O assédio

Naquele domingo posso dizer que foi o mais incrível desses últimos dias, até aquele dia eu era apenas uma mulher fechada no meu mundo de solidão, mas que apenas descobri depois que sai dele, me sentia uma adolescente num corpo maduro, tinha vontade de gritar, correr, vontade de poder voltar no tempo para refazer meu passado.

Mas como isso não é possível, a solução era fazer desse dia em diante o melhor, acreditem, quando vivemos num mundo como o que eu estava quando se vê aluz é assim que nos sentimos e não devemos nos envergonhar, pense o que quiserem, apenas viva.

Retornamos para casa, dessa vez preferi vir no ônibus com os demais funcionários, Isabella e Otávio pareciam ter se entendido, na verdade não entendo essa modernidade e não faria questão disso, não se muda uma forma de pensar com facilidade assim, mas torci para que eles enfim pudessem realmente ver que combinavam.

Porém com as mudanças que conquistei também vieram coisa que até então eram totalmente desconhecidas para mim, talvez por nunca ser tão explícito.

Tenham calma que já vou contar…

Naquele final do dia quando cheguei em casa estava exausta, mas não parava de pensar também nas coisas que aconteceram, percebi que o todo poderoso também tinha lado gentil um lado que eu nunca havia percebido, quando me dei conta já tinha se passado algumas horas e eu estava com os meus pensamentos nele.

Abri minha mala e nelas estavam as suas roupas, senti seu perfume e resolvi guardar, só devolveria se me pedisse rsrsrs.

— Devo estar mesmo com um parafuso a menos rsrsrs.

Como sempre uma nova semana se iniciava e com elas muitas surpresas e algumas não muito agradáveis assim. Levantei cedo e me arrumei, além das coisas do dia eu ainda teria que encarar o todo poderoso depois das coisas desastrosas que me aconteceram.

***FOTO ILUSTRATIVA***

Para minha surpresa o senhor Costello tinha deixado um recado, que chegaria mais tarde, então assim que comecei a trabalhar, fui informada na recepção que um dos nossos clientes estava ali, pois queria esclarecer algumas dúvidas.

Recepcionista: Clara, bom dia! O senhor Henrique Rodrigues está aqui, disse que precisava conversar com você.

— Ué, mas tivemos a reunião no sábado ele disse que estava tudo certo com o contrato? Bom você pode por favor pedir para alguém acompanhá-lo até a sala de reunião e servir um café?

Recepcionista: Claro, pode deixar.

Aquilo foi bem estranho, abri meus e-mails e nele não havia nada a respeito, até pensei em ligar para o senhor Costello, mas talvez estivesse descansando então iria resolver aquilo sozinha mesmo, talvez seria uma coisa tola.

Pouco tempo depois com o contrato em mãos fui até a sala de reunião e pedi que Otávio ficasse na minha mesa até que eu retornasse.

Quando entrei na sala o senhor Rodrigues estava sozinho, me recebeu muito bem, pegou na minha mãos e a beijou. Sinceramente não gosto muito disso, mas até então estava dentro da normalidade.

— Senhor Rodrigues, bom dia.

Henrique Rodrigues: Bom dia, pode me chamar só de Henrique, senhorita Clara rsrsrs.

— Bom, para vir até aqui acredito que tenha encontrado alguma dúvida certo?

Henrique Rodrigues: Na verdade eu mandei uma mensagem para Rodrigo se ele estaria hoje pela manhã na empresa, mas como de costume após um final de semana como aquele eu já sabia que não estaria aqui, então vim porque estava querendo falar com você.

— Comigo? Mas aconteceu alguma coisa?

Eu havia me sentado na cadeira que o senhor Costello geralmente senta e ele na do lado, nesse momento ele vem até mim, sem sair da cadeira, eu fiquei esperando ele responder, quando o mesmo coloca a mãos na minha coxa, logo em seguida retira e coloca sobre minha mão que estava na mesa.

Henrique Rodrigues: Sabe, eu gostei muito de você, uma mulher assim não é sempre que a gente encontra não é mesmo.

— Senhor Rodrigues, não entendo onde quer chegar com isso.

Henrique Rodrigues: Conhecendo seu chefe, acho que tem um bom motivo para que estava sendo sua secretária, aliás eu vi bem como se dão bem quando ele te salvou na praia, se aceitar meu convite garanto que posso ser bem mais generoso.

Um frio subiu por meu corpo, meu coração parecia que ia sair pela boca, afastei imediatamente a cadeira e retirei minha mão da mesa, não era possível que aquele homem tinha ido até lá para me assediar.

— Senhor Rodrigues, vou pedir que retorne quando senhor Costello estiver, acho que está confundindo as coisas, sou apenas a secretária dele nada mais, se ele me salvou foi porque realmente eu estava correndo risco.

Então quando percebeu que eu iria me levantar ele se aproxima novamente, se levanta e fecha a única cortina que havia na sala, depois vem até mim, eu me assusto e me levanto, mas sou impedida de sair da sala.

Henrique Rodrigues: Hora Clara, somos adultos, pode achar que por ser casado isso seria um empecilho, mas não é, garanto.

Ele chega mais perto tentando me tocar novamente, mas eu o afasto dessa vez estava irritada e ele claro percebe.

— Se afaste por favor, esse tipo de coisa não me interessa, o senhor pode se retirar ou vou chamar a segurança.

Mas ele insiste, aproxima novamente, tenta me beijar e no impulso acabo dando uma bofetada nele, no mesmo instante levo as mãos ao rosto.

— Não me toque, saiba que posso processar o senhor por assédio não sabe?

Henrique Rodrigues: Pois tente, sou um homem importante se eu cancelar esse contrato estará no olho da rua.

— Saia agora mesmo, seu idiota, não vou admitir esse desrespeito.

Falo jogando a agua que estava no meu copo em seu rosto o que o irrita ainda mais, então saio da sala, minha pernas tremiam tanto que achei que não fosse conseguir caminhar até o banheiro.

Me olhei no espelho sem acreditar no que havia acontecido, tentei controlar meu choro, mas parecia que estava com um nó na garganta, voltei para minha mesa, Otávio percebeu que estava séria, mas apenas se levantou e saiu.

Foi a primeira vez, que me olhei no espelho e percebi que aquele batom também teria me trazido as coisas ruins, mas isso não justificava o comportamento daquele homem.

E você?

Já passou por isso?

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"Mais de uma em cada cinco pessoas empregadas (quase 23%) sofreram violência e assédio no trabalho, seja físico, psicológico ou sexual, de acordo com uma nova análise conjunta, a primeira deste tipo, feita pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), Lloyd's Register Foundation (LRF) e Gallup.

O estudo " Experiências de violência e assédio no trabalho: Primeira pesquisa mundial" (disponível em inglês) fornece uma visão da extensão do problema e de suas diferentes formas. Também analisa os fatores que podem impedir as pessoas de falar sobre suas experiências, incluindo vergonha, culpa ou falta de confiança nas instituições, ou porque tais comportamentos inaceitáveis são vistos como “normais”.

Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/210241-oit-viol%C3%AAncia-e-ass%C3%A9dio-no-trabalho-afetam-uma-em-cada-cinco-pessoas

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