à delegacia Sandro foi colocado em uma sala de interrogatório, a policial que tinha o cabelo castanho bem cacheado preso em um perfeito coque, colocou a sua frente uma garrafa de água junto com um lanche natural de peito de peru e avisou:
— Eu vou soltar seus pulsos, para caso queira comer.
— Sim, madame — ele disse um sorriso sarcástico para aliviar a tensão dos ombros e notou que ela tinha bastante beleza.
O policial careca, entrou na sala, fechou a porta, jogou a pasta sobre a mesa e contou:
— Teve duas prisões, uma por rachadinha e outra por roubo de carro.
— Pode ser coroa — disse Sandro abrindo a garrafa de plástico.
— Garoto, estou tentando ser legal com você, é melhor se comportar.
— Eu quero fazer uma ligação.
— Você vai fazer depois de me dizer onde está Renan — avisou o policial careca.
— Não sei de quem está falando — mentiu Sandro com um sorriso sarcástico.
— Eu sei que ele estava com esse carro, quero saber porque ele se livrou.
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Atualizado até capítulo 124
Comments
Carolaine Teixeira
já li o 1 livro começando a ler agora 1/11/24 hora 16:32 e Aida NÃO durmi estou sem sono
2024-11-02
1
Tablet Sogra
Uhau, que de maís. começou bem.
Meus Parabéns.😍
2023-10-29
1
Ana Claudia Brito
nossa incrível esse capítulo, prendeu minha atenção do começo ao fim
2023-06-07
2